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Síndrome de Asperger: entenda por que o termo não é mais usado

Diagnóstico é enquadrado como transtorno do espectro autista (TEA)

Autismo leve ou autismo de alta funcionalidade são algumas expressões populares associadas à síndrome de Asperger. O que poucos sabem é que essa nomenclatura deixou de ser utilizada desde 2013, quando a maioria das pessoas com o diagnóstico foi enquadrada no transtorno do espectro autista (TEA) como autista nível 1 de suporte.

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Hábito de acumular objetos merece atenção especial

Estudo realizado na Europa mostrou que o transtorno de acumulação afeta de 2% a 6% da população

Em uma sociedade que cria necessidades desnecessárias e descartáveis, conforme a lógica capitalista do consumismo exacerbado, não constitui surpresa a existência de uma figura como o acumulador, cuja tarefa é essa mesma, a de acumular objetos e utensílios que nem sempre servem a uma finalidade específica. Na verdade, os acumuladores são vítimas de um transtorno mental – o transtorno de acumulação, o qual deixou de ser um subtipo do TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) para passar a ser classificado separadamente.

A  pós-graduanda de mestrado profissional em Entomologia da Faculdade de Saúde Pública da USP, Samanta Gouveia Parisi, desenvolve  pesquisa sobre o tema desde 2016. Seu trabalho a levou a classificar o acumulador como um indivíduo cuja tendência é a de se isolar socialmente, por medo ou vergonha. De peças de automóveis a potes de margarina, passando por baldes, tambores e outros objetos cuja finalidade é a de servirem como depósitos de água, o acumulador guarda um pouco de tudo, mas muitas vezes não dispõe de energia elétrica nem água encanada.

Foto: Wikimedia Commons

“Estão numa situação de vulnerabilidade e acabam acumulando água para poder utilizar.” O problema é que, ao colocarem muito valor em determinado objeto, passam a acumulá-lo em áreas que deveriam servir a outra finalidade, como a cozinha ou a sala de jantar, que acabam abarrotadas. Além disso, também tendem a acumular animais e nem sempre percebem quando um deles morre, com tudo o que isso possa representar para a saúde pública. Um outro fator relevante nessa questão é o risco que objetos como baldes ou tambores podem oferecer ao servirem de potenciais criadouros  para o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, da chikungunya e do zika vírus.

Um detalhe importante a se observar é o de que não se pode confundir acumulador com colecionador, já que este “consegue organizar objetos de uma forma delimitada, tem a noção do valor e o limite de onde pode acumular”. Pelo que representa de risco para a saúde pública, já existe um decreto (nº 57.560, de 28/12/2016) que instituiu a política municipal de atenção integral a pessoas em situação de acumulação. O tratamento indicado para pessoas nessa condição é multidisciplinar e inclui psicoterapia e o uso de medicamentos antidepressivos.

 

Família também é “remédio” para doença mental

Engajamento da família é fundamental para um futuro de qualidade do jovem vítima de episódio psicótico

Estudo em Ribeirão Preto aponta que fortalecimento de laços entre a família e o paciente psiquiátrico contribui para readaptação de ambos – Foto: Visualhunt

Estudo realizado pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP aponta que a recuperação e o tratamento de pessoas que passaram pelo primeiro episódio psicótico (PEP) podem ter melhores resultados quando o paciente conta com o apoio da família.

PEP é um evento em específico, caracterizado pela primeira internação do paciente em um serviço de saúde, apresentando um ou mais dos sintomas que definem a psicose, entre os quais delírios, alucinações, comportamentos desorganizados ou bizarros.  Ele pode ser o anúncio ou o início de um transtorno mental crônico como, por exemplo, a esquizofrenia. Geralmente ocorre entre 15 e 25 anos, durante a adolescência e o início da idade adulta, mas 40% dos casos acontecem entre os 15 e 18 anos de idade e com apresentação de sintomas que, até então, eram desconhecidos.

Segundo a autora da pesquisa, a enfermeira Luiza Elena Casaburi, assim como qualquer transtorno mental, o PEP tem tratamento, que auxilia no combate à cronificação possível da doença que está por vir, ou seja, para evitar que ela se instale e permaneça no indivíduo.

Luiza Elena Casaburi – Foto: Arquivo pessoal

Nesse sentido, diz Luiza, a família é importante a ponto de ser responsável por tudo que possa acontecer com o adoecido, incluindo a probabilidade de ser reinserido na sociedade, o que é um dos pontos mais críticos após o PEP. A pesquisadora lembra que, durante muito tempo, o distanciamento entre doentes e familiares por meio da internação em clínicas especializadas era tido como a melhor solução. “Hoje, a nossa pesquisa, junto com outras da mesma temática, demonstra que os familiares são vistos como colaboradores na resolução de problemas.”

Para a pesquisadora, o engajamento da família é essencial para um futuro de qualidade do jovem vítima do PEP. O engajamento da família é a forma que ela encontra de apoiar e ajudar o adoecido e acontece de diversas maneiras. “A demonstração de apoio ao paciente e ao tratamento, o compartilhamento de sentimentos e trocas afetivas e, ainda, a correta supervisão dos medicamentos e comportamentos do paciente são algumas características de um bom engajamento.”

Do estudo da EERP participaram 12 jovens com, em média, 21 anos, que estão em tratamento no Ambulatório do PEP do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP e, ainda, 13 familiares, em sua maioria mães, que acompanham lado a lado o tratamento do adoecido após o PEP.

Família e seus benefícios

A partir do momento em que a família se alia ao tratamento do paciente, ajudando no uso das medicações, no deslocamento e na participação ativa nas consultas junto da equipe multiprofissional, supervisionando comportamentos problemáticos ou de risco para o adoecido, ambos saem ganhando. O paciente adquire mais confiança em seus familiares, tornando mais fortes os laços de parceria e companheirismo, enquanto a família aprende a se reorganizar, um ajudando ao outro e redefinindo-se a função de cada um dentro do lar. “Ao assumir papéis que outrora eram do membro adoecido, a família pode descobrir novas habilidades e recursos adaptativos”, relata Luiza.

A respeito da dor e sofrimento causados por se ter um parente nessas condições, as expectativas dos familiares em relação a ele passam por alterações, transformando desde as relações afetivas até a dinâmica familiar. Depois do PEP, sentimentos de insegurança, medo, frustração e dúvida em relação ao futuro vêm à tona. As responsabilidades se acumulam principalmente para as mães, que dividem seu tempo entre cuidar da casa, trabalho e do familiar adoecido.

“A experiência de cuidar pode alternar entre as fases de relativa calma e tempos onde carga considerável é colocada sobre o cuidador. Esse conjunto de influências faz com que a continuidade do tratamento após o PEP seja considerada um desafio para o trabalho da enfermagem com as famílias dos pacientes acometidos por transtornos mentais.”

Luiza ainda destaca a importância do autocuidado, da reinserção social e da fé no potencial positivo do adoecido, citando uma frase dita por uma das cuidadoras entrevistadas: “Eu quero que ele saia e controle a vida dele sabendo que é um doente psiquiátrico para sempre por causa da sua patologia, mas que está vivo! É capaz de produzir, de formar uma família, de se responsabilizar por essa família e deixar um exemplo”.

A dissertação Engajamento familiar na manutenção do tratamento em saúde mental após o primeiro episódio psicótico foi defendida na EERP em setembro do ano passado, com orientação da professora Sueli Aparecida Frari Galera.

Stella Arengheri, de Ribeirão Preto

Mais informações: e-mail luiza.casaburi@hotmail.com

Ausência ao trabalho por motivo de transtornos mentais

As doenças mentais são responsáveis por um importante impacto socioeconômico ao redor do mundo. No Brasil, tais quadros são a terceira principal causa de pagamento de benefício previdenciário por doença. Estudo conduzido na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP em parceria com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) sobre fatores associados ao afastamento do trabalho por transtornos mentais foi recentemente publicado no PLOS ONE, um dos periódicos científicos de maior fator de impacto mundial na área de Saúde e Ciências Médicas.

O manuscrito “Long-Term Sickness Absence Due to Mental Disorders Is Associated with Individual Features and Psychosocial Work Conditions” foi baseado na Dissertação de Mestrado de João Silvestre da Silva-Júnior, apresentada ao Programa de Saúde Pública da FSP/USP, sob orientação da Prof. Dra. Frida Marina Fischer, do Departamento de Saúde Ambiental.

Os pesquisadores avaliaram a relação entre fatores individuais e condições de trabalho desfavoráveis relatados por trabalhadores que solicitavam benefício auxílio-doença. O estudo foi conduzido na cidade de São Paulo entre 2011-2012 e encontrou uma maior probabilidade de transtornos mentais incapacitantes entre trabalhadores do sexo feminino, de cor de pele branca, com alto nível de escolaridade, com alto consumo de cigarro e álcool, além de presença de diversas comorbidades. Condições de trabalho na qual houve exposição à violência e a estressores psicossociais do trabalho estiveram fortemente associadas aos quadros de desgaste mental, quando comparado a outras doenças.

Os autores concluíram que tanto as características individuais, quanto as condições de trabalho estão relacionadas ao afastamento do trabalho por doenças psiquiátricas. Todavia, reforçam a necessidade de profissionais da área de Saúde e Segurança no Trabalho investigarem condições inadequadas nas empresas para implementação de ações e estratégias preventivas em situações de maior susceptibilidade de adoecimento.

No momento os autores conduzem pesquisa para compreender os facilitadores e barreiras no processo de retorno ao trabalho de pessoas que receberam benefício no INSS por transtornos psiquiátricos.

Mais informações com o pesquisador João Silvestre da Silva-Júnior pelo  pelo e-mail silvajunior.js@gmail.com