Tag Archives: Pesquisadores

Estudo genético na Maré mostra evolução da covid-19 com impacto global

Complexo carioca teve quase o dobro da taxa de mortalidade pelo vírus

Exames genéticos feitos em amostras de moradores do complexo da Maré mostram que linhagens do coronavírus evoluíram na comunidade da zona norte do Rio de Janeiro, originando novos tipos de vírus que infectaram pessoas até em outros países.

Leia Mais

Cientistas do Inca alertam para desinformação sobre câncer

Infodemia inclui mitos sobre causas e tratamentos sem comprovação

No Dia Mundial do Câncer, celebrado nesta terça-feira (4), pesquisadores do Instituto Nacional de Câncer (Inca) alertam para o grande fluxo de desinformações sobre a doença que circulam em redes sociais. Um artigo publicado na edição mais recente da Revista Brasileira de Cancerologia mostra os riscos de uma infodemia do câncer, ou seja, a circulação rápida e ampla de informações falsas sobre a enfermidade.

Leia Mais

Seção de Obras Raras da Biblioteca da Fiocruz se projeta nas mídias sociais

Em agosto de 2014, a Biblioteca de Manguinhos da Fiocruz entrou nas redes sociais – Facebook e Instagram – para divulgar seu acervo, serviços e cursos. No entanto, o crescimento da seção de Obras Raras, uma parte da própria Biblioteca, levou a própria seção a criar o seu Instagram: @obrasrarasmanguinhos. São mais de 50 mil volumes de tipologia bibliográfica diversificada, como livros raros e especiais a partir do século 17, periódicos do século 18 em diante, folhetos, objetos e manuscritos (como o Formulário Médico, de 1703, atribuído aos jesuítas, representante do Brasil como patrimônio documental pela Unesco), tendo todo o seu acervo disponibilizado ao público a partir de consultas agendadas. Uma parte desse material já foi digitalizado e pode ser acessado.

Para a chefe da seção de Obras Raras, Fátima Duarte a entrada no Instagram foi um passo calculado: “Sempre alimentamos o Instagram da Biblioteca de Manguinhos e temos percebido que a seção de Obras Raras tem muita informação e atividades, e como o Instagram é uma ferramenta muito dinâmica, é mais fácil se começarmos a publicar em nosso próprio perfil, que não deixa de ser da Biblioteca de Manguinhos também”, explica.

Leia Mais

Fiocruz recebe em palestra ganhador do Nobel de Medicina

“Busque se cercar de pessoas mais inteligentes e talentosas do que você”. Diante de uma plateia de pesquisadores, estudantes e funcionários da Fiocruz, William G. Kaelin Jr deu conselhos como este e contou por uma hora e meia um pouco da sua trajetória pessoal e do seu trabalho – incluindo a pesquisa que o levou a receber o Prêmio Nobel de Medicina de 2019. Sua palestra Como as células de mamíferos sentem e respondem ao oxigênio (e minha improvável jornada a Estocolmo), no Auditório do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), faz parte de um programa da Nobel Prize Inspiration Initiative (NPII) que tem como objetivo estimular jovens estudantes e cientistas e que, em parceria com a AstraZeneca, trouxe Kaelin ao Brasil.

Visita fez parte de um programa da Nobel Prize Inspiration Initiative (NPII) que tem como objetivo estimular jovens estudantes e cientistas (foto: Peter Ilicciev)

Kaelin recebeu o Nobel junto com Peter Ratcliffe e Gregg Semenza pela descoberta de como as células sentem e se adaptam à disponibilidade de oxigênio – uma descoberta que abre caminho para novos tratamentos para câncer, anemia e outras doenças. Professor de Medicina da Universidade de Harvard e pesquisador do Dana-Farber Cancer Institute e Howard Hughes Medical Institute, ele foi recebido pelo presidente da Fundação, Mario Moreira, no Castelo Mourisco, assim como por vice-presidentes e membros do Conselho Deliberativo. “Sua vinda é importante para nós para estimular nossos jovens pesquisadores e nossos estudantes a se envolverem ainda mais em pesquisa”, disse Moreira ao ganhador do Nobel.

Leia Mais

Pesquisadores defendem expansão do monitoramento genômico de arbovírus

Pesquisadores de 54 países se reuniram para defender a necessidade de implantar uma vigilância genômica mundial para arbovírus endêmicos de alto impacto. A proposta do grupo é que seja utilizado o modelo e a infraestrutura de monitoramento que foi implementada com sucesso para o Sars-CoV-2, o causador da pandemia de Covid-19. A carta, assinada por 74 estudiosos, foi publicada na conceituada revista científica The Lancet Global Health nesta terça-feira (1º/8). A carta inclui pesquisadores do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco), do Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia) e do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

Segundo os autores, os vírus da dengue, zika e chikungunya deveriam ser os primeiros a receber esse enfoque, devido ao seu impacto mundial e ao fato de que eles causam uma pesada carga de doença com sintomas de leves a potencialmente fatais, resultando no curto e longo prazo em substancial morbimortalidade. “Estimativas epidemiológicas destacam o impacto desses vírus, com metade da população mundial em risco de infecção pelo vírus da dengue e cerca de 100 a 400 milhões casos e 20 mil mortes registradas a cada ano”, destacam os autores na publicação. A expansão dos principais vetores – os mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus – para novas áreas, em função da urbanização, globalização, mobilidade humana e mudanças climáticas é mais um fator de preocupação apontado.

Leia Mais

Especialistas da Fiocruz debatem avanços da pesquisa na Antártica

Em 2020, as operações de pesquisa não puderam ocorrer no continente gelado em função das restrições provocadas pela pandemia de Covid-19. Ao mesmo tempo, a atual crise sanitária demonstrou a importância do conhecimento em saúde, da vigilancia, e de integrar a saúde humana, ambiental e animal, para dar respostas aos desafios do presente e do futuro. Por isso, este ano, as equipes se preparam para novas missões de pesquisa e já debatem formas de dar respostas ainda mais robustas ao Sistema Único de Saúde (SUS) e à sociedade. As próximas missões do projeto Fiocruz na Antártica (FioAntar) estão planejadas de outubro de 2021 a março de 2022 e seguirão rígidos protocolos sanitários impostos pela pandemia para garantir a segurança não apenas dos envolvidos, mas também do próprio ambiente antártico. As explorações poderão ser acompanhadas pelo site do projeto.

Parte do preparo para as missões consistiu na organização de um seminário interno (18/6) em que cada um dos nove laboratórios que compõem o FioAntar teve a oportunidade de apresentar o andamento das suas pesquisas, assim como de discutir sugestões metodológicas e procurar sinergias com os outros laboratórios e integrantes da iniciativa. As trocas renderam frutíferas discussões: houve compartilhamento de resultados, formação de grupos de trabalho e de estudo, e alinhamento de metodologias e fluxos. Com todas estas energias convergindo, surgiram propostas para aprimorar as entregas que o FioAntar pretende oferecer ao SUS e à sociedade brasileira.

Leia Mais

Foto: Arquivo pessoal/Paulo Brandão

Pesquisa analisa saúde mental de pesquisadores durante pandemia

A pesquisa está sendo realizada no Research Centre for Gas Innovation (RCGI) da Escola Politécnica (Poli) da USP e inclui 370 pessoas entre pesquisadores e funcionários da administração.

Centro de pesquisa identifica riscos psicossociais e cria metodologia para minimizar impacto da covid na saúde mental da comunidade acadêmica.

Leia Mais

Pesquisadores de todo o mundo buscam um medicamento eficaz para a Covid-19

A pandemia do novo coronavírus levou o mundo a centrar suas atenções na ciência. No Brasil, não foi diferente. Após ter sido duramente afetada por redução de recursos ao longo dos últimos anos, a pesquisa científica é agora apontada como o principal caminho de combater a Covid-19, que ainda não tem tratamento. Pesquisadores do mundo inteiro, em redes de colaboração, correm contra o tempo para testar medicamentos existentes e novos protocolos para tratar a doença, além de uma vacina que possa proteger a população mundial no futuro.

Os primeiros quadros respiratórios graves provocados pelo coronavírus foram comunicados às autoridades internacionais na segunda quinzena de dezembro de 2019. Sessenta dias depois, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarava a pandemia, que já superou 1,5 milhão de casos e quase 80 mil mortes em 205 países e territórios. Até agora, o vírus superagressivo vem sendo tratado a partir dos protocolos sintomáticos, ou seja, com medicamentos que tratam os principais sintomas da doença, como tosse, coriza e falta de ar. O problema é que a evolução da Covid-19 é muito rápida e em cerca de cinco dias o paciente pode apresentar caso grave de pneumonia. Sem preconceito e distinção entre nações ricas e pobres, o SARS/CoV-2 vem mostrando a fragilidade dos sistemas de saúde e afirmando o papel fundamental da ciência para conter a pandemia.

No Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está coordenando o ensaio clínico Solidariedade (Solidarity), um esforço global da OMS para avaliar e dar uma resposta rápida sobre a eficácia de quatro tratamentos para a Covid-19. Com apoio do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, a experiência está sendo implementada em 18 hospitais de 12 estados brasileiros e deverá abranger 1.200 pacientes. No Rio de Janeiro, fazem parte do ensaio os hospitais Antonio Pedro (Huap/UFF), Servidores do Estado, Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), Gaffrée e Guinle (HUGG/UniRio), Pedro Ernesto (Hupe/Uerj) e o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz).

O ensaio clínico vem considerando quatro linhas de tratamento, que incluem testes com a cloroquina ou a hidroxicloroquina, usadas para tratar malária e doenças autoimunes; um antiviral já experimentado contra o ebola; a combinação de dois antivirais utilizados no tratamento de HIV; e a combinação desses dois antivirais mais um imunossupressor, que também tem ação antiviral. Uma das premissas é que a terapêutica seja adaptável, ou seja, caso surjam novas evidências as linhas podem ser adequadas, com descontinuação de drogas que se mostrem ineficazes e incorporação de medicamentos que venham a se mostrar promissores. A pesquisa incluirá somente pacientes hospitalizados, para atender à demanda mais urgente, que é a de oferecer tratamento para os quadros mais graves.

A busca por tratamento em diferentes pesquisas

Como resultado das pesquisas, na segunda-feira, 6 de abril, a Fiocruz anunciou que o medicamento Atazanavir, utilizado no tratamento do HIV, foi capaz de inibir in vitro a replicação viral, além de reduzir a produção de proteínas relacionadas ao processo inflamatório nos pulmões, reduzindo o agravamento da doença. O estudo foi publicado na plataforma internacional BiorXiv, em formato de pré-print, seguindo a tendência do estudo e do reposicionamento de medicamentos no enfrentamento da emergência sanitária. Thiago Moreno, pesquisador que liderou a iniciativa, acredita que a análise de fármacos já aprovados para outros usos é a estratégia mais rápida da ciência para ajudar no combate à Covid-19, juntamente com a recomendação de distanciamento social. O pesquisador alerta, no entanto, sobre os enormes riscos da automedicação, pois cada paciente deve ser assistido por seu médico, que deverá acompanhar o tratamento, especialmente no caso de novas doenças e remédios reposicionados. A pesquisa, coordenada pelo Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), contou com recursos da Fiocruz, da FAPERJ e da Capes (MEC).

A diretora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), Valdiléa Veloso, acredita que estudos com número limitado de pacientes e sem o adequado controle, como são a maioria dos estudos registrados até agora, podem demorar ou nem chegar a obter uma resposta. Segundo ela, para ampliar o trabalho e agregar o maior número possível de pacientes, o Ministério da Saúde solicitou a inclusão de centros de pesquisa em todas as regiões do País na pesquisa.

Sobre a polêmica envolvendo o uso da cloroquina, o médico imunologista Claudio Tadeu Daniel-Ribeiro, coordenador do Centro de Pesquisa Diagnóstico e Treinamento em Malária da Fiocruz no Instituto Oswaldo Cruz, lembra que uma droga potencialmente terapêutica funcionar in vitro (no laboratório) é bem diferente da ação in vivo (em animais, incluindo humanos). De acordo com o imunologista, a comunidade médica e científica tem muita experiência com a utilização da cloroquina, sintetizada pela primeira vez em 1937. “Desde então, devemos ter utilizado centenas de milhões de doses de cloroquina em todo o mundo para tratar e prevenir a malária”, afirma o pesquisador. No entanto, ele explica que a resistência adquirida pelo principal parasita transmissor da doença, o Plasmodium falciparum, fez com que a cloroquina deixasse de ser utilizada no tratamento da malária desde os anos de 1990 na África, Ásia e América do Sul para o tratamento da forma mais grave e comum da malária. Ela segue sendo usada para tratamento da malária mais prevalente (~90%) no Brasil e na América do Sul, causada pelo P. vivax. Sobre a hidroxicloroquina, sintetizada em 1946, ele explica que ela é atualmente usada no tratamento de doenças autoimunes como lúpus e artrite reumatoide.

O pesquisador alerta que um dos principais perigos da cloroquina é que a droga se acumula nos tecidos e pode afetar numerosos sistemas e órgãos, como o aparelho cardiovascular, a retina e o fígado. Membro da Academia Nacional de Medicina, Cláudio Ribeiro teme que a dose utilizada experimentalmente para tratar a Covid-19, cerca de oito vezes maior que a recomendada para o tratamento de artrites, e por um prazo considerado longo (até 10 dias), possa ser altamente tóxica.  Por isso, faz coro com pesquisadores que defendem uma grande mobilização científica dedicada a estudos que resultem em evidências robustas. No entanto, o médico se emociona quando se solidariza com os colegas que, na linha de frente dos hospitais, diante da possibilidade do óbito de um paciente, por desespero ou compaixão, e na extrema excepcionalidade do momento, querem testar a cloroquina como último recurso para salvar vidas. Ele avalia, entretanto, que é papel da ciência fornecer uma resposta que endosse ou não o uso da CQ para a Covid-19 no menor prazo de tempo possível, transformando o dilema compassivo em um uma questão racional e embasada em evidências científicas.

Outra possível estratégia para o combate do novo coronavírus anunciada esta semana pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro é o uso de plasma de pacientes curados para tratamento de doentes graves. O plasma é a parte do sangue onde se encontram os anticorpos produzidos pelo organismo para combater o vírus. Retirado de pacientes recuperados, contém anticorpos e pode ser aplicado em pacientes com quadro grave da Covid-19, promovendo uma recuperação mais rápida e reduzindo o risco de mortalidade e o tempo de internação. Esta técnica, denominada transferência passiva de imunidade, foi usada durante as epidemias de Ebola e H1N1. O diretor do Hemorio, Luiz Amorim, disse que cada bolsa de plasma coletado pode fornecer tratamento para até três pessoas. O plasma doado pelos pacientes curados ficará no Hemorio à disposição dos hospitais que tratam casos graves de Covid-19. Com o aval da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), os hospitais iniciaram esta semana a triagem de possíveis doadores de plasma. Outro protocolo experimental em que a pesquisa tem apostado é o tratamento de casos graves de Covid-19 com anticoagulante. O Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, vem realizando testes com o medicamento heparina e a técnica deve ser avaliada pela Conep em breve. Utilizado por cientistas chineses, o anticoagulante pode ajudar no caso de complicações da doença que levem a um quadro de coagulação intravascular.

A Fiocruz também foi convidada a participar da Coalizão de Pesquisa Clínica de Covid-19, formada por um grupo internacional que reúne mais de 70 cientistas e instituições de 30 países de média e baixa renda. O objetivo desta iniciativa é acelerar a pesquisa em áreas nas quais o vírus pode afetar sistemas de saúde frágeis e causar maior impacto à saúde de populações vulneráveis. O objetivo da coalizão é compartilhar dados e acesso equitativo a medicamentos, tratamentos e vacinas. “Estes são os mesmos valores que guiam a Fiocruz, com uma visão de ciência aberta e saúde pública”, destacou a presidente da Fundação, Nísia Trindade Lima. A coalizão pretende que os conhecimentos técnicos e capacidades geradas a partir dos ensaios clínicos sejam compartilhados com os todos os participantes, favorecendo o estabelecimento de parcerias e compartilhamento de estudos com outros países. Para os participantes do movimento, é necessário incluir a experiência e necessidades de países latino-americanos, africanos, do leste europeu e alguns países asiáticos a fim de acelerar a pesquisa adaptada para configurações com recursos limitados.

Uma equipe de pesquisadores do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), no Rio de Janeiro, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), se dedica à produção de nanofármacos com atividades antivirais. Esses medicamentos, produzidos em escala nanométrica, possuem propriedades físicas, químicas e biológicas especiais que poderão ser novos candidatos ao combate do SARS/CoV-2. O pesquisador do IEN e vice-coordenador do programa Redes de Pesquisa em Nanotecnologia no Estado do Rio de Janeiro, que recebe apoio da FAPERJ para suas pesquisas, Ralph Santos-Oliveira, explica que estão em estudo fármacos para tratamento da Covid-19 em diferentes fases da doença, tanto da aguda, mais letal, quanto da inicial, cujo tratamento ajuda a reduzir a carga viral e a consequente disseminação do vírus. “Usamos a plataforma nanotecnológica porque é mais eficaz, direcionada e, principalmente, tem menos efeitos adversos, entre eles as disfunções hepáticas, por exemplo” afirma o pesquisador.

Santos-Oliveira explica que, com a nanotecnologia, é possível chegar a partículas bem pequenas dos medicamentos para facilitar a absorção pelo pulmão. No caso da cloroquina, por exemplo, sua forma nanoestruturada pode representar maior eficácia e rendimento, com expressiva redução dos efeitos colaterais. Mas, para testar as diversas cepas de vírus, explica o pesquisador, é necessária uma estrutura laboratorial de nível de biossegurança 3 (NB3), daí a parceria com a Unifesp. Na opinião do radiofarmacêutico, diante de uma doença que não possui tratamento conhecido, todos os tipos de testes são válidos, desde que seguindo todos os protocolos. Ele considera que a maior conquista da ciência brasileira é o movimento nacional na busca pelo combate à Covid-19, que congregou todas as instituições de pesquisa e conta com a boa vontade dos órgãos de fiscalização e controle.

Pesquisadores criam simulador de aplicação de insulina de baixo custo

Receber diagnóstico de diabete e conviver com a doença não é tarefa simples. Para além do controle alimentar, alguns diabéticos têm ainda que se acostumar às picadas diárias de injeções de insulina. É nesse momento que entram em cena os simuladores, desenvolvidos para os pacientes se capacitarem para as aplicações e, de quebra, aprenderem mais sobre a diabete.

Apesar de ser um excelente recurso, seu uso ainda não é disseminado entre os pacientes, pois o custo dos simuladores existentes no mercado ainda é alto. Atualmente, eles são mais utilizados dentro das próprias universidades para capacitar os estudantes. Problema que pesquisadores da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP prometem resolver com um protótipo de preço muito menor, acompanhado por cartilha e vídeo educativo. Hoje, um simulador para autoaplicação de insulina custa em média R$ 4.752,00. Já o modelo criado pela pesquisadora Janaina Pereira da Silva, responsável pelo projeto, ficou em cerca de R$ 339,50, valor quase 15 vezes menor que o disponível no mercado.

Criado a partir de um manequim tamanho adulto (utilizado para exposição de roupas em vitrines), o protótipo da USP apresenta estrutura fixada a regiões específicas, uma associação de espuma laminada e uma espécie de pele desenvolvida com silicone. Essas regiões, com a estrutura que mimetiza tecido da pele, representam os locais do corpo nos quais a aplicação de insulina é recomendada (abdômen, coxas, braços e nádegas – veja imagens abaixo). Janaina explica que, caso “a insulina seja aplicada fora desses locais”, o paciente pode sofrer lesões, além da absorção não ser adequada.

Conta Janaina que, com a escassez de recursos para a saúde, “muitas vezes as equipes não dispõem de ferramentas para auxiliar os pacientes e os cuidadores no aprendizado do uso da insulina, o que reforça a importância de um simulador de aplicação mais acessível”. 
O simulador de baixo custo, desenvolvido pela equipe da EERP com o apoio da Oficina de Precisão do Campus USP em Ribeirão Preto, pode atender à demanda crescente no Brasil. Informações do Ministério da Saúde apontam que entre 2006 e 2016 o diagnóstico de diabete cresceu cerca de 61,8% entre a população, reforçando a necessidade de capacitação de pacientes e cuidadores para a aplicação de insulina.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), após o diagnóstico e a indicação do uso da insulina, o profissional de saúde deve explicar e demonstrar a aplicação ao paciente que, por sua vez, deve repetir o que foi demonstrado para que seja possível avaliar o aprendizado. Nesse sentido, o uso de simuladores “permite essa prática, tanto pelos profissionais, quanto pelos pacientes em ambiente seguro e de maneira adequada”, comenta Janaina.

Testado na prática por especialistas (professores e profissionais da área de saúde), o simulador ofereceu mais que aprendizado da técnica de aplicação das injeções de insulina, levando aos pacientes informações importantes sobre a doença, garante Janaina. A equipe da EERP decidiu adicionar ao projeto a cartilha Aplicação de insulina passo-a-passo além de vídeos explicativos. Essas ferramentas “complementam a prática educativa, tanto dos profissionais quanto dos pacientes, e servem como suporte para consultas e esclarecimento de dúvidas”, acrescenta a pesquisadora.

As ferramentas que prometem facilitar a vida dos diabéticos foram desenvolvidas durante o mestrado Construção, validação e avaliação de diferentes métodos educativos em diabetes mellitus para aplicação de insulina: simulador de paciente de baixo custo, vídeo e cartilha, apresentado por Janaina à EERP com orientação da professora Alessandra Mazzo.

Diabete

Existem dois tipos mais conhecidos de diabete. A Tipo 1, que geralmente é diagnosticada em crianças, adolescentes e adultos jovens, é resultado da destruição das células produtoras de insulina, por um processo autoimune. O tratamento desse tipo é sempre com insulina, associado à atividade física e alimentação balanceada.

Já no Tipo 2, o diagnóstico é mais comum entre adultos e ocorre quando o organismo não consegue utilizar adequadamente a insulina produzida. O controle da doença pode ser feito com medicamentos, alimentação balanceada e atividade física, mas em alguns casos também exige aplicação diária de insulina.

Além dessas, existe também a diabete gestacional que é diagnosticada durante a gravidez. O controle da diabete gestacional é feito, na maioria dos casos, com orientação nutricional, mas em alguns deles o uso da insulina também é necessário.

 

Bálsamo medieval com alho, cebola e bile de vaca mata superbactérias

Um tratamento de mil anos de idade, usado na Idade Média para combater infecções nos olhos, pode ser a chave para acabar com as superbactérias resistentes a antibióticos, de acordo com pesquisadores da Universidade de Nottingham, na Grã-Bretanha.

Os cientistas recriaram um remédio anglo-saxão do século 10 que continha cebola, alho, vinho e bile de vaca.

O grupo se surpreendeu ao descobrir que este remédio antigo exterminou quase que completamente, em até 90%, o Staphylococcus aureus resistente à meticilina (SARM).

O remédio foi descrito em um antigo manuscrito anglo-saxão com instruções sobre tratamentos e bálsamos, o Bald’s Leechbook, que está na British Library.

 O manuscrito é tido como um dos primeiros exemplos de “livro medicinal”, segundo Tom Feilden, editor científico do programa Today, da BBC.

Para os olhos

A especialista em cultura anglo-saxônica Christina Lee, da Universidade de Nottingham, traduziu a receita de um “bálsamo para os olhos, feito com alho, cebola ou alho-porro, vinho e bile de vaca”.

“Escolhemos esta receita porque contém ingredientes, como o alho, que estão sendo investigados por cientistas do presente por sua potencial eficácia em tratamentos com antibióticos”, disse a especialista que teve a ideia de provar a cientificamente o efeito do remédio.

“Algumas palavras eram ambíguas e tivemos que pensar muito para saber a qual ingredientes se referiam”, disse Freya Harrison, pesquisadora da Escola de Ciências da Vida da mesma universidade.

 “Reconstruímos (a receita) da forma mais fiel que pudemos”, acrescentou Harrison.

Receita detalhada

A receita descreve uma forma muito específica de obter o bálsamo, que inclui a utilização de uma vasilha de metal para ferver a mistura em água e deixar descansando durante nove dias.

Outras pesquisas já analisam poder antibiótico do alho

 

Os pesquisadores provavam todos os ingredientes frescos separadamente, assim como o remédio em seu conjunto e também uma solução de controle, sem os componentes vegetais.

O remédio resultante da receita medieval exterminou até 90% de bactérias cultivadas em laboratório, tanto em feridas sintéticas como em feridas reais infectadas em ratos.

Harrison afirmou que a equipe esperava que o bálsamos demonstrasse “certa atividade antibiótica”.

“Mas ficamos espantados ao ver a eficácia da combinação de ingredientes”, afirmou.

Os cientistas diluíram a mistura para testar a dosagem ideal contra uma infecção real em uma pessoa.

Eles concluíram que, quando muito diluído, o remédio não consegue matar o Staphylococcus aureus resistentes à meticilina (SARM), bactéria que gera infecções na pele e no sangue. Mas, mesmo diluído, o remédio consegue interferir na comunicação celular da bactéria.

 Para os pesquisadores esta é uma “conclusão chave”, já que as células precisam se comunicar para ativar os genes que permitem que elas causem danos nos tecidos infectados.

Os microbiólogos acreditam que bloquear esta comunicação seria uma forma alternativa de tratar infecções.

Manuscrito é mantido e conservado na Biblioteca Britânica, em Londres

 

As conclusões da equipe de pesquisadores serão apresentadas na Conferência Anual da Sociedade de Microbiologia Geral, em Birmingham.

“Parece que os médicos anglo-saxões puseram em prática algo bem próximo dos métodos científicos modernos com sua ênfase na observação e na experimentação”, disse Tom Feilden à BBC.

“O Bald’s Leechbook pode conter lições importantes para nossa batalha atual contra a resistência a antibióticos”, acrescentou.

A receita do bálsamo para os olhos de Bald

  • Misturar uma quantidade semelhante de alho com cebola ou alho-poró, picada e esmagada em um pilão durante dois minutos.
  • Adicionar 25 ml de ‘vinho inglês’, extraído de um vinhedo histórico perto de Glastonbury, que já existia no século 9, para tentar reproduzir a receita da forma mais fiel.
  • Dissolver sais biliares bovinos em água destilada e então manter a mistura fria, a quatro graus, durante nove dias.