Tag Archives: Segurança alimentar

Fiocruz Minas e PBH lançam Protocolo de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência

A Fiocruz Minas e a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania (SMASAC), lançaram, na tarde dessa segunda-feira (9/12), o Protocolo de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência do município. O documento apresenta um compilado dos diversos serviços que compõem a rede de atendimento às mulheres e traz uma série de diretrizes que visa nortear o olhar dos profissionais que atendem a esse público, promovendo uma assistência ainda mais qualificada e cuidadosa.

O protocolo é constituído de três partes. A primeira é mais conceitual e apresenta definições sobre vários termos relacionados ao tema da violência. A segunda explica a metodologia para o desenvolvimento do documento. Já a terceira, a maior, faz uma caracterização de todos os serviços oferecidos às mulheres em situação de violência, aponta as atribuições de cada um deles e, de forma inovadora, chama atenção para os marcadores sociais das diferenças, apresentando casos emblemáticos e fornecendo orientações sobre como atender as especificidades. 

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Foto destacada: Bárbara Prado

Na Amazônia, fome aumentou em 76% risco de crianças terem COVID-19

Em pesquisa que acompanha nascidos em 2015 e 2016 no município de Cruzeiro do Sul, no Acre, mais da metade dos entrevistados relatou que passou fome no mês anterior; ocorrência de sintomas apresentou relação ainda com vulnerabilidade social, escolaridade e cor da pele das mães

A insegurança alimentar contribui, em muito, para uma criança apresentar sintomas da COVID-19. A conclusão é de um estudo realizado por pesquisadores brasileiros publicado nesta segunda-feira (18/07) na revista PLOS Neglected Tropical Diseases.

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Anvisa recebe alerta internacional sobre salmonela em Kinder Ovo: Brasil não está na lista de países com chocolates contaminados

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebeu hoje (14) alerta, divulgado pela Rede Internacional de Autoridades de Segurança Alimentar (Infosan), sobre surto de Salmonella Typhimurium em chocolates da marca Kinder. De acordo com o aviso, o Brasil não está incluído na lista de países para os quais o produto foi distribuído.

Em nota, a agência informou nesta quinta-feira (14) que está monitorando as informações das autoridades na Europa sobre os casos de infecção pela Salmonella Typhimurium, associados ao consumo de chocolates da empresa Ferrero, fabricados na Bélgica e distribuídos para diferentes países.

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Estado nutricional de crianças quilombolas reflete falta de acesso a saneamento

Os quilombolas constituem parte das minorias étnico-raciais do país. Um artigo com a participação do pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) James R. Welch, ao avaliar o estado nutricional e déficit estatural de crianças quilombolas do Nordeste, constatou que essa população apresenta condições de saúde desfavoráveis, reflexo de um processo histórico de grandes desvantagens socioeconômicas, como falta de acesso à atenção básica e precárias condições de saneamento.

No entanto, uma acelerada transição alimentar e nutricional ocorreu nas últimas décadas no Brasil, resultando em um aumento das frequências de sobrepeso e obesidade e na redução da prevalência de desnutrição, especialmente na população infantil. Mas, as mudanças no perfil de saúde que acompanharam a transição nutricional não atingiram a população brasileira uniformemente. Minorias étnico-raciais continuam a apresentar desvantagens socioeconômicas que se refletem em perfis de morbidade menos satisfatórios, principalmente em relação a agravos nutricionais, a exemplo dos quilombolas, que vivem em situações particularmente pronunciadas de exclusão social.

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Modelagem computacional ajuda a melhorar a qualidade e a segurança microbiológica dos alimentos

A indústria alimentícia de diversos países tem utilizado uma nova ferramenta para melhorar a segurança e a qualidade microbiológica de seus produtos. Trata-se da microbiologia preditiva – um sistema baseado em modelagens matemáticas e estatísticas, realizadas por softwares, para prever o comportamento de microrganismos em alimentos frescos ou processados.

O novo método se apoia no princípio de que a capacidade de as bactérias e fungos se multiplicarem nos alimentos depende de propriedades do produto, como composição, acidez, umidade, teor de sal e de antimicrobianos presentes, além das condições de temperatura, tempo, umidade relativa e atmosfera nas quais é mantido. Dessa forma, o efeito de cada um desses fatores no alimento pode ser calculado matematicamente, por meio de diferentes modelos preditivos.

Em razão de uma série de benefícios que apresenta, o método vem substituindo a forma tradicional de avaliar os riscos de contaminação de alimentos, feita atualmente por meio de análises microbiológicas em laboratório, que além de cara é limitada, uma vez que os resultados são válidos exclusivamente para a amostra avaliada, segundo pesquisadores da área.

“Como os microrganismos não se distribuem de modo uniforme em um alimento, é preciso fazer análises microbiológicas de muitas amostras do produto para concluir se ele é seguro ou não para o consumo”, disse Bernadette Dora Gombossy de Melo Franco, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Universidade de São Paulo (USP), à Agência FAPESP.

“A modelagem preditiva leva em conta os aspectos estatísticos da variabilidade e da incerteza das medições, aliada à imprecisão dos métodos laboratoriais de análise, para chegar a essas conclusões”, explicou Franco, que é coordenadora do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC, na sigla em inglês) – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela FAPESP.

De acordo com Franco, com a modelagem é possível prever qual será a vida útil (prazo de validade) de um determinado alimento e saber o que pode ser feito, do ponto de vista tecnológico, para melhorá-la.

Por meio de cálculos matemáticos pode-se avaliar, por exemplo, qual o comprometimento da vida útil de salsichas se, em vez de serem comercializadas refrigeradas a 12 ºC, como recomendam os fabricantes, forem vendidas a 15 ºC ou a 18 ºC. Ou ainda saber qual o efeito da adição de um novo conservante na formulação ou do uso de uma nova tecnologia de processamento do produto.

O método também pode ser usado para fazer avaliações quantitativas de risco à saúde do consumidor, dependendo do microrganismo patogênico considerado, das condições de produção e comercialização e da forma de consumo, “desde a fazenda até o garfo”, segundo Franco.

“No Brasil, há em geral uma subnotificação de casos de enfermidades transmitidas por alimentos, causadas por microrganismos contaminantes, e sabemos que esse problema é bem maior do que imaginamos”, disse a pesquisadora.

“Os fatores climáticos e as grandes distâncias entre o local de produção e o de consumo favorecem essas ocorrências, principalmente se as condições de transporte forem impróprias”, ressaltou.

ESPCA sobre o tema

A fim de disseminar o uso e a aplicação do novo método no Brasil, o Departamento de Alimentos e Nutrição da FCF realizou, entre os dias 28 de outubro e 5 de novembro, a São Paulo School of Advanced Science – Advances in predictive modeling and quantitative microbiological risk assessment of foods.

Coordenada por Franco e realizada no âmbito da Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA) – modalidade de apoio da FAPESP que financia cursos de curta duração em pesquisa avançada nas diferentes áreas do conhecimento –, o evento reuniu dezenas de estudantes e 17 renomados pesquisadores – provenientes dos Estados Unidos, Dinamarca, Malta, Reino Unido, Espanha, Holanda, Bélgica, Austrália, França, Grécia e do Brasil –, especialistas em microbiologia preditiva. Entre eles Paw Dalgaard, professor da Universidade Técnica da Dinamarca.

O pesquisador e colegas de seu grupo de pesquisa em microbiologia preditiva desenvolveram um software para prever o efeito das condições de temperatura constante e variável no prazo de validade de peixes e frutos do mar de águas temperadas e tropicais e no crescimento de bactérias deteriorantes desses produtos, como a Photobacterium phosphoreum e a Shewanella puftefaciens.

Disponibilizado gratuitamente na internet, o software pode auxiliar a indústria pesqueira a prever o crescimento de bactérias patogênicas em peixe fresco, por exemplo, afirma o pesquisador.

“A taxa de refrigeração é um parâmetro muito importante tanto para a ‘vida de prateleira’ quanto para a segurança de pescados e frutos do mar”, disse Dalgaard.

“Na prática, alimentos frescos e ligeiramente conservados, como peixes e frutos do mar, podem ser conservados a temperaturas entre 0 ºC e 15 ºC, mas em regiões tropicais não raro são expostos a temperaturas acima dessa faixa, facilitando o crescimento de bactérias deteriorantes do produto”, avaliou.

Na Dinamarca, por meio da diminuição e do controle da temperatura de conservação dos pescados comercializados pela indústria pesqueira do país feitos com base em modelagens microbiológicas, foi possível retirar o uso do sal nesses produtos como conservante, contou o pesquisador.

Demorou muito anos, no entanto, para a indústria pesqueira dinamarquesa compreender como a modelagem preditiva poderia ser útil para diminuir os riscos de contaminação dos pescados, ressalvou Dalgaard. “Foi necessário mudar toda uma cultura de conservação seguida há décadas”, afirmou.

Outro renomado pesquisador participante do evento foi József Baranyi, do Instituto de Pesquisa em Alimentos em Norwich, no Reino Unido.

Considerado o “pai” da modelagem preditiva, Baranyi desenvolveu e gerencia, com pesquisadores da Austrália e dos Estados Unidos, a Combined dataBase for predictive microbiology (ComBase, na sigla em inglês) – uma imensa base de dados sobre o comportamento de microrganismos em diferentes condições nos alimentos, além de uma coleção de modelos preditivos disponíveis na internet para as mais variadas aplicações na indústria alimentícia.

Atraso do Brasil

Além da Dinamarca, do Reino Unido e de outros países europeus, os Estados Unidos já adotam a modelagem preditiva.

O Departamento de Agricultura norte-americano (USDA, na sigla em inglês), por exemplo, desenvolveu, ainda nos anos 1980, um programa pioneiro de modelagem de patógenos em alimentos – o Pathogen Modeling Program (PMP) – que inclui modelos de crescimento, sobrevivência e inativação e é amplamente utilizado por diversos países.

O pesquisador Robert Buchanan, do Centro de Segurança dos Alimentos da Universidade de Maryland, dos Estados Unidos, que participou do desenvolvimento do PMP, foi um dos conferencistas da ESPCA sobre Modelagem Preditiva.

Já no Brasil – um dos maiores exportadores de alimentos do mundo – há poucos pesquisadores trabalhando nessa área, apontaram participantes do evento.

“A comunidade de pesquisa nessa área precisa ser ampliada para não ficarmos atrás do que o mundo faz hoje em termos de novas técnicas para diminuir as consequências da contaminação microbiana em alimentos”, avaliou Franco. “Por isso, foi importante a realização dessa escola na área no país.”

Franco iniciou recentemente um projeto de pesquisa em parceria com colegas da Universidade Técnica da Dinamarca.

Realizado com apoio da FAPESP, no âmbito de um acordo assinado pela instituição com o Danish Council for Strategic Research (DCSR), o projeto visa desenvolver uma modelagem preditiva de contaminação cruzada de produtos cárneos por Salmonella e Listeria monocytogenes durante as etapas de abate e processamento do produto.

Os resultados do projeto permitirão à indústria e ao varejo estabelecerem sistemas de controle, de modo a minimizar os riscos de contaminação dos produtos, estimam os pesquisadores.

Pontos críticos de controle

Em razão do clima tropical do Brasil, os ingredientes alimentícios no país têm uma carga de esporos bacterianos muito alta e com resistência térmica elevada, apontaram pesquisadores participantes do evento.

Por isso, segundo eles, é preciso desenvolver modelos de desinfecção química para que as indústrias alimentícias brasileiras saibam qual o sanitizante e em que concentração ele deve ser utilizado para desinfectar suas linhas de produção.

“Muitos desses esporos bacterianos formam biofilmes ou recobrem as paredes dos equipamentos e são de difícil eliminação”, explicou Pilar Rodriguez de Massaguer, professora aposentada da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) e pesquisadora colaboradora da Faculdade de Engenharia Química (FEQ) Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

“Se houvesse modelos preditivos de desinfecção, as indústrias poderiam conhecer melhor esses microrganismos e saber quais produtos podem utilizar para eliminá-los”, apontou.

Como é possível, eventualmente, que esses esporos bacterianos sobrevivam e saiam das dependências das indústrias alimentícias, também são necessários modelos preditivos que indiquem o tempo que os microrganismos que entraram em contato com o alimento na fábrica durarão nas gôndolas dos supermercados antes de germinar, crescer e contaminar o produto, indicou a pesquisadora.

No interior dos supermercados, de acordo com Massaguer, também há a necessidade de modelar, por exemplo, o efeito da variação da temperatura de conservação em alimentos refrigerados.

“A temperatura das câmaras de refrigeração dos supermercados no Brasil varia entre 10 ºC e 15 ºC, e nunca permanece a 4 ºC [a temperatura indicada de conservação de alimentos refrigerados]”, disse Massaguer.

“É necessário avaliar qual o efeito dessa temperatura variável na limitação da vida útil em diversos alimentos à base de carne, frutas e leite produzidos no Brasil”, afirmou.

Segundo Massaguer, no Brasil a indústria alimentícia brasileira usa a modelagem preditiva apenas para solucionar problemas específicos, por meio de contrato com pesquisadores e especialistas da área, como o Labtermo da Unicamp, que ela coordena e onde são desenvolvidos estudos sobre resistência térmica, desinfecção e controle de microrganismos de interesse para a indústria.

E não há, até o momento, investimento industrial para o desenvolvimento de software para realização de microbiologia preditiva no país, apontou.

“A modelagem preditiva é uma área multidisciplinar, que requer o envolvimento não só de engenheiros de alimentos, como também de matemáticos e estatísticos. Este entrosamento ainda é incipiente no Brasil”, afirmou Massaguer.

“Este é um dos motivos pelos quais vem sendo pouco utilizada pelas indústrias alimentícias brasileiras”, avaliou.

Biocombustíveis podem ser facilitadores da segurança alimentar

Com políticas públicas adequadas e investimento em novas tecnologias que permitam explorar melhor a biomassa, a produção de biocombustíveis pode fortalecer tanto o desenvolvimento econômico como a segurança alimentar e energética – principalmente em países da América Latina e da África.

A avaliação foi feita pelo professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Luís Augusto Barbosa Cortez e pelo professor do Imperial College London Jeremy Woods em um painel sobre biocombustíveis realizado na última sexta-feira (27/09), durante a programação da FAPESP Week London.

“Faço essa afirmação com base na experiência do Brasil. A razão para o sucesso do modelo brasileiro, que combina produção de açúcar e de etanol, foi principalmente a relação dinâmica entre os setores de pesquisa e produtivos”, afirmou Cortez.

Embora possa parecer aos olhos estrangeiros que os brasileiros vivem cercados de cana por toda parte, disse Cortez, a verdade é que as plantações dedicadas à produção de etanol ocupam apenas 0,4% do território do país e nunca representaram uma ameaça à produção de alimentos.

“Na década de 1970, o Brasil importava 80% da gasolina que consumia. O Proálcool [Programa Nacional do Álcool], além de ajudar a conquistar a independência energética, contribuiu para a industrialização da agricultura brasileira. Foram transferidos para o setor toda uma capacidade de engenharia e de cálculo dos custos de produção e todo um conhecimento sobre máquinas. Hoje 40% das exportações do país correspondem a produtos agrícolas”, disse Cortez.

Na avaliação do cientista, vários países africanos e latino-americanos – por possuírem grandes quantidades de terras disponíveis para a produção de biocombustíveis – poderiam se beneficiar com o modelo brasileiro e aliviar sua dependência energética.

Com esse objetivo e apoio da FAPESP, foi iniciado em 2013 o projeto Bioenergy Contribution of Latin America & Caribbean and Africa to the Global Sustainable Bioenergy Project (LACAF-cana), cuja meta é analisar as possibilidades de produção de etanol de cana em quatro países: Colômbia, Guatemala, Moçambique e África do Sul.

“Nosso primeiro passo será fazer um diagnóstico da atual situação agrícola desses países. Em seguida, faremos um levantamento do potencial de produção e discutiremos qual é o modelo mais adequado para cada lugar. Não necessariamente será um modelo igual ao brasileiro”, contou Cortez.

Em uma segunda etapa do projeto, serão avaliadas questões ambientais, como potencial ameaça à biodiversidade e aos recursos hídricos. Numa terceira parte, questões socioeconômicas, contou Cortez.

A iniciativa, acrescentou, é uma contribuição brasileira ao projeto Global Sustainable Bionergy (GSB), coordenado pelo professor do Dartmouth College (Estados Unidos) Lee Lynd, que tem como meta incentivar o desenvolvimento sustentável dos biocombustíveis e analisar as possibilidades de substituir 25% da energia usada hoje no planeta por bioenergia.

“Em um estudo prévio identificamos potenciais áreas para expandir a plantação de cana no Brasil. Sem tocar na Amazônia, vimos que há 360 milhões de hectares disponíveis. Hoje temos 9 milhões plantados. Mas o governo federal pediu um zoneamento para cultivo de cana, chegamos então a 60 milhões de hectares. Concluímos que, se apenas 25 milhões de hectares adicionais fossem plantados no Brasil, o país sozinho poderia suprir 10% do consumo mundial de gasolina”, contou Cortez.

Amigo ou inimigo

Em sua apresentação, Jeremy Woods, que também colabora com o LACAF-cana, desconstruiu diversos argumentos usados pelos críticos da bioenergia, entre eles os da elevação do preço dos alimentos em razão do maior uso da terra para produção de biomassa, do aumento na pressão sobre a biodiversidade e sobre os recursos hídricos e do aumento nas emissões de gases estufa causados pelo desmatamento.

“No Brasil, por exemplo, é a expansão do cultivo de soja uma das maiores causas do desmatamento. E essa soja é usada principalmente na alimentação animal. Nos Estados Unidos também a maior parte do milho cultivado é usado na alimentação animal. O desmatamento, portanto, está mais associado ao nosso consumo de carne e de laticínio do que aos biocombustíveis”, avaliou.

De acordo com Woods, não há um consenso no meio científico sobre os impactos da bioenergia. “Não devemos pensar nisso como um problema e sim buscar uma solução para integrar a produção de alimentos e de bioenergia. Se feita da forma adequada, a produção de biocombustíveis pode ser facilitador da segurança alimentar”, disse.

Woods citou como exemplo o caso de Zâmbia, que em 2012 produziu 1,5 milhão de toneladas de milho excedente. Com capacidade de exportar apenas 70 mil toneladas por mês, o país africano perdeu a maior parte de sua produção. “Se houvesse um sistema integrado, as sobras poderiam ser destinadas para a bioenergia”, opinou.

Segundo Woods, ninguém ainda sabe ao certo como ampliar a oferta de biomassa sem causar grandes impactos ambientais nem ameaçar a segurança alimentar, mas a solução certamente deverá combinar quatro fatores: aumento da área de terra plantada, aumento da produtividade, melhor exploração do que hoje é considerado lixo, como a palha e o bagaço da cana, e aumento da eficiência, com a produção do etanol lignocelulósico e fracionamento da biomassa para obter subprodutos de alto valor agregado, como polímeros e químicos de interesse industrial.

“Os impactos indiretos são reais, mas contornáveis e é preciso enxergá-los sob uma diferente perspectiva. Essa mudança de perspectiva é essencial para que possamos ter políticas públicas adequadas que permitam o manejo integrado da terra”, disse.

Também participou do painel de biocombustíveis a professora da Universidade de São Paulo (USP) Siu Mui Tsai, que desenvolve um projeto apoiado pela FAPESP cujo objetivo é avaliar como o cultivo para a produção de biocombustíveis impacta a qualidade de solo, considerando não apenas a composição físico-química da terra como também a microbiota.

“Tentamos comparar um ambiente não perturbado com um perturbado e buscar métodos para manter a longo prazo a sustentabilidade do setor agrícola, seja por meio de manejos integrados ou sistemas de cultivo com palha, por exemplo”, afirmou.