Tag Archives: IOC/Fiocruz

Verme causador da meningite é detectado em 26 cidades do estado do Rio

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) identificou a presença do verme Angiostrongylus cantonensis, causador da meningite eosinofílica, em 26 municípios do estado do Rio de Janeiro. O parasito foi detectado em moluscos terrestres, incluindo caramujo gigante africano, caracóis e lesmas. As coletas foram realizadas entre 2015 e 2019. Os dados estão relatados em artigo recém-publicadona revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz

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Estratégia de vigilância de cães reforça combate à doença de Chagas

O ‘melhor amigo do ser humano’ também pode ser um grande aliado da saúde pública. O monitoramento de cães é a base de uma metodologia desenvolvida pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) para detectar áreas com maior risco de transmissão do parasito Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas. Selecionada para compor o projeto Integra Chagas Brasil, do Ministério da Saúde, a estratégia está sendo implantada em cinco cidades do país: Espinosa e Porteirinha, em Minas Gerais; São Luís de Montes Belos, em Goiás; São Desidério, na Bahia; e Iguaracy, em Pernambuco. 

Coleta de sangue em cão em Espinosa (MG) para teste de diagnóstico da infecção pelo T. cruzi (foto: Ana Maria Rodrigues e Paulo Jefferson / IntegraChagas Brasil)

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Pesquisa inédita da Fiocruz detecta contaminação por cocaína em tubarões

O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) detectou, pela primeira vez no mundo, a contaminação de tubarões por cocaína e seu metabólito, a benzoilecgonia. O dado chama atenção para a alta quantidade da droga que é consumida na cidade e descartada no mar via esgoto sanitário. Conduzido pelo Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC, o estudo identificou a presença de cocaína em 13 animais da espécie Rhizoprionodon lalandii, popularmente conhecida como “tubarão-bico-fino-brasileiro”, “cação rola rola” ou “cação-frango”. Os resultados foram publicados na revista científica Science of The Total Environment.

O principal metabólito da substância, a benzoilecgonina, resultante da metabolização da cocaína no organismo, foi encontrada em 12 destes animais. As coletas foram realizadas no bairro do Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, entre setembro de 2021 e agosto de 2023, como parte de um esforço para avaliação da saúde ambiental, com foco em acompanhar mudanças no ambiente, sejam ocorridas de forma natural ou a partir da interferência humana – e seus impactos sobre as diversas formas de vida marinha.

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Fiocruz integra projeto internacional com foco em saúde e sustentabilidade em fronteiras

Com parceiros internacionais, a Fiocruz deu a largada em um projeto de pesquisa que visa contribuir para a saúde das populações e dos ecossistemas na Amazônia e no Leste da África diante das mudanças climáticas e da degradação ambiental. O objetivo é estabelecer sistemas de informação para apoiar comunidades locais em áreas de fronteira na avaliação dos impactos das transformações ambientais sobre o seu bem-estar e no desenvolvimento de ações de prevenção, adaptação e mitigação destes problemas.

Na Amazônia, a pesquisa será desenvolvida em duas áreas: a fronteira binacional entre Brasil e Guiana Francesa e a tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. Na África, o projeto terá foco na fronteira do Quênia com a Tanzânia, abrangendo o território onde vive o povo Maasai. Intitulada Aplicação multilocal da ciência aberta na criação de ambientes saudáveis envolvendo comunidades locais (Mosaic, na sigla em inglês), a iniciativa une cerca de 90 pesquisadores, de 15 instituições científicas, de sete países.

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Oficina do MS e da Fiocruz debate a febre oropouche

A Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA) do Ministério da Saúde (MS) e a Fiocruz promoveram, na última quarta-feira (21/2), em Manaus, a 1º Oficina para Discussão das Ações de Vigilância, Assistência e Pesquisa em Febre do Oropouche. O evento, que teve o apoio da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, contou com a participação de pesquisadores e gestores de instituições dos estados da Amazônia, e dos laboratórios de Referência para arboviroses da Fiocruz e Instituto Evandro Chagas (IEC). A diretora do Departamento de Doenças Transmissíveis da SVSA, a médica Alda Maria da Cruz, afirmou que o objetivo do encontro foi, além de trocar conhecimentos, desenhar uma estratégia de investigação da doença e estabelecer critérios e métodos que possam ser usados pela comunidade científica, nos aspectos clínicos, entomológicos e apoio diagnóstico. O boletim que informa o cenário de arboviroses do Amazonas mostra que foram confirmados 1.258 casos para oropouche até 15 de fevereiro.

Pesquisadora da Fiocruz e antiga chefe do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas Médicas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Alda Maria destacou o trabalho de vigilância em saúde do Amazonas, que conseguiu identificar, de forma oportuna, que muitos dos casos notificados para dengue eram, na verdade, de oropouche. Nesta caracterização, contou com o apoio do Núcleo de Vigilância  de Vírus Emergentes, Reemergentes e Negligenciados da Fiocruz Amazônia. Para ela, a oficina marca o início de uma caminhada que juntou profissionais da clínica, de laboratórios, gestores, equipes da vigilância e pesquisadores, em um encontro de saberes diferenciados. “Tivemos uma riqueza e densidade de discussões muito grande e agora vamos ter que pensar em como levar adiante os desdobramentos de tudo que foi debatido e sugerido por cada um dos grupos da oficina”, afirmou. Alda Maria agradeceu a parceria da Fiocruz na realização do evento e o apoio da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas.

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Estudo aponta que desnutrição pode agravar leishmaniose

A desnutrição afeta a resposta imune frente a infecções e, entre as diferentes formas de desnutrição, a carência de proteínas na dieta é uma das formas mais prejudiciais. A desnutrição proteica é um fator de risco conhecido para o desenvolvimento da leishmaniose visceral. Em novo estudo, publicado na revista internacional Scientific Reports, pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e da Universidade Nacional da Colômbia descrevem mecanismos que ajudam a compreender essa associação nociva. O trabalho detalha alterações da desnutrição proteica sobre o timo, órgão de maturação das células de defesa conhecidas como linfócitos T, o que pode prejudicar a resposta imune ao parasito Leishmania infantum, causador da doença. O impacto negativo da desnutrição no desenvolvimento do agravo é mais um fator que caracteriza uma situação social perversa: classificada como doença negligenciada, a leishmaniose afeta majoritariamente populações que vivem em condições de pobreza, que também são as mais afetadas pela carência de proteínas na dieta – os dois aspectos se somam, com efeitos deletérios.

Imagens de microscopia mostram parasitos L. infantum no timo de animais desnutridos. Os parasitos são observados em verde e os macrófagos (células de defesa), em vermelho. No alto, as setas e a ampliação destacam dois parasitos. No centro, um parasito é visto próximo a um macrófago. Abaixo, as setas apontam ninhos de parasitos – o que não foi verificado nos animais com alimentação saudável (crédito: Losada-Barragán, M. et al)

 A investigação é liderada pelo Laboratório de Pesquisas em Leishmaniose do IOC em parceria com o Grupo de Investigação em Hormônios da Universidade da Colômbia, com a colaboração do Laboratório de Pesquisas sobre o Timo do IOC/Fiocruz. Realizado em camundongos, animais considerados modelos para o estudo da leishmaniose visceral, o trabalho dá sequência a uma pesquisa publicada pelo mesmo grupo em 2014. Na ocasião, os cientistas identificaram atrofia e alteração na composição celular do timo em animais desnutridos e infectados por L. infantum, o que foi acompanhado por um aumento precoce da quantidade de parasitos no baço, um dos principais órgãos afetados na leishmaniose visceral.

A nova pesquisa confirma os achados anteriores: os pesquisadores observaram que os camundongos com alimentação saudável infectados por L. infantum apresentaram aumento de 31% no tamanho do timo, enquanto os animais com carência de proteínas infectados pelo parasito sofreram redução de 34% no tamanho do órgão. Uma vez que o crescimento está associado com a proliferação e a mobilização de células no timo para reagir à infecção, a redução do tamanho do órgão indica dificuldades na resposta imune. Paralelamente, a presença de parasitos no timo foi verificada com mais frequência no grupo com desnutrição, que também apresentou maior carga parasitária no baço.

Falhas na migração celular

Após serem produzidas na medula óssea, as células precursoras dos linfócitos T migram para o timo, onde amadurecem e se diferenciam, dando origem a subpopulações celulares que atuam na defesa do organismo. Isso acontece de duas formas: a ação direta no combate às infecções intracelulares e a ação indireta por meio da ativação de outros tipos de células de defesa e da regulação da resposta imune. Os pesquisadores observaram que a carência de proteínas pode prejudicar tanto a chegada das células precursoras ao timo, quanto o retorno de linfócitos T maduros para o órgão. Como resultado dessa combinação de fatores, a resposta à infecção é prejudicada.

Segundo o estudo, a capacidade de migração das células precursoras e dos linfócitos T não é afetada, porém a desnutrição provoca uma queda significativa na produção de moléculas que compõem o microambiente do timo – fundamentais para orientar o deslocamento celular durante o processo de maturação. Por esse motivo, a entrada de células precursoras no órgão é reduzida e o processo de diferenciação apresenta falhas. Ao mesmo tempo, há dificuldade em atrair linfócitos T maduros de volta para o timo, o que contribui para o descontrole da infecção dentro do órgão.

Os autores destacam que não foram encontradas evidências de que a desnutrição provoque um aumento da morte celular no timo, embora essa possibilidade não possa ser descartada. Segundo eles, os resultados reforçam o papel do microambiente do órgão no controle da leishmaniose visceral. “Nossos dados mostram uma drástica desregulação das moléculas migratórias no timo, o que afeta a entrada e a saída de linfócitos imaturos e maduros. Esses achados sugerem que a desnutrição tem um efeito deletério sobre a resposta imune mediada pelos linfócitos T, reduzindo a capacidade dos animais privados de proteínas para controlar a proliferação dos parasitos”, concluem os cientistas.

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Referência do artigo: Losada-Barragán, M. et al. Protein malnutrition promotes dysregulation of molecules involved in T cell migration in the thymus of mice infected with Leishmania infantum. Sci. Rep. 7, 45991; doi: 10.1038/srep45991 (2017).

Fiocruz leva experiência brasileira com o Aedes aos EUA

Um encontro promovido pelo Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) reuniu, na sede do Instituto, em Atlanta, um seleto grupo de pesquisadores e representantes do poder público e da indústria em busca de estratégias para controle do Aedes aegypti em territórios norte-americanos. Única representante brasileira na reunião, a pesquisadora do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Denise Valle, teve a missão de apresentar algumas das abordagens adotadas no Brasil.

O encontro, denominado Estratégias para Controle Vetorial de Aedes aegypti e as Doenças Transmitidas por ele: traçando o caminho a seguir, realizado na última semana de fevereiro, foi uma preparação do CDC para a aproximação de estações mais quentes no hemisfério norte, que favorecem a proliferação de mosquitos. Segundo dados da instituição, mais de 42 mil pessoas nos Estados Unidos e seus territórios já foram infectados pelo vírus zika, sendo que 4.6 mil gestantes tiveram confirmação laboratorial da infecção.

“Diferentemente do Brasil, um país tropical, os Estados Unidos não tinham um histórico de doenças transmitidas por mosquitos, principalmente pelo Aedes. No entanto, o vírus zika conseguiu se espalhar com razoável facilidade por lá e outros 60 países. Isso elevou os níveis de alerta do CDC, o maior centro de pesquisas do mundo. Os americanos estão procurando se antecipar a novos surtos e epidemias, a partir do desenvolvimento de estratégias para controle do Aedes e, assim, evitar que o zika e outras doenças se espalhem pelos territórios norte-americanos. Todos os países, incluindo o Brasil, precisam estar sempre atentos para a possibilidade de emergência e reemergência de patógenos causadores de doenças”, pontuou Denise Valle, que trabalha há quase duas décadas com métodos de vigilância e controle de Aedes.

Durante a mesa Desafios para a Implementação de Estratégias de Controle, Denise, que por 13 anos atuou na coordenação da Rede Nacional de Monitoramento da Resistência de Aedes aegypti a Inseticidas (MoReNAa) junto ao Ministério da Saúde, apresentou um panorama histórico do controle químico do vetor no país e explicou os desafios do uso indiscriminado de inseticidas. A bióloga, que é uma das organizadoras de um premiado livro sobre a dengue – Dengue: teorias e práticas, publicado pela Editora Fiocruz –, também abordou a importância do engajamento da população e dos veículos de comunicação no combate ao mosquito. “Desde 2009, desenvolvemos no IOC, de forma sistemática, métodos para disseminação de informações corretas sobre o Aedes por meio de oficinas com agentes multiplicadores da informação. Já tivemos a oportunidade de engajar centenas de jornalistas, escoteiros, professores, estudantes e militares”, comemorou Denise. “Os especialistas presentes no encontro realizado no CDC comentaram bastante essa abordagem, que utiliza a conscientização, não armas químicas”, completou.

A iniciativa 10 minutos contra o Aedes, idealizada por Denise e outros pesquisadores e profissionais de comunicação do IOC, também foi alvo de interesse no evento. De acordo com o conceito, uma vistoria semanal de 10 minutos é suficiente para eliminação de possíveis criadouros do Aedes aegypti. “A intervenção periódica é suficiente para interromper o ciclo de vida do mosquito, que leva de 7 a 10 dias para se desenvolver do ovo até a forma adulta”, explicou. Inspirado em uma ação governamental de sucesso realizada em Cingapura, o conceito dos ‘10 minutos’, lançado em 2011, está amplamente difundido pelo Brasil. No Rio de Janeiro, por exemplo, no ano seguinte à implementação do conceito como campanha oficial pela Secretaria de Estado de Saúde, aumentou em três vezes o número de municípios com índices toleráveis de infestação pelo Aedes.

Outra iniciativa apresentada foi o projeto de videoaulas Aedes aegypti: Introdução aos Aspectos Científicos do Vetor, que disponibiliza gratuitamente na internet aulas sobre diversos aspectos do vetor dos vírus dengue, zika e chikungunya. Desde o lançamento, em 2013, foram mais de 200 mil visualizações no YouTube, oriundas de 107 países. No Brasil, secretarias de educação em dez Estados atuaram como parceiras por meio da distribuição de cartazes nas escolas e do envio de material de divulgação aos professores. A parceria alcançou cerca de 14 mil escolas, distribuídas nas cinco regiões do país. O projeto também recebeu a adesão espontânea de diversas prefeituras, além de profissionais das áreas da Saúde e Educação.

Mosquitos com bactéria que inibe a transmissão dos vírus, Aedes geneticamente modificados, desenvolvimento de novos inseticidas, repelentes e armadilhas de captura de insetos para estudos científicos, além de implementação de métodos capazes de mensurar impactos entomológicos e epidemiológicos também estiveram entre os tópicos debatidos no encontro. “A solução para o controle do Aedes e as doenças transmitidas por ele não é missão exclusiva da área da Saúde e não depende apenas de ferramentas técnicas. É necessário agir com base em intersetorialidade e valorizar a interação direta com a população. Além disso, é fundamental ter responsabilidade social, tanto no âmbito privado, no sentido de manutenção dos espaços domésticos, sem água acumulada que possa se tornar um criadouro, quanto na esfera pública, com ações que garantam a limpeza dos espaços comuns, além de acesso da população ao saneamento básico e fornecimento regular de água”, finalizou.

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Pesquisadores inovam na vigilância de vetores da malária

Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), em parceria com o Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa), desenvolveram uma armadilha inovadora para a coleta de mosquitos, em especial, os anofelinos, que transmitem a malária. A inovação representa três benefícios diretos: facilita as pesquisas de campo, amplia a captura dos mosquitos, e aumenta a segurança em relação ao contato com os vetores. Com o formato similar ao de uma tenda, a ferramenta conta com duas câmaras: a interna, projetada para abrigar o profissional responsável pela coleta, e a externa, onde ficam presos os mosquitos coletados. A separação entre os dois ambientes impede que o agente de endemias ou o pesquisador sejam picados pelos mosquitos capturados que podem estar infectados. Em testes de campo realizados no Norte do Brasil, os pesquisadores comprovaram a eficácia da armadilha, chamada de MosqTent – união das palavras ‘mosquito’ e ‘tenda’, em inglês. A patente foi depositada pela Fiocruz no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), garantindo o direito à propriedade intelectual da invenção.

Confira videorreportagem sobre a MosqTent:

 Inovação na vigilância de vetores da malária

Atualmente, de acordo com o Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária do Ministério da Saúde, a técnica de captura recomendada para o monitoramento de indicadores entomológicos em relação aos anofelinos é por meio da atração humana. Com o método, o especialista, utilizando-se dos Equipamentos de Proteção Individual necessários, posiciona-se no habitat dos mosquitos, que são atraídos pelos vários odores exalados naturalmente pelo corpo. Ao pousar sobre o homem, na tentativa de se alimentar de sangue, são capturados. Segundo o órgão, outras técnicas de coleta ainda não demonstram eficácia compatível.

“Nesse cenário, a MosqTent se apresenta como uma nova e promissora tecnologia no campo da vigilância entomológica da malária, uma vez que pode ser utilizada em substituição à exposição humana direta. Além disso, em áreas com alta densidade de mosquitos anofelinos, a ferramenta apresenta elevada capacidade de captura”, explica José Bento Pereira Lima, chefe do Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores do IOC e um dos idealizadores da armadilha, juntamente com Maria Goreti Rosa-Freitas, do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC, e Allan Kardec Ribeiro Galardo, do Iepa.

As adversidades enfrentadas por profissionais durante a coleta de mosquitos na natureza, em especial, a possibilidade de infecção por patógenos, foi o ponto de partida para o desenvolvimento da ferramenta. “Nossa ideia foi unir em uma mesma tecnologia a facilidade da captura e a proteção individual”, sintetiza Goreti. Portátil e com uma estrutura leve, a armadilha pode ser guardada e transportada em uma bolsa. A tecnologia é útil para estudos em ambientes silvestres, domiciliares e peridomiciliares e dispensa energia elétrica ou outros componentes para a atração de insetos, como o gás carbônico, por exemplo.

Parte fundamental da vigilância, a coleta permite dimensionar a quantidade de mosquitos que habitam uma região e, posteriormente, analisar o percentual de infectados. Assim, pode-se estimar os riscos da transmissão de patógenos para a população. Os anofelinos, por exemplo, fazem parte de um grande grupo de mosquitos que tem preferência pelo sangue humano (antropofílicos), são de grande importância para a saúde pública e objetos de diversos estudos pelo mundo.

Testes de desempenho

Para verificar a eficácia da armadilha, os pesquisadores realizaram estudos de campo em Cariobal, na zona rural de Macapá, no Amapá – localidade que apresenta vetores da malária. Os testes reproduziram condições reais de captura nos meses de agosto e outubro de 2009 e janeiro e abril de 2010, considerando variações na densidade de mosquitos ao longo do ano. Ao todo, foram coletados mais de 22 mil anofelinos de cinco espécies. “Os testes comprovaram, na prática, a alta capacidade de atração da MosqTent para as espécies de anofelinos”, ressaltou José Bento.

mosqtent materiaSimilar a uma tenda, a ferramenta impede que o pesquisador ou o agente de endemias sejam picados pelos os mosquitos durante a coleta (foto: Divulgação)

Segundo as análises, em condições de alta densidade de insetos, a armadilha demonstrou desempenho superior a outras tecnologias, como a atração humana, a atração humana protegida, que considera o uso de calça comprida, camisa de manga longa e meião preto, e a ‘BG Sentinela’, armadilha que utiliza gás carbônico como atrativo. Em números absolutos, a MosqTent foi capaz de coletar aproximadamente 30% mais espécimes de Anopheles marajoara, An. braziliensis e An. nuneztovari.

Além do período de testes, a MosqTent foi utilizada, de forma experimental, por pesquisadores de outros Laboratórios do IOC em estudos de campo com simulídeos, popularmente chamados de borrachudos, e apresentou desempenho positivo na captura desses insetos que transmitem a oncocercose no Brasil.

Registro de uma inovação

Para obter o registro de patente, a armadilha foi avaliada pelo Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) do IOC e pela Coordenação de Gestão Tecnológica da Fiocruz – órgãos institucionais de promoção da inovação em saúde. Em seguida, a patente foi depositada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). “O depósito é um passo importante no desenvolvimento de uma ferramenta que deve contribuir para melhorias em pesquisas de campo no mundo todo”, ressaltou José Bento. Segundo ele, o objetivo principal do processo de patenteamento é o de garantir a propriedade intelectual de uma inovação produzida nos laboratórios da Fiocruz e o uso futuro da armadilha para fins científicos e de serviço. Detalhes sobre o modo de funcionamento da armadilha e os resultados dos testes de eficiência foram reunidos em um artigo publicado no periódico científico PLOS Neglected Tropical Diseases.

Casos de malária

A região Amazônica, que abrange os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, concentra mais de 99% dos casos de malária registrados no Brasil. No entanto, as demais regiões, apesar de apresentarem poucas notificações, não podem negligenciar a doença, uma vez que são observadas taxas de letalidade mais elevadas que a região endêmica. Dados do Ministério da Saúde mostram que, em 2015, foram notificados mais de 143 mil casos da doença no país. Até setembro de 2016, foram mais de 81 mil confirmações positivas de casos de malária no país.

Vacina terapêutica contra Chagas é testada com sucesso em camundongos

Uma vacina brasileira capaz de estimular o sistema imunológico a combater o Trypanosoma cruzi– parasita causador da doença de Chagas – foi testada com sucesso de forma terapêutica em experimentos com camundongos.

De acordo com os resultados publicados na revista PLoS Pathogens, no fim de janeiro, o imunizante aumentou de zero para 80% a sobrevivência de animais infectados e ainda diminuiu a carga parasitária e reduziu sintomas como arritmias cardíacas.

Os estudos para o desenvolvimento da vacina vêm sendo coordenados há 20 anos por Maurício Martins Rodrigues, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com apoio da FAPESP em diversos projetos de pesquisa.

O novo estudo é resultado de uma parceria com diversas instituições, por meio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Vacinas, envolvendo o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o Centro de Pesquisa René Rachou (CPqRR/Fiocruz), a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a Unifesp e a Universidade de Massachusetts Medical School, nos Estados Unidos.

“Mais de 10 milhões de indivíduos na América Latina convivem com a doença de Chagas já na fase crônica e o tratamento convencional muitas vezes não funciona. A vacinação terapêutica levaria à redução dos sintomas, queda da mortalidade e melhora da qualidade de vida dos doentes”, disse Rodrigues.

Entre as principais complicações crônicas da doença de Chagas estão o alargamento dos ventrículos do coração (condição que afeta cerca de 30% dos pacientes e costuma levar à insuficiência cardíaca) e a dilatação do esôfago ou o alargamento do cólon (que acomete até 10% dos infectados e pode levar à perda dos movimentos peristálticos e à dificuldade de funcionamento dos esfíncteres).

Embora medicamentos como o benzonidazol tenham eficácia razoável contra o parasita na fase aguda da infecção, eles apenas conseguem retardar o progresso da enfermidade quando esta evolui para a fase crônica, o que acontece em 30% dos casos.

Na ausência de um tratamento específico, os médicos recorrem a medicamentos usados para combater outras doenças do coração ou do sistema digestivo, capazes apenas de atenuar os sintomas.

A vacina desenvolvida na Unifesp também poderá ser usada para promover uma imunidade profilática contra o T. cruzi, mas, na avaliação de Rodrigues, o impacto para a saúde pública seria maior se ela fosse usada de forma terapêutica.

“Para usá-la profilaticamente seria preciso imunizar milhares de pessoas, e os países que ainda possuem altas taxas de transmissão do parasita, como a Bolívia, a Venezuela e o Peru, não têm recursos para esse tipo de campanha”, disse.

O Brasil possui a logística necessária para a imunização em massa. A transmissão do T. cruzi no país, entretanto, foi praticamente eliminada, ocorrendo apenas em casos isolados e geralmente por ingestão de alimentos contaminados pelas fezes do barbeiro.

“Mas ainda há por aqui muitos pacientes sofrendo com as complicações da fase crônica. Tratar apenas as pessoas já infectadas é economicamente mais viável e factível no médio e longo prazo”, disse Rodrigues.

O mecanismo de ação do imunizante promove a indução de linfócitos T do tipo CD8 contra dois antígenos do parasita: uma proteína (rAdASP2) da superfície do amastigoto (parasita em seu estágio intracelular) e a enzima trans-sialidase, presente na forma tripomastigota (fase extracelular, que circula no sangue). Desta forma, a resposta imune é gerada para as duas formas infectantes do parasita, cobrindo todo o seu ciclo de vida dentro do organismo humano.

“Usamos vírus recombinantes com essas duas proteínas importantes para induzir a imunidade contra o parasita. Uma vez injetados no organismo, os vírus não são capazes de se reproduzir, mas entram nas células e produzem as proteínas dentro delas”, explicou Rodrigues.

Redução da patologia

No experimento descrito na PLoS Pathogens, camundongos infectados pelo T. cruzi foram imunizados, acompanhados durante 250 dias e, ao final, comparados com outros dois grupos de animais: um não infectado (controle) e outro infectado e não imunizado.

Enquanto no grupo infectado e não imunizado todos os animais morreram após o término do experimento, no grupo vacinado houve uma sobrevivência de 80% – índice equivalente ao do grupo controle.

“Com 250 dias de vida os animais já estavam idosos, algo equivalente a 60 anos humanos. Ou seja, os ratos vacinados passaram a vida toda doentes e sobreviveram tanto quanto os animais não infectados”, comentou Rodrigues.

A vacinação também foi capaz de reduzir em cinco vezes a carga parasitária. A porcentagem de animais que sofriam de arritmia cardíaca no grupo imunizado caiu de 100% para 33%, de acordo com o pesquisador.

“Houve uma melhora considerável na função cardiológica de maneira geral. Esse dado, aliado à queda na carga parasitária, mostra que houve melhora na qualidade de vida dos animais”, avaliou Rodrigues.

Embora a vacina tenha apresentado resultados promissores neste experimento e em anteriores nas quais ela foi testada profilaticamente, ainda é necessário desenvolver uma formulação segura para o uso em humanos antes de avançar para a fase de estudos clínicos.

Até o momento, nenhuma vacina contra a doença de Chagas, uma das doenças tropicais consideradas negligenciadas, foi testada em humanos e um dos principais obstáculos é a falta de financiamento e de interesse dos laboratórios farmacêuticos.

“Ainda que a doença não tenha um índice de mortalidade grande, representa um enorme custo econômico para os países pobres, pois os infectados muitas vezes ficam impossibilitados de trabalhar”, comentou Rodrigues.

Estima-se que a enfermidade cause mundialmente a perda de 750 mil anos de vida produtiva e de US$ 1,2 bilhão anualmente.

Malária vivax

Em outro projeto financiado pela FAPESP, Rodrigues coordena estudos para o desenvolvimento de uma vacina profilática contra a malária causada pelo Plasmodium vivax, que responde por aproximadamente 80% dos casos da doença no Brasil.

Os estudos ainda estão em fase pré-clínica e o grupo da Unifesp trabalha atualmente no desenvolvimento de uma formulação que possa ser testada em humanos.

Nos próximos meses deve ser licenciada a primeira vacina contra malária causada pelo Plasmódio falciparum, desenvolvida pelo laboratório farmacêutico GlaxoSmithKline (GSK).

A doença causada pelo P. falciparum é predominante na África e é considerada mais grave – matando cerca de 660 mil pessoas por ano, muitas delas crianças. As mortes pelo P. vivax são estimadas entre 10 mil e 20 mil por ano no mundo. A doença, porém, costuma causar recaídas que aumentam seu impacto econômico e mantêm altas as taxas de transmissão.