Tag Archives: Trypanosoma cruzi

Associação denuncia presença de “barbeiros” infectados no Butantã

Para pesquisadores, vigilância contra doença está comprometida em SP

A Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) denunciou à Agência Brasil que dois insetos do tipo barbeiro foram encontrados no último trimestre de 2024 no pavilhão Lemos Monteiro, prédio centenário do Instituto Butantã adaptado para uso de laboratórios de pesquisa. Os espécimes foram capturados em outubro e novembro de 2024 e ambos tinham a presença do protozoário Trypanossoma cruzi, causador da Doença de Chagas, em seu organismo.

Leia Mais

Atenção à doença de Chagas

O Dia Mundial da doença de Chagas, celebrado em 14 de abril, chama atenção para um agravo negligenciado que, anualmente, afeta mais de seis milhões de pessoas e causa cerca de sete mil mortes em todo o mundo, segundo levantamento da Federação Internacional de Associações de Pessoas Afetadas pela Doença de Chagas (Findechagas). A organização sem fins lucrativos conta com o apoio do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e da Fiocruz.

De acordo com a Associação, as dificuldades impostas pela pandemia de Covid-19 tem deixado as pessoas afetadas pela doença de Chagas duplamente vulneráveis: tanto pela própria doença quanto pela exposição ao SARS-CoV-2. Além disso, os programas de atenção à saúde têm dedicado atenção quase que exclusiva aos pacientes infectados pelo novo coronavírus.

Leia Mais

Estudo traz descobertas sobre parasito da doença de Chagas

Um estudo inédito realizado por pesquisadores do Instituto Carlos Chagas (ICC/Fiocruz Paraná) é o destaque de capa da edição de junho da revista científica Molecular Microbiology. A pesquisa investigou o Trypanosoma cruzi, parasito causador da doença de Chagas e que apresenta em seu ciclo de vida quatro formas evolutivas entre o inseto vetor – conhecido como barbeiro – e o hospedeiro mamífero. O estudo teve como foco a investigação da forma chamada de epimastigota, presente no tubo digestivo do barbeiro. Os resultados evidenciaram que, nesta fase, o parasita possui característica biológicas antes nunca evidenciadas, colocando em xeque um paradigma centenário na doença de Chagas, de que formas epimastigotas não são infectivas ao hospedeiro mamífero.

“A pesquisa mostrou, que diferentemente do que se acreditava há mais de um século, epimastigotas recém diferenciados destacam-se por suas características relacionadas à infectividade ao hospedeiro mamífero, tanto em cultivos celulares in vitro como em modelo animal in vivo, à resistência ao sistema imune inato do hospedeiro mamífero e à expressão de diferentes fatores de virulência em comparação com as demais formas do ciclo de vida do parasita”, explica Rafael Kessler, pesquisador do Laboratório de Genômica Funcional da Fiocruz Paraná. “O estabelecimento e otimização de protocolos de epimastigogenese, tanto in vitro como in vivo, possibilita o estudo de peculiaridades do ciclo de vida de T. cruzi nunca antes vislumbradas, e foi passo crucial para a descoberta do estágio infectivo epimastigota recém diferenciado (rdEpi)”, explica Kessler, primeiro autor do artigo publicado na Molecular Microbiology. A descoberta, segundo o pesquisador, pode contribuir para entender por que a infecção por T. cruzi pela via oral – por meio da ingestão de alimentos contendo insetos barbeiros (triturados durante o preparo de sucos) –, apresenta, geralmente, uma fase aguda mais intensa. A pesquisa também mostrou, de forma inédita, as outras formas de evolução são capazes de diferenciar as características da forma epimastigota.

O trabalho, desenvolvido em um período de seis anos, resultou no estabelecimento de uma nova linha de pesquisa, com ênfase na investigação da interação parasita-hospedeiro. Os próximos passos incluem a investigação da infectividade do rdEpi por via oral e os alvos celulares de preferência do parasito no hospedeiro mamífero.

Cientistas testam melatonina contra Doença de Chagas

O chamado hormônio do sono, a melatonina, possui várias ações. Entre elas, melhorar a resposta imune e diminuir inflamações. Com isso, o uso da melatonina na Doença de Chagas tem mostrado ação anti-inflamatória e protetora na fase crônica da infecção. Este é um dos mais recentes achados da equipe de pesquisadores do laboratório de parasitologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, liderada pelo professor José Clóvis do Prado Júnior.

Acreditam os especialistas que a melatonina também apresenta potencial antioxidante, pois foi observada uma diminuição do estresse oxidativo e controle do processo de morte celular. Os pesquisadores usam o hormônio sintético idêntico ao natural, que é produzido no cérebro humano pela glândula pineal, estrutura bem pequena localizada no centro do cérebro que secreta o hormônio durante a noite e o inibe pela manhã, com a luz do sol.

Há anos estudando os efeitos desse hormônio em animais infectados pelo parasita Trypanosoma cruzi, o grupo já havia demonstrado seu papel no potencial de resposta imune na fase aguda da doença. Os resultados dessa etapa de estudos mostraram que o hormônio induziu a redução da carga parasitária no sangue e nos tecidos infectados. Já o que observaram agora, mostra que a melatonina tem ação também na fase crônica da Doença de Chagas, algo considerado extremamente positivo, pois o único medicamento utilizado no Brasil, o Benzonidazol, “apresenta eficácia terapêutica limitada no tratamento de pacientes com infecção crônica”, lembra o professor Prado Júnior.

Tratando os animais na fase crônica da Doença de Chagas com melatonina, a equipe da FCFRP conseguiu confirmar “as ações antioxidantes deste hormônio, reduzindo o estresse oxidativo e inflamação”. E ainda, continua o professor, “demonstramos outra característica importante da molécula de melatonina: sua capacidade de regular o processo de apoptose (morte) celular”.

Infecção crônica
As informações inéditas foram alvo de publicações recentes em duas importantes revistas científicas internacionais, a Immunobiology e o Journal of Pineal Research. “Os mecanismos imunológicos envolvidos na infecção porTrypanosoma cruzi, seja na proteção ou no avanço da doença no organismo do hospedeiro ainda não estão completamente esclarecidos”, ressalta Vânia.

Os estudos foram conduzidos até o momento em experimentos com animais (ratos Wistar) infectados pelo parasita. Vânia conta que administraram doses de melatonina sintética dissolvida em água por via oral aos animais. A pesquisadora lembra que ainda não existem relatos científicos de uso de melatonina para tratar a Doença de Chagas em humanos. O que está provado, afirma Vânia, é que esse hormônio sintetizado possui ação de indução do sono, principalmente em transtornos ocasionados por mudanças bruscas no fuso horário (jet lag) e trabalhadores com jornada noturna.

“Outras evidências demonstram que a melatonina pode ser um agente terapêutico importante contra o câncer, hipertensão e doenças neurodegenerativas”, conta a pesquisadora, adiantando que ainda não existem avaliações adequadas quanto ao uso da melatonina para tratar tais doenças.

Mas o trabalho continua no laboratório de parasitologia da FCFRP. Um novo projeto, aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), já está em andamento e os pesquisadores avançam na compreensão “dos mecanismos celulares e moleculares que alteram a imunidade ao longo da vida e seus reflexos frente à Doença de Chagas”, estudo este conduzido pela doutoranda Rafaela Pravato Colato.

Outra proposta inédita dos pesquisadores vem sendo desenvolvida pela pós-doutoranda Vânia Brazão que tenta entender as alterações das funções imunológicas em animais idosos e chagásicos, em tratamento com melatonina. Vânia comenta que respostas como estas podem ser importantes na elaboração de futuros tratamentos com substâncias imuno-modulatórias no sentido de tornar o sistema imune do hospedeiro mais eficiente contra o parasita.

Foto: Wikimedia Commons

Mais informações: (16) 3315.4721  ou vaniabrazao@gmail.com

Parasita bioluminescente é usado para estudar fase crônica da doença de Chagas

Pesquisadores da London School of Hygiene and Tropical Medicine, da Inglaterra, criaram uma versão geneticamente modificada do parasita causador da doença de Chagas capaz de emitir luz vermelha, o que tem permitido monitorar a infecção em camundongos mesmo em níveis muito baixos.

Originalmente desenvolvida para ajudar a compreender a enfermidade em sua fase crônica, a técnica tem se mostrado uma poderosa ferramenta para medir a eficácia de drogas antichagásicas.

O método foi apresentado por um de seus idealizadores, o professor de biologia molecular John Kelly, no dia 22 de junho, durante a programação da São Paulo School of Advanced Science on Neglected Diseases Drug Discovery – Focus on Kinetoplastids (SPSAS-ND3).

O evento foi realizado no Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), em Campinas, com apoio da FAPESP.

“Tem sido muito difícil estudar a doença em sua fase crônica, pois há uma carga muito pequena do parasita Trypanosoma cruzi no organismo e ela acaba ficando fora do radar dos métodos tradicionais. Já o limite de detecção desta nova técnica está entre 100 e 100 mil unidades do parasita, o que é muito sensível. Teoricamente, poderíamos identificar a infecção mesmo se ela estivesse restrita a uma única célula”, explicou Kelly em entrevista à Agência Fapesp.

Geralmente transmitida pela picada do inseto conhecido como barbeiro ( Triatoma infestans) ou pela ingestão de alimentos contaminados, a doença de Chagas tem uma primeira fase aguda que pode ser assintomática ou apresentar sintomas como febre, mal-estar, inflamação e dor nos gânglios, vermelhidão, inchaço nos olhos (sinal de Romanã), aumento do fígado e do baço.

Anos depois podem surgir as complicações da fase crônica, sendo a principal o alargamento dos ventrículos do coração (condição que afeta cerca de 30% dos pacientes e costuma levar à insuficiência cardíaca) e a dilatação do esôfago ou o alargamento do cólon (que acomete até 10% dos infectados e pode levar à perda dos movimentos peristálticos e à dificuldade de funcionamento dos esfíncteres).

“Um dos grandes enigmas que os cientistas tentam desvendar é por que algumas pessoas sofrem sintomas severos na fase crônica da doença e outros são praticamente assintomáticas. O que sabemos é que, em todos os casos, a infecção pelo T. cruzi é para toda a vida. De alguma forma, o parasita consegue evitar ser eliminado totalmente pelo sistema imunológico. Fica confinado em algumas poucas células e, em momentos de imunodeficiência, volta a se proliferar”, disse o pesquisador.

Para entender melhor como isso acontece, os cientistas ingleses infectaram camundongos com o parasita geneticamente modificado para expressar o gene da enzima luciferase de vagalumes.

O grande diferencial da pesquisa, porém, foi modificar a enzima para que a reação catalisada por ela gerasse uma luz na faixa vermelha do espectro luminoso, que é melhor absorvida pelos tecidos corporais e, portanto, aumenta a sensibilidade da técnica.

Para isso o grupo contou com a colaboração do pesquisador Bruce Branchini, do Connecticut College, nos Estados Unidos.

“Ao reagir com a proteína luciferina, que é seu substrato, a luciferase normalmente causa a emissão de luz entre as faixas do verde e do amarelo. Mas a maior parte da luz nos tecidos é absorvida pela hemoglobina, que é vermelha. Ou seja, a hemoglobina absorve todas as cores, exceto a vermelha”, explicou Kelly.

Além disso, acrescentou o cientista, ondas curtas como as da luz azul ou verde são dispersadas mais rapidamente que as da luz vermelha, que são maiores.

“Por esses dois fatores o método ganhou maior sensibilidade com a emissão de luz vermelha”, disse Kelly.

Primeiros experimentos

Os camundongos infectados pelo parasita modificado foram acompanhados ao longo de 377 dias, sendo que após o 70º a doença entra em sua fase crônica.

“Inicialmente fizemos uma série de testes para ter certeza de que a modificação genética não teria nenhuma interferência na capacidade do parasita de infectar as células ou de se reproduzir, pois isso poderia enviesar os resultados”, contou Kelly.

Quando os pesquisadores injetam nos camundongos a proteína luciferina, ela é oxidada pela luciferase e ocorre a emissão de luz vermelha, que é captada com um equipamento dotado de uma pequena câmera e conhecido como IVIS Spectrum.

As imagens geradas permitem não apenas medir a carga parasitária em cada momento da infecção como também saber em que células e órgãos os parasitas estão concentrados.

“Descobrimos, com o método, que o intestino é o local em que o parasita se esconde na fase crônica. Por algum motivo o sistema imunológico consegue limpar o T. cruzi de todos os órgãos, exceto do intestino, e agora tentamos entender por que isso acontece”, contou Kelly.

Ao induzir a imunodeficiência nos animais com a administração do quimioterápico ciclofosfamida, os cientistas observaram que a carga parasitária voltou a crescer e outros órgãos passaram também a apresentar sinais da infecção.

“Como pelos métodos tradicionais era impossível detectar a carga parasitária na fase crônica da doença, não conseguíamos saber se um determinado medicamento era realmente capaz de promover a cura da doença ou não. Conseguimos avançar nesse sentido”, disse Kelly.

Em um dos experimentos, foram comparados os efeitos do benzonidazol, hoje padrão-ouro para o tratamento da doença, e do posaconazol, que era considerado uma grande esperança para os pacientes, mas não foi bem-sucedido nos primeiros ensaios clínicos.

“Tratamos os camundongos infectados com posaconazol e observamos que a carga parasitária parecia ter sido erradicada. Mas, quando induzimos a imunossupressão com ciclofosfamida, a infecção retornou. Ou seja, os animais não estavam de fato curados”, disse Kelly.

O mesmo experimento foi feito com o benzonidazol e, após a imunossupressão, até mesmo a infecção no intestino havia sido erradicada. “Os resultados sugerem que o benzonidazol realmente é eficaz para controlar a infecção crônica”, disse o pesquisador.

Na avaliação de Kelly, a técnica de bioluminescência pode ser aplicada para entender também os mecanismos da infecção causada por outras espécies de Trypanosoma e por parasitas do gênero Leishmania.

Vacina terapêutica contra Chagas é testada com sucesso em camundongos

Uma vacina brasileira capaz de estimular o sistema imunológico a combater o Trypanosoma cruzi– parasita causador da doença de Chagas – foi testada com sucesso de forma terapêutica em experimentos com camundongos.

De acordo com os resultados publicados na revista PLoS Pathogens, no fim de janeiro, o imunizante aumentou de zero para 80% a sobrevivência de animais infectados e ainda diminuiu a carga parasitária e reduziu sintomas como arritmias cardíacas.

Os estudos para o desenvolvimento da vacina vêm sendo coordenados há 20 anos por Maurício Martins Rodrigues, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com apoio da FAPESP em diversos projetos de pesquisa.

O novo estudo é resultado de uma parceria com diversas instituições, por meio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Vacinas, envolvendo o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o Centro de Pesquisa René Rachou (CPqRR/Fiocruz), a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Unifesp e a Universidade de Massachusetts Medical School, nos Estados Unidos.

“Mais de 10 milhões de indivíduos na América Latina convivem com a doença de Chagas já na fase crônica e o tratamento convencional muitas vezes não funciona. A vacinação terapêutica levaria à redução dos sintomas, queda da mortalidade e melhora da qualidade de vida dos doentes”, disse Rodrigues.

Entre as principais complicações crônicas da doença de Chagas estão o alargamento dos ventrículos do coração (condição que afeta cerca de 30% dos pacientes e costuma levar à insuficiência cardíaca) e a dilatação do esôfago ou o alargamento do cólon (que acomete até 10% dos infectados e pode levar à perda dos movimentos peristálticos e à dificuldade de funcionamento dos esfíncteres).

Embora medicamentos como o benzonidazol tenham eficácia razoável contra o parasita na fase aguda da infecção, eles apenas conseguem retardar o progresso da enfermidade quando esta evolui para a fase crônica, o que acontece em 30% dos casos.

Na ausência de um tratamento específico, os médicos recorrem a medicamentos usados para combater outras doenças do coração ou do sistema digestivo, capazes apenas de atenuar os sintomas.

A vacina desenvolvida na Unifesp também poderá ser usada para promover uma imunidade profilática contra o T. cruzi, mas, na avaliação de Rodrigues, o impacto para a saúde pública seria maior se ela fosse usada de forma terapêutica.

“Para usá-la profilaticamente seria preciso imunizar milhares de pessoas, e os países que ainda possuem altas taxas de transmissão do parasita, como a Bolívia, a Venezuela e o Peru, não têm recursos para esse tipo de campanha”, disse.

O Brasil possui a logística necessária para a imunização em massa. A transmissão do T. cruzi no país, entretanto, foi praticamente eliminada, ocorrendo apenas em casos isolados e geralmente por ingestão de alimentos contaminados pelas fezes do barbeiro.

“Mas ainda há por aqui muitos pacientes sofrendo com as complicações da fase crônica. Tratar apenas as pessoas já infectadas é economicamente mais viável e factível no médio e longo prazo”, disse Rodrigues.

O mecanismo de ação do imunizante promove a indução de linfócitos T do tipo CD8 contra dois antígenos do parasita: uma proteína (rAdASP2) da superfície do amastigoto (parasita em seu estágio intracelular) e a enzima trans-sialidase, presente na forma tripomastigota (fase extracelular, que circula no sangue). Desta forma, a resposta imune é gerada para as duas formas infectantes do parasita, cobrindo todo o seu ciclo de vida dentro do organismo humano.

“Usamos vírus recombinantes com essas duas proteínas importantes para induzir a imunidade contra o parasita. Uma vez injetados no organismo, os vírus não são capazes de se reproduzir, mas entram nas células e produzem as proteínas dentro delas”, explicou Rodrigues.

Redução da patologia

No experimento descrito na PLoS Pathogens, camundongos infectados pelo T. cruzi foram imunizados, acompanhados durante 250 dias e, ao final, comparados com outros dois grupos de animais: um não infectado (controle) e outro infectado e não imunizado.

Enquanto no grupo infectado e não imunizado todos os animais morreram após o término do experimento, no grupo vacinado houve uma sobrevivência de 80% – índice equivalente ao do grupo controle.

“Com 250 dias de vida os animais já estavam idosos, algo equivalente a 60 anos humanos. Ou seja, os ratos vacinados passaram a vida toda doentes e sobreviveram tanto quanto os animais não infectados”, comentou Rodrigues.

A vacinação também foi capaz de reduzir em cinco vezes a carga parasitária. A porcentagem de animais que sofriam de arritmia cardíaca no grupo imunizado caiu de 100% para 33%, de acordo com o pesquisador.

“Houve uma melhora considerável na função cardiológica de maneira geral. Esse dado, aliado à queda na carga parasitária, mostra que houve melhora na qualidade de vida dos animais”, avaliou Rodrigues.

Embora a vacina tenha apresentado resultados promissores neste experimento e em anteriores nas quais ela foi testada profilaticamente, ainda é necessário desenvolver uma formulação segura para o uso em humanos antes de avançar para a fase de estudos clínicos.

Até o momento, nenhuma vacina contra a doença de Chagas, uma das doenças tropicais consideradas negligenciadas, foi testada em humanos e um dos principais obstáculos é a falta de financiamento e de interesse dos laboratórios farmacêuticos.

“Ainda que a doença não tenha um índice de mortalidade grande, representa um enorme custo econômico para os países pobres, pois os infectados muitas vezes ficam impossibilitados de trabalhar”, comentou Rodrigues.

Estima-se que a enfermidade cause mundialmente a perda de 750 mil anos de vida produtiva e de US$ 1,2 bilhão anualmente.

Malária vivax

Em outro projeto financiado pela FAPESP, Rodrigues coordena estudos para o desenvolvimento de uma vacina profilática contra a malária causada pelo Plasmodium vivax, que responde por aproximadamente 80% dos casos da doença no Brasil.

Os estudos ainda estão em fase pré-clínica e o grupo da Unifesp trabalha atualmente no desenvolvimento de uma formulação que possa ser testada em humanos.

Nos próximos meses deve ser licenciada a primeira vacina contra malária causada pelo Plasmódio falciparum, desenvolvida pelo laboratório farmacêutico GlaxoSmithKline (GSK).

A doença causada pelo P. falciparum é predominante na África e é considerada mais grave – matando cerca de 660 mil pessoas por ano, muitas delas crianças. As mortes pelo P. vivax são estimadas entre 10 mil e 20 mil por ano no mundo. A doença, porém, costuma causar recaídas que aumentam seu impacto econômico e mantêm altas as taxas de transmissão.