Tag Archives: Gestação

SUS incorpora vacina contra vírus sincicial respiratório

VSR é uma das principais causas de infecções em bebês

O Ministério da Saúde vai incorporar ao Sistema Único de Saúde (SUS) duas tecnologias para prevenir complicações causadas pelo vírus sincicial respiratório (VSR), uma das principais causas de infecções respiratórias graves em bebês, incluindo quadros de bronquiolite.

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SUS oferece nova vacina a gestantes vacina contra vírus sincicial

Novo imunizante foi aprovado pelo Conitec

O Sistema Único de Saúde vai oferecer para as gestantes uma nova vacina capaz de proteger os bebês contra o vírus sincicial respiratório (VSR). A inclusão do imunizante Abrysvo foi aprovada nesta quinta-feira (13) pela Comissão de Incorporação de Tecnologias no SUS – Conitec.

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Como Conselho Federal de Medicina se tornou pivô dos embates sobre aborto legal no Brasil

A nova onda de debates sobre o direito ao aborto legal no Brasil tem um poderoso protagonista, o Conselho Federal de Medicina (CFM), uma entidade com orçamento milionário e poder para cassar registros profissionais que sofre acusações de ter alinhamento político.

Foi uma resolução do CFM restringindo o aborto após 22 semanas, emitida em março e logo depois neutralizada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), que catapultou a mobilização pela criação de um projeto de lei no Congresso sobre o tema.

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Gestação múltipla: o que muda e quais os cuidados necessários

Uma gravidez de mais de um bebê é tecnicamente chamada de gestação múltipla

É difícil achar quem não se encante ao encontrar gêmeos, trigêmeos ou até mais bebês. Muitos pais os vestem até com roupas idênticas. No entanto, uma gestação múltipla, ou gemelar, precisa de muitos cuidados e acompanhamento clínico rigoroso para prevenir e tratar possíveis desfechos graves para a mãe ou os bebês.

Uma gravidez de mais de um bebê é tecnicamente chamada de gestação múltipla. “Ela ocorre quando o embrião formado se divide gerando gêmeos idênticos (univitelinos), ou quando a mulher ovula mais de um óvulo e eles são fecundados por espermatozoides distintos, gerando mais de um bebê, nesse caso, bebês diferentes (bivitelinos)”, descreve Patrícia Fonseca, médica obstetra da Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), vinculada à Rede Ebserh.

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Nascer nas prisões: gestação e parto atrás das grades no Brasil

Um estudo realizado pela Fiocruz descreve pela primeira vez, em nível nacional, o perfil da população feminina encarcerada que vive com seus filhos em unidades prisionais femininas das capitais e regiões do Brasil, assim como as características e as práticas relacionadas à atenção, à gestação e ao parto durante o encarceramento. A pesquisa revela, por exemplo, que mais de um terço das mulheres presas grávidas relataram o uso de algemas na internação para o parto, 83% tem pelo menos um filho, 55% tiveram menos consultas de pré-natal do que o recomendado, 32% não foram testadas para sífilis e 4,6% das crianças nasceram com sífilis congênita.

Nascer nas prisões: impacto social

A análise foi feita a partir de uma série de casos provenientes de um censo nacional, realizado entre agosto de 2012 e janeiro de 2014. De acordo com a pesquisa, 31% das mulheres encarceradas são chefes de família. Foram ouvidas 241 mães e 200 grávidas, sendo que 45% com menos de 25 anos de idade, 57% de cor parda, 53% com menos de oito anos de estudo e 83% com mais de um filho. O acesso à assistência pré-natal foi inadequado para 36% das mães. Durante o período de hospitalização, 15% afirmaram ter sofrido algum tipo de violência (verbal, psicológica ou física).

“Visitamos todas as prisões femininas de todas as capitais e regiões do Brasil que recebem grávidas e mães. Verificamos que foi baixo o suporte social e familiar recebido, e foi frequente o uso de algemas na internação para o parto, relatado por mais de um terço das mulheres. Piores condições da atenção à gestação e ao parto foram encontradas para a mães encarceradas em comparação as não encarceradas, usuárias do SUS. O estudo mostrou também que havia diferença na avaliação da atenção recebida durante a internação para o parto de acordo com a condição social das mães. “Foi menor a satisfação para as pobres, as de cor de pele preta ou parda”, relatou a pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Maria do Carmo Leal, que coordenou o estudo ao lado da pesquisadora Alexandra Roma Sánchez.

Estima-se que haja dez milhões e duzentas mil pessoas presas no mundo, dos quais as mulheres são uma minoria, embora com a participação crescente nesse contingente de pessoas detidas. Os principais motivos que levam as mulheres à prisão são crimes relacionados ao tráfico de drogas e crimes contra o patrimônio, como estelionato e roubo, respectivamente 21% e 9,7% no Brasil. Entre 2005 e 2014, houve um aumento de 118% da população carcerária feminina brasileira.

Contexto

Na maioria dos estados brasileiros, a mulher grávida é transferida no terceiro trimestre de gestação de sua prisão de origem para unidades prisionais que abriguem mães com seus filhos, geralmente localizadas nas capitais e regiões metropolitanas. Essas mulheres são levadas ao hospital público para o parto e retornam à mesma unidade onde permanecem com seus filhos por um período que varia de seis meses a seis anos: a maioria entre seis meses e um ano. Depois desse período, geralmente as crianças são entregues aos familiares maternos/paternos, ou, na ausência destes, vão para abrigos e a mãe retorna à prisão de origem.

Documentário

Com base no estudo e entrevistas com mães e profissionais de saúde realizadas durante a pesquisa, a Fiocruz produziu o documentário Nascer nas prisões, que será lançado brevemente. O filme sairá pelo Selo Fiocruz Vídeo e tem direção de Bia Fioretti.

Confira abaixo mais um trailer do documentário.

Nascer nas prisões: gestar, nascer e cuidar

Especialista destaca importância do vínculo materno no desenvolvimento infantil

A formação do vínculo materno não é automática e imediata, pelo contrário, é gradativa e, portanto, necessita de tempo, compreensão e amor para que possa existir e funcionar adequadamente. Estudos revelam que a construção desse laço afetivo na gestação é fundamental, e é estabelecido pela mãe, na maioria das vezes, através do contato com o feto que pode ser constituído por meio da fala, do toque na barriga e do afeto. É através dessa relação afetiva que a mulher conseguirá vivenciar a gravidez de maneira saudável e ter uma maior integração com o seu bebê, visto que esse contato favorece a formação de vínculos afetivos futuros, e a organização e maturação da identidade da criança.

Para melhor explicar as etapas dessa ligação e entender as sensações que norteiam esse vínculo, a coordenadora técnica de Saúde Mental do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Maria Jacqueline de Vicq, fala sobre o assunto.

Quando, em geral, a mulher começa a se sentir mãe? Essa sensação (de que ela se tornou mãe) pode ocorrer ainda na gravidez?

Maria Jacqueline de Vicq: Se a mulher consciente ou inconsciente deseja ter um filho muito antes de estar grávida, a sensação de se sentir mãe pode começar a existir desde o início da gravidez. Na medida em que essa gestação avança, a mulher irá lidar com o seu desejo maternal e as angustias específicas de cada etapa. A cada ciclo da gestação, a mulher terá de lidar com as incertezas especificas. Enquanto no primeiro trimestre pode surgir o medo do aborto espontâneo, no segundo há preocupações com o desenvolvimento e a movimentação do bebê. Já no final da gravidez, a proximidade do parto tende a ser motivo de ansiedade. A maneira como ela irá enfrentar tais sentimentos, o que varia conforme a mulher, vai permitir um grau maior ou menor de consciência da maternidade.

A identidade com a maternidade pode surgir ainda na infância?

Maria Jacqueline: Na idade de três a quatro anos, a criança já é capaz de se relacionar intensamente com as pessoas que a cuidam, tornando possível a existência de intensos sentimentos de amor, ciúmes, medo e raiva. No começo dessa fase, tanto o menino quanto a menina, habitualmente, mantêm com sua mãe e com seu pai relações afetivas de muita proximidade. Normalmente, a menina se identifica com a mãe ao brincar de ser mãe, com suas bonecas. Nesse processo, a criança experimenta, de uma forma lúdica, uma série de sentimentos que envolvem a maternidade.

O apoio familiar contribui para o fortalecimento do vínculo mãe-bebê? Como?

Maria Jacqueline: A mulher grávida precisa de apoio emocional do companheiro e da família, principalmente em momentos de tensão, estresse e nervosismo, esse apoio e segurança farão com que a gestante se sinta mais tranquila, o que irá proporcionar o desenvolvimento saudável do feto, a figura paterna é fundamental no desenvolvimento e na formação desse vínculo. Toda forma que o pai tem de melhorar o estado emocional da companheira gestante é bem-vinda, nessa fase, a mãe está fragilizada com preocupações da maternidade, trabalho e mudanças pelas quais seu corpo está passando.

Como o vínculo mãe-bebê pode ser fortalecido após o nascimento?

Maria Jacqueline: O vínculo mãe-bebê é fortalecido no momento da amamentação, pois a primeira relação social do bebê seria com a figura da mãe, representada pelo seio materno. O leite, o calor e o contato com o corpo da mãe, seu cheiro (que ele reconhece) e o som dos batimentos cardíacos o instigam. É assim que ele descobre o mundo e começa a ter consciência de si mesmo. O prazer proporcionado pelo ato de sugar e o amparo da mãe fazem com que o bebê se sinta acolhido e seguro.

E as mães que não podem amamentar?

Maria Jacqueline: Se o bebê for alimentado com afeto, a experiência vai lhe transmitir segurança de qualquer maneira. Perdem-se alguns benefícios da amamentação, mas não a oportunidade de estreitar o vínculo. O colo, as conversas, as trocas de carinho também cumprem essa função.

A privação do vínculo afetivo materno pode contribuir para distúrbios psicológicos na infância?

Maria Jacqueline: As relações afetivas estabelecidas entre a mãe e o seu bebê são fundamentais para assegurar a construção do psiquismo da criança, possibilitando um desenvolvimento saudável da personalidade e dos comportamentos sociais. É através do relacionamento seguro, contínuo e afetivo que a criança desenvolve a formação da sua autoestima e toma conhecimento do mundo exterior.  Desta forma, a privação desse vínculo pode levar a uma série de distúrbios, que irão variar conforme o grau de privação.

Dieta materna influencia reprogramação do DNA do feto

Pesquisa confirma ação de dieta materna sobre função genética do filho relacionada a doenças cardiovasculares e diabete

Alimentos ricos em ácido fólico – Fotomontagem

Toda gestante deve receber alimentação rica em ácido fólico para prevenir anencefalia e diferentes graus de deficiência mental no futuro bebê. Mas de que maneira essa vitamina atua sobre o DNA e define o funcionamento dos genes no organismo em gestação?

A busca de respostas para a questão fez a equipe do Setor de Nutrologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP estudar a ação do ácido fólico em genes ligados a doenças cardiovasculares e diabetes mellitus tipo 2. E os resultados da pesquisa mostraram que mudanças no fornecimento da vitamina a ratas gestantes e lactantes interferem no controle da expressão gênica das proles para essas doenças.

Os pesquisadores da USP em Ribeirão Preto analisaram material genético de filhotes cujas mães receberam diferentes concentrações de ácido fólico durante a gestação e lactação. E verificaram que os filhotes gestados com dieta deficiente da vitamina apresentaram maior expressão dos genes envolvidos com essas doenças, enquanto os filhotes de mães que receberam suplemento de ácido fólico, ao contrário, apresentaram pouca expressão desses genes.

Esses resultados, conta a geneticista Paula Lumy Takeuchi, responsável pelo estudo, revelam mecanismos moleculares envolvidos no que a pesquisadora chama de “reprogramação epigenética fetal” dos genes ligados a doenças cardiovasculares e diabetes mellitus tipo 2. E, também, mostram a importância do “fornecimento adequado de ácido fólico às mães durante o desenvolvimento embrionário”.

Paula adianta que essa “reprogramação epigenética” corresponde às mudanças observadas nas expressões dos genes estudados. O ácido fólico, vitamina retirada de alimentos, participa no nível genético de “reações de metilação do DNA”.

A alteração da quantidade de ácido fólico fornecida pela alimentação das mães modificou o “ciclo da metionina, principal aminoácido doador de grupos metil para as reações de metilação do DNA e de proteínas”. Esse é um dos mecanismos pelo qual os genes são “ligados e desligados”; o que vale dizer que eles podem estar ativos ou inativos no organismo.

Da multiplicação celular ao controle genético de doenças

Não se pode fazer uma correlação direta entre os achados experimentais, em ratos de laboratório, com o organismo humano. A pesquisadora lembra que o metabolismo do rato é bem diferente do humano. Mas é fato que as mulheres gestantes devem ingerir ácido fólico, pois ele é importante para a multiplicação celular e, portanto, importante para o desenvolvimento do embrião em formação, principalmente do tubo neural.

É do tubo neural, explica Paula, que se originam o eixo central do sistema nervoso, na cabeça e a coluna vertebral do feto. “Nossos estudos são uma iniciativa de elucidar os mecanismos moleculares que podem influenciar o desenvolvimento de doenças na prole de mães que tiveram sua dieta em ácido fólico alterada durante a gestação e lactação”, conta a pesquisadora.

Paula Lumy Takeuchi e Hélio Vannucchi foram premiados em evento do International Life Sciences Institute na Califórnia – Foto: Divulgação

Como essa vitamina pode alterar a regulação da expressão de genes como os relacionados a essas duas doenças: diabetes mellitus tipo 2 e as cardiovasculares? A cientista antecipa que já se suspeitava que a suplementação alimentar com ácido fólico provocaria diminuição da expressão de genes e, ao contrário, a deficiência induziria ao aumento da expressão de genes.

Mas Paula alerta que a “diminuição ou aumento da expressão de genes é uma faca de dois gumes”, pois depende da função que esses genes desempenham no organismo. Ela cita o exemplo do colesterol bom (HDL) e o colesterol ruim (LDL) que estão relacionados a dois genes que estudou.

Se no tratamento com suplementação com ácido fólico ocorre a diminuição da expressão desses dois genes, “poderá haver uma menor síntese do LDL, mas também haverá diminuição da síntese do HDL”. Mas, mesmo assim, a geneticista afirma que não podemos atribuir “o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diabetes mellitus tipo 2 apenas à desregulação da expressão de genes; outros fatores externos também contribuem de forma preponderante”.

Alimentação durante gravidez e lactação

O estudo da Nutrologia da USP de Ribeirão Preto ainda está em desenvolvimento. A equipe ainda está analisando outros parâmetros relacionados à regulação desses genes que podem desencadear doenças cardiovasculares e diabete. Mas, garante Paula, “alterações da dieta materna durante os períodos de gestação e lactação podem afetar a expressão de genes na prole”.

Quando o embrião está se desenvolvendo, há dois momentos em que ocorrem “apagões globais do padrão de metilação do DNA”. Nesses momentos, o feto fica suscetível às variações de oferta de substâncias (do grupo metil) para restabelecer o processo padrão de metilação de seu DNA.

Foto: tomhe via Visual Hunt

Assim, a recomendação do Conselho Federal de Medicina é de que as mulheres usem o ácido fólico antes da concepção e nos três primeiros meses de gravidez. A ingestão diária de 400 microgramas dessa vitamina pode reduzir em até 75% o risco de má formação no tubo neural do feto, o que previne casos de anencefalia, paralisia de membros inferiores, incontinência urinária e intestinal nos bebês. Isso, além de diferentes graus de deficiência mental e de dificuldades de aprendizagem escolar.

Com esse estudo, a pesquisadora e pós-doutoranda Paula Lumy Takeuchi e o professor da FMRP Hélio Vannucchi receberam o prêmio internacional 2017 Malaspina International Scholar Travel Award do International Life Sciences Institute (ILSI), fundação mundial sem fins lucrativos que procura colaboração científica entre nutrição, segurança alimentar, toxicologia, avaliação de risco e meio ambiente. O prêmio foi recebido durante o 2017 ILSI Annual Meeting, em La Jolla, Califórnia, EUA, realizado entre 22 e 24 de janeiro.

Rita Stella, de Ribeirão Preto

Mais informações: e-mail paulalumy@gmail.com

Orientação médica é essencial para uso de medicamentos na gravidez

Analisar os fatores associados ao uso de medicamentos em mulheres que estão na primeira gestação foi o objetivo do artigo Fatores associados ao uso de medicamentos na gestação em primigestas no Município de Rio Branco, Acre, Brasil, publicado pela revista Cadernos de Saúde Pública. A pesquisa considerou 887 primigestas com idade média entre 21 anos e constatou que a média do uso de medicamento na primeira gestação é de 2,42, sendo os medicamentos mais consumidos: antianêmicos (47,5%), suplementos e vitaminas (18,7%), analgésicos (13,8%) e antibióticos (10,5%). O artigo sugere que novas iniciativas sejam desenvolvidas com o intuito de produzir evidências científicas capazes de serem inseridas no contexto das políticas públicas de saúde, visando a melhoria da qualidade da assistência materno-infantil.

Assinado pela pesquisadora do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde da ENSP Rosalina Koifman, em parceria com os pesquisadores da Universidade Federal do Acre Alanderson Alves Ramalho, Andréia Moreira de Andrade, Leila Maria Geromel Dotto, Margarida de Aquino Cunha e Simone Perufo Opitz, o estudo aponta também para a necessidade de investimentos para divulgação e educação profissional continuada. Os autores explicaram que a utilização de medicamentos no período da gestação tem sido alvo de discussões no que diz respeito à segurança, e empregada de maneira geral com restrições desde o acidente da talidomida – substância usualmente utilizada como medicamento sedativo, anti-inflamatório e hipnótico. Por outro lado, a gestação é acompanhada muitas vezes de intercorrências, necessitando de intervenções medicamentosas.

De acordo com os autores, no Brasil, os estudos de utilização de medicamentos revelam que a média de consumo é de dois medicamentos por gestante, e esse fato impulsiona iniciativas de pesquisas em nível local, na tentativa de descrever perfis de utilização e padrões de prescrição e de consumo.

“No estudo, foram considerados medicamentos classificados como de risco aqueles categorizados como C, D e X pelo Food and Drug Administration (FDA). Esses, representam os medicamentos que apresentaram efeitos adversos ao feto em trabalhos experimentais em animais, independente de evidências em humanos. Os medicamentos antianêmicos, suplementos e vitaminas com uso preconizado pelo Ministério da Saúde na atenção pré-natal foram denominados essenciais”, descreveram os autores.

Os resultados ressaltaram que a gestação não constitui um estado de enfermidade, porém as gestantes compõem um grupo de risco quando se trata de inserção de tratamento farmacológico. De acordo com os autores, exceto em casos extremos, é possível compatibilizar as prescrições com as características do estágio gestacional. “Ao profissional de saúde, responsável pelo acompanhamento da gestante, cabe o conhecimento necessário e a opção por medicamentos cujos benefícios superem os riscos e os mecanismos de ação estejam claramente definidos na literatura, embora haja a constatação da escassa produção científica, bem como as limitações na avaliação da segurança dos medicamentos pelos órgãos competentes”, defenderam.

 

 

Conduta do parceiro influencia decisão de realizar aborto

A decisão feminina de interromper uma gestação está relacionada ao conhecimento da gravidez pelo parceiro e à reação que este esboçou no momento da descoberta. Tal afirmativa é resultado da pesquisa de mestrado da psicóloga Daniele Nonnenmacher, que também constatou que o abortamento, mais conhecido como aborto, frequentemente se associa à depressão, independente de ser provocado ou espontâneo. A pesquisa, realizada na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), comparou resultados obtidos em São Paulo (SP) e Natal (RN), e concluiu que a participação masculina está associada à decisão de abortar.

“Embora avanços sociais tenham ocorrido, seguem enraizados na identidade feminina princípios culturais e sociais que, diante da situação de abortamento, despertam na mulher conflitos e ambivalências”, explica Daniele. Na capital paulista, as reações negativas e a falta de participação do parceiro contribuíram à decisão de provocar o aborto. Já em Natal, a ausência deste no momento em que a gravidez se confirmou foi associada a seu interrompimento.

Nas duas capitais, a distribuição das religiões entre as mulheres que abortaram não foi diferente da média populacional de cada região, de acordo com o censo de 2010 feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disto, os dados apontaram que o aborto provocado foi mais frequente em mulheres solteiras, com menor numero de gestações e de abortamentos espontâneos anteriores, tanto em Natal, quanto em São Paulo.

Aborto espontâneo
A pesquisa também incluiu a vivência do aborto espontâneo, aquele em que a gestação é interrompida involuntariamente, devido a algum problema no desenvolvimento embrionário. Esta escolha foi feita pois há poucos estudos que associem os dois tipos de abortamento ou que considerem os aspectos emocionais da perda espontânea. Segundo a psicóloga, “a não concretização [da gravidez] ou sua recusa são muitas vezes criticadas pela sociedade, sendo a mulher responsabilizada ou mesmo estigmatizada por isso”, já que a maternidade ainda é um forte símbolo de representação da mulher.

A média de depressão das mulheres que abortaram foi de 50% em São Paulo e de 72,7% em Natal, sem apresentar grandes diferenças entre os tipos de aborto. O número é considerado alto em relação às taxas comuns nas mulheres, que giram entre 5 e 9%. Mesmo que no período gestacional esses índices tenham tendência a se elevar, isso “reforça a relevância dos aspectos emocionais da mulher diante desta experiência, independente de ser espontânea ou provocada, e a importância de uma atenção integral”, finaliza.

O estudo foi um desdobramento do projeto Culpa, Ansiedade e Depressão na Vivência do Abortamento Provocado, realizado pela FMUSP, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Nele, foram entrevistadas ao todo 316 mulheres que haviam sofrido aborto recente, internadas em um hospital em Natal e três hospitais em São Paulo. Além das entrevistas, todas elas passaram por um teste que avaliou a existência de depressão. Os dados foram coletados entre julho de 2008 e maio de 2010, reunidos na dissertação de mestrado, que pode ser baixada aqui.

A dissertação de mestrado Abortamento: depressão e percepção das mulheres quanto às reações e condutas do parceiro em duas capitais brasileiras foi apresentada em julho de 2013 na FMUSP. A orientação foi da professora Glaucia Rosana Guerra Benute.

Estresse materno pode afetar bebê ainda no útero

A gestação é cercada de grandes mudanças e as futuras mamães precisam ficar atentas para evitar o acúmulo de estresse durante este período. Isso porque, o nervosismo pode ser um inimigo poderoso. É fundamental pegar leve no trabalho, na alimentação e rotina. “Antigamente acreditava-se que o bebê, ainda na barriga, vivia num mundo isolado, sem barulho e sem interferência do ambiente fora do útero da mãe. Mas, depois de estudos e imagens de ultrassom, podemos observar o feto e saber que ele sente, ouve e se movimenta, por exemplo. O diálogo entre a mãe e o bebê começa muito antes dele nascer, por isso é fundamental a mulher ter uma gestação tranquila”, orienta a psicóloga da linha de cuidados mãe-bebê, do Hospital Nossa Senhora de Conceição (RS), Eliana Bernner.

O estresse de uma mãe pode afetar seu bebê ainda no útero, produzindo efeitos a longo prazo na vida da criança, sugerem pesquisadores alemães. “É impossível durante quarenta semanas a mulher não se estressar, o que deve ser evitado é o extremo, ficar sob tensão intensa, por exemplo, conviver com um parceiro violento. O estresse provoca alterações biológicas em um receptor de hormônios e o bebê sente essa mudança, ele consegue ouvir os batimentos e inquietação da mãe”, explica.

Segundo a especialista, as alterações sofridas pelo feto durante a gestação podem fazer com que a própria criança seja menos capaz de lidar com o estresse mais tarde. “Essas alterações foram associadas, por exemplo, a problemas de comportamento, ansiedade, até mesmo doenças mentais. Entretanto, a maioria das mulheres grávidas não estão expostas a graus tão elevados de estresse e nem em períodos tão longos”, observa.

É muito importante a mãe se preparar para esse período gestacional e saber equilibrar o ambiente em que vive. “Evitar o estresse elevado é fundamental, mas é impossível não passar por algum tipo estresse durante essas quarenta semanas, por isso é primordial preparar todo o ambiente para a chegada desse bebê. As pessoas precisam se conscientizar que gestação não começa na fecundação, mas antes disso, quando esses pais consciente ou inocentemente se preparam para ter esse bebê. Muitas vezes, a mulher não se dá conta desse desejo, e quando pega o resultado e se vê grávida já começa o nível de estresse. Talvez, esse estudo venha para destacar a importância de preventivos, caso a mulher não tenha a intenção de engravidar”, diz.

O útero tem um papel crucial no desenvolvimento saudável do bebê. “Este órgão está ligado ao desenvolvimento físico e psíquico desse bebê. Além disso, o feto consegue receber de sua mãe sinais de que está nascendo em um mundo perigoso ou estressante, assim como conseguem perceber quando aquele ambiente é tranquilo e receptivo. Os bebês têm um limite mais baixo de tolerância ao estresse e parecem ser mais sensíveis a ele”, finaliza.