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Prevenção do suicídio: saúde mental é tema negligenciado pela mídia

Ainda tabu na sociedade brasileira, o suicídio é um tema que costuma ser evitado pelos meios de comunicação, apesar de ser bem divulgado em casos de falecimentos de figuras públicas ou quando atrelado a mortes inusitadas ou trágicas. Mas, para além do tabu em si, qual seria o real motivo para a imprensa evitar falar sobre o tema e quais seriam as consequências do tipo de veiculação feita, muitas vezes associada ao sensacionalismo?

“A ideia de que a imprensa pode influenciar o suicídio não é recente. O romance Os sofrimentos do jovem Werther, publicado pelo escritor alemão Goethe em 1774, foi apontado como fonte de inspiração para mais de uma centena de suicídios cometidos por jovens na época”, explica a jornalista Juana Portugal, que defendeu especialização sobre o tema no curso de Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz). “A partir de então, iniciou-se o debate sobre o assunto e o tratamento do suicídio pela mídia foi visto como algo ‘contagioso’, que poderia ter na veiculação dessas notícias o principal fator desencadeador de uma espécie de ‘epidemia’ ”.

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Abrasco destaca suicídio como questão de saúde pública

O sol ainda não estava tão quente às 07h30 da manhã da quinta-feira dia 15 de setembro, na zona rural de Urupá – município distante 40 km de Porto Velho, capital de Rondônia, quando um mecânico de 24 anos tentou tirar a própria vida ingerindo doses de agrotóxico. Familiares de imediato tomaram o recipiente do mecânico e o conduziram até o pronto socorro da cidade onde o mesmo foi internado.

16 dias antes da tentativa do jovem mecânico rondoniense, às onze da manhã do dia 29 de agosto, um motoboy de 41 anos telefonou para uma amiga na manhã daquela segunda-feira, queria dizer adeus. Na chamada de poucos minutos, informou que cometeria suicídio dali a algumas horas e que ela ficaria sabendo mais tarde, pela televisão. Ligou então para sua mãe, de 94 anos, avisando que não levaria o filho, de 4 anos, à escola. Com o menino nos braços, o motoboy pegou um ônibus próximo de sua casa, na Vila Galvão, em Guarulhos, e seguiu até o Fórum Trabalhista Ruy Barbosa, na Zona Oeste de São Paulo. Era por volta das 10h50 quando encostou no balcão de um dos cartórios do fórum, pediu um pedaço de papel e uma caneta. Pelas imagens do circuito interno do fórum, é possível concluir que ele subiu até o 17º andar, atravessou uma faixa de isolamento, sentou-se no parapeito e, com o filho no colo, pulou.

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Pesquisa analisa suicídio de mulheres idosas no Brasil

Violência de gênero e intrafamiliar, sofrimento por perdas de pessoas referenciais e da função tradicional, como esposa e mãe, e depressão são os principais fatores associados ao suicídio de idosas no Brasil. Esses são os resultados apontados pelo Estudo compreensivo sobre suicídio de mulheres idosas de sete cidades brasileiras, publicado na última edição da revista Cadernos de Saúde Pública. O artigo, desenvolvido pela coordenadora do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves/ENSP/Fiocruz), Cecília Minayo, e pela professora da Universidade Veiga de Almeida (UVA), Fatima Gonçalves Cavalcante, faz parte de uma pesquisa multicêntrica realizada no Brasil, que analisou 51 casos de suicídio de idosos. Nela, buscou-se aprofundar 11 casos relativos às mulheres.

De acordo com as autoras da pesquisa, o suicídio é um ato deliberado de infligir a morte a si próprio. Os riscos para esse tipo de óbito incluem fatores biológicos, psicológicos, médicos e sociais, segundo a Organização Mundial da Saúde. O estudo em questão trata, especificamente, e do ponto de vista qualitativo, do suicídio consumado de mulheres idosas. Os dados foram recolhidos por meio de autópsias psicossociais, um tipo de estudo retrospectivo que reconstitui o status da saúde física e mental e as circunstanciais sociais das pessoas que se suicidaram, a partir de entrevistas com familiares e informantes próximos às vítimas.

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Suicídio deve ser tratado como questão de saúde pública, alertam pesquisadores

Ao ano, quase um milhão de pessoas morrem em decorrência de suicídio. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o ato está entre as dez causas de morte mais frequentes em muitos países do mundo. No Brasil, são registradas 10 mil mortes por ano, com uma taxa de 4,8 a cada 100 mil habitantes, em 2008. Depois destes dados, podemos pensar o suicídio como uma questão de saúde pública? Especialistas na área de saúde mental defendem que sim. E acreditam que esses números podem diminuir se aumentarem os debates sobre o assunto. É o que faz a Fiocruz, por meio de pesquisas, projetos e capacitações. Profissionais de diversas áreas buscam desmitificar esse tabu e oferecer um melhor acolhimento a quem busca ajuda no Sistema Único de Saúde.

A troca de informações sobre suicídio pode ser muito útil para diminuir esses índices. A OMS estima que 90% dos casos podem ser evitados quando há oferta de ajuda. Em geral, seis meses antes de consumar o ato, pessoas com pensamentos suicidas procuram ajuda com profissionais, em especial em clínicas médicas. Esta constatação, feita pelo Grupo de Pesquisa de Prevenção do Suicídio (PesqueSui/Icict/Fiocruz), questiona o atendimento primário à saúde. “Quem já tentou o suicídio tem um risco ainda maior. Toda tentativa precisa ser olhada com atenção”, diz a psicóloga Clarice Moreira Portugal, pesquisadora no grupo.

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