Tag Archives: Psicologia

Síndrome de Asperger: entenda por que o termo não é mais usado

Diagnóstico é enquadrado como transtorno do espectro autista (TEA)

Autismo leve ou autismo de alta funcionalidade são algumas expressões populares associadas à síndrome de Asperger. O que poucos sabem é que essa nomenclatura deixou de ser utilizada desde 2013, quando a maioria das pessoas com o diagnóstico foi enquadrada no transtorno do espectro autista (TEA) como autista nível 1 de suporte.

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Saúde intensifica campanha e alerta sobre sintomas de arboviroses

Primeiras semanas de 2025 registram 11 mortes por dengue

Com mais de 93 mil casos prováveis de dengue, além de 11 mortes confirmadas e 104 em investigação perla doença apenas nas primeiras semanas de 2025, o Ministério da Saúde intensificou a campanha de conscientização e combate a arboviroses. O trabalho será intensificado sobretudo em estados com tendência de aumento de casos não apenas de dengue, mas também de Zika e chikungunya.

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Violência nas escolas: como falar com crianças e adolescentes. Especialistas dizem que acolhimento e escuta são fundamentais

“Mamãe, eu vou poder ir para a escola?” “Por que há massacre?” A professora Gina Vieira, pesquisadora em educação no Distrito Federal, ficou aturdida ao ouvir do filho de 12 anos a palavra “massacre” e perguntas que exigem mais do que uma simples resposta: exigem atenção, ouvidos disponíveis, seriedade, serenidade e acolhimento.

“Muitas vezes, as famílias se recusam a conversar [sobre atentados tornados públicos em escolas e outros ambientes] porque acreditam que isso pode traumatizar a criança. Só que as crianças estão em um mundo em que elas são expostas de maneira visceral a tudo o que acontece”, diz a pesquisadora em educação que tem projetos premiados no campo da educação e de direitos humanos.

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Câmara aprova requerimento de urgência para votação do Projeto de Lei sobre Psicologia nas Redes de Ensino

Foi aprovado nesta quarta-feira (21) requerimento de urgência na Câmara dos Deputados para apreciação do Projeto de Lei 3688/2000, que dispõe sobre serviços de psicologia e de serviço social nas redes públicas de educação básica. A iniciativa é fruto de articulação do Conselho Federal de Psicologia (CFP) juntamente com a Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE), Federação Nacional dos Psicólogos (FENAPSI) e Associação Brasileira de Ensino de Psicologia (ABEP) que realizaram diversas audiências sobre a importância do Projeto com os parlamentares.

Com o requerimento aprovado o mérito do Projeto deverá ser votado pelo Plenário da Câmara em breve e, se aprovado, seguirá para sanção pelo Poder Executivo. O PL prevê que as redes públicas de educação básica contem com serviços de Psicologia e de Serviço Social para atender às necessidades e prioridades definidas pelas políticas e redes educacionais, por meio de equipes multiprofissionais.

O Texto destaca ainda que as equipes multiprofissionais deverão desenvolver ações voltadas para a melhoria da qualidade do processo de ensino-aprendizagem, com a participação da comunidade escolar, atuando na mediação das relações sociais e institucionais.

O PL coaduna com a Lei de Diretrizes e Bases, que tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, em complemento à ação da família e da comunidade. O Projeto também está em consonância com a Lei 13.004/2014, que aprova o Plano Nacional de Educação (PNE) e versa sobre a necessidade dos órgãos de assistência social e de saúde colaborarem para atingir as metas relacionadas ao sucesso escolar e à prevenção e ao combate de situações de discriminação, preconceitos e violência na escola; além de estimular a criação de centros multidisciplinares de apoio, pesquisa e assessoria às escolas.

O CFP convida a categoria e os Conselhos Regionais de Psicologia para mobilizar as(os) parlamentares para que o Projeto entre o seja aprovado em Plenário, ressaltando a importância da Psicologia e Serviço Social no ambiente escolar para o enfrentamento da violência. Entre em contato com sua(seu) deputada(o)  por meio do portal https://www.camara.leg.br/.

Livro busca amenizar ansiedade de quem tenta ter filhos

Liliana Seger, psicóloga colaboradora do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), escreveu o livro “Cadê você, bebê?”, lançado recentemente pela editora Segmento Farma. A pesquisadora, durante seu doutorado no Insituto de Psicologia (IP) da USP, diagnosticou que os casais que estavam tentando ter filhos não possuíam ninguém com quem conversar ou algum apoio para dividir, compartilhar e até ouvir frustrações semelhantes. Isso a motivou a encontrar algum meio que pudesse suprir essa necessidade.

Liliana colheu depoimentos tanto de pacientes, quanto de outras pessoas passando pelo problema, e identificou o que trazia mais dor nos diferentes momentos do processo, desde a decisão de ter um bebê, passando pela descoberta da infertilidade do homem ou da mulher, os tratamentos, até a maternidade ou adoção.

Segundo a psicóloga, as questões que os entrevistados, principalmente as mulheres, enfrentam são das mais variadas: “O que está acontecendo?”, “Por que comigo?”, culpa, raiva, o sentimento de ser “menos homem” ou “menos mulher”, a procura de vários médicos, a sensação de ser diferente de todo o mundo. Durante o processo, quem está tentando ter filhos passa por momentos de ansiedade ao procurar os diferentes tratamentos: inseminação artificial, fertilização in vitro, ovulação, busca por doação de sêmen. A impressão é de que a pessoa só vê fetos, mulheres grávidas com barriga, carrinhos de bebê.

Durante toda sua vida profissional e acadêmica, Liliana notou que atualmente os casais estão procurando ter filhos mais tarde, após a formação universitária, conquista da casa própria e estabilidade financeira. As mulheres, após os 35 anos, têm um decréscimo de ovulação. Os óvulos, na data do nascimento, já estão todos formados no corpo feminino e vão envelhecendo conforme os anos. A dificuldade para engravidar, portanto, aumenta depois dessa idade. A pesquisadora explica que, apenas após um ano de tentativas, o casal deve procurar ajuda médica, já que as chances de gravidez, em um mês, são de somente 18% quando não há problema nenhum.

Ansiedade
Entretanto, por desconhecer essa informação, as pessoas acreditam que devem engravidar nas primeiras tentativas sem o uso de métodos contraceptivos. Isso provoca uma alta carga de ansiedade quando, muitas vezes, não há nada de errado. A psicóloga abre exceção apenas para mulheres mais velhas, que para ela devem procurar um médico antes desse período, com vistas a ganhar tempo. A autora afirma que “40% das questões de infertilidade são das mulheres, 40%, dos homens e 20%, mistas”. Quando um homem não produz espermas, tem pouca quantidade ou baixa mobilidade, ele pensa que é menos potente ou viril, o que não têm relação com a fertilidade. Psicologicamente, porém, a ligação é muito forte e há aqueles que ficam debilitados emocionalmente quando descobrem. Contudo, no geral, as mulheres se abalam mais com a descoberta.

O livro não fez parte de nenhum projeto acadêmico da pesquisadora. Foi um projeto voltado para leigos, que desconhecem os tratamentos ou não possuem dinheiro para uma terapia. A sua diagramação e seu conteúdo são leves e de fácil acesso para não parecer algo acadêmico. “Eu queria que esse livro fosse o conselheiro dessas pessoas, que pudesse acalmar suas angústias e elas percebessem que outros também passam por situações semelhantes”. E, neste aspecto, o objetivo está sendo atingido, diz a psicóloga, ao mencionar que já recebeu uma mensagem de uma leitora que não tinha condições financeiras, passava pelo processo com muito sofrimento e utilizou as informações do livro como terapia.

O Sistema Único de Saúde (SUS) fornece tratamentos de reprodução humana assistida no HC e no Hospital Pérola Byington, em São Paulo. Entretanto, existe uma seleção muito rígida para receber o atendimento incluindo, entre outros critérios, idade e tempo de tentativa. Normalmente somente os procedimentos mais baratos são oferecidos, e a medicação tem preço muito elevado. A pesquisadora considera que, nesse aspectos, as mulheres estão desassistidas: “Infelizmente, no Brasil, para a saúde pública, o não poder ter filhos não é considerado um problema – o problema é ter filhos demais”.

Segundo Liliana, os casais costumam escutar de amigos e médicos para “desencanar”, focar suas atenções em outras coisas porque pode ser coisa da cabeça dela e sugerem para adotar um cachorro e até mesmo uma criança para amenizar o estresse entorno do assunto. Isso, para ela, é a pior coisa que se pode falar para alguém que está tentando. “Adoção não é um vale-brinde para engravidar”. A fala ‘adote um que depois vem o seu’ é comum e surpreende a pesquisadora: “Se você adotar um filho ele é o seu”.

Esses argumentos também podem deixar a pessoa ainda pior, porque ela supõe que não consegue engravidar por sua culpa, por conta de seus problemas emocionais, quando não é isso. O estresse causa alterações hormonais importantes, mas “não se trata só de parar de ficar preocupado”.

O que seu rosto revela sobre você

Na Grécia Antiga, filósofos ilustres se dedicaram ao estudo das aparências. Aristóteles e seus discípulos, por exemplo, chegaram até a elaborar teorias sobre como as feições de alguém refletiam seu espírito.

“Cabelos macios são um indício de covardia, enquanto fios mais grossos são um sinal de coragem”, afirmavam. O atrevimento, segundo eles, podia ser lido em uma pessoa com “olhos brilhantes, bem abertos e com pálpebras injetadas de sangue”. Já um nariz largo era tido como indicativo de preguiça, um pouco como o focinho de ruminantes.

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Transmissão psíquica pode desencadear anorexia nervosa

Pesquisa realizada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP sugere que a transmissão psíquica de mães para filhas pode ser um fator que desencadeia e mantêm o transtorno do comportamento alimentar, mais particularmente a anorexia nervosa (AN). O resultado foi obtido pela psicóloga Élide Dezoti Valdanha em estudo realizado com seis famílias de pacientes diagnosticados com AN em tratamento no Grupo de Assistência em Transtornos Alimentares (GRATA) do HCFMRP. De acordo com o estudo, o legado recebido inconscientemente da geração anterior tende a ser transmitido, não deixando espaço para que as mães criem seu próprio estilo de maternidade.

Para a pesquisadora, “o conhecimento das vinculações familiares inconscientes que permeiam a vida da pessoa com transtornos alimentares precisa ser disseminado entre os membros de equipe de saúde especializada no tratamento”. Segundo ela, esses programas precisam “incorporar no plano terapêutico de forma sistemática e contínua” a atenção integral às famílias. Do contrário, alerta, “não é possível avançar no tratamento sem incluir a família como recurso de enfrentamento.”

A psicóloga conta que trabalhou com três gerações de mulheres, avós, mães e filhas e que observou que os “padrões distorcidos” eram transmitidos na maneira com as mães exercem os cuidados maternos “cheios de conflitos e ambivalência afetiva”. Eram cuidados primordialmente associados aos afazeres domésticos (cozinhar, lavar, passar roupa) e “cuidados concretos com o lar” (além da limpeza, aspectos financeiros e administrativos). Élide observou que esses cuidados eram valorizados em detrimento do cuidado emocional.

Pouco cuidado afetivo entre mães e filhas; restrição na expressão de emoções, limitação nos diálogos e pouca contenção de angústias. “Avós e mães prestaram os cuidados tal como os receberam, sem consciência de que as filhas os percebem como invasões emocionais”. Outra observação feita por Élide é que muitas vezes as filhas “se sentiam desamparadas em suas necessidades afetivas mais significativas”.

Cuidado
Para a pesquisadora, ficou nítido que as mães analisadas cuidam de seus filhos do modo com foram cuidadas. Uma dessas mães desabafou: “Eu acho que repeti com eles (filhos) muito das coisas que eu odiei na mamãe ter feito comigo, mesmo que objetivamente eu soubesse que não podia fazer aquilo”. Élide conclui que o legado recebido da geração precedente tende a ser transmitido à geração posterior sem espaço para que as mães criem seu próprio estilo de exercitar sua maternidade.

Como essas mães e filhas vivem situações de conflitos e de falhas profundas no desenvolvimento emocional, o vínculo mãe-filha “mostra-se ambivalente e incapaz de perceber limite das individualidades, ora invadindo, ora evitando o contato”. Assim, diz a psicóloga, esses conteúdos psíquicos não são elaborados emocionalmente. “Não podendo ser expressos em palavras e nem de ser objeto de diálogo do casal ou da família, esses conteúdos podem ser transmitidos às próximas gerações de maneira inconsciente, deixando marcas importantes.”

Conteúdos psíquicos não elaborados, conta a psicóloga, são muitas vezes problemáticos e podem acarretar sofrimento no núcleo familiar e até comprometer o amadurecimento emocional dos filhos. Porém, lembra que “não se pode afirmar que as heranças transgeracionais causam diretamente os sintomas de transtornos alimentares”. É que eles são resultados de múltiplas causas. “É no elo entre o que foi transmitido das gerações anteriores e sua atualização nas vivências atuais de cada família que são criadas as condições possíveis à emergência do sintoma”. diz. O sofrimento mental resulta das relações das ressonâncias do passado (não elaborado) no presente.

Para superar essa situação, a pesquisadora acredita na reorganização do sistema familiar de forma a proporcionar os cuidados necessários ao paciente, “atenuando as angústias familiares e criando possibilidades de elaboração do funcionamento psicodinâmico da família”. A conscientização dos processos de transmissão familiar, garante a psicóloga, permite que os membros do grupo possam construir uma realidade diferente, ao invés de repeti-la indefinidamente, como nas gerações anteriores. A pesquisa é resultado da dissertação de mestrado de Élide Dezoti Valdanha, realizada com orientação do professor Manoel Antonio dos Santos, do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

Software aumenta precisão na triagem de crianças com autismo

Profissionais da área da Psicologia poderão contar em alguns anos com uma ferramenta de análise computacional para realizar a triagem de crianças com transtorno do espectro autista (TEA) com maior precisão.

Um grupo de pesquisadores da University of Minnesota e da Duke University, nos Estados Unidos, em colaboração com colegas do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), desenvolveu um software para análise automatizada de vídeos de testes de triagem de autismo.

Alguns dos resultados das análises dos testes feitas pelo software foram descritos na edição de junho da revista Autism Research and Treatment.

“A ideia é que o software possa contribuir para aumentar a acurácia da triagem de crianças com autismo”, disse Thiago Vallin Spina, estudante de doutorado no Instituto de Computação da Unicamp e um dos autores do projeto, à Agência FAPESP.

“Nossa meta é ter uma versão do software que possa ser utilizada em escolas de educação infantil, por exemplo, para realizar a triagem de crianças com suspeita de autismo com maior precisão e encaminhá-las para a realização do diagnóstico por especialistas o mais cedo possível”, afirmou Spina, que faz doutorado com Bolsa da FAPESP e orientação do professor Alexandre Xavier Falcão.

De acordo com Spina, estudos recentes apontam que muitas crianças com TEA apresentam marcadores comportamentais indicativos de autismo logo no primeiro ano de vida, tais como a dificuldade de desviar o olhar de um determinado ponto para rastrear um estímulo visual.

A fim de tentar detectar mais precocemente esses distúrbios no desenvolvimento infantil – e iniciar uma intervenção clínica intensiva – são feitos comumente três tipos de testes comportamentais, baseados na Escala de Observação de Autismo para Lactentes (AOSI, na sigla em inglês), para avaliar a atenção visual da criança.

No primeiro teste, um brinquedo sonoro é chacoalhado ao lado esquerdo da criança e, em seguida, outro brinquedo é balançado ao lado direito, a fim de avaliar o tempo que ela leva para responder ao segundo estímulo por meio do desvio do olhar.

Já no segundo teste, um brinquedo é movido horizontalmente próximo ao rosto e no campo de visão da criança, para verificar se há algum atraso em rastrear o movimento do objeto.

E no terceiro teste, uma bola é rolada em direção à criança com intuito de verificar se a criança pega a bola e estabelece contato visual e interação social com o especialista.

O problema é que esses testes ocorrem em tempo real e durante sua realização o profissional precisa não apenas controlar o estímulo, como também contar o tempo que a criança leva para reagir, o que torna o diagnóstico impreciso, segundo Spina. “O tempo de atraso da criança para reagir aos estímulos considerado nestas medidas de atenção visual é de um a dois segundos”, disse.

“Por isso, o diagnóstico de TEA por meio desses testes depende em grande parte da experiência e acurácia do especialista em identificar com precisão o tempo de atraso na resposta da criança ao estímulo”, disse Spina.

Medições automáticas

Para tentar aumentar a precisão dos resultados, os pesquisadores desenvolveram algoritmos (sequências de comandos) de processamento de imagens e de visão computacional, que fazem medições automáticas da atenção visual de crianças durante os testes comportamentais de triagem de TEA a partir da gravação de vídeos das sessões de avaliação.

Para isso, utilizaram gravações de vídeos de testes comportamentais durante sessões de avaliação de TEA realizados por Amy Esler, professora de Pediatria na University of Minnesota, com um grupo de 12 crianças, com idade entre 5 e 18 meses, indicadas para realização dos testes. As gravações foram feitas durante o estágio de pesquisa de Spina na universidade norte-americana, no grupo do professor Guillermo Sapiro.

“Colocamos duas câmeras convencionais de alta resolução na sala onde foram realizadas as sessões de avaliação, sendo uma posicionada no centro da mesa da professora Esler e com foco direcionado para a lateral das crianças, e outra em um canto da sala, para obter uma visão geral do comportamento das crianças durante as sessões”, contou Spina.

O software foi capaz de rastrear a direção do rosto das crianças participantes dos testes comportamentais de atenção visual. Para fazer isso, o sistema computacional identificou, inicialmente, a direção dos olhos e do nariz das crianças no primeiro quadro (frame) do vídeo dos testes em relação ao objeto apresentado a elas.

Por meio de algoritmos de visão computacional, o software avaliou se a direção dos olhos e do nariz das crianças se repetia ou mudava nos quadros seguintes do vídeo.

Dessa forma, conseguiu estabelecer vetores de movimento dos olhos e do nariz da criança de um quadro para outro e, por meio de medidas geométricas, estimar em que direção ela estava olhando durante os testes em relação aos objetos – se em direção a eles ou não.

“Como sabia em que direção a criança estava olhando no primeiro quadro do vídeo e qual a posição do objeto, o software foi capaz de rastrear os movimentos dos olhos da criança e indicar se apresentavam ou não um correlação com a direção do brinquedo”, explicou Spina.

Os resultados das análises dos vídeos feitas pelo software foram comparados com a avaliação clínica feita por Esler com base na observação em tempo real dos testes e nos próprios vídeos – sem terem passado pelas análises do software – e com as de dois estudantes de graduação em Psicologia e uma psicóloga não especializada em autismo.

A comparação mostrou que o programa foi capaz de detectar sinais comportamentais indicativos de autismo tão bem quanto a especialista e melhor do que a psicóloga e os estudantes de Psicologia.

“O programa permite registrar os tempos de reação da criança a um estímulo visual com até décimos de segundo, uma vez que cada segundo de um vídeo tem 30 quadros”, explicou Spina.

Possíveis contribuições

O software representa uma primeira etapa de um projeto de longo prazo, desenvolvido por um grupo multidisciplinar de pesquisadores das áreas de Psicologia, visão computacional e aprendizado de máquina, que visa desenvolver ferramentas de baixo custo, automáticas e de análise quantitativa de dados, que podem ser úteis para identificar crianças com TEA mais precocemente.

Apesar de os sintomas do autismo surgirem muitas vezes cedo e o distúrbio comportamental poder ser diagnosticado nos primeiros anos de vida, a idade média de diagnóstico de TEA em países como os Estados Unidos é próxima aos 5 anos, apontam os autores do artigo.

“O software poderá contribuir para os profissionais da área de Psicologia e pesquisadores em TEA na identificação de marcadores de risco de autismo por meio de análises de grandes quantidades de vídeos do comportamento natural da criança em casa ou na escola ou das próprias sessões de avaliação clínica”, disse Spina.

“Além disso, abre portas para a melhoria dos protocolos de avaliação em curso e para descoberta de novas características de comportamento de crianças com TEA, aumentando a granularidade das análises e fornecendo dados em uma escala mais fina”, avaliou.

Em sua pesquisa de doutorado, Spina utiliza algoritmos para analisar a partir de vídeos um comportamento motor de posicionamento e movimento de braços identificado como um possível novo sinal característico de autismo.

Denominada assimetria dos braços, o comportamento foi identificado durante estudos realizados nos últimos anos com crianças com autismo com entre 18 meses e 24 meses de idade.

Os autores do estudo identificaram que, diferentemente do andar de crianças sem autismo – cujos braços tendem a ficar ao lado do corpo, em uma posição simétrica e com movimento de balanço – as crianças com autismo apresentam uma posicionamento assimétrico dos braços, com um estendido e outro flexionado na horizontal e para frente.

“Desenvolvemos um software para medir esse comportamento motor específico. A ideia é expandir sua aplicação para medir outros movimentos que também são bastante característicos de crianças com TEA, como o balanço do tronco para frente e para trás”, contou Spina.

Já o grupo de pesquisadores da Duke University desenvolve um aplicativo para tablet que pretende substituir a forma como os testes de atenção visual são feitos hoje. O objetivo é imitar os mesmos tipos de interações que os testes com brinquedos e bolas medem, mas sem a necessidade de utilizar os objetos.

“Eles estão discutindo quais tipos de comportamentos indicativos de autismo poderiam ser identificados por esse aplicativo para tablet”, contou Spina, que não participa diretamente do projeto. “Pretendemos dar continuidade à cooperação com o Sapiro na Duke University em projeto conjunto após o fim do meu doutorado.”

O artigo Computer vision tools for low-cost and noninvasive measurement of autism-related behaviors in infants (doi: 10.1155/2014/935686), de Spina e outros, pode ser lido na revista Autism Research and Treatment em www.hindawi.com/journals/aurt/2014/935686.

Doenças em docentes podem estar ligadas à função

Professores do ensino superior estão adoecendo e a causa pode estar relacionada ao exercício de sua função, alerta estudo da psicóloga Marisa A. Elias, do campus de Ribeirão Preto da USP, realizado com docentes de instituições da rede privada de ensino superior da cidade de Uberlândia, MG.

“A precariedade do trabalho, resultado do rápido crescimento dessas instituições, parece incrementar os problemas de saúde, principalmente os adoecimentos de ordem psíquica”, garante a pesquisadora, que está desenvolvendo estudos relacionando a saúde com o exercício da docência em instituições de ensino superior, para seu doutorado no Programa de Pós-graduação em Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

O investimento do governo federal no ensino superior privado, priorizado nos últimos anos — como a criação de programas de incentivo de entrada nestas instituições (o FIES, Fundo de Investimento no Ensino Superior é um exemplo) — vem, segundo Marisa, promovendo rápido crescimento dessas instituições, transformando-as em grandes redes educacionais.

Para a pesquisadora, essas ações propiciam o aumento do acesso a este nível educacional, cumprindo exigências do Banco Mundial. Mas, em contrapartida, abrem espaço para a mercantilização da educação e, com ela, a redução de custos da “mercadoria ensino” que, por sua vez, afeta diretamente os profissionais que atuam no setor.

Com o objetivo de verificar como anda a saúde desse profissional nesse cenário, Marisa escolheu Uberlândia, cidade referência no ensino superior na região, com mais de 20 instituições de ensino superior privado e uma universidade federal. O município tem 611 mil habitantes, conforme o último censo (2011), e é considerado polo neste tipo de ensino.

 

Missão profissional não permite adoecimento
A psicóloga verificou, num primeiro momento, que os professores diziam não ter problemas de saúde. Mas, conforme seguiam com a entrevista, “se assustaram ao perceber que apresentavam diversos problemas não reconhecidos e banalizados”. Todos eles admitiram sentir dor de cabeça frequentemente; dores no corpo; fazer uso ou já ter usado medicação para refluxo e gastrite, para alergias, para insônia e rouquidão ocasional. Estes sintomas, alerta a pesquisadora, podem estar associados ao estresse e podem ser considerados adoecimentos psicossomáticos.

Ela lembra que na falta de condições de descarregar o mal-estar mental, “o corpo é a via possível de descarga”. E as evidências ficam claras nas respostas e atitudes desses professores. Marisa diz que eles relataram desencanto e frustação com suas realidades profissionais, mas ao mesmo tempo “não se permitiam adoecer”, devido à ética que assumem. “Eles exigem de si mesmos o cumprimento das exigências profissionais e ignoram os sinais do próprio corpo para o desgaste, inclusive se vangloriando por não se ausentarem do trabalho”.

Para a pesquisadora, a constatação desses problemas de saúde mental é devido à “precarização da educação” à qual os docentes universitários são submetidos: carga horária superior a oito horas diárias, geralmente mais de dez, sem considerar o número de horas executadas em casa; a contratação por hora aula, provocando constante sentimento de insegurança — cada semestre muda a remuneração recebida e a preferência, das instituições, por profissionais multitarefas que ministram diferentes disciplinas, sem respeitar a especialidade do profissional.

Outro fator que reforça o quadro é a “preservação da idealização da atividade de educador”. A psicóloga garante que essa idealização aliena e prende o profissional à “representação do trabalho como missão e não atividade profissional”. O professor vive então em contradição, se submete a condições fisicamente desgastantes e também à pressão psicológica potencialmente causadora de adoecimento.

A ambiguidade prevalece ainda com relação aos sentimentos de frustração — pela falta de reconhecimento de seus esforços pelos próprios alunos e pela desvalorização da imagem profissional — e de satisfação — ao perceberem esse mesmo reconhecimento de seus trabalhos.

Os resultados preliminares do estudo de Marisa, sob orientação da professora Vera Lucia Navarro, mostram “que as condições de trabalho no ensino superior privado descaracterizam a função da educação e proporcionam aos professores desgaste, mal-estar e adoecimento”. Para a pesquisadora é preciso, urgentemente, denunciar essa situação e promover discussões, buscando “estratégias preservadoras e promotoras da saúde destes profissionais, o que passa pelo fortalecimento da organização do movimento docente, pelo fortalecimento sobretudo do sindicato, com apoio da sociedade para que esta atividade, tão importante, possa ser desenvolvida em condições que respeitem a saúde dos seus trabalhadores”.

Malformação fetal produz perda e complexo processo de luto

Elaborar a morte de um filho que ainda não nasceu, está vivo, e se desenvolvendo, é um processo que causa grande sofrimento a gestantes que, com autorização da justiça, optam por interromper a gravidez em virtude de malformação fetal. A situação gera perdas e desencadeia um complexo processo de luto, como mostra estudo do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

Os casos analisados envolviam malformação fetal, sem chances de sobrevivência, como a anencefalia e a agenesia renal bilateral. Os resultados mostraram que o diagnóstico fetal causou sofrimento a essas mães por gerar inúmeras perdas e desencadear “complexo processo de luto. Por isso, a importância de discutir e planejar abordagens e cuidados à saúde de gestantes nessa situação”, afirma Elenice Bertanha Consonni, em sua tese de doutorado orientada pela professora Eucia Beatriz Lopes Petean.

Para a pesquisa, Elenice realizou, em dois momentos diferentes, entrevistas com mulheres atendidas no Setor de Medicina Fetal do Hospital das Clínicas de Botucatu. Uma, durante a gestação, e outra, quarenta dias após a interrupção da gravidez. As avaliações mostraram forte vinculação materno-fetal antes e após o diagnóstico, ressaltando a opção das mulheres por interromper a gestação com o intuito de não se vincularem ainda mais ao filho.

“Nas situações vividas por esse grupo de mulheres, o diagnóstico pré-natal de malformação letal gera para elas uma vivência de luto antecipado muito particular: elaborar a morte anunciada do filho que ainda não nasceu e que está vivo e se desenvolvendo em seu ventre”, afirmou a pesquisadora.

Ao receberem a notícia, as mulheres passaram a buscar um sentido para a malformação do filho e muitas se sentiram culpadas pela condição. Os relatos também indicaram que as imagens do feto na ultrassonografia, especialmente nos casos de anomalia externa, causaram espanto e sofrimento. Porém, o contato das mães com imagens do ultrassom e da internet fez com que elas compreendessem melhor a gravidade da malformação.

Com a confirmação da impossibilidade do feto sobreviver após o nascimento, o casal, mais precisamente a mãe, deve tomar a decisão de interromper ou não a gestação. A idade gestacional em que a interrupção acontece varia bastante e depende, principalmente, da época em que foi feito o diagnóstico fetal, assim como do tempo para os trâmites burocráticos de solicitação de alvará (autorização) e decisão judicial.

Os relatos no puerpério evidenciaram vivências típicas de pessoas enlutadas, marcadas por sentimentos de tristeza, saudade e sensação de vazio pela perda do filho. Embora tristes, a maioria das mães considerou a opção de interromper a gravidez como a melhor, pois se lembravam do sofrimento vivido enquanto ainda estavam grávidas e imaginavam que teria sido ainda pior caso optassem por aguardar os nove meses.

Algumas mães preferiram conhecer e se despedir do bebê após o nascimento por considerarem importante esta lembrança. De acordo com Elenice, a maioria das mulheres entrevistadas optou por conhecer e se despedir do filho. Embora as emoções deste encontro tenham sido intensas e marcadas pelo sofrimento, conhecer o filho foi um momento de singular importância por representar a primeira e a última vez em que estariam em contato com ele.

Constitucionalidade
Segundo a pesquisadora, desde a década de 1990, juízes e promotores públicos em todo Brasil têm autorizado a interrupção de gestações de fetos com anomalias sem prognóstico, desde que esse seja o desejo da gestante. A partir de abril de 2012, o Supremo Tribunal Federal declarou a constitucionalidade da antecipação terapêutica do parto, mas apenas nos casos de gestação de feto anencéfalo.

No Setor de Medicina Fetal do Hospital das Clínicas de Botucatu, as gestantes encaminhadas com suspeita ou diagnóstico de malformação fetal são conduzidas, inicialmente, ao exame de ultrassom obstétrico morfológico e posteriormente à primeira consulta médica e psicológica no ambulatório de Medicina Fetal. Quando o diagnóstico de malformação fetal incompatível com a vida é confirmado, a equipe médica apresenta a possibilidade de interrupção da gestação sob autorização judicial, assim como a de acompanhamento pré-natal especializado até o desfecho natural da gravidez.

“O atendimento psicológico busca identificar, no discurso da gestante, seu entendimento sobre todas as informações recebidas até então, conhecer expectativas e possíveis fantasias a respeito do diagnóstico, prognóstico e condutas médicas, além de avaliar as condições sociais e familiares que interferem no processo de compreensão do diagnóstico e da tomada de decisão. É também oportunidade que favorece a expressão e compreensão dos sentimentos ligados à situação vivida, possibilitando escolhas mais conscientes e facilitando o processo de luto”, explica Elenice.