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Entenda a hidrocefalia normobárica, causa da cirurgia de Chico Buarque

Se não for tratada, condição pode levar à paralisia

O cantor Chico Buarque precisou passar por uma cirurgia neurológica, nessa terça-feira (3), para tratar uma hidrocefalia normobárica, ou de pressão normal. A condição ocorre quando há excesso de líquor – fluido que reveste o sistema nervoso central – acumulado no cérebro, mas sem provocar aumento da pressão intracraniana. Ainda assim, a hidrocefalia pode impactar os movimentos das pernas, a cognição e a capacidade de controle urinário.

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Ganho de peso na gravidez pode causar incontinência urinária

Variação do peso está associada ao problema que continua no pós-parto

Gestantes ribeirão-pretanas chegam a ganhar 35 kg. Diabete, prolapso genital e uso de cigarro também contribuem para a incontinência – Foto: Visualhunt

Muitas mulheres desenvolvem incontinência urinária durante a gestação. O problema envolve perda involuntária de urina e pode persistir depois do parto. Para descobrir as causas dessa incontinência urinária, especialistas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) acompanharam mais de sete mil mulheres.

No estudo, entre os fatores de risco para o desenvolvimento da doença, destacou-se o ganho de peso na gravidez, além de diabete, prolapso genital e uso de cigarro. Os resultados vieram da análise do Banco de Dados do projeto Brisa (Coorte Brasileira de Nascimentos de Ribeirão Preto e São Luís), que vem acompanhando mulheres que tiveram seus filhos entre os anos de 2010 e 2011, em Ribeirão Preto e São Luís (MA). A pesquisa com mães (Brisa) faz parte da terceira fase do projeto de coortes da FMRP, que começou o estudo longitudinal (ao longo da vida) com os nascidos em 1978.

Conta o médico Luiz Gustavo Oliveira Brito (esq na foto), professor do curso de pós-graduação em ginecologia e obstetrícia da FMRP, que, somadas às informações da gestação, as mães foram entrevistadas entre um e dois anos depois do parto. Além de várias perguntas feitas as mães, uma pergunta aberta foi feita a mãe se ela havia percebido alguma alteração no hábito de urinar antes do parto e qual teria sido.

O médico espera que essas informações contribuam na “prevenção primária ou para o não agravamento da incontinência nessas mulheres”. Lembra ainda a importância de uma equipe multiprofissional nas Unidades Básica de Saúde (UBDS), com destaque para um nutricionista e um fisioterapeuta. Nos casos em que o profissional de nutrição não esteja presente, alerta para a necessidade de orientação às pacientes quanto ao benefício do controle de peso.

Gestantes de Ribeirão sofrem mais que as de São Luís

Comparada a São Luís, Ribeirão Preto apresentou mais casos de incontinência. A média do ganho de peso também foi maior, com 12,8 kg, enquanto São Luís foi de apenas 11,2 kg. É considerado adequado o aumento entre 8 e 15 kg em mulheres com índice de massa corporal abaixo de 30, mas em Ribeirão Preto a variação foi superior, com mulheres chegando a 35 kg.

Os dados mostram ainda que na cidade paulista as taxas de diabetes na gravidez e pré-gestacional e de tabagismo são altas. Em Ribeirão Preto, por exemplo, 15% das mulheres são fumantes e em São Luis, apenas 10%. Brito lembra que todos esses fatores oferecem risco para a ocorrência de incontinência urinária.

Luiz Gustavo Oliveira Brito (esq.) e Pedro Sérgio Magnani – Foto: Divulgação

Com relação ao ganho de peso gestacional, o professor Brito lembra que, apesar dos números de referência de normalidade no aumento de peso na gestação, cada organismo possui resposta fisiológica diferente. Assim, é natural que uma mulher mais magra ganhe um peso maior durante a gravidez.

Brito lembra também a importância de rastrear o diabetes gestacional no controle da incontinência urinária. Diz que muitas pacientes não conhecem o quadro e, por isso, ocorre subnotificação de casos. Em busca de mais informações da relação do diabetes com a incontinência urinária, os pesquisadores do projeto Brisa já estão trabalhando num outro estudo que analisa a taxa de glicemia colhida de todas as pacientes.

Como desdobramento do estudo, já está em andamento um projeto em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) que pretende introduzir um fisioterapeuta na UBDS. O objetivo é a prevenção primária nas gestantes, com ações educativas e treinamentos para o parto. E, também, associar com a Nutrição e Enfermagem um programa de controle de peso.

Os resultados dessa pesquisa são parte da tese de doutorado Incontinência urinária no pós-parto em mulheres de Ribeirão Preto e São Luís: um estudo transversal da coorte BRISA apresentada ao Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da FMRP pelo médico Pedro Sérgio Magnani, com orientação do professor Brito. O doutorado de Magnani ficou com o terceiro lugar na premiação de Melhores Trabalhos de Obstetrícia do XXI Congresso Paulista de Ginecologia e Obstetrícia, realizado em agosto de 2016 em São Paulo.

Giovanna Grepi, de Ribeirão Preto

Mais informações: e-mail lbrito@usp.br

Isolamento e desvalorização marcam emocional do homem com câncer de próstata

Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto mostra como o homem com câncer de próstata lida com a mudança de identidade e com a sensação de perda da masculinidade

O câncer de próstata leva os homens a deixarem de ter o convívio harmonioso com a sociedade, sentirem a perda da identidade como homens e até a terem pensamentos angustiantes de repressão e isolamento. Esse foi o resultado de estudo apresentado na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, que entrevistou 17 homens com diagnóstico de câncer de próstata, entre março de 2013 e março de 2016.

E as evidências mostram que não são poucos os homens que passam por esses sentimentos. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de próstata atinge um a cada seis homens no mundo. Desses, somente uma pequena parte morrerá em consequência da doença, mas ela vai impor limitações físicas, emocionais e sociais a quase todos esses homens.

Jeferson Araújo: sofrimento psíquico pode agravar estado de saúde dos pacientes – Foto: Arquivo pessoal

No estudo apresentado na EERP, todos os entrevistados relataram sofrer de enfermidades físicas, biológicas e sociais por conta da disfunção sexual e incontinência urinária. O enfermeiro Jeferson Araújo, autor do estudo, relata que os homens são resistentes em aceitar o adoecimento, mesmo notando que seus corpos não apresentam as mesmas funções que os corpos de outros homens. Assim, “destinam a origem da doença a explicações diversas como a realização de trabalho, alimentação inadequada, falta de relações sexuais e castigo de Deus”. Segundo o pesquisador, os adoecidos buscaram cuidados médicos somente quando os sinais e sintomas começaram a ameaçar a virilidade e a saúde.

Apesar de, inicialmente, existir a relutância à enfermidade, após o tratamento, diz Araújo, os adoecidos adquirem uma nova identidade, aceitando as limitações e fragilidades impostas pelo câncer. Ao se depararem com a transição de identidade e com a falta de opções que possibilitem mudar essa realidade, os enfermos passam a se afastar de outros homens, por medo de serem julgados como fracos e afeminados. “Segundo eles, por mais que não queiram ser esse novo homem, esta é a única maneira que eles encontram para sobreviver após a doença.”

Entre a cruz e a espada

O estudo revela que o sentimento desses homens acerca de sua enfermidade é o de viver entre a cruz e a espada. Isso porque, segundo os entrevistados, de um lado a sociedade cobra que os homens tenham comportamentos reconhecidos culturalmente como masculinos, do outro, a doença e os tratamentos deixam sequelas que não permitem isso. “Os adoecidos se queixam principalmente de se sentirem como um nada, não encontram mais serventia em suas ações, são desvalorizados por seus familiares, marginalizados por homens saudáveis e ainda são obrigados a conviver com seus corpos sequelados, que não proporcionam mais prazer sexual e, em muitos momentos, se encontram com mal cheiro característico de urina.” Para eles, viver dessa forma, é como morrer um pouco a cada dia, relata o pesquisador.

“Os adoecidos se queixam (de que) não encontram mais serventia em suas ações, são desvalorizados por seus familiares, marginalizados por homens saudáveis e ainda são obrigados a conviver com seus corpos sequelados (…).”

Isolamento social

Detalhe de Ulisses e Circe, de Tibaldi. Se de um lado a sociedade cobra que os homens tenham comportamentos reconhecidos culturalmente como masculinos, do outro, a doença e os tratamentos deixam sequelas que não permitem isso – Imagem: Infopedia

No entanto, esse sofrimento e sentimento de tristeza profunda leva o homem adoecido, em alguns casos particulares, a agravar seu estado de saúde e se isolar do convívio social, aponta o estudo. Frente a este convívio desarmonioso o enfermeiro ganha destaque na implementação de suas ações de saúde: segundo Araújo, a partir da observação dessa vivência e do ato de se colocar no lugar do outro, enxergando as regras e cultura que regem o comportamento dos homens, o enfermeiro apreende as experiências dos adoecidos. Dessa forma, o profissional reflete sobre o melhor plano de cuidados para ser implementado a cada adoecido, pois “para que o enfermeiro possa atuar no cuidado integralizado, fornecendo resultados positivos ao homem, antes faz-se necessário aprender com o outro para depois ajudá-lo.”

A tese A experiência do homem com câncer de próstata na perspectiva da antropologia das masculinidades foi defendida em julho deste ano e orientada pela professora Márcia Maria Fontão Zago da EERP.

Stella Arengheri, de Ribeirão Preto

Mais informações: email jefaraujo@usp.br, com o Jeferson Araújo