Entre as notícias falsas sobre a Covid-19 que circulam na internet, 19,8% são sobre as vacinas. A conclusão é de estudo conduzido pela pesquisadora da ENSP Claudia Galhardi, que analisou fake news relacionadas à doença disseminadas em redes sociais, sites e aplicativos de mensagens. Realizada em parceria com o Núcleo de Pesquisa em Jornalismo e Comunicação da Universidade Federal do Piauí (Nujoc), a pesquisa investigou 253 notícias falsas recebidas pelo aplicativo Eu Fiscalizo entre 26 de março de 2020 e 31 de março de 2021.
“Os achados revelam que o fluxo de conteúdo desinformacional propagado nas redes sociais e aplicativos de mensagem, pautado em interesses políticos, econômicos, pós verdade e negacionismo, é movediço. Isso porque, apesar de as redes sociais, sites e aplicativos de mensagem terem buscado, timidamente, minimizar a disseminação de notícias falsas, adotando diferentes ações que têm inibido um pouco a propagação de fake news, os produtores dessas notícias, por outro lado, buscam sempre atuar nas redes sociais com menor ação efetiva no combate à desinformação e em novas redes que surgem”, afirma a autora do Eu fiscalizo, Claudia Galhardi.
Segundo a pesquisadora, é fundamental que sejam realizados e aprofundados estudos longitudinais, assim como monitoramentos contínuos sobre o ecossistema de desinformação nas diversas áreas de conhecimento. “A avalanche de desinformação na pandemia tem impactado no “abandono vacinal” e na adesão a tratamentos precoces sem eficácia científica comprovada. Também colabora para o descrédito da ciência, das instituições globais de Saúde e de ações governamentais, além de propagar pânico, colocando a vida do cidadão em risco”, alerta.
Os dados também apontam que os outros temas disseminados nas fake news analisadas são: tratamento precoce (18,6%), teorias conspiratórias (16,9%), medidas preventivas (15,8%), métodos caseiros de prevenção e cura (11,9%), dados estatísticos manipulados sobre óbitos, contágio e recuperados (10,3%), corrupção sobre hospitais de campanha (3,6%), golpes bancários /arrecadação (2,4%) e reputação negativa das instituições de ensino e pesquisa (1,2%).
O estudo ainda revela que, assim como as vacinas, a Fiocruz é um dos principais alvos das fake news analisadas no período. “Todas as notícias falsas sobre a Astrazeneca, métodos caseiros de prevenção e cura da Covid-19, além de dados estatísticos manipulados sobre contágio, óbitos e cura, citam o nome da Fiocruz, na tentativa de legitimar o conteúdo”, afirma Claudia.
O meio digital mais usado para a divulgação de conteúdo desinformacional sobre as vacinas foi o Instagram (46%), seguido pelo WhatsApp (24%), Facebook (14%), sites 12% e Twitter (4%).
Entre as redes sociais, sites e aplicativos de mensagens com maior número de notícias que incentivam a não adesão à vacinação, sem citar fabricantes, o Instagram (42,1%) ocupa a primeira posição, seguido pelo Whastapp (31,6%) e Facebook (26,3%).
No que diz respeito a desinformações sobre a vacina Coronavac, o Instagram (62,5%) e o Whatsapp (18,8%) foram os meios digitais mais utilizados, seguidos pelo Facebook (6,3%), Twitter (6,3%) e sites (6,3%). Em relação a notícias enganosas sobre a Astrazeneca, 40% delas foram divulgadas no Instagram, 40% em sites e 20% no Facebook. Já no que diz respeito a fake news sobre a Pfizer, os sites são líder na disseminação das notícias (50%), sendo que o Facebook e o Instagram ocupam a segunda posição da lista (25% cada um).
Novembro de 2020 foi o mês em que houve maior propagação de notícias falsas sobre as vacinas (54,5%), seguido por março de 2021 (48,4%) e dezembro de 2020 (40,0%).
Em relação aos meios digitais mais utilizados para a disseminação de conteúdo desinformacional sobre a Covid-19 em geral, o Whatsapp lidera o ranking (41,5%), seguido pelo Instagram (30,8%), sites (8,3%), Facebook (7,9%), Youtube (7,5%) e Twitter (4,0%).