Publicado em janeiro 19, 2016 por sandra
Dados da Secretaria de Saúde apontam que dos 130 pacientes vítimas de câncer bucal tratados, 53 morreram. O número poderia ser menor se a identificação ocorresse mais cedo e se a cobertura odontológica da rede pública fosse melhor
O câncer de boca, apesar de sinais claros de existência, quase sempre passa despercebido. Uma simples ferida que não cicatriza em 21 dias é um indicativo. O risco é eminente e a morosidade no tratamento leva à morte. Nos últimos sete anos, 40,8% dos pacientes que tiveram o diagnóstico no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) não sobreviveram. Dados da Gerência de Odontologia da Secretaria de Saúde revelam que, no período entre 2009 a 2015, dos 130 pacientes que iniciaram o tratamento, 53 não resistiram às complicações da doença. A recomendação é que a enfermidade seja identificada ainda em estágio inicial. Contudo, a capital federal possui a pior cobertura de saúde bucal do país. Atinge apenas 27,17% da população, segundo indicadores do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus) — a média nacional é de 52,82%, como o Correio mostrou em 7 de janeiro.
O câncer de boca é o quarto que mais mata no Brasil. A terapeuta ocupacional Isabela Brito Alves de Farias, 23 anos, conhece bem os riscos. Aos 12 anos, ela recebeu o diagnóstico. Na época, se tratou em São Paulo, no Hospital do Câncer. “A cirurgia foi de emergência, porque não tinha como saber se o tumor era recente ou antigo. Hoje, faço um controle rigoroso. O médico brinca que eu nunca terei alta. Faço acompanhamento há 10 anos. Em 2010, um nódulo nasceu, mas não era um tumor”, conta a moradora do Guará, ao ressaltar que a assistência da unidade médica determinou o sucesso do tratamento.
O estomatologista Eliziário Cesar, que coordenou o levantamento inédito, minimiza os problemas da rede e atribui a mortandade dos pacientes ao tratamento tardio. “Normalmente, os pacientes bebem e fumam demais, o que aumenta os fatores de risco. Comumente, o câncer, quando detectado com 2cm, é passível de cura. Porém, os pacientes chegam com tumores de 4cm ou mais”, explica. O especialista destaca que cinco dos 140 tipos do HPV são potenciais causadores da doença.
Dos pacientes tratados no Hran com câncer na boca, 73,1% são homens e 26,9%, mulheres. Um dado preocupa a equipe da Gerência de Odontologia: em 33,8% dos casos não se conseguiu contato para checar os resultados do tratamento, ou seja, o número de óbitos pode ser maior. No DF, o Hran é referência no diagnóstico da doença e o Hospital de Base (HBDF), no tratamento.
A cirurgia e a radioterapia são os métodos terapêuticos mais usados no tratamento. Com a baixa oferta de serviços na rede pública, o brasiliense precisa procurar alternativas. O Serviço Social do Comércio (Sesc-DF) abre vagas para atendimento à comunidade uma vez por mês. “A demanda sempre é muito grande, mas existe um erro maior: as pessoas só procuram quando tem problema. Não existe a cultura de promoção à saúde bucal”, alerta a coordenadora de Serviços Odontológicos do Sesc-DF, Márcia Maria Neves. Em 2015, a instituição atendeu mais de 20 mil pessoas, por meio do programa OdontoSesc, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB).