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SUS oferece nova vacina a gestantes vacina contra vírus sincicial

Novo imunizante foi aprovado pelo Conitec

O Sistema Único de Saúde vai oferecer para as gestantes uma nova vacina capaz de proteger os bebês contra o vírus sincicial respiratório (VSR). A inclusão do imunizante Abrysvo foi aprovada nesta quinta-feira (13) pela Comissão de Incorporação de Tecnologias no SUS – Conitec.

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Crianças com Síndrome Congênita do Zika têm riscos maiores de hospitalizações

A primeira geração de crianças afetada com o surto de microcefalia, em 2015, hoje tem cerca de dez anos de idade. Apenas uma minoria dessas crianças sobreviveu ao primeiro ano de vida. Por trás da condição que determina a vida de tantas crianças brasileiras está o conjunto de sequelas da Síndrome Congênita do Zika (SCZ), doença que compromete o tamanho da cabeça e a formação de neurônios. São eles que estão mais vulneráveis a complicações graves, doenças combinadas e períodos de internação longos, segundo pesquisa do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), publicada no International Journal of Infectious Disease.

Por se manifestar de maneira mais expressiva em países pobres e em populações desiguais, a síndrome do zika recebe baixa atenção a nível mundial. Somente no Brasil, a doença acumula 20 mil casos suspeitos. Uma parte deles tem identidade comum: são filhos de mães que moram em regiões quentes e com alta circulação de mosquitos. Já que a infecção ocorre durante a gravidez pelo vírus zika, transmitido às mulheres grávidas pelo mesmo vetor da dengue, o Aedes aegypti

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Nova edição da Radis debate a legalização do aborto

Nem Presa Nem Morta. A frase estampada nos lenços verdes, ao lado de um ramo de arruda, está nos blocos de Carnaval, na Conferência Nacional de Saúde, nos congressos de saúde coletiva, tremulando em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). Mulheres de diferentes idades, profissões e regiões do país se reuniram na campanha que leva este nome e defende a descriminalização do aborto no Brasil.

Elas não têm medo de dizer que o aborto é um tema para ser levado a sério — e deve ser encarado não só como questão de saúde pública, mas como um direito das mulheres e pessoas que gestam para decidir sobre seu próprio corpo. Portanto, essa também é uma discussão sobre liberdade e autonomia, o que se torna ainda mais difícil em uma conjuntura de avanço do conservadorismo e do fundamentalismo religioso. É o que ressalta uma das coordenadoras da campanha, Angela Freitas, ao lembrar que o aborto acontece, seja legalizado ou não. “Muitas mulheres irão buscar a interrupção [da gravidez], quer seja legal ou não, quer seja seguro ou não. Isso é um fato”, disse, em entrevista à Radis.

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‘Baby blues’: os principais sintomas e os fatores de risco

Durante quase toda a gravidez, Fernanda sentiu-se radiante. Após três anos de tentativas, ela conseguiu engravidar graças a um tratamento de fertilidade assistida e aguardava feliz a chegada de seu primeiro filho com seu parceiro.

Mas poucos dias após o parto, em plena pandemia de covid em 2020, uma angústia incontrolável começou a inundá-la, pegando-a de surpresa.

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Foto destacada: acervo dos pesquisadores

Falta de vitamina D na gestação pode afetar o desenvolvimento muscular dos descendentes, sugere estudo

Imagem do músculo de um dos animais usados no experimento corado por técnica de imuno-histoquímica que possibilita a visualização das diferentes fibras

A falta de vitamina D durante a gestação está ligada ao desenvolvimento de uma série de doenças na fase adulta – desde problemas de crescimento até diabetes, obesidade e esclerose múltipla. Agora, uma pesquisa realizada na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) mostrou que esse nutriente também é fundamental para o crescimento e o desenvolvimento dos músculos ao longo da vida.

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Dia Mundial da População alerta para acesso a métodos seguros de contraceptivos

No dia 11 de julho de 1987, a população mundial chegou a 5 bilhões de pessoas. O marco histórico motivou o Conselho Diretor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) a criar, dois anos depois, o Dia Mundial da População (World Population Day). A data, lembrada hoje (11), chama a atenção internacional para a gravidade das questões populacionais.

O tema deste ano, “Planejamento Familiar: Empoderando Pessoas, Nações em Desenvolvimento” (Family Planning: Empowering People, Developing Nations), destaca a importância do acesso a métodos seguros de contracepção, pois cerca de 225 milhões de mulheres em países em desenvolvimento fazem uso incorreto ou não contínuo de métodos para evitar a gravidez, segundo dados da Federação Internacional de Planejamento Familiar/Região do Hemisfério Ocidental (IPPF/RHO).

Além de ser fundamental para o estabelecimento de igualdade de gênero e empoderamento feminino, o controle da fertilidade reduz a mortalidade materna e infantil e é um fator econômico de grande impacto na redução da pobreza, como defende a socióloga Jaqueline Pitanguy. “Quando as mulheres planejam a sua reprodução, tendo acesso a meios seguros de contracepção, há a possibilidade de escolhas de acordo com projetos de vida e orçamento”, avalia.

A socióloga destaca que o Brasil passa por um momento de “bônus demográfico”, com uma taxa de natalidade baixa, de 1.8, e, ao mesmo tempo, uma parcela grande da população está na idade produtiva. “Esses fatores estão diretamente ligados a um projeto de desenvolvimento do país. É uma estratégia de desenvolvimento”, explica Pitanguy.

A especialista lidera a organização não governamental Cepia – Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação – que, em parceria com a IPPF/RHO, divulgou, este ano, uma pesquisa inédita sobre o tema. O estudo mostra que o Brasil tem o pior desempenho em educação sexual, quando comparado a outros quatro países latino-americanos: México, Argentina, Colômbia e Chile.

Intitulada Barômetro Latino-Americano sobre o Acesso das Mulheres a Métodos Contraceptivos Modernos, a pesquisa avalia fatores como o desenvolvimento de políticas e estratégias; a sensibilização geral sobre saúde e os direitos reprodutivos; bem como a educação integral de saúde e direitos sexuais e reprodutivos. Entre os itens observados, estão também a educação e o treinamento dos profissionais dos serviços de saúde; a prestação de aconselhamento individual e serviços de qualidade; a existência de planos de reembolso; a prevenção à discriminação e o empoderamento das mulheres por meio do acesso aos contraceptivos. A pesquisa foi feita no fim de 2015 e ouviu 20 especialistas de cada país, dos setores público e privado.

Na avaliação de Pitanguy, a situação do Brasil é influenciada por questões culturais e religiosas. “A religião está se transformando em uma força política capaz de influenciar e barrar leis, de afetar programas de saúde e imbuir profissionais de princípios que os afastam do que eles deveriam cumprir em um Estado laico.”

No entanto, a pesquisadora destaca como pontos positivos a qualidade das normas e orientações brasileiras, bem como a oferta gratuita de métodos pelo Serviço Público de Saúde. Atualmente, segundo o Ministério da Saúde, são disponibilizados para a população preservativo masculino e feminino, pílula combinada, anticoncepcional injetável mensal e trimestral, dispositivo intrauterino com cobre (DIU T Cu), diafragma, anticoncepção de emergência e minipílula.

Escolhendo o método

A escolha do método contraceptivo deve ser feita conjuntamente com o médico, considerando as particularidades de cada mulher e respeitando as indicações, alerta a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) . Para quem não pode usar os métodos hormonais, há ainda os de barreira (preservativo, diafragma, DIU de Cobre), os métodos naturais (coito interrompido, tabelinha, métodos de observação da fertilidade) e os definitivos ou cirúrgicos (vasectomia ou laqueadura).

Aos 19 anos, a estudante Bárbara Dourado sentiu-se repentinamente estressada e notou o surgimento manchas roxas na pele. À noite, uma sensação de queimação tomou conta dos membros inferiores. O problema se agravava com o tempo. As dores tornaram-se quase insuportáveis e pouco cediam com o uso de analgésicos. Depois da consulta médica, o diagnóstico: efeitos colaterais da pílula do dia seguinte. Dois anos depois, ela ainda sente dores. Por causa disso, deverá passar por uma cirurgia para reparar os danos que sofreu em uma das artérias da perna esquerda pelo excesso de hormônios na corrente sanguínea.

A médica Carla Martins, membro da Febrasgo e diretora da clínica FertilCare pondera que todos os métodos contraceptivos, hormonais e não hormonais, têm efeitos colaterais. “Não há método ideal, 100% inócuo ou eficaz, totalmente acessível e fácil, o que a gente pode fazer é minimizar os riscos.”

Uma página nas redes sociais chamada Vítimas de Anticoncepcionais. Unidas a Favor da Vida já reúne quase 140 mil seguidores que trocam depoimentos, informações e solidariedade em muitos casos semelhantes ao de Bárbara. Estudos e pesquisas feitos sobre os efeitos do uso dos hormônios sintéticos no mundo embasam a opinião do grupo.

Eles apontam que as pílulas afetam a qualidade de vida, as funções cerebrais, podem causardepressão, falta de desejo sexualcâncer de ovário, tromboembolismo, acidente vascular cerebral, trombose e infarto do miocárdio. Outro fato recente reacendeu os debates acerca do uso dos anticoncepcionais, ao ser descartada a viabilidade da “pílula masculina” devido aos severos efeitos colaterais.

A médica, porém, se diz contra a disseminação de ideias que desaconselham os métodos hormonais. “Parece que os mitos são mais fortes que a verdade científica. Pílula dá trombose, mas, se você engravidar, tem 30 vezes mais chances de desenvolver trombose do que com a pílula”, explica.

A especialista afirma que a pílula não deve ser a primeira opção para as mulheres que querem evitar a gravidez. De acordo com ela, a recomendação mundial é que os métodos de longa duração reversíveis (DIU de Cobre ou implante subdérmico) sejam os principais indicados para qualquer paciente, principalmente para as adolescentes, que apresentam falhas no uso das pílulas diárias e do preservativo.

Além do DIU de Cobre, outra alternativa para quem quer evitar os usos de hormônios são os métodos de barreira (preservativo masculino e feminino e o diafragma). Para quem busca uma solução definitiva, há os cirúrgicos: vasectomia ou laqueadura.

Mas evitar a gravidez sem o uso de nenhum desses artifícios também é possível. O coito interrompido e a tabelinha são exemplos. Há também os métodos de observação da fertilidade (muco cervical, temperatura basal, Billings, Arborização ou teste de ovulação de microscópio com saliva, sintotérmico, Ogino-Knaus) que se baseiam no reconhecimento do período fértil, em que são evitadas as relações sexuais. No entanto, tais métodos não trazem proteção contra doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e esbarram em dificuldades como irregularidades no ciclo menstrual, no pós-parto e no período de amamentação.

Entenda quais são as vantagens e desvantagens de cada um dos métodos contraceptivos:

– Métodos hormonais com uso combinado de estrogênio e progestagênio
Pílulas combinadas de estrogênio e progestagênio

As pílulas combinadas de hormônios sintéticos impedem a ovulação e dificultam a passagem dos espermatozóides para o interior do útero. Via: Oral ou vaginal.anticoncepcional - pilulas combinadas

Adesivo

Semelhante ao uso das pílulas combinadas. Via: Dérmico.

anticoncepcional - adesivo
Anel vaginal

Semelhante ao uso das pílulas combinadas. Via: Vaginal.

anticoncepcional - anel

Injeção mensal

Hormônios  combinados. O mecanismo de ação é o bloqueio ovulatório. Via: Intramuscular.

anticoncepcional-injeção mensal
– Métodos hormonais com uso de progestagênio
Pílula de progesterona ou minipílula

Impede a ovulação, torna o muco cervical mais espesso (o que dificulta a passagem dos espermatozóides) e afina a parede do útero, dificultado a implantação de um possível óvulo fecundado. Via: Oral.

anticoncepcional minipilula
Injeção trimestral

O mecanismo de ação é o bloqueio ovulatório. Via: intramuscular.

anticoncepcional - injeção trimestral

Implante

Bastão de 4 cm de comprimento por 2 mm de diâmetro. Contém hormônios sintéticos para inibir a ovulação e modificar o muco cervical. Via: Subdérmico.

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Pílula do dia seguinte

Impedindo ou retardando a ovulação e diminuindo a capacidade dos espermatozóides de fecundarem o óvulo. Via: Oral.

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DIU com levonorgestrel

Impede a fecundação porque torna mais difícil a passagem do espermatozóide pelo trato reprodutivo feminino, reduzindo a possibilidade de fertilização. Via: Intrauterino

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– Métodos não hormonais
Preservativo

Cria uma barreira de contato entre o pênis e a vagina, retendo assim o esperma. Via: Cobertura do órgão sexual.

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Diafragma

Anel flexível, coberto no centro com uma delgada membrana de látex ou silicone em forma de cúpula que se coloca na vagina cobrindo completamente o colo uterino e a parte superior da vagina, impedindo a penetração dos espermatozóides. Via: Intravaginal.

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Espermicida

Imobiliza e mata os espermatozoides. Via: Pode ser em forma de cremes, geleias, comprimidos, tabletes e espuma.

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DIU de Cobre

Inativa ou mata os espermatozoides, impedindo seu encontro com o óvulo. Via: Intrauterina.

anticoncepcional - diu de cobre

– Métodos não hormonais – Naturais ou Comportamentais
Coito interrompido

O homem retira o pênis da vagina um pouco antes da ejaculação.

anticoncepcional - coito interrompido
Tabelinha

O ciclo varia de 25 a 30 dias. Entre eles, ocorre o período fértil, quando o óvulo chega nas trompas para seguir até o útero e ser fecundado. Fase dura cerca de uma semana e nesses dias é necessário evitar a relação ou utilizar um método extra.

anticoncepcional - tabelinha
– Métodos de observação da fertilidade

Há vários: muco-cervical (Billings), temperatura basal, sintotérmico, do colar, Ogino-Knaus. São técnicas para  evitar a gravidez mediante a auto-observação de sinais do organismo feminino. Com a identificação do período fértil da mulher, o casal pode abster-se de relações.

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– Métodos definitivos ou cirúrgicos
Laqueadura tubária

Há diferentes técnicas. Necessário anestesia geral ou local e internação de horas até dois dias. Trompas podem ser cortadas e amarradas, cauterizadas, ou fechadas com grampos ou anéis.

anticoncepcional - laqueadura

Vasectomia

Os canais deferentes são cortados e amarrados, cauterizados, ou fechados com grampos. Cirurgia simples, que pode ser feita em ambulatório, com anestesia local, sem internação.

anticoncepcional - vasectomia

* Número de gravidez a cada 100 mulheres no primeiro ano de uso

Nascer nas prisões: gestação e parto atrás das grades no Brasil

Um estudo realizado pela Fiocruz descreve pela primeira vez, em nível nacional, o perfil da população feminina encarcerada que vive com seus filhos em unidades prisionais femininas das capitais e regiões do Brasil, assim como as características e as práticas relacionadas à atenção, à gestação e ao parto durante o encarceramento. A pesquisa revela, por exemplo, que mais de um terço das mulheres presas grávidas relataram o uso de algemas na internação para o parto, 83% tem pelo menos um filho, 55% tiveram menos consultas de pré-natal do que o recomendado, 32% não foram testadas para sífilis e 4,6% das crianças nasceram com sífilis congênita.

Nascer nas prisões: impacto social

A análise foi feita a partir de uma série de casos provenientes de um censo nacional, realizado entre agosto de 2012 e janeiro de 2014. De acordo com a pesquisa, 31% das mulheres encarceradas são chefes de família. Foram ouvidas 241 mães e 200 grávidas, sendo que 45% com menos de 25 anos de idade, 57% de cor parda, 53% com menos de oito anos de estudo e 83% com mais de um filho. O acesso à assistência pré-natal foi inadequado para 36% das mães. Durante o período de hospitalização, 15% afirmaram ter sofrido algum tipo de violência (verbal, psicológica ou física).

“Visitamos todas as prisões femininas de todas as capitais e regiões do Brasil que recebem grávidas e mães. Verificamos que foi baixo o suporte social e familiar recebido, e foi frequente o uso de algemas na internação para o parto, relatado por mais de um terço das mulheres. Piores condições da atenção à gestação e ao parto foram encontradas para a mães encarceradas em comparação as não encarceradas, usuárias do SUS. O estudo mostrou também que havia diferença na avaliação da atenção recebida durante a internação para o parto de acordo com a condição social das mães. “Foi menor a satisfação para as pobres, as de cor de pele preta ou parda”, relatou a pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Maria do Carmo Leal, que coordenou o estudo ao lado da pesquisadora Alexandra Roma Sánchez.

Estima-se que haja dez milhões e duzentas mil pessoas presas no mundo, dos quais as mulheres são uma minoria, embora com a participação crescente nesse contingente de pessoas detidas. Os principais motivos que levam as mulheres à prisão são crimes relacionados ao tráfico de drogas e crimes contra o patrimônio, como estelionato e roubo, respectivamente 21% e 9,7% no Brasil. Entre 2005 e 2014, houve um aumento de 118% da população carcerária feminina brasileira.

Contexto

Na maioria dos estados brasileiros, a mulher grávida é transferida no terceiro trimestre de gestação de sua prisão de origem para unidades prisionais que abriguem mães com seus filhos, geralmente localizadas nas capitais e regiões metropolitanas. Essas mulheres são levadas ao hospital público para o parto e retornam à mesma unidade onde permanecem com seus filhos por um período que varia de seis meses a seis anos: a maioria entre seis meses e um ano. Depois desse período, geralmente as crianças são entregues aos familiares maternos/paternos, ou, na ausência destes, vão para abrigos e a mãe retorna à prisão de origem.

Documentário

Com base no estudo e entrevistas com mães e profissionais de saúde realizadas durante a pesquisa, a Fiocruz produziu o documentário Nascer nas prisões, que será lançado brevemente. O filme sairá pelo Selo Fiocruz Vídeo e tem direção de Bia Fioretti.

Confira abaixo mais um trailer do documentário.

Nascer nas prisões: gestar, nascer e cuidar

Especialista destaca importância do vínculo materno no desenvolvimento infantil

A formação do vínculo materno não é automática e imediata, pelo contrário, é gradativa e, portanto, necessita de tempo, compreensão e amor para que possa existir e funcionar adequadamente. Estudos revelam que a construção desse laço afetivo na gestação é fundamental, e é estabelecido pela mãe, na maioria das vezes, através do contato com o feto que pode ser constituído por meio da fala, do toque na barriga e do afeto. É através dessa relação afetiva que a mulher conseguirá vivenciar a gravidez de maneira saudável e ter uma maior integração com o seu bebê, visto que esse contato favorece a formação de vínculos afetivos futuros, e a organização e maturação da identidade da criança.

Para melhor explicar as etapas dessa ligação e entender as sensações que norteiam esse vínculo, a coordenadora técnica de Saúde Mental do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Maria Jacqueline de Vicq, fala sobre o assunto.

Quando, em geral, a mulher começa a se sentir mãe? Essa sensação (de que ela se tornou mãe) pode ocorrer ainda na gravidez?

Maria Jacqueline de Vicq: Se a mulher consciente ou inconsciente deseja ter um filho muito antes de estar grávida, a sensação de se sentir mãe pode começar a existir desde o início da gravidez. Na medida em que essa gestação avança, a mulher irá lidar com o seu desejo maternal e as angustias específicas de cada etapa. A cada ciclo da gestação, a mulher terá de lidar com as incertezas especificas. Enquanto no primeiro trimestre pode surgir o medo do aborto espontâneo, no segundo há preocupações com o desenvolvimento e a movimentação do bebê. Já no final da gravidez, a proximidade do parto tende a ser motivo de ansiedade. A maneira como ela irá enfrentar tais sentimentos, o que varia conforme a mulher, vai permitir um grau maior ou menor de consciência da maternidade.

A identidade com a maternidade pode surgir ainda na infância?

Maria Jacqueline: Na idade de três a quatro anos, a criança já é capaz de se relacionar intensamente com as pessoas que a cuidam, tornando possível a existência de intensos sentimentos de amor, ciúmes, medo e raiva. No começo dessa fase, tanto o menino quanto a menina, habitualmente, mantêm com sua mãe e com seu pai relações afetivas de muita proximidade. Normalmente, a menina se identifica com a mãe ao brincar de ser mãe, com suas bonecas. Nesse processo, a criança experimenta, de uma forma lúdica, uma série de sentimentos que envolvem a maternidade.

O apoio familiar contribui para o fortalecimento do vínculo mãe-bebê? Como?

Maria Jacqueline: A mulher grávida precisa de apoio emocional do companheiro e da família, principalmente em momentos de tensão, estresse e nervosismo, esse apoio e segurança farão com que a gestante se sinta mais tranquila, o que irá proporcionar o desenvolvimento saudável do feto, a figura paterna é fundamental no desenvolvimento e na formação desse vínculo. Toda forma que o pai tem de melhorar o estado emocional da companheira gestante é bem-vinda, nessa fase, a mãe está fragilizada com preocupações da maternidade, trabalho e mudanças pelas quais seu corpo está passando.

Como o vínculo mãe-bebê pode ser fortalecido após o nascimento?

Maria Jacqueline: O vínculo mãe-bebê é fortalecido no momento da amamentação, pois a primeira relação social do bebê seria com a figura da mãe, representada pelo seio materno. O leite, o calor e o contato com o corpo da mãe, seu cheiro (que ele reconhece) e o som dos batimentos cardíacos o instigam. É assim que ele descobre o mundo e começa a ter consciência de si mesmo. O prazer proporcionado pelo ato de sugar e o amparo da mãe fazem com que o bebê se sinta acolhido e seguro.

E as mães que não podem amamentar?

Maria Jacqueline: Se o bebê for alimentado com afeto, a experiência vai lhe transmitir segurança de qualquer maneira. Perdem-se alguns benefícios da amamentação, mas não a oportunidade de estreitar o vínculo. O colo, as conversas, as trocas de carinho também cumprem essa função.

A privação do vínculo afetivo materno pode contribuir para distúrbios psicológicos na infância?

Maria Jacqueline: As relações afetivas estabelecidas entre a mãe e o seu bebê são fundamentais para assegurar a construção do psiquismo da criança, possibilitando um desenvolvimento saudável da personalidade e dos comportamentos sociais. É através do relacionamento seguro, contínuo e afetivo que a criança desenvolve a formação da sua autoestima e toma conhecimento do mundo exterior.  Desta forma, a privação desse vínculo pode levar a uma série de distúrbios, que irão variar conforme o grau de privação.

Dieta materna influencia reprogramação do DNA do feto

Pesquisa confirma ação de dieta materna sobre função genética do filho relacionada a doenças cardiovasculares e diabete

Alimentos ricos em ácido fólico – Fotomontagem

Toda gestante deve receber alimentação rica em ácido fólico para prevenir anencefalia e diferentes graus de deficiência mental no futuro bebê. Mas de que maneira essa vitamina atua sobre o DNA e define o funcionamento dos genes no organismo em gestação?

A busca de respostas para a questão fez a equipe do Setor de Nutrologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP estudar a ação do ácido fólico em genes ligados a doenças cardiovasculares e diabetes mellitus tipo 2. E os resultados da pesquisa mostraram que mudanças no fornecimento da vitamina a ratas gestantes e lactantes interferem no controle da expressão gênica das proles para essas doenças.

Os pesquisadores da USP em Ribeirão Preto analisaram material genético de filhotes cujas mães receberam diferentes concentrações de ácido fólico durante a gestação e lactação. E verificaram que os filhotes gestados com dieta deficiente da vitamina apresentaram maior expressão dos genes envolvidos com essas doenças, enquanto os filhotes de mães que receberam suplemento de ácido fólico, ao contrário, apresentaram pouca expressão desses genes.

Esses resultados, conta a geneticista Paula Lumy Takeuchi, responsável pelo estudo, revelam mecanismos moleculares envolvidos no que a pesquisadora chama de “reprogramação epigenética fetal” dos genes ligados a doenças cardiovasculares e diabetes mellitus tipo 2. E, também, mostram a importância do “fornecimento adequado de ácido fólico às mães durante o desenvolvimento embrionário”.

Paula adianta que essa “reprogramação epigenética” corresponde às mudanças observadas nas expressões dos genes estudados. O ácido fólico, vitamina retirada de alimentos, participa no nível genético de “reações de metilação do DNA”.

A alteração da quantidade de ácido fólico fornecida pela alimentação das mães modificou o “ciclo da metionina, principal aminoácido doador de grupos metil para as reações de metilação do DNA e de proteínas”. Esse é um dos mecanismos pelo qual os genes são “ligados e desligados”; o que vale dizer que eles podem estar ativos ou inativos no organismo.

Da multiplicação celular ao controle genético de doenças

Não se pode fazer uma correlação direta entre os achados experimentais, em ratos de laboratório, com o organismo humano. A pesquisadora lembra que o metabolismo do rato é bem diferente do humano. Mas é fato que as mulheres gestantes devem ingerir ácido fólico, pois ele é importante para a multiplicação celular e, portanto, importante para o desenvolvimento do embrião em formação, principalmente do tubo neural.

É do tubo neural, explica Paula, que se originam o eixo central do sistema nervoso, na cabeça e a coluna vertebral do feto. “Nossos estudos são uma iniciativa de elucidar os mecanismos moleculares que podem influenciar o desenvolvimento de doenças na prole de mães que tiveram sua dieta em ácido fólico alterada durante a gestação e lactação”, conta a pesquisadora.

Paula Lumy Takeuchi e Hélio Vannucchi foram premiados em evento do International Life Sciences Institute na Califórnia – Foto: Divulgação

Como essa vitamina pode alterar a regulação da expressão de genes como os relacionados a essas duas doenças: diabetes mellitus tipo 2 e as cardiovasculares? A cientista antecipa que já se suspeitava que a suplementação alimentar com ácido fólico provocaria diminuição da expressão de genes e, ao contrário, a deficiência induziria ao aumento da expressão de genes.

Mas Paula alerta que a “diminuição ou aumento da expressão de genes é uma faca de dois gumes”, pois depende da função que esses genes desempenham no organismo. Ela cita o exemplo do colesterol bom (HDL) e o colesterol ruim (LDL) que estão relacionados a dois genes que estudou.

Se no tratamento com suplementação com ácido fólico ocorre a diminuição da expressão desses dois genes, “poderá haver uma menor síntese do LDL, mas também haverá diminuição da síntese do HDL”. Mas, mesmo assim, a geneticista afirma que não podemos atribuir “o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diabetes mellitus tipo 2 apenas à desregulação da expressão de genes; outros fatores externos também contribuem de forma preponderante”.

Alimentação durante gravidez e lactação

O estudo da Nutrologia da USP de Ribeirão Preto ainda está em desenvolvimento. A equipe ainda está analisando outros parâmetros relacionados à regulação desses genes que podem desencadear doenças cardiovasculares e diabete. Mas, garante Paula, “alterações da dieta materna durante os períodos de gestação e lactação podem afetar a expressão de genes na prole”.

Quando o embrião está se desenvolvendo, há dois momentos em que ocorrem “apagões globais do padrão de metilação do DNA”. Nesses momentos, o feto fica suscetível às variações de oferta de substâncias (do grupo metil) para restabelecer o processo padrão de metilação de seu DNA.

Foto: tomhe via Visual Hunt

Assim, a recomendação do Conselho Federal de Medicina é de que as mulheres usem o ácido fólico antes da concepção e nos três primeiros meses de gravidez. A ingestão diária de 400 microgramas dessa vitamina pode reduzir em até 75% o risco de má formação no tubo neural do feto, o que previne casos de anencefalia, paralisia de membros inferiores, incontinência urinária e intestinal nos bebês. Isso, além de diferentes graus de deficiência mental e de dificuldades de aprendizagem escolar.

Com esse estudo, a pesquisadora e pós-doutoranda Paula Lumy Takeuchi e o professor da FMRP Hélio Vannucchi receberam o prêmio internacional 2017 Malaspina International Scholar Travel Award do International Life Sciences Institute (ILSI), fundação mundial sem fins lucrativos que procura colaboração científica entre nutrição, segurança alimentar, toxicologia, avaliação de risco e meio ambiente. O prêmio foi recebido durante o 2017 ILSI Annual Meeting, em La Jolla, Califórnia, EUA, realizado entre 22 e 24 de janeiro.

Rita Stella, de Ribeirão Preto

Mais informações: e-mail paulalumy@gmail.com

Placenta no início da gravidez é mais sensível à infecção por zika

Células da placenta nos três primeiros meses de gravidez possuem receptores que facilitam a entrada do vírus

A placenta das gestantes com até três meses de gestação é até 30 vezes mais sensível à infecção pelo vírus zika do que no fim da gravidez, revela estudo do Instituto de Química (IQ) da USP e do Instituto Butantan em parceria com a Universidade de Missouri (Estados Unidos). A pesquisa utilizou células-tronco para reproduzir as células da placenta jovem e identificou genes de quatro receptores virais, que favorecem a entrada do vírus. A placenta jovem também não possui interleucinas, moléculas de defesa contra vírus. O estudo, descrito em artigo da revista PNAS, ajudará no desenvolvimento de marcadores genéticos de propensão da infecção em gestantes e no desenvolvimento de testes para um soro protetor contra o vírus.

Quando a gestante é infectada pelo zika, há o risco do vírus passar pela placenta e chegar ao feto, podendo provocar microcefalia. “A placenta a termo, a qual se tem acesso no nascimento, oferece uma boa proteção contra a infecção pelo zika”, diz o professor Sérgio Verjovski-Almeida, do IQ, um dos autores do artigo e pesquisador do Instituto Butantan. “A placenta jovem ou primitiva, dos primeiros três meses de gestação, é mais difícil de ser obtida. O estudo verificou se essa placenta tende a ser mais infectada e quais as bases moleculares dessa diferença.”

No laboratório, cultura de células é observada e fotografada ao microscópio – Foto: Jorge Maruta/USP Imagens

Para conseguir amostras das células da placenta jovem, conhecidas como trofoblastos primitivos, foi utilizado um modelo de células-tronco desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Missouri. “Esse método utiliza células-tronco embrionárias, que são reprogramadas e diferenciadas para formarem trofoblastos”, relata Verjovski-Almeida. “Os genes funcionais dessas células foram comparados com os da placenta a termo.”

A análise realizada pelo doutorando Dinar Yunusov, do IQ, identificou na placenta jovem genes que expressam grandes quantidades de quatro receptores virais, aos quais os vírus se ligam quando atacam as células. “Esses receptores não existem na placenta a termo, por isso ela é mais difícil de penetrar”, destaca o professor. Os trofoblastos primitivos não expressam receptores de interleucinas e as próprias interleucinas, moléculas responsáveis pela defesa da célula contra vírus. “O teste de infectibilidade mostra que a placenta jovem é 10 a 30 vezes mais permeável ao vírus zika.”

Multiplicação

O estudo também verificou que a velocidade de multiplicação do vírus da linhagem brasileira do zika é menor do que a da cepa original, identificada em Uganda, na África. “Tanto a cepa brasileira, derivada da asiática, quanto a africana invadem mais a placenta primitiva, aproveitando a falta de defesa contra vírus”, aponta o professor. “No entanto, a linhagem africana multiplica-se mais rapidamente, o que destrói as células da placenta e acaba com a gestação. Esta é uma evidência importante para entender a evolução do vírus.”

Na próxima etapa da pesquisa, serão utilizadas células reprogramadas do sangue de bebês com e sem microcefalia. “As células-tronco servirão para obter os trofoblastos e reconstituir a placenta primitiva dos bebês”, descreve Verjovski-Almeida. “Nessa placenta mimetizada vão ser verificados a presença e o nível de expressão dos receptores de vírus e a diferença entre bebês.”

Professor Verjovski-Almeida aponta que expressão do receptor TYRO3 é mais alta na placenta primitiva – Foto: Jorge Maruta/USP Imagens

O experimento será realizado com um grupo de bebês gêmeos, em que um deles tem microcefalia e o outro não é portador da doença. “A ideia é tentar estabelecer uma relação entre a ocorrência ou não de microcefalia e a presença dos receptores”, aponta o professor. “Isto identificaria genes que serviriam de marcadores da facilidade de infecção pelo zika nas primeiras semanas de gestação.” O estudo terá apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

O modelo de estudo utilizado na pesquisa irá ajudar o Instituto Butantan a desenvolver um teste para avaliar a eficácia de um soro protetor contra o vírus zika. “Por meio das células-tronco reprogramadas, será possível fazer um painel de trofoblastos primitivos, diferenciando os trofoblastos de pessoas mais e menos suscetíveis a infecção”, afirma Verjovski-Almeida. “A identificação da variabilidade permitirá fazer prognósticos sobre a multiplicação do vírus e direcionar os testes com o soro.”

Mais informações: e-mail verjo@iq.usp.br, com o professor Sérgio Verjovski-Almeida