No Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP, os testes para diferenciar as bactérias que causam a tuberculose de outras responsáveis por doenças micobacterianas ficaram 30 vezes mais rápidos, e pela metade do preço do método utilizado anteriormente para a mesma finalidade. Esses resultados foram obtidos a partir da avaliação de uma tecnologia denominada Point of Care Test — POCT, implantada há um ano e meio no HCFMRP.
Além do menor tempo e custo, esse novo teste traz várias outras vantagens, segundo o professor Valdes Bollela, da Divisão de Moléstias Infecciosas e Tropicais do Departamento de Clínica Médica da FMRP. “As micobactérias são divididas em três grandes grupos: um que causa a tuberculose, com cerca de dez espécies; o do bacilo da Hanseníase e um terceiro grupo com mais de 150 espécies, que causa diversas doenças e são genericamente denominadas Micobacterioses Não-Tuberculosas (MNT). Dentre as principais vantagens deste POCT, a principal é a identificação do agente causador da tuberculose, de isolados de cultura, em apenas dois minutos, o que permite o início imediato de um tratamento rápido e adequado para o paciente”.
Segundo o professor, antes da implantação do POCT na rotina de identificação de micobactérias, era feito um teste pelo método da reação em cadeia da polimerase (PCR) e em seguida as amostras eram encaminhadas para o Instituto Adolfo Lutz. “Apesar de rápido, 8 horas, a PCR era realizada apenas duas vezes por semana, enquanto o POCT pode ser feito diariamente, após cada isolamento de micobactéria. Além disso, o custo total da PCR é maior e apresenta maior risco de contaminação, o que pode gerar resultados falsos-positivos”, afirma o professor.
Decisão clínica
Ainda, segundo o professor Bollela, os POCT têm representado um grande avanço na investigação e constitui um recurso diagnóstico que acelera a tomada de decisão clínica, agregando qualidade e precisão ao atendimento médico, na América Latina e em diversas partes do mundo.
Os POCT, diz o professor da FMRP, têm como meta principal aproximar o resultado do exame laboratorial do local onde o paciente é atendido e qualificar a decisão sobre os cuidados aos pacientes com suspeita de doenças infecciosas. “Atualmente, já existem POCT para o diagnóstico rápido da infecção pelo HIV, hepatites virais B e C, malária, entre outras doenças infecciosas”.
Outra vantagem, que caracteriza esta tecnologia, apontada pelo docente, é a flexibilidade para uso em locais com poucos recursos tecnológicos e laboratoriais, como nos estudos de campo, por exemplo. “A rigor, é possível realizar um POCT mesmo se não houver laboratório ou energia elétrica. O profissional da saúde pode fazer o teste na casa do paciente, ou em uma investigação em áreas de poucos recursos tecnológicos”, conclui.
A avaliação da equipe do HCFMRP deu origem ao trabalho Imunoensaio cromatográfico rápido no diagnóstico diferencial de tuberculose e micobacteriose não tuberculosa em um serviço de referência terciária, que conquistou o segundo lugar do Prêmio ALERE – Latinoamericano em Pesquisa POCT, de 2014. O prêmio Alere recebeu inscrições de trabalhos de toda a América Latina, que utilizaram a tecnologia POCT como método de investigação diagnóstica. “Foram premiados os dois melhores trabalhos, originais e inéditos, que representavam efetiva contribuição no âmbito de aplicação dos POCT”, comemora o professor.
Além de Bollela, participaram do trabalho os professores Roberto Martinez e Rodrigo Santana; as pós-graduandas Lívia Maria Pala Anselmo e Cinara Feliciano; a técnica Margarida Maria Passeri do Nascimento — todos do Departamento de Clínica Médica da FMRP; Sandra Moroti e Renata Candido Pocente (primeira autora), do Laboratório de Micobactérias do HCFMRP.