Uma pesquisa realizada em 33 países do mundo, inclusive no Brasil, está testando uma vacina contra o HPV (papiloma vírus humano). Resultados preliminares já divulgados demonstram que a vacina apresenta 100% de eficácia no combate aos subtipos 16 e 18 do vírus, responsáveis por causar cerca de 75% dos casos de câncer de colo de útero em mulheres. Apesar disso, a vacina só terá a eficácia devidamente comprovada daqui a um ano, quando os trabalhos completam quatro anos. O estudo leva o nome de Future III e é encabeçado por um grupo de pesquisa da Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Em Salvador, o Núcleo de Apoio à Pesquisa das Obras Sociais Irmã Dulce (NAP/Osid) é um dos 14 centros participantes do estudo no Brasil e o único de toda a região Norte e Nordeste.
O estudo já está na terceira fase e, até o momento, 12 mil pacientes do sexo feminino já foram acompanhadas pelo NAP em Salvador. Desse total, seis mil foram submetidas à vacina em teste e seis mil tomaram placebos (vacina falsa). O resultado mostrou que a metade usuária da vacina analisada não desenvolveu doenças, enquanto a outra metade foi acometida por patologias, com quadro de câncer de colo de útero em 21 mulheres. Assim, concluiu-se que as três doses da vacina têm eficácia de 100% contra o papiloma vírus humano. Consta que a vacina em questão é obtida a partir do DNA recombinante, semelhante à vacina que combate a hepatite B. Em todo o mundo, 90 centros de estudos estão participando da pesquisa, iniciada em 2002, com mulheres de diferentes etnias e condições socioeconômicas.
Subtipos – O vírus HPV conta com mais de cem subtipos identificados e já pesquisados. Desse total, entre 30 e 40 deles, inclusive os subtipos 16 e 18, acometem a área genital e são caracterizados como de alto risco no desenvolvimento de câncer de colo de útero. A vacina pretende combater não somente os subtipos 16 e 18, mas também os 6 e 11, que causam mais de 90% das verrugas genitais (os chamados condilomas), que crescem e adquirem um aspecto semelhante a uma couve-flor, afetando a auto-estima e a qualidade de vida de homens e mulheres. Por agir contra quatro subtipos do HPV, a vacina é denominada recombinante quadrivalente. Em todo o mundo, cerca de 25 mil mulheres já participaram da pesquisa, ainda em andamento.
Após a confirmação da eficácia plena, a vacina deverá ser liberada primeiramente no local de origem da pesquisa (Estados Unidos), para depois chegar aos demais países do mundo. A médica ginecologista Karina Adami, pesquisadora do NAP/Osid, explica que o objetivo da vacina é evitar que a doença progrida nos casos em que o sistema imunológico da pessoa não é capaz de vencer o subtipo de alto risco do HPV, causando o desenvolvimento do câncer de colo de útero. "Esse desenvolvimento vai depender do sistema imunológico da pessoa. Se ela já for debilitada, o processo é mais rápido", diz Karina. Nas mulheres, 90% dos casos de câncer de colo de útero são verificados através do exame preventivo denominado Papanicolau, que detecta o câncer em sua fase pré-invasiva, impedindo que ele se alastre.
No homem, o HPV também pode causar verrugas na genitália. Como o órgão sexual masculino é exposto, é mais fácil percebê-las e se submeter ao exame. "Se as verrugas não forem tratadas, podem desenvolver câncer de pênis", avisa a médica Karina Adami. Ela acrescenta que os parceiros de portadores do HPV também devem procurar o médico para fazer exames especializados para detectar possíveis microlesões, imperceptíveis a olho nu. As pesquisas sobre as consequências do HPV em homens, inclusive, estão em fase inicial, enquanto a vacina que imuniza mulheres contra o HPV ainda não chega a o mercado. Vale lembrar que os estudos científicos mostram também que a contaminação por HPV está associada a 85% dos casos de câncer de ânus, 50% dos casos de câncer de vulva, vagina e pênis, 20% dos casos de câncer de orofaringe e 10% dos casos de câncer de laringe.
Transmissão acontece através da pele
O vírus HPV é altamente transmissível através do contato pele a pele, mesmo se ambos os parceiros estiverem usando preservativo durante a relação sexual. Não há dúvidas de que a camisinha é a forma de prevenção mais eficiente contra a Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), mas sua eficácia é parcial em se tratando do HPV, como atesta o médico infectologista Edson Moreira, também pesquisador titular da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz-BA). "A transmissão pode ocorrer se a verruga ou lesão estiver em locais não protegidos pelo preservativo, como o saco escrotal, a vulva ou a região pubiana. O HPV é um vírus bastante espalhado entre as pessoas e pode-se dizer que qualquer indivíduo que seja sexualmente ativo está sujeito a ele", adverte o especialista.
Moreira acrescenta que 30% dos brasileiros com vida sexual ativa são portadores do HPV. Nos Estados Unidos, os cálculos mostram que 40% a 60% dos universitários americanos já foram acometidos pelo HPV. "Não é necessário ser profissional do sexo nem ter relações com múltiplos parceiros para estar sujeito ao vírus. Um levantamento até já mostrou que 15% a 18% de mulheres jovens com menos de cinco parceiros na vida já pegaram o HPV", fala o infectologista.
Em relação às verrugas que aparecem na região genital, elas podem ser tratadas com soluções ácidas ou cirurgias à base de bisturi elétrico ou raio laser. Nas mulheres que apresentam lesão no colo do útero, o ideal é fazer anualmente o exame preventivo Papanicolau. Se não houver o tratamento, o problema pode evoluir para o câncer. Vale lembrar que a evolução não acontece na maioria dos casos, mas as quatro mil mortes anuais registradas no Brasil em decorrência do câncer de colo de útero não deixam de ser preocupantes.
Fonte: Correio da Bahia