Publicado em junho 13, 2017 por marciapinto
Uma base de dados bibliográficos que reunisse a ciência da saúde produzida na América Latina e Caribe — e que, até então, tinha pouca visibilidade nos índices de comunicação científica internacionais. Foi com este propósito que nasceu, em 1967, a Biblioteca Regional de Medicina (Bireme), como um centro especializado da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) / Organização Mundial da Saúde (OMS) com sede em São Paulo. Cinquenta anos depois, o nome Bireme é reconhecido como um bem-sucedido esforço em democratizar o acesso à informação científica e técnica em saúde. Hoje, a antiga biblioteca regional chama-se Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde, e é referência no trabalho em rede que tem ajudado a consolidar grandes avanços nas ciências da saúde.
(Confira o hotsite que comemora os 50 anos da Bireme)
Um dos principais frutos desta trajetória é a LILACS (Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde), o mais importante e abrangente índice da literatura científica e técnica da América Latina e Caribe. Até o fechamento desta matéria, a base contabilizava mais de 750 mil registros, entre artigos científicos, teses, áudios, vídeos, livros, resumos de pesquisa, trabalhos apresentados em congressos, projetos etc. Destes, mais de 350 mil estão em acesso aberto. Ou seja, disponíveis na íntegra, para qualquer internauta que queira consultar seu conteúdo.
“Até a década de 1960, a ciência da saúde feita na América Latina e no Caribe tinha pouca visibilidade nas bases de dados bibliográficos. O acesso à produção científica ficava concentrado em sistemas como o Medline, da Biblioteca Nacional de Medicina do Estados Unidos, corroborando a hegemonia do pensamento produzido neste país e na Europa”, explica a bibliotecária Luciana Danielli, coordenadora das Bibliotecas Virtuais em Saúde (BVSs) da Fiocruz, um dos projetos feitos em parceria com a Bireme. “Com o surgimento da então chamada Biblioteca Regional de Medicina, foi possível instaurar um novo olhar sobre a forma de agrupar e de tornar disponível o enorme conhecimento científico que vinha sendo produzido na América Latina e no Caribe. Seu impacto foi enorme, porque não apenas ajudou a divulgar essa produção científica, como também estimulou o trabalho em rede, colaborativo, que é tão caro à evolução da ciência nessa região”, completa.
Cooperação
Com o passar dos anos, a missão de ampliar as fontes de informação nesta região expandiu-se para a formulação de projetos de cooperação técnica, que têm contribuído decisivamente para o desenvolvimento de políticas, programas, padrões, metodologias, tecnologias, projetos, produtos, serviços, eventos e atividades de informação científica e técnica em saúde, em cooperação com instituições nacionais, regionais e internacionais,— tudo em consonância com a estratégia da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) / Organização Mundial da Saúde (OMS) para atender às prioridades dos países da região. Atualmente, a Bireme atua em cooperação com 37 países e 2 mil instituições, dentro e fora da América Latina e do Caribe.
“A criação da Bireme sofisticou as bases de dados sobre os temas da ciência e da saúde, criando um espaço de convergência do conhecimento que é precioso para o trabalho de profissionais da saúde e cientistas, para as grandes descobertas científicas e para o combate às epidemias e doenças características de nosso continente, entre inúmeras outras coisas. Além disso, sua existência fomentou parcerias, cooperações e trabalhos em rede que tiveram grande impacto para a melhoria das condições de vida e da saúde das populações”, destaca Fátima Martins, coordenadora da Rede de Bibliotecas Físicas da Fiocruz.
O desenvolvimento tecnológico e a popularização da Internet também foram marcantes na trajetória da Bireme. Entre os anos 80 e 90, o centro promoveu o uso de computadores em bibliotecas, tanto para a produção descentralizada da base LILACS quanto para a pesquisa bibliográfica em CD-ROM, que passou posteriormente a operar através da Internet. É desta época também a criação do vocabulário Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), que contém a tradução do Medical Subject Headings (MeSH) ao português e espanhol. Foi também a Bireme, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que criou o SciELO – Scientific Electronic Library Online, um modelo pioneiro de publicação em acesso aberto de periódicos científicos na Internet.
Hoje, os desafios do Centro estão concentrados, sobretudo, em ampliar a capacidade de atuação, dentro e fora da América Latina e do Caribe e em fortalecer a cooperação técnica nos países prioritários para a Opas/OMS e as alianças com outras instituições, como define o diretor, Diego González. “Queremos aperfeiçoar os processos de decisão nos sistemas de saúde, utilizando evidências de pesquisa científica para responder às demandas dos gestores e profissionais dos serviços de saúde. Outro objetivo é fortalecer a capacidade da Bireme e da Rede da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) em processos e tecnologias de aprendizagem em rede, bem como ampliar a participação em ações de capacitação presenciais e a distância. Desenvolver e fortalecer continuamente o capital humano, intelectual e social é uma meta que não sai de nosso foco”. A Bireme também pretende continuar ampliando as redes de produtos, serviços e eventos em informação científica, e fortalecer seus canais de comunicação institucional.