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Novo plano para combater câncer de colo tem foco em rastreio e vacina

Doença é a quarta maior causa de morte em mulheres

Em 20 anos, o câncer de colo de útero pode se tornar doença residual no Brasil, se o país seguir um novo plano de combate à doença, que prevê avanços no rastreio, tratamento e, principalmente, na vacinação contra o HPV. Hoje, esse é o terceiro tipo mais prevalente de tumor entre as mulheres brasileiras e a quarta maior causa de morte, com cerca de 17 mil novos casos por ano, e aproximadamente 7 mil mortes. Quase 100% dos casos são decorrentes da infecção pelo Papilomavírus Humano, ou HPV, um vírus com mais de 200 tipos, dos quais apenas dois – o 16 e o 18 – são responsáveis por 70% dos casos.

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Dia Internacional da Mulher: Fiocruz realiza atividades no mês de março

A Coordenação de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas (Cedipa/Fiocruz) e o Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da instituição apresentam a agenda institucional para celebrar o Dia Internacional da Mulher, reunindo atividades desenvolvidas pelas unidades, escritórios e outros setores ao longo do mês para marcar o 8 de março. A mobilização representa o compromisso da Fundação com a promoção da equidade de gênero, a valorização das mulheres e a luta contra as diversas formas de discriminação e violências.

A divulgação da agenda evidencia a atuação da Fiocruz diante de pautas pelos direitos das mulheres, e visa chamar a atenção sobre a importância do mês de março para reconhecer as conquistas e os desafios enfrentados pelas mulheres. Ao mesmo tempo, reforça a presença das mulheres no cotidiano de trabalho da Fundação como fundamental, criando espaços de diálogo e reflexão sobre as desigualdades de gênero que ainda persistem na instituição e na sociedade amplamente.

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Mais brasileiras esperam chegar aos 30 para ter primeiro filho

Cada vez mais brasileiras estão esperando chegar até os 30 anos ou mais para ter o primeiro filho, principalmente as que possuem mais anos de estudo. A conclusão é do estudo “Saúde Brasil”, que faz um raio x da saúde do brasileiro, apontando tendências em áreas como taxa de natalidade e fecundidade, mortalidade, surtos, epidemias e doenças. Segundo a pesquisa, o percentual de mães na faixa etária de 30 anos cresceu na última década, passando de 22,5% em 2000 para 30,2% em 2012. Já o número de mulheres com menos de 19 anos que tiveram filhos caiu de 23,5% para 19,3% no mesmo período.

Outra constatação do estudo é que quanto maior a escolaridade, maior a idade da mãe no momento do parto, sobretudo as “de primeira viagem” (que informaram não ter filhos anteriormente). Entre aquelas com níveis mais elevados de escolaridade (12 anos ou mais de estudos), o nascimento do primeiro filho acontece com elevada frequência após a mãe completar 30 anos ou mais de idade (45,1%). Já entre as com menor escolaridade, com até 3 anos de estudo (51,4%) ou com 4 a 7 anos de estudo (69,4%), mais da metade foram mães com menos de 20 anos.

“O Brasil segue uma tendência observada em países desenvolvidos, com a inserção ainda mais forte da mulher no mercado de trabalho, com mais acesso aos métodos anticoncepcionais. Com isso, a mulher planeja melhor sua gravidez“, explicou a Diretora do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas do Ministério da Saúde, Thereza de Lamare. A maior quantidade de mães com 30 anos de idade ou mais está concentrada nas regiões Sudeste e Sul, representando respectivamente 34,6% e 33,6% dos nascimentos. No Centro-Oeste a taxa foi de 28,8%, seguido do Nordeste com 26,1% e o Norte com 21,2%.

Os dados revelam ainda uma tendência de queda no número de nascidos vivos, fortalecida pela diminuição das taxas de fecundidade em todas as regiões do país. Entre 2000 e 2012, houve redução de 13,3% no número total de nascimentos e, desde 2005, as taxas de fecundidade no Brasil têm sido inferiores ao nível de reposição populacional, em média mundial de 2,1 filhos/mulher. Em 2012, essa taxa foi ainda mais baixa, alcançando o valor de 1,77 filhos/mulher (redução de 22,7% em relação a 2000).

Com exceção da Região Norte (índice de 2,24 filhos/mulher), todas as demais regiões apresentaram taxas de fecundidade total inferiores ao nível de reposição. O menor valor foi encontrado no Sul, onde a taxa alcançou 1,66 filhos/mulher. Seguindo essa tendência, o processo de envelhecimento populacional deverá se intensificar e, em duas décadas, prevê-se uma estabilização do crescimento demográfico, com perspectivas de redução do tamanho da população brasileira. “O estudo aponta uma tendência já observada por outras instituições, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por isso, o governo tem investido muito em informação e políticas que promovam o envelhecimento saudável, como a própria política de doenças crônicas não transmissíveis, lançada nesta semana. Não temos dúvidas que a saúde se fortalece mais quando atrelada a ações de educação, esporte, cultura, desenvolvimento social”, finalizou a diretora.

PRÉ-NATAL – Em relação às características da gravidez e do parto, mais especificamente à atenção pré-natal, a análise evidencia que de três em cada quatro nascimentos foi realizado o número mínimo de consultas (seis ou mais) preconizado pelo Ministério da Saúde. Juntamente com estados e municípios, o Ministério da Saúde ampliou em 87% as consultas de pré-natal entre 2003 e 2012. Somente em 2012, foram realizadas 18,2 milhões de consultas pré-natais pelo (SUS).

Quanto ao tipo de parto, há uma tendência crescente de cesáreas no Brasil entre 2000 e 2012. Mais de 83% das mães com 12 anos ou mais de estudo e mais de 67% de mães com idades entre 25 e 39 anos realizaram parto cesáreo em 2012. No que diz respeito à cor da pele, enquanto 67% das mães brancas realizaram parto cesáreo, este percentual foi de 18% entre as indígenas (o índice foi de 48% entre as pretas, 59% entre as amarelas e 49% entre as pardas).

Para reduzir o número de cesáreas desnecessárias, o Ministério da Saúde busca esclarecer as mulheres em relação às vantagens do parto normal e apoia a discussão da formação em obstetrícia, inclusive incentivando o aprimoramento da formação médica – tanto nos currículos acadêmicos das faculdades de Medicina quanto na residência médica.

Por meio da estratégia Rede Cegonha, o governo federal tem incentivado o parto normal humanizado e intensificado a assistência integral à saúde de mulheres e crianças, desde o planejamento reprodutivo, passando pela confirmação da gravidez, pré-natal, parto, pós-parto, até o segundo ano de vida do filho. Atualmente, a Rede Cegonha está presente em 5.488 municípios de todos os estados do país. Desde o lançamento, já foram repassados para a estratégia mais de R$ 3 bilhões.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) também tem atuado para reduzir o número de cesarianas desnecessárias no país. Recentemente, a autarquia assinou um Acordo de Cooperação Técnica com o Hospital Israelita Albert Einstein e o Institute for Healthcare Improvement (IHI), para desenvolver um projeto piloto de promoção ao parto normal. A ANS também faz uma consulta pública sobre novas normas para o setor, cujas contribuições podem ser enviadas até 23 de novembro.

Gestantes têm dificuldade para pedir ajuda contra violência

Pesquisa realizada na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP aponta que a maioria das gestantes que sofrem Violência por Parceiro Íntimo (VPI), quando questionadas, não se considera vítima, porém afirmam já ter sofrido violência por deixar de cumprir tarefas do lar, como lavar a louça ou fazer o jantar. Essa percepção dificulta a procura por ajuda e favorece a continuidade da violência.

Segundo a pesquisadora Driéli Pacheco Rodrigues, um dos fatores que pode levar a maioria delas a não classificar empurrões e socos como violência é o convívio precoce com a violência, como agressões entre familiares, gerando a ideia que essa situação é algo “ruim”, mas comum. “Além disso, muitas acreditam que violência é só aquela que aparece no jornal, como assassinatos, estupros e roubos”, conta a pesquisadora.

Com 232 participantes, a dissertação Violência por parceiro íntimo contra a gestante: estudo sobre as repercussões obstétricas e neonatais, orientada pela professora Juliana Cristina dos Santos Monteiro, traz o perfil dessas mulheres bem como orientações sobre os mecanismos de defesa contra a violência feminina.

Com os dados coletados no Centro de Referência à Saúde da Mulher (CRSM-MATER) e no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP, nos meses entre maio e dezembro de 2012, os resultados da pesquisa apontam que mulheres negras ou pardas, que não tem mais parceiro e fazem, eventualmente, uso de bebida alcoólica, apresentam mais chances de sofrer VPI durante a gestação. O tipo de violência mais vivido por elas foi a psicológica, seguida por física e sexual.

Gestação e violência
Quando a gestação é indesejada tanto pela mulher quanto pelo atual parceiro, as chances de sofrer VPI aumentam 4,3 vezes. Se comparado com os parceiros que têm 30 anos ou mais, aqueles que estão na faixa etária de 15 a 18 anos têm 5,5 vezes mais chances de praticarem VPI contra a gestante.

“O estudo procurou analisar a violência e saber se ela estava relacionada com algum problema na gravidez e parto ou para o recém nascido”, conta Driéli, porém os resultados não apontaram ligação entre os dois aspectos. “Nessa população não foi verificada tal associação, mas outras variáveis se mostraram associadas à violência e outros estudos apontam seus efeitos prejudiciais para a mulher e a criança, assim os profissionais de saúde devem estar atentos para detectar e dar suporte às mulheres nessa situação.”

“Por que não manda esse homem embora?”, “Tem que ir na delegacia denunciar!”, “Ela apanha porque quer”. Comentários como esses são muito ouvidos por essas mulheres, porém, Driéli salienta que a questão não é tão simples assim. Além de muitas vezes não compreenderem que a agressividade de seus parceiros é violência, elas também acreditam que é direito do homem fazer isso, pois, segundo a enfermeira, a questão da desigualdade de gênero ainda é muito forte. “A maioria delas foi educada para aceitar qualquer atitude do seu marido”, completa. Na maioria das vezes a sociedade aponta apenas duas possibilidades: A mulher rompe com a violência pela denúncia ou continua apanhando. Já a pesquisadora vê novos caminhos que podem ser traçados por meio de orientação: “Precisamos mostrar os mecanismos de defesa e orientá-las, para que assim sintam-se fortalecidas e consigam mudar sua realidade”, diz a enfermeira.

Criada em 2006 e batizada como Maria da Penha, a lei nº 11.340/06 protege as mulheres da violência doméstica e acaba, teoricamente, com a impunidade dos agressores. Apenas a mulher pode denunciar a situação. “Não podemos tomar nenhuma atitude por ela, temos que apontar as possibilidades e fornecer apoio para que ela possa escolher o que quer fazer”, afirma a pesquisadora. “Ao contrário do que diz o senso comum, nenhuma mulher gosta de sofrer violência. Devemos tentar entender os fatores que fazem com que ela continue nessa situação para que possamos ajudá-la da melhor forma”, conclui Driéli.

Adolescentes grávidas são vítimas frequentes de violência

Estatísticas epidemiológicas confirmam que 60% das mulheres que já engravidaram foram vítimas de algum tipo de violência doméstica por parceiro íntimo no decorrer da vida conjugal, e 20% destas sofreram violência psicológica e física grave durante a gravidez como, por exemplo, socos, queimaduras e ameaças envolvendo o uso de arma. Quando se trata de adolescentes grávidas, a situação se complica ainda mais. É o que aponta a pesquisa coordenada pela professora Dora Mariela Salcedo Barrientos, do curso de Obstetrícia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.

O estudo foi realizado junto a 61 adolescentes grávidas cadastradas no Hospital Universitário (HU) da USP e que compareceram ao Pronto Atendimento de Obstetrícia durante três meses, de outubro a dezembro de 2012. As entrevistas foram gravadas e transcritas, garantindo o anonimato e o respeito à privacidade e à intimidade das jovens, oferecendo-lhes a liberdade de participar ou declinar desse processo no momento em que desejassem. Dentre os resultados identificados, pôde-se observar nos discursos das entrevistadas alta incidência de violência intrafamiliar em um momento de maior vulnerabilidade e suscetibilidade da adolescente.

De acordo com os dados coletados das 61 participantes, 36 já foram vítimas de violência intrafamiliar, isto é, que se passa ou se dá dentro do grupo familiar. Destas, 29 (47,54%) sofreram violência psicológica, 12 (20%) sofreram violência institucional, 5 (8%) foram vítimas de violência física, 4 (7%) foram vítimas de violência moral e 3 (5%) foram vítimas de violência sexual.

Problema de saúde pública
A violência intrafamiliar constitui um grave problema de saúde pública, uma vez que afeta profundamente a integridade física e psicológica das vítimas. O estudo aponta diversos sintomas e transtornos que podem aparecer em decorrência da violência intrafamiliar, por exemplo: doenças no aparelho digestivo e circulatório, dores e lesões musculares, desordens menstruais, ansiedade, depressão, suicídio, uso de entorpecentes, transtorno de estresse pós-traumático, lesões físicas, privações, entre outros. No que se refere à saúde reprodutiva, a violência contra a mulher tem sido associada a gestações indesejadas, dor pélvica crônica, doença inflamatória pélvica e maior incidência de doenças sexualmente transmissíveis.

O estudo ainda levantou o perfil das adolescentes entrevistadas: idade média de 17 anos; a maioria das jovens eram brancas ou pardas (95%), solteiras (90,1%); com nível de escolaridade adequado para a idade (54,1% – nível médio); procedentes do Estado de São Paulo; vivendo em moradias próprias (62,5%), com acesso a serviços básicos como água, luz, esgoto e coleta de lixo. A prevalência de violência entre as jovens que tinham condição precária na moradia foi maior do que entre aquelas com residência salubre. Para grande parte das famílias das adolescentes entrevistadas (79,6%), a renda per capita média foi de R$ 474,95, variando entre R$ 66,67 e R$ 1.550,00.

O trabalho coordenado pela professora Dora faz parte do Estudo da violência doméstica contra adolescentes grávidas atendidas na Região Oeste e Leste de São Paulo: Bases para intervenção, o qual integra o grupo de pesquisa “Mulher & Saúde: Violência doméstica no período gravídico-puerperal”, do Diretório do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O estudo já recebeu o prêmio de melhor trabalho na categoria de contribuição estrangeira no XIII Congresso Latinoamericano de Ginecologia Infantil e da Adolescência e II Congresso Peruano de Ginecologia, Pediatria e de Adolescência, realizados no Peru, em setembro de 2013.