Tese chama a atenção para o aumento da obesidade entre indígenas avante

A obesidade é um problema de saúde entre adultos indígenas xavante do Mato Grosso, sendo associada a fatores socioeconômicos e padrões de subsistência e consumo alimentar. A informação vem da pesquisa do aluno do doutorado em Epidemiologia em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Felipe Guimarães Tavares. Dela, participaram 479 indígenas (homens e mulheres), sendo que mais da metade da população apresentava excesso de peso (sobrepeso: 43%; obesidade 20,9%), correspondendo a 92,4% da população-alvo. “Entre os povos indígenas no Brasil, a emergência de obesidade tem sido associada a mudanças nos padrões de alimentação, de atividade física e de exposição a determinantes sociais da saúde, em geral relacionados à história de contato com sociedades não indígenas”, observa Tavares.

O estudo é um inquérito nutricional realizado na população xavante das terras indígenas Pimentel Barbosa e Wedezé com idade de 15 anos em diante, residente no estado do Mato Grosso, no período de junho a agosto de 2011. Foram investigadas 8 das 10 aldeias existentes no território. De acordo com Tavares, no modelo de regressão, as prevalências de obesidade foram maiores nos indivíduos com idade entre 20 e 49 anos, morando em domicílios com nível médio de consumo de alimentos de cultivo e criação, e com nível baixo de consumo de alimentos de coleta, caça e pesca. Essas prevalências, informa o aluno,  também foram maiores em indivíduos classificados nos níveis médio e alto do indicador socioeconômico de bens de casa, estimado por análise fatorial. “Foram observadas fortes correlações do índice de massa corporal, do perímetro da cintura e do percentual de gordura corporal entre si e com medidas de peso e dobras cutâneas (tricipital e subescapular)”.

Além do elevado domínio de sobrepeso e obesidade, estudos mais recentes evidenciaram o surgimento de doenças e agravos não transmissíveis (DANT) nesta população, tais como hipertensão e diabetes, apesar das doenças infecciosas e parasitárias ainda ocuparem lugar de destaque nesta população. Nesses estudos, foram encontradas prevalências de 17% e 25% de hipertensão arterial e diabetes mellitus tipo 2 entre os xavante do Mato Grosso, respectivamente.

A população-alvo do estudo reside nas terras indígenas Pimentel Barbosa e Wedezé, localizadas ao nordeste do Mato Grosso com uma área total de 328.966 hectares, sendo delimitada pelo Rio das Mortes e pela Serra do Roncador, a leste e oeste, respectivamente. Estão interligadas com regiões urbanas de comércio por meio de estradas vicinais e rodovias, por onde circulam caminhões, ônibus e outros veículos. Antes dos primeiros contatos com a sociedade não indígena, por volta da década de 1940, os xavante passavam grande parte do tempo fora das aldeias em excursões de caça e coleta de alimentos silvestres.

Atualmente, apesar de sua frequência ter sido reduzida, a caça ainda continua sendo uma atividade masculina, além de ser uma das principais formas de se adquirir proteína nas aldeias xavante, assim como a pesca. A coleta de frutos e raízes do cerrado é praticada de forma sazonal e corriqueira, onde é comum encontrar grupos, em sua maioria mulheres, percorrendo grandes áreas em busca de frutos comuns na região, e também uma variedade de raízes e tubérculos.

Algumas mudanças ocorridas nas fontes de alimentos dos xavante fizeram com que fossem introduzidos em sua dieta alimentos industrializados adquiridos nas cidades próximas as terras indígenas, como açúcar, café, sal, massas, refrigerantes, bolachas e óleo de cozinha. Para Tavares, faz-se necessária a criação e implementação de políticas públicas de saúde e nutrição voltadas para estes povos, principalmente no âmbito da prevenção das doenças e agravos não transmissíveis, atentando para suas especificidades culturais.

O autor

Felipe Guimarães Tavares, mestre pelo programa de Epidemiologia em Saúde Pública da Ensp e especialista em Vigilância Alimentar e Nutricional para a Saúde Indígena também da Escola, graduou-se em Enfermagem pela Universidade Federal de Rondônia. Sua tese de doutorado, intitulada Obesidade e fatores associados entre os adultos xavante, Mato Grosso, foi defendida em 16 de maio, sob orientação do pesquisador Carlos Everaldo Alvares Coimbra.

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