As freqüências de fatores que podem estar associados ao câncer de mama foram estimadas em mulheres cadastradas no Programa Saúde da Família (PSF) no município de Teresópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro. Publicado em maio na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, o estudo determinou o percentual de mulheres que apresentavam fatores de risco para a doença sugeridos na literatura científica. Os pesquisadores consideraram não só fatores de risco já estabelecidos (como idade igual ou superior a 50 anos, antecedente pessoal de câncer de mama e casos da doença em parentes de primeiro grau), mas também outros ainda controversos, que incluem aspectos do comportamento. O estudo foi conduzido por Valéria Pinho, do Instituto Nacional do Câncer (Inca), e Evandro Coutinho, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz.
Nas dez unidades do PSF em Teresópolis foram entrevistadas cerca de 700 mulheres, residentes nas áreas urbana e rural. Quanto aos fatores de risco já estabelecidos, a pesquisa mostrou que 36,1% delas tinham 50 anos ou mais; 0,4% já tiveram câncer de mama; e 3,7% relataram casos de mãe, irmãs ou filhas com a doença.
O câncer de mama é o tumor invasivo que mais acomete e mata mulheres no Brasil. A mortalidade elevada se deve ao fato de que mais de 60% dos casos no país são diagnosticados somente em estágios avançados. Para a detecção precoce da doença recomenda-se que todas as mulheres na faixa etária de 50 a 69 anos, mesmo que não apresentem sinais nem sintomas, façam uma mamografia pelo menos a cada dois anos. Para aquelas com antecedente pessoal ou familiar da doença, os cuidados precisam ser redobrados: elas devem fazer a mamografia anualmente desde os 35 anos, mesmo que sejam assintomáticas, como preconiza o Programa Viva Mulher do Ministério da Saúde.
Entre outras variáveis que podem estar associadas ao câncer de mama, mas que a literatura científica ainda considera controversas, cinco tiveram elevada prevalência entre as mulheres entrevistadas em Teresópolis: estar obesa (30%); ter amamentado por menos de um ano (37,4%); apresentar histórico de abortos (38,5%); ter usado pílulas anticoncepcionais por cinco anos ou mais (41,1%); e não praticar exercícios físicos (58,7%).
Pode ser que a relação entre essas variáveis e o câncer de mama não se confirme no futuro. Contudo, a freqüência elevada delas na população estudada merece atenção, na medida em que existe consenso de que estão envolvidas na causalidade de outras doenças, como as cardiovasculares, por exemplo. Essas variáveis são importantes para a saúde pública em geral, afirma Valéria. Elas devem, portanto, ser usadas como temas para ações educativas em saúde da mulher, conclui a pesquisadora.