Publicado em fevereiro 25, 2013 por admin
Pesquisadores da Fiocruz acabam de patentear mais uma arma na guerra contra o mosquito do dengue. Trata-se de um biocida feito unicamente a partir de uma substância de planta nativa brasileira que, ao ser colocado em reservatório de água, mata 100% das larvas do inseto lá presentes, sem causar danos a qualquer outra forma de vida. O trabalho, em fase de publicação, foi desenvolvido pelos biólogos Marise Maleck e Anthony Érico Guimarães.
A principal vantagem do novo produto, em relação aos já existentes, é o fato de ser resultado de um produto natural de planta da Mata Atlântica, que apresenta toxicidade praticamente nula. Até aqui, os larvicidas utilizados apresentavam toxicidade (ainda que baixa) tanto para humanos quanto para outras espécies dependentes da água onde foram aplicados. Isso ocorre por serem eles ou químicos, ou biológicos (feitos com bactérias). Nosso biocida mata somente as larvas do vetor do dengue, não afetando quaisquer outras vidas em contato com a água, diz Marise. Além disso, ele não deixa resíduos, diferentemente dos larvicidas químicos, por exemplo, que podem alterar o equilíbrio ecológico quando usados no ambiente natural.
Envolvida em pesquisas com produtos de plantas brasileiras desde 1989, Marise começou a estudar as lignanas moléculas lipídicas produzidas pelas plantas durante seu metabolismo. A pesquisadora interessou-se particularmente pela lignana isolada de uma planta, nativa da Mata Atlântica, chamada Piper solmsianum, já reconhecida pela sua ação tóxica contra o Trypanosoma cruzi (protozoário causador do mal de Chagas). A bióloga resolveu então se unir ao entomologista para verificar que efeito a mesma lignana teria sobre os mosquitos do dengue. Ela entrou com os testes de planta; eu, com os mosquitos, diz Anthony.
Os dois pesquisadores começaram a trabalhar em conjunto a partir da segunda metade de 2003. Após uma série de testes em laboratório, eles confirmaram a toxicidade da lignana pesquisada por Marise contra as larvas do mosquito. O passo seguinte foi o registro da patente sob o número BR-PI-0604786-6 e o nome de Uso da lignana tetraidrofurânica grandisina como inseticida, composições inseticidas contendo a mesma e método inseticida, finalizado em 13 de novembro de 2006.
Agora os biólogos pesquisarão o que exatamente a lignana causa na fisiologia das larvas do mosquito e a viabilidade comercial e econômica do novo produto. Por fim, Anthony destaca que o trabalho, feito a partir de uma planta nativa, só vem a confirmar a importância de se preservar a biodiversidade brasileira, que sem dúvida, pode ser fonte de muito mais coisa no futuro. E Marise reforça as palavras do biólogo lembrando que diferentes lignanas já são conhecidas por suas ações antiinflamatórias, antioxidante e na prevenção do câncer.
Marise Maleck e Anthony Érico Guimarães desenvolveram seu projeto todo na Fundação, em parceria com o pesquisador Massuo Kato, da Universidade de São Paulo (que foi quem isolou a lignana em questão). Os dois cientistas trabalham no Laboratório de Diptera, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), uma unidade da Fiocruz.
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