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© Marcelo Camargo/Agência Brasil

Prevenção de dengue deve ir além de mensagens sobre hábitos e cuidados: Estudo da Unicef explica aspectos que dificultam a adoção de práticas

Embora grande parte da população saiba que é preciso “evitar água parada” para evitar a disseminação de doenças como dengue, zika e chikungunya, investir apenas em estratégias de comunicação focadas nessa mensagem não é suficiente para provocar mudanças significativas no combate às arboviroses. É o que revela estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), lançado nesta quinta-feira (24), com apoio da biofarmacêutica Takeda.

“O senso comum diz que quando alguém tem uma informação sobre o que é bom para si próprio e sua família, adota um comportamento ou hábito. Mas há uma diferença entre o que as pessoas falam que fazem e os hábitos que efetivamente incorporam em suas rotinas diárias. Fazer ou não fazer algo depende de uma enorme confluência de fatores, comportamentos, normas sociais, infraestrutura e acesso a políticas públicas. São esses aspectos que revelamos nesse estudo”, diz Luciana Phebo, chefe de saúde do Unicef no Brasil.

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Vírus da pólio é encontrado no esgoto de Londres e gera temor de volta de doença

O vírus que causa a poliomielite foi detectado em um número preocupante de amostras de esgoto em Londres, segundo autoridades de saúde. A doença era comum no Reino Unido na década de 1950, mas foi erradicada em 2003.

A Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA) diz que o vírus provavelmente foi trazido a Londres por alguém recentemente vacinado no exterior com uma forma viva do vírus.

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Pesquisa analisa regulação em derivados do tabaco

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o tabagismo uma doença pediátrica pois 90% dos fumantes começam a fumar antes dos 19 anos e quanto mais cedo iniciam o uso do tabaco, mais rápido se tornam dependentes. Uma das estratégias praticadas pela indústria para atrair os jovens é a utilização de aditivos que conferem aroma e sabor aos produtos derivados do tabaco, com o intuito de torná-los mais atraentes e palatáveis. Neste contexto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu o uso desses aditivos, com o objetivo de reduzir a experimentação e iniciação por crianças e jovens. Para compreender e relatar o processo de proibição dos aditivos nos produtos derivados do tabaco no Brasil, as pesquisadoras do Centro de Estudos sobre Tabaco e Saúde (Cetab/ENSP), Vera da Costa e Silva, Silvana Rubano Turci e Valeska Carvalho Figueiredo, desenvolveram um artigo que aponta que indústria do tabaco tem procurado ao máximo adiar a entrada em vigor da Resolução da Anvisa que proíbe os aditivos no país.

Segundo dados da OMS, o tabagismo causa cerca de 6 milhões de mortes a cada ano e é a principal causa de morte prematura evitável no mundo. A estimativa é que existem mais de um bilhão de fumantes no mundo, sendo 80% residentes de países de baixa ou média renda. No Brasil, os custos do tratamento da doenças tabaco-relacionadas chegam a R$ 21 bilhões por ano. Proibir os aditivos – por meio da Resolução da Diretoria Colegiada nº 14, de 2012 –  é uma importante medida de saúde pública, em consonância com os artigos 9 e 10 e Guias Parciais de Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco da OMS (CQCT/OMS), tratado ratificado pelo Brasil em 2005 e atualmente coordenado pela pesquisadora do Cetab, Vera da Costa e Silva.

O artigo A regulação de aditivos que conferem sabor e aroma aos produtos derivados do tabaco no Brasil apresenta uma análise do processo regulatório no Brasil, elencando os principais eventos relacionados e sugerindo uma interferência direta da indústria fumageira e de grupos de interesse na tomada de decisão e na implementação da Resolução 14/2012. Segundo as autoras do estudo, com base em evidências científicas e por meio de firmes decisões políticas, há quase três décadas o Brasil vem implementando um conjunto de medidas de controle do tabaco efetivas e abrangentes. Entre essas políticas destacam-se: a proibição da publicidade de produtos derivados de tabaco; a obrigatoriedade de impressão de imagens e frases de advertência sobre os malefícios para a saúde nas embalagens dos produtos; a proibição de descritores enganosos como light/ultralight nas embalagens dos produtos; a proibição de venda a menores de 18 anos; entre muitas outras políticas.

Essas medidas fazem parte das obrigações legais do Brasil como Estado-Parte da CQCT-OMS e vem obtendo forte impacto na redução da prevalência. Estudos mostram que o percentual de fumantes adultos (18 anos ou mais) na população brasileira diminuiu 63% entre 1989 e 2003. Apontam também um declínio de 41%, entre 1989 e 2008, na população de 15 anos ou mais. Segundo dados do Inquérito telefônico realizado pelo Ministério da Saúde através da Secretaria de Vigilância em Saúde sobre fatores de risco para doenças crônicas (Vigitel), a frequência de fumantes no conjunto das capitais brasileiras vem declinando e, em 2011, chegou a 14,8%, sendo maior entre os homens (18,1%) do que entre as mulheres (12%). Além disso, há uma redução de 20% na mortalidade por doenças respiratórias crônicas e cardiovasculares no país. A redução de tantos percentuais é atribuída à bem sucedida implementação de políticas públicas de saúde, principalmente as que estimulam a redução do consumo de derivados do tabaco e a ampliação de acesso a serviços da atenção básica em saúde.

Apesar dos resultados positivos, a iniciação do tabagismo entre adolescentes e adultos jovens ainda se mostra preocupante. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2009 e 2012, entre mais de 600.000 escolares das capitais brasileiras e, mais recentemente, incluindo municípios menores, cerca de 22% dos adolescentes de 13 a 15 anos das capitais do país experimentaram fumar e 6% fumaram nos últimos 30 dias. A adição de sabores e aromas aos cigarros tem sido considerada como uma resposta da indústria do fumo visando, entre outros objetivos, reagir às iniciativas governamentais e não governamentais que levam à redução da prevalência do tabagismo, como tem ocorrido no Brasil.

O processo de regulamentação e a indústria fumageira 

Para reduzir ainda mais o consumo de derivados de tabaco, principalmente a experimentação entre jovens, a Anvisa publicou em março de 2012, a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) número 14, proibindo o uso de aditivos que conferem aroma e sabor a esses produtos, como mentol, chocolate, baunilha, caramelo e cravo, entre outros. A adição de açúcar continua permitida. A medida também impede a importação de produtos com esses aditivos. Os fabricantes teriam até 18 meses, a partir da publicação da norma, para retirar do mercado nacional todos os cigarros com sabor. Apesar dos evidentes benefícios que esta regulação trará para a saúde da população brasileira, em especial das futuras gerações, a medida tem sofrido inúmeros questionamentos na justiça por parte da indústria fumageira e de seus aliados.

O artigo A regulação de aditivos que conferem sabor e aroma aos produtos derivados do tabaco no Brasil descreve toda a trajetória da regulamentação dos produtos derivados do tabaco no Brasil, passando pela própria criação da Anvisa, em 1999. Porém, um dos pontos importantes da pesquisa é a de que ao contrário da conclusão de outro estudo sobre o tema, que preconiza que o setor fumageiro é uma fonte geradora de recursos, no artigo assinado pelas pesquisadoras do Cetab/ENSP aponta-se que esse setor mina os recursos do país ao oferecer à população brasileira um produto nocivo para a saúde cujo consumo gera três vezes mais gastos com assistência médica do que contribui com a arrecadação de impostos.

Para as autoras do estudo, o governo brasileiro, por meio da atuação da Anvisa, deve continuar sendo uma referência mundial na regulação de produtos derivados de tabaco e, assim, continuar a desempenhar seu papel regulador no desenvolvimento de políticas públicas que protejam a saúde das futuras gerações. De acordo com as pesquisadoras, a indústria vem tentando de muitas formas reverter a situação da regulação dos aditivos no país, principalmente no âmbito da RDC 14/2012 exercendo forte pressão para retrocessos em relação a sua validade, prazos de aplicação e conteúdos, com a judicialização da saúde pública levando apenas à defesa de interesses corporativos, com alegações falaciosas de impactos indesejáveis sobre o setor mais fraco da cadeia produtiva, os plantadores de fumo.

“Manter a proibição dos aditivos como um todo e não sucumbir à pressão feita pela indústria fumageira deve ser a grande meta do governo com o suporte das instituições que tem compromisso com a população. A sociedade precisa dar suporte para que a Anvisa resista aos ataques e pressões contínuos e para que os Poderes Legislativo e Judiciário, com o suporte do Executivo, em especial do setor Saúde, sejam sensíveis à real necessidade de regulamentação de produtos do tabaco no Brasil, mantendo o mandato da Anvisa e permitindo que a RDC 14/2012 venha a ser cumprida e implementada em sua totalidade, conforme previsto em sua versão original”, concluíram as pesquisadoras do Cetab.

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Orientação médica é essencial para uso de medicamentos na gravidez

Analisar os fatores associados ao uso de medicamentos em mulheres que estão na primeira gestação foi o objetivo do artigo Fatores associados ao uso de medicamentos na gestação em primigestas no Município de Rio Branco, Acre, Brasil, publicado pela revista Cadernos de Saúde Pública. A pesquisa considerou 887 primigestas com idade média entre 21 anos e constatou que a média do uso de medicamento na primeira gestação é de 2,42, sendo os medicamentos mais consumidos: antianêmicos (47,5%), suplementos e vitaminas (18,7%), analgésicos (13,8%) e antibióticos (10,5%). O artigo sugere que novas iniciativas sejam desenvolvidas com o intuito de produzir evidências científicas capazes de serem inseridas no contexto das políticas públicas de saúde, visando a melhoria da qualidade da assistência materno-infantil.

Assinado pela pesquisadora do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde da ENSP Rosalina Koifman, em parceria com os pesquisadores da Universidade Federal do Acre Alanderson Alves Ramalho, Andréia Moreira de Andrade, Leila Maria Geromel Dotto, Margarida de Aquino Cunha e Simone Perufo Opitz, o estudo aponta também para a necessidade de investimentos para divulgação e educação profissional continuada. Os autores explicaram que a utilização de medicamentos no período da gestação tem sido alvo de discussões no que diz respeito à segurança, e empregada de maneira geral com restrições desde o acidente da talidomida – substância usualmente utilizada como medicamento sedativo, anti-inflamatório e hipnótico. Por outro lado, a gestação é acompanhada muitas vezes de intercorrências, necessitando de intervenções medicamentosas.

De acordo com os autores, no Brasil, os estudos de utilização de medicamentos revelam que a média de consumo é de dois medicamentos por gestante, e esse fato impulsiona iniciativas de pesquisas em nível local, na tentativa de descrever perfis de utilização e padrões de prescrição e de consumo.

“No estudo, foram considerados medicamentos classificados como de risco aqueles categorizados como C, D e X pelo Food and Drug Administration (FDA). Esses, representam os medicamentos que apresentaram efeitos adversos ao feto em trabalhos experimentais em animais, independente de evidências em humanos. Os medicamentos antianêmicos, suplementos e vitaminas com uso preconizado pelo Ministério da Saúde na atenção pré-natal foram denominados essenciais”, descreveram os autores.

Os resultados ressaltaram que a gestação não constitui um estado de enfermidade, porém as gestantes compõem um grupo de risco quando se trata de inserção de tratamento farmacológico. De acordo com os autores, exceto em casos extremos, é possível compatibilizar as prescrições com as características do estágio gestacional. “Ao profissional de saúde, responsável pelo acompanhamento da gestante, cabe o conhecimento necessário e a opção por medicamentos cujos benefícios superem os riscos e os mecanismos de ação estejam claramente definidos na literatura, embora haja a constatação da escassa produção científica, bem como as limitações na avaliação da segurança dos medicamentos pelos órgãos competentes”, defenderam.

 

 

País mantém vigilância permanente da poliomielite

Na segunda-feira (5/5), a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou emergência sanitária mundial diante do risco de contágio da poliomielite. A iniciativa ocorreu depois que foram detectados casos em mais de uma dezena de países. No Brasil, o último caso da doença transmitido por um poliovírus selvagem foi registrado em 1989, duas décadas após o início da política de vacinação contra a poliomielite. Para manter essa lembrança no passado, o Brasil desempenha atividades permanentes de vigilância virológica. Referência nacional no tema junto ao Ministério da Saúde e referência para a região das Américas junto à OMS, o Laboratório de Enterovírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) decidiu colocar a genética em campo: os cientistas sequenciaram a última linhagem selvagem de poliovírus a circular no Brasil. Assim, têm em mãos uma sequência genética que pode servir como elemento de comparação para facilitar o esclarecimento de casos que possam ressurgir no futuro. A estratégia é especialmente relevante num momento em que o país se prepara para receber visitantes de todos os cantos do mundo durante os grandes eventos internacionais que se aproximam.

Quando o assunto é uma possível reemergência da paralisia infantil, dois caminhos preocupam os cientistas. O primeiro é a possibilidade de, com tantas viagens intercontinentais, o vírus pegar carona na intensa circulação de pessoas. O segundo é bem mais complexo: como a vacina mais comum na atualidade é baseada em um vírus atenuado, é comum que os indivíduos imunizados excretem os vírus pelas fezes. A característica é positiva para o efeito de imunização do conjunto da população pois, ao entrar em contato com crianças não vacinadas, em áreas com saneamento básico precário, por exemplo, o vírus atenuado acaba provocando a imunização de um maior número de indivíduos. Ao mesmo tempo, porém, existe o risco de que este vírus vacinal atenuado sofra mutações que o tornem neurovirulento.

“De qualquer forma, é fundamental estar vigilantes e preparados para agir”, afirma o pesquisador Edson Elias da Silva, chefe do Laboratório de Enterovírus do IOC. Ele lidera o grupo que acaba de realizar o mapeamento completo do genoma de um representante desta linhagem, isolado de uma amostra de 1988. Os achados fazem parte da tese de doutorado de Fernando Tavares, desenvolvida durante o curso de Biologia Parasitária do IOC. O trabalho foi publicado no periódico científico Genome Announcements e as sequências genéticas foram cadastradas no GenBank, um banco online internacional de dados genético.

De acordo com Edson Elias, a vigilância da poliomielite e a vacinação, mesmo nos países que erradicaram o poliovírus, devem continuar enquanto houver patógeno circulando no mundo. “Devido ao trânsito intenso de pessoas pelo globo, o risco de importá-lo é real. Se a população não tiver uma cobertura vacinal excelente, as linhagens selvagens podem ser reintroduzidas em países que já haviam erradicado o vírus”, explica. É o caso da Somália, Etiópia, Quênia e Camarões, que vêm sendo atingidos por epidemias esporádicas locais. Recentemente, a Síria, que passa por um conflito armado, viu a poliomielite ressurgir após 14 anos. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a taxa de cobertura vacinal, antes dos conflitos, era de 90%. Hoje, atinge apenas 68%. Enquanto isso, Nigéria, Paquistão e Afeganistão, países endêmicos para a poliomielite, registraram 120, 58 e 37 casos, respectivamente, em 2012. Os dados são da Global Polio Eradication Initiative, programa coordenado pela OMS em parceria com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos.

O mapeamento do genoma da linhagem brasileira – a última linhagem a ser detectada no país – serve, também, para estudos de epidemiologia molecular: é importante conhecer este genoma para identificar a relação que o vírus selvagem que circulava no Brasil tinha com os de outros lugares do mundo. “No caso de uma reincidência da poliomielite aqui, poderemos apontar se a linhagem é local ou se foi importada, seja ela selvagem ou de origem vacinal”, afirma o pesquisador. O virologista explica que a amostra sequenciada foi referente a um dos últimos casos no país – época em que a circulação do vírus era muito reduzida como efeito do sucesso da política de vacinação. “Quando o mundo erradicar o poliovírus, teremos a memória biológica da doença registrada pelo seu genoma”, conclui Edson Elias.

A doença

A poliomielite é uma doença infecto-contagiosa aguda. Não existe cura e o vírus causador da doença se multiplica no intestino. A transmissão ocorre pela ingestão de água e alimentos contaminados com fezes (contato fecal-oral) e, por isso, crianças até os quatro anos, que ainda não adquiriram hábitos de higiene, correm mais risco de contrair o poliovírus. Apenas 1% dos infectados desenvolve a forma paralítica, decorrente da migração do vírus para o sistema nervoso central. As sequelas podem ser permanentes e, quando há comprometimento bulbar o paciente pode morrer de insuficiência respiratória.

Comer 7 em vez de 5 porções de frutas e vegetais por dia reduz risco de morte

Comer sete ou mais porções de frutas, verduras e legumes por dia é mais saudável do que as cinco recomendadas pelos médicos e prolongaria a expectativa de vida, revela uma nova pesquisa.

Cada porção contém cerca de 80 gramas, equivalente a uma fruta grande ou um punhado de frutas ou verduras e legumes pequenos.

O estudo, feito com cerca de 65 mil homens e mulheres, sugere que quanto mais alimentos desse tipo as pessoas ingerirem, menos chances têm de morrer – em qualquer idade.

Entre os benefícios comprovados, está a redução do risco de câncer e de doenças cardíacas.

Os cientistas, da Universidade College de Londres, analisaram dados do National Health Survey entre 2001 e 2008, uma espécie de Censo da Saúde do Reino Unido, que coleta informações sobre a saúde dos britânicos por meio de questionários e visitas médicas, além da análise da dieta alimentar e do estilo de vida dos pacientes.

Além disso, os estudiosos avaliaram a mortalidade geral, além das mortes causadas por câncer, doenças cardíacas e derrame.

Eles descobriram que o risco de morte precoce provocada por qualquer uma dessas doenças caiu, ao passo que a ingestão de frutas e vegetais aumentou.

Ao longo da pesquisa, os cientistas descobriram que o risco de morte foi reduzido em:

  • 14% se o indivíduo ingerir entre uma e três porções de frutas, verduras e legumes por dia
  • 29% entre três e cinco
  • 36% entre cinco e sete
  • 42% para sete ou maisA pesquisa também constatou que vegetais frescos possuem um potencial maior de proteção, seguidos pelas saladas e depois pelas frutas.

    Já o suco de frutas não oferece benefícios, enquanto que frutas enlatadas aumentam o risco de morte – possivelmente porque elas são armazenadas em uma calda de açúcar, dizem os pesquisadores.

    Segundo Oyinlola Oyebode, responsável pela pesquisa, os benefícios para a saúde crescem à medida que mais porções de vegetais e frutas são ingeridas por dia.

    Ela lembrou, no entanto, que mesmo pequenas frações são “melhor do que nada”.

    A proteção que frutas e vegetais conferem ao organismo contra doenças está ligada a presença de antioxidantes, que curam os danos às células, acrescentou Oyebode.

    Oyebode também afirmou que esses tipos de alimentos contêm micronutrientes e fibra, que são benéficos para a saúde.

    Desconfiança

    Alguns especialistas, no entanto, demonstraram desconfiança em relação à pesquisa e alegaram que a queda na mortalidade do grupo analisado pode estar mais associada à mudança do estilo de vida, como deixar de fumar ou beber em excesso, do que ingerir frutas e vegetais com frequência.

    Segundo o professor Tom Sander, da Escola de Medicina da King’s College de Londres, “já era sabido” que as pessoas que ingerem mais frutas e vegetais são mais preocupadas com sua saúde, mais educadas e com mais renda, o que, eventualmente, pode reduzir os riscos de morte.

    “Acho temerário fazer qualquer afirmação sobre o que as pessoas devem comer baseado apenas nas informações encontradas pelo estudo”, disse.

    Naveed Sattar, da Universidade de Glasgow, afirmou que comer sete porções de frutas e vegetais ao dia seria um “desafio”.

    “Esse hábito exigiria um apoio do governo como o subsídio do preço das frutas e dos vegetais, talvez a partir da sobretaxação dos alimentos ricos em açúcar, além de tornar disponíveis produtos de alta qualidade à toda sociedade”, sugeriu.

    Já Alison Tedstone, da Public Health England, órgão do governo britânico voltado para a saúde, diz ter achado o estudo “interessante”, mas “prematuro” ao recomendar a ingestão diária de mais de sete porções de frutas e vegetais ao dia.

    Ela lembrou que dois terços dos britânicos não chegam a comer nem cinco porções desses alimentos diariamente.

    “Estamos trabalhando intensamente para aumentar a disponibilidade de frutas e vegetais”, afirmou Tedstone.

Retirada das mama nao é solução contra o câncer

A retirada da mama não é a indicação precisa e correta para se combater esse tipo de câncer e muito menos é 100% eficaz, informa o médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ e presidente da Sociedade de Mastologia do Rio de Janeiro, Afrânio Coelho de Oliveira, em entrevista ao Informe ENSP sobre o “caso Angelina Jolie”.

É com ele a segunda entrevista acerca desse tema. A primeira foi com o pesquisador da ENSP Sergio Koifman, no dia 14 de junho, falando dos fatores genéticos da doença. Agora, o Informe ENSP aborda mais o lado humano sobre esse tipo de procedimento, desmistificando o fato de que a cirurgia é a indicação correta para se combater o câncer de mama.
Em uma conversa franca, Afrânio Coelho de Oliveira defende o procedimento apenas em casos de extrema necessidade e apenas como última alternativa de tratamento, quando as mulheres já passaram por uma série de exames e testes. O médico ressalta ainda que o Sistema Único de Saúde precisa ‘acordar’ para oferecer acesso mais rápido e simples para as mulheres, algo que já vem mudando com a nova lei federal, que estabelece prazo máximo de 60 dias para que pessoas diagnosticadas com câncer iniciem o tratamento pelo SUS.
Confira, abaixo, a íntegra da entrevista com Afrânio Coelho de Oliveira.
Informe ENSP: Em entrevista realizada com o pesquisador da ENSP Sergio Koifman, ele explicou que o caso da Angelina Jolie ocorre em uma população muito reduzida, por conta dos genes BRCA 1 e 2, o que a levou à realização da mastectomia preventiva. Essa foi uma decisão exclusiva dela, correto?
Afrânio Coelho de Oliveira: Tem um artigo no jornal Estado de São Paulo, da antropóloga da USP Debora Diniz, chamado ‘Mercado do medo’, no qual a autora ressalta que o resultado positivo para alta probabilidade de câncer de mama transformou Angelina Jolie em cliente da mercadoria de risco. Ela faz uma reflexão sobre situações muito peculiares, de uma gama de interesses envolvidos, inclusive da própria mulher. Temos que entender que isso é uma atitude individualizada e contextualizar isso como tal. Cada mulher, cada situação clínica, cada situação de risco vai ter de ser individualizada. E isso que eu chamo de medicina individualizada passa por uma questão básica, que é o aconselhamento genético. E esse aconselhamento genético resulta na testagem, para que se possa chegar a uma situação de tomada de atitude, por exemplo.
Informe ENSP: Quando o resultado é positivo para a possibilidade de se ter um câncer, que atitude a mulher pode tomar?
Afrânio Coelho de Oliveira:
Basicamente, você pode tomar quatro atitudes. Você pode não fazer nada, sabendo a situação de risco, ou pode ainda tentar prevenir a doença como, por exemplo, deixar de fumar, que previne câncer de pulmão. Ter filhos parece que previne câncer de mama. Amamentar parece que previne câncer de mama. Então, você pode tomar essa outra atitude de ter um filho e amamentar para prevenir.
A segunda opção, que chamamos de secundária, é aquela que a pessoa sabe que tem risco de desenvolver a doença e tem de ter mais atenção, indo a médicos, fazendo exames regularmente, fazendo mamografias. Isso é a prevenção secundária. Temos a chamada prevenção terciária, que é aquela que a mulheres sabem que têm mais risco de ter câncer de mama e podem tomar um determinado remédio que vai reduzir esse risco. Por fim, existe a prevenção cirúrgica, que podemos chamar de quaternária, em que vão ser tiradas as glândulas mamárias para se prevenir a doença. Tudo isso parte da premissa inicial da individualização.
Informe ENSP: Então, podemos dizer que a Angelina Jolie passou por essas quatro etapas?
Afrânio Coelho de Oliveira:
Olhando especificamente para o caso da Angelina Jolie, ela preencheu todos os requisitos. Uma vez que já tem um pedigree familiar de alto risco, fez a testagem genética, fez a mutação genética e tomou a decisão individual de fazer a prevenção quaternária. Ela poderia tomar a atitude de prevenção terciária, fazendo exames regulares, mamografias, ressonâncias e detectado a doença o mais cedo possível.
Eu penso que essa é uma situação muito válida, mas totalmente individual. A gente não pode exportar de forma literal para todas as mulheres essa atitude de retirada das mamas.
Informe ENSP: Mas tudo isso deve ser feito com excelente acompanhamento médico.
Afrânio Coelho de Oliveira:
Exatamente. Existe um grande risco que é aquele quando não se tem uma orientação adequada, no qual uma mulher não vai ao mastologista, não tem um aconselhamento genético e uma testagem genética e acha que deve operar. Esse é o ‘mercado do medo’. Se você teve uma mãe que faleceu com câncer de mama aos 80 anos e chega para o médico, aos 40 anos, dizendo que quer tirar as mamas, está errada. Não há nenhuma justificativa ou indicação para isso. Ou, então, uma mulher que vai atrás de testes genéticos. São exames caros e não devem ser feitos sem uma indicação ideal.
Esses são dois extremos, e cabe a nós, que temos o conhecimento, informar quais situações particulares terão indicação de fazer o teste genético, por exemplo. Porque existe toda uma gama de serviços, de interesses econômicos de quem vende o teste, do laboratório que realiza o exame, do cirurgião que opera, do cirurgião plástico que reconstrói a mama. Se a mulher encontra um cirurgião inescrupuloso, ele vai fazer a mastectomia, porque ela chegou de livre e espontânea vontade. É igual a colocar uma prótese de silicone. Esse equilíbrio entre a necessidade e a realização é o que temos que buscar.
Informe ENSP: Até porque não é uma cirurgia tão simples assim como pareceu. Ela tem uma série de riscos. Existem casos inclusive em que se têm que tirar as mamas e os ovários?
Afrânio Coelho de Oliveira:
Exatamente, não é uma cirurgia simples. Mas também não é necessário retirar os ovários só porque a mulher realizou uma mastectomia. Essas são duas ações de prevenção quaternária, vamos chamá-las assim. Há mulheres que podem fazer essa prevenção tirando os ovários, pois previnem tanto o câncer de ovário como o câncer de mama. A retirada dos ovários chega a prevenir algo em torno de 60 a 70% a possibilidade de câncer de mama. Já a retirada da mama chega a prevenir até 95% a possibilidade de se vir a ter a doença. Mas não se faz as duas coisas habitualmente. No caso da Angelina Jolie, ela fez as duas coisas porque tem as duas mutações genéticas.
Esse tipo de pensamento pode levar a coisas absurdas como: se eu retirar um pulmão, eu reduzo o risco de câncer de pulmão em 50%. Esse é um pensamento jocoso, mas os raciocínios são inúmeros. Para uma mulher jovem, tirar os ovários significa entrar na menopausa, com toda a perda da qualidade de vida que o hormônio pode dar. Existem várias mulheres ainda na idade fértil que estão fazendo essa opção pelo medo de ter alguma doença no futuro.
Informe ENSP: De certa forma, elas não estão avaliando o risco total de outros problemas.
Afrânio Coelho de Oliveira:
Sim. Elas podem ter outros problemas como riscos cardiovasculares, osteoporose; tudo isso pode ocorrer quando você tira os ovários precocemente. Você reduz um risco e aumenta outro.
Outra coisa não abordada é que ela pode ter até 80% de chance de desenvolver um câncer de mama. Isso varia de 40 a 80%. É o chamado risco acumulado se ela sobreviver até os 80 anos. O risco é cumulativo. Quanto mais você vive, maior é o risco de você ter câncer.
Informe ENSP: Então, no caso da Angelina Jolie, como ela retirou as mamas, conquistou 87% de não desenvolver o risco da doença nesse local. Mas esse risco, de qualquer maneira, aumenta com o avançar da idade.
Afrânio Coelho de Oliveira:
Ela conquistou 95% de não ter a doença, mas não necessariamente esses 5% vão aumentar conforme ela for envelhecendo. É importante ressaltar aqui que nada é 100%. Até porque você tem descrito casos de mulheres que fizeram essa cirurgia e, depois, tiveram câncer de mama. É impossível, cirurgicamente, retirar 100% de todo o tecido mamário. E ainda há raros casos de pessoas que podem ter câncer nos gânglios ou de ter metástases (formação de uma nova lesão tumoral a partir de outra, mas sem continuidade entre as duas). Não existe isso de 100% de segurança de que a mulher não vai ter nunca a doença.
Até por ser uma pessoa pública como a Angelina Jolie é, ela beira a imortalidade. Então, quando você faz essa opção, você está pensando que não vai morrer de câncer de mama, mas ela pode morrer de outra coisa. Ela está se prevenindo de uma coisa apenas. Mas pode ter outro câncer em outro local. Também há essa questão de você querer controlar a natureza.
Informe ENSP: O senhor é favorável ao procedimento?
Afrânio Coelho de Oliveira:
Eu sou favorável. Eu faço essa cirurgia seis vezes ao ano. É muito raro, difícil e apenas com uma indicação extremamente precisa. É importante ressaltar que essa cirurgia não é indicada pelo médico. Normalmente, é a paciente que decide o momento exato. A gente só corrobora a indicação, a oportunidade, o aconselhamento genético, a testagem genética. Não é imperativo. Mas existem mulheres que chegam demandando a cirurgia porque têm uma prima jovem com câncer de mama, uma irmã falecida com câncer de mama, têm uma mãe com a doença. Elas ficam com muito medo de ser o próximo caso e acabam optando por fazer a testagem genética, o aconselhamento genético e terminam na cirurgia, o que é super válido. Pode ser a diferença entre salvar uma vida ou não. É inadmissível fazer essa cirurgia sem cumprir todas essas etapas que já citei aqui.
Informe ENSP: E a cirurgia em si, como ela é feita? A Angelina Jolie fez em três etapas.
Afrânio Coelho de Oliveira:
A cirurgia que a gente chama de redução de risco, a mastectomia redutora de risco, não é simples como colocar uma prótese de mama para ganhar volume. É uma cirurgia muito complexa, podendo chegar a 5% de riscos de infecção, necrose e até perda do mamilo. Mas isso varia com a idade, se a pessoa é fumante, se é gorda ou magra, o tipo de pele, de circulação, uso de medicamentos. Por isso, a cirurgia, na maioria dos casos, ocorre em duas etapas, podendo chegar a três. Você tira a glândula mamária e, às vezes, coloca uma prótese provisória para expandir a pele e a musculatura. Depois de 4 a 6 semanas, você retira esse expansor e coloca a prótese definitiva. Parece que a Angelina Jolie fez uma cirurgia prévia de aumento da vascularização, mas têm pessoas que precisam de uma terceira cirurgia. Os riscos são muitos: isquemia, falta de circulação, necrose, e a mulher pode até precisar fazer reparos ou preenchimentos estéticos nas mamas. A mulher tem de estar consciente de tudo isso e que não é um procedimento simples.
Informe ENSP: É fundamental acompanhamentos médico e psicológico nessas horas.
Afrânio Coelho de Oliveira:
Sim, de médicos e psicólogos porque podem haver impactos. Quando ocorre tudo bem – ocorre em 90% das vezes –, é ótimo. Mas quando não ocorre, há um preço elevado a se pagar, com a realização de várias cirurgias. É fundamental bom senso e cautela.
Informe ENSP: Existe algum perfil ideal para se tomar essa atitude?
Afrânio Coelho de Oliveira:
A gente fala que a idade ideal de quando se decide fazer isso é entre 30 e 40 anos, pela frequência da doença nessa fase, que pode ser maior nessas pacientes que a gente chama de mutantes, que é esse grupo muito pequeno portador dos genes BRCA 1 e 2, e que, às vezes, já tem filhos. Então, essa mulher que já tem entre 35 e 40 anos, com a prole completa, pode fazer a cirurgia. Até porque, para essas mulheres, mesmo mutantes em uma idade mais tardia, a cirurgia tem menos impacto, porque elas têm menos chance de desenvolver um câncer genético familiar. Ela pode desenvolver o câncer esporádico, como costumamos chamar, mas o genético familiar em uma mulher de 60 anos é menor.
Informe ENSP: Então, a faixa crítica para as mulheres fica entre 30 e 40 anos?
Afrânio Coelho de Oliveira:
Porque esse grupo de pacientes mutantes tem esse câncer de mama mais jovem, por causa dessa mutação. Para prevenir de fato, tem que fazer a cirurgia nessa fase. Não adianta pensar em fazer isso aos 60 anos. É importante enfatizar isso para demover algumas mulheres que chegam aos 55/60 querendo fazer essa cirurgia, portadoras ou não da mutação. E temos que lembrar que existem outros meios de prevenção.
Hoje, existe a quimioprevenção, que é o remédio que você toma. Você pode tomar um remédio com muito menos efeito agressivo para reduzir o risco. Isso é uma prevenção para quem ainda não desenvolveu a doença. O remédio, por acaso, é parecido com o indicado para quem já teve a doença. Você usa o medicamento para fazer um bloqueio hormonal quando a paciente ainda não desenvolveu a doença.
Agora, eu tenho mulheres muito satisfeitas porque fizeram a cirurgia. Outro dia, uma delas me disse que “tirou uma bigorna do peito” pela pressão, pelo medo de ficar fazendo exames periódicos recorrentes, sempre na expectativa de, no próximo exame, aparecer o câncer de mama.
O último caso que fiz foi de uma médica cuja mãe conviveu durante 12 anos com câncer de mama e acabou falecendo. Essa paciente fez uma mamografia, descobriu umas calcificações, fez uma biópsia, encontrou uma lesão precursora, que nem é o caso específico da mutação. Mas ela chegou e quis fazer a cirurgia. E ficou muito feliz de fazer a prevenção, porque estava impactada com a morte recente da mãe e com o diagnóstico de uma lesão precursora na mama por meio de uma biopsia, que já é diferente da genética. No caso da genética, você nem tem a doença ou uma lesão precursora, mas essa mulher tem uma grande chance, em 10 anos, de desenvolver a doença. São situações não exatamente iguais, mas sim situações de maior risco.
Informe ENSP: Então, existem casos em que você pode fazer essa opção independente da mutação genética.
Afrânio Coelho de Oliveira:
Existem casos sim, e esses são os melhores exemplos, quando você é portadora de lesões precursoras de câncer de mama.
Informe ENSP: Você pode fazer essa opção também quando, ao longo dos anos, detectou vários nódulos benignos, até que um dia ele pode evoluir para algo pior?
Afrânio Coelho de Oliveira:
Não, isso não é uma indicação e nem deve ser cogitado. Esse é o caso do maior número de pacientes que demandam esse tipo de cirurgia. São pacientes que não têm ‘nada’, ou seja, nódulos benignos que são muito comuns em mulheres. Cerca de 50% das mulheres têm nódulos benignos e ficam fazendo acompanhamento. E, nesses casos, fazemos apenas o acompanhamento se ela não tem risco familiar, lesão percursora etc. Ninguém faz essa cirurgia porque tem vários nódulos há muitos anos.
É importante desmistificar isso, porque a demanda vai por esse viés. “Ah, eu vou todo ano no mastologista, tenho inúmeros nódulos, cistos, faço pulsão, biópsia e não é nada. Eu quero tirar minha mama!” Isso ocorre pelo medo de que um dia vá se transformar em algo pior. E isso raramente ocorre. Isso não é indicativo para se fazer a cirurgia. Pelo contrário. As indicações para cirurgia são muito precisas, e só um médico mastologista, um oncogeneticista e a testagem genética podem definir.
Informe ENSP: No nosso país, e também lá fora, essa testagem genética é muito cara. Nós estamos limitados a um grupo muito pequeno da população que pode chegar a fazer esse tipo de exame, porque o SUS não cobre.
Afrânio Coelho de Oliveira:
No SUS, isso é muito restrito. Só se faz em altos estudos e pesquisas com famílias de alto risco, do contrário não se faz e nem tem que fazer. A anamnese é fundamental nesse processo todo. Por meio da anamnese, você sabe se sua mãe teve câncer de mama, a sua história familiar e pessoal. Quando, às vezes, a mulher tem uma forte história de câncer na família, ela já tem, epidemiologicamente falando, uma história familiar de risco para câncer. Não significa que ela seja de alto risco, porque aí é um subgrupo específico. Essa mulher pode ser candidata, inicialmente, a um aconselhamento genético, pelo mastologista, pelo oncogeneticista clínico. Se você identifica que ela tem chances de ser portadora da mutação, você vai indicar a testagem genética.
Ninguém pode chegar na Atenção Primária e pedir para fazer testagem genética do câncer de mama. Primeiro, você vai ter uma análise de riscos. E você vai ter uma série de testes epidemiológicos para se avaliar o risco por meio de perguntas e respostas, tais como: idade que teve o primeiro filho, se amamentou a criança, a idade da menarca, da menopausa, se tomou ou não hormônio. Isso deve ser utilizado pelo clínico, pelo ginecologista, pelo mastologista, e quando você detecta uma situação de risco, pode-se, quando indicado, mandar essa paciente para o aconselhamento genético, que, no nosso meio, é muito restrito. Só centros especializados como o Inca (RJ), o AC Camargo (São Paulo) ou as universidades possuem. A gente não tem isso no sistema público de saúde, e talvez, para o nosso momento, seja prematuro ter. Mas, no futuro, eu creio que teremos tal teste.
Temos que deixar bem claro que só 5% de todos os casos de câncer de mama estão ligados a essas mutações; 95% dos casos não têm isso.
Informe ENSP: Hoje, temos uma série de formas para detectar que uma mulher possa vir a ter um câncer de mama, por exemplo, mas ele continua sendo o que mais mata mulheres no Brasil. O que está faltando?
Afrânio Coelho de Oliveira:
Acesso. Eu penso que a própria fase de culpabilidade da mulher já passou. Aquela fase de achar que a mulher não se examina, não procura um médico terminou. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) tem um dado importante, mostrando que, nos centros urbanos, 65% das mulheres vão ao ginecologista e fazem mamografia. Mas é lógico que você está misturando os sistemas público e privado. De qualquer forma, no passado, falava-se que a mulher tinha medo do câncer de mama, medo do diagnóstico, da doença, da mutilação, e isso a gente gradualmente veio mudando na sociedade brasileira, exceto no grupo de exclusão social mesmo. Ainda assim, no Brasil como um todo, mesmo nos melhores lugares de cobertura para essa mulher que é candidata ao exame periódico, aquela em torno de 40/50 anos para cima, menos de 30% delas são examinadas regulamente. Esse número pode ser um pouco maior ou menor de acordo com a região e com a oferta de serviço. Por isso que o diagnóstico no país é tardio, e há essa dificuldade de acesso.
Hoje, temos muitas campanhas de conscientização para ressaltar a importância do autoexame das mamas, das consultas médicas, por meio de rádio e televisão, e isso ajuda bastante. O componente de informação para a mulher é razoavelmente bom. O problema é que ela tem muita dificuldade de ter acesso a consultas e exames, a uma mamografia, e esse é nosso maior problema.
Informe ENSP: O que falta mesmo é o acesso. É termos uma rede preparada inclusive para atender mulheres já diagnosticadas com a doença.
Afrânio Coelho de Oliveira: Verdade. Esse é outro problema. As mulheres hoje já com diagnóstico da doença demoram a ser atendidas, e foi preciso uma lei específica para mudar isso. As mulheres demoram meses, às vezes, para serem operadas, para fazerem uma radioterapia; agora, com essa nova lei, esse processo não pode passar de 60 dias. Você consegue imaginar como fica a cabeça de uma mulher como essa, já diagnosticada com a doença e demorando para fazer o tratamento? Temos que reverter esse quadro.

Ameaças naturais: investimento em infraestrutura pode reduzir riscos

 

Pesquisador da ENSP e coordenador do Centro de Conhecimento em Saúde Pública e Desastres, Carlos Machado, concedeu entrevista ao jornal O Dia, na edição de 23 de março. Na ocasião, ele comentou a falta de cultura do país em investir na prevenção de desastres e doenças. A reportagem informa que, nos últimos 20 anos, 96 milhões de pessoas foram afetadas por catástrofes naturais no Brasil, incluindo secas e enchentes. “Só na Região Serrana, os temporais mataram 1.500 moradores”, diz o texto. Para Carlos Machado, “não adianta implantar sirenes sem investir em saneamento, contenção de encostas, drenagem de rios e construção de moradias”.

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