Duas em cada três mortes de bebês de até 1 ano poderiam ser evitadas no Brasil com ações como vacinação, amamentação e acesso à atenção básica de saúde. O país registra, nessa faixa etária, mais de 20 mil óbitos anuais por causas evitáveis, como diarreia e pneumonia, e vê aumentar o risco à saúde das crianças com a queda da cobertura vacinal. Os dados são do Observatório de Saúde na Infância – Observa Infância, que reúne pesquisadores da Fiocruz e do Centro Universitário Arthur de Sá Earp Neto (Unifase), com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Bill e Melinda Gates.
A partir do cruzamento de grandes bases de dados próprias e dos sistemas de informação nacionais, o Observa Infância identifica as causas de mortes evitáveis entre crianças menores de 5 anos. “Nosso trabalho é perguntar a essas bases aquilo que a sociedade não pode ignorar: o que mata as nossas crianças? O que podemos fazer para evitar essas mortes?”, conta Patricia Boccolini, pesquisadora do Observa Infância vinculada ao Núcleo de Informação, Políticas Públicas e Inclusão (Nippis), uma cooperação entre a Fiocruz e a Unifase.
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Próximo de completar seus quatro anos, Julinho começou a frequentar uma creche perto de casa. A adaptação foi difícil para os adultos da família, que estavam acostumados a cuidar dele o tempo inteiro. “E se ele tivesse uma crise convulsiva?”, “Se chorasse muito?”, “E se esquecessem os horários dos remédios?”. Os questionamentos eram frequentes. Mas o menino surpreendeu todo mundo com sua boa integração: não pareceu sentir falta da mãe e da avó, era amável com os colegas e encorajado o tempo todo a provar coisas novas. Até o frango com macaxeira que antes não gostava se tornou sua comida favorita. A convivência com outras crianças o ajudou a desenvolver de maneira surpreendente o andar, o brincar e a forma de comer.
Julinho é uma criança de quatro anos nascida com a Síndrome Congênita do Vírus Zika (SCZ), epidemia que atingiu seu pico no Brasil em 2015. Sua história é contada pela socióloga Ana Claudia Camargo, no livro Micro-histórias para pensar macropolíticas. No relato, Dona Lúcia, avó do garoto, se emocionava constantemente de ter que deixá-lo “sozinho” nesses momentos, porque segundo ela “essas crianças são muito frágeis (…) qualquer ventinho leva a vida dele embora…”
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Um estudo liderado pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) sugere que partos cesáreos podem estar associados ao maior risco de mortalidade na infância, com exceção dos casos que uma indicação médica seja clara sobre o procedimento cirúrgico conhecido popularmente como “cesariana”.
Utilizando dados coletados e cedidos pelo Ministério da Saúde sobre mais de 17 milhões de nascimentos ocorridos no Brasil entre 2012 e 2018, os pesquisadores do Brasil e do Reino Unido observaram que, no grupo com baixa indicação de cesariana, este procedimento foi associado a um risco aumentado em 25% na mortalidade na infância – até cinco anos – na comparação com as crianças que nasceram de parto vaginal.
Leia MaisModo de vivenciar luto pode afetar desenvolvimento infantil
O sofrimento de pais que perdem um filho pequeno é uma das situações emocionais que mais podem desestruturar uma família. Essa obvia constatação, no entanto, ganha um contorno ainda mais dramático quando a família tem outro filho de pouca idade, pois o luto dos pais pode influenciar no desenvolvimento emocional da criança. Analisar “a vivência da criança que perdeu um irmão e a repercussão dessa perda no seu desenvolvimento emocional, conforme relacionada ao luto dos pais” foi o objeto da pesquisa desenvolvida para o mestrado de Marcela Lança de Andrade, apresentada no final do ano passado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.
Orientada pela professora Valéria Barbieri, Marcela estudou três famílias com filhos entre nove e 11 anos de idade e que passaram pela traumática situação de perda de um dos filhos. A autora conta que quando foi escolher seu tema de mestrado verificou que o tema era pouco estudado. “Existe um tabu social de falar nesse assunto, no geral as pessoas que trabalham dentro dos hospitais têm mais facilidade porque vivem cotidianamente essa situação, mas é um assunto evitado, pois a maioria das pesquisas dessa área falam sobre a perda dos pais, do cônjuge, poucas falam da perda dos filhos, até pela dificuldade do tema”, afirma, resumindo que seu objetivo foi pensar como estava esse luto e se esse luto repercute no desenvolvimento emocional da criança.
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Cerca de 40% de todas as mortes entre índios brasileiros registradas desde 2007 foram de crianças com até 4 anos. O índice é quase nove vezes maior que o percentual de mortes de crianças da mesma idade (4,5%) em relação ao total de óbitos no Brasil no mesmo período.
Um levantamento da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) obtido pela BBC Brasil por meio da Lei de Acesso à Informação revela que indicadores da qualidade do serviço de saúde prestado aos índios estão em patamar muito inferior aos do resto da população.
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