Tag Archives: Fiocruz Minas

Fiocruz Minas e PBH lançam Protocolo de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência

A Fiocruz Minas e a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania (SMASAC), lançaram, na tarde dessa segunda-feira (9/12), o Protocolo de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência do município. O documento apresenta um compilado dos diversos serviços que compõem a rede de atendimento às mulheres e traz uma série de diretrizes que visa nortear o olhar dos profissionais que atendem a esse público, promovendo uma assistência ainda mais qualificada e cuidadosa.

O protocolo é constituído de três partes. A primeira é mais conceitual e apresenta definições sobre vários termos relacionados ao tema da violência. A segunda explica a metodologia para o desenvolvimento do documento. Já a terceira, a maior, faz uma caracterização de todos os serviços oferecidos às mulheres em situação de violência, aponta as atribuições de cada um deles e, de forma inovadora, chama atenção para os marcadores sociais das diferenças, apresentando casos emblemáticos e fornecendo orientações sobre como atender as especificidades. 

Leia Mais

Pesquisa analisa gastos com medicamentos no Brasil

Dados da Organização Mundial de Saúde apontam que a compra de medicamentos representa uma das principais fontes de despesa para os sistemas públicos de saúde. Para compreender os gastos voltados para a assistência farmacêutica no Brasil, pesquisadores de três instituições, entre elas a Fiocruz, fizeram uma análise das compras realizadas pelo Governo Federal no período compreendido entre janeiro de 2006 e dezembro de 2013. O estudo, publicado recentemente na revista Plos One, baseou-se no Sistema Integrado de Administração de Serviços Gerais (SIASG), um banco de dados geral de compras, que inclui aquisições de medicamentos realizadas por todos os ministérios e outros entes da federação.

De acordo com a pesquisa, foram gastos, entre 2006 e 2013, cerca de 34 bilhões de reais. Quase 50% desse valor foram destinados a três classes de medicamentos: os imunossupressores (que são os usados no tratamento de doenças autoimunes e na preparação e manutenção de transplantes de órgãos), os antivirais de uso sistêmico (voltados para o tratamento de Aids, herpes, influenza) e os agentes antineoplásicos (que são os medicamentos usados no tratamento de câncer). O estudo também observou que, embora liderem o ranking das despesas, essas três categorias começaram a ser adquiridas principalmente a partir de 2009, apontando uma mudança no perfil de aquisições.

“A análise dos dados mostra que, nos últimos anos, houve incorporação de novos fármacos à lista de medicamentos oferecidos. A mudança é positiva, pois significa que o sistema público de saúde passou a oferecer tratamentos que, até pouco tempo atrás, não estavam acessíveis para a maior parte da população”, explica Tatiana Luz, pesquisadora do Grupo de Estudos Transdisciplinares de Educação em Saúde e Ambiente da Fiocruz Minas.

O estudo também constatou que houve um aumento de 271% dos gastos, comparando o primeiro e o último ano analisados. Foram R$ 2,63 bilhões em 2006 e R$ 7,15 bilhões, em 2013. Os imunossupressores encabeçam a lista dos medicamentos que mais tiveram aumento na despesa, correspondendo a uma elevação de 25 mil por cento entre 2006 e 2013.

“As novas drogas que entraram no mercado têm custo elevado. Isso significa que, se por um lado é possível oferecer tratamento para mais doenças, por outro, há um aumento substancial dos gastos com medicamentos Nesse sentido, é fundamental conhecer bem a demanda para que, ao comprar, os governos consigam aumentar a capacidade de negociação”, afirma a pesquisadora.

Outras categorias de fármacos também contribuíram para a elevação dos gastos gerais, como os medicamentos usados para o tratamento de diabetes, cuja despesa subiu quase 190%, e os anestésicos, que tiveram um aumento no valor total de cerca de 175%, comparando os anos de 2006 e 2013. Porém, em relação a esses dois exemplos o crescimento da despesa foi provocado pelo aumento da quantidade de itens comprados.

“Isso reforça a importância de compreender o impacto que cada produto tem no orçamento. A ideia não é deixar de oferecer, mas conhecer bem as necessidades da população para que seja possível comprar com preço melhor”, destaca Tatiana.

O estudo envolveu pesquisadores da Fiocruz Minas, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), da Universidade Federal Fluminense (UFF) e do Karolinska Institutet, na Suécia.

Cientistas e sociedade civil unem-se contra arboviroses em Minas

Movimentos sociais feministas de Minas Gerais, profissionais de saúde que atuam no Programa de Saúde da Família (PSF) e gestores de saúde do estado são os protagonistas de um projeto que vem sendo desenvolvido por meio de uma parceria entre a Universidade de York (Inglaterra), Fundação João Pinheiro e a Fiocruz Minas. A partir de um enfoque das ciências sociais, o trabalho visa levantar e compreender as principais dificuldades enfrentadas pelos agentes comunitários, diante da tarefa de evitar a propagação das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti (dengue, zika, chikungunya, febre amarela), também conhecidas como arboviroses. Ao final do processo, pretende-se elaborar estratégias de ação no âmbito das políticas públicas, bem como fornecer novas ferramentas que, ao refletirem as reais demandas, possam gerar uma compreensão mais aprofundada dos desafios colocados pelas epidemias.

Com o título Movimentos Sociais feministas e a resposta à síndrome de zika no Brasil: mitigando negligências por meio de abordagens centradas na comunidade, o projeto tem como um dos diferenciais o envolvimento da Articulação das Mulheres do Campo de Minas Gerais, um espaço de interlocução que envolve diferentes movimentos, organizações e redes do estado. A intenção é dar voz a essas pessoas, de forma a descobrir demandas que possam refletir as interseções entre gênero e raça, desapropriação econômica, vulnerabilidade ambiental, demandas e acessos aos serviços de saúde e formas precárias de vida ligadas à produção agrícola em meio rural e urbano que interferem nos aspectos sociais ligados à epidemia.

“Nosso objetivo é ouvir esses grupos e, mais do que isso, levar as demandas apontadas por eles a outras esferas, como a dos gestores públicos.  E, sabendo do protagonismo da mulher nas questões que envolvem a família e a comunidade, nada mais eficiente do que envolvê-las nesse debate. Certamente, temos muito o que aprender com tais grupos que, historicamente, dependem de redes de apoio e de práticas de cuidado, que ultrapassam a esfera da assistência nos serviços públicos de saúde”, afirma a pesquisadora da Fiocruz Minas, Denise Nacif Pimenta.

O projeto, que foi pensado em 2016 e recebe financiamento da Universidade de York (Inglaterra), faz parte da rede “Ciências Sociais e Humanidades frente à epidemia de zika”, coordenada pela Fiocruz no Rio de Janeiro e foi aprovado pelo Institutional Links Zika, construído em parceria entre a Fiocruz e a British Council – Fundo Newton.

O projeto inclui três etapas: levantamento das demandas; promoção de debate e articulação entre a sociedade civil, profissionais de saúde e gestores políticos; e, finalmente, elaboração de materiais educativos, bem como de um documento com os principais resultados, que possam subsidiar ações e estratégia no âmbito das políticas públicas para melhorar os aspectos identificados como problemáticos.

“O objetivo principal do projeto é estabelecer o diálogo e promover a escuta de agentes comunitários de saúde, agentes de endemias e gerentes de unidades básicas de saúde”, explica a pesquisadora da Fundação João Pinheiro, Maria Nogueira. Segundo ela, esses são atores importantes para a compreensão do cenário sociocultural da epidemia, dos aspectos relacionados à gestão e execução de atividades diretamente relacionadas à prevenção e ao controle das arboviroses, bem como ao encaminhamento e acompanhamento dos grupos afetados.

Também estão sendo entrevistadas mulheres grávidas ou que tiveram bebês recentemente. De acordo com a pesquisadora, a intenção é dar voz a essas usuárias dos serviços, uma vez que o espaço de escuta e diálogo costuma ser negligenciado.

“Os dados apontam para um cenário de medo, preocupação, falta de informação e muitas dúvidas. No caso dos agentes, os relatos nos revelam um quadro preocupante de falta de informação, pouca ou nenhuma capacitação e falta de materiais informativos e educativos para auxiliá-los no trabalho com a população”, comenta Maria Nogueira.

Workshop

O projeto prevê a realização de um workshop, com a participação dos movimentos sociais feministas, profissionais de saúde, gestores estaduais e municipais da área de saúde e pesquisadores. Será uma oportunidade de promover o diálogo entre esses diversos públicos que raramente se encontram.

“Faremos a apresentação dos dados coletados, estimulando a discussão entre os participantes. Sem dúvida, será um momento bastante produtivo, pois pessoas de campos diferentes e com papéis tão distintos poderão dialogar”, conta Denise Pimenta.

Os materiais informativos e educativos serão produzidos até o fim deste ano. O formato e o conteúdo serão definidos depois de finalizada a fase de coleta de dados, uma vez que a tônica do projeto é gerar produtos que dialoguem com a realidade sociocultural dos atores envolvidos.

“Não queremos trabalhar na lógica da produção vertical que desconsidera as especificidades dos sujeitos sociais e o contexto no qual estão inseridos. A produção compartilhada da criatividade, aspectos lúdicos e contextualização serão ingredientes fundamentais para que possamos nos comunicar de forma mais eficaz”, destaca Maria Nogueira.

Por meio de uma parceria com a TV Minas, também serão produzidos materiais audiovisuais, que poderão ser usados em atividades de ensino a distância. Outro importante produto será um documento elaborado com base nas conclusões do workshop, que poderá ser utilizado para nortear as políticas públicas relacionadas às arboviroses.

Projeto integrador

Ao promover interação entre os movimentos sociais feministas ligados à agroecologia, profissionais de saúde, pesquisadores e gestores políticos, o projeto preenche uma lacuna importante, que é promover um melhor conhecimento do contexto social das arboviroses e maior participação coletiva na definição de políticas públicas.

“Essa melhor compreensão e interação entre os diferentes atores podem contribuir para um conhecimento mais aprofundado do problema muldimensional das arboviroses, além de uma identificação mais precisa das necessidades dos grupos mais vulneráveis, permitindo assim a definição de políticas públicas mais eficazes e inclusivas”, destaca o pesquisador da Universidade de York, João Nunes.

Segundo o pesquisador, a recente epidemia de zika trouxe algumas lições importantes não apenas para os gestores, mas também para os pesquisadores na área de saúde. Para ele, a situação demonstrou, primeiramente, as insuficiências de políticas centradas no controle químico do vetor, que abordam o problema como uma questão meramente pela via biomédica, focadas no desenvolvimento e aplicação de instrumentos técnicos ou farmacológicos, independentemente do contexto político, econômico e social.

Ainda de acordo com o pesquisador, a resposta à epidemia de zika também demonstrou os limites de uma estratégia voltada para a responsabilização individual, ou seja, uma estratégia que se baseia na alteração de comportamentos individuais, sem considerar o ambiente e contexto social no qual as decisões individuais são tomadas. Para Nunes, a epidemia de zika revelou ainda até que ponto a vulnerabilidade às arboviroses é condicionada por determinantes econômicos e de gênero.

“As populações economicamente mais carentes e, principalmente, as mulheres e seus filhos em situação de extrema carência estão não apenas particularmente vulneráveis às doenças, mas também numa situação de difícil acesso aos mecanismos de resposta a estas doenças, em especial o acesso aos serviços de saúde. Essa dimensão social e política tem sido negligenciada pelas atuais políticas de controle das arboviroses, o que se repete para a epidemia de zika”, avalia.

Para a pesquisadora Denise Pimenta, as ciências biomédicas e as ciências sociais e humanas tendem a não dialogar entre si. Dessa forma, as ciências sociais têm sido sistematicamente excluídas da discussão e delineamento das políticas e campanhas de prevenção e controle das arboviroses.

“Os campos científicos não se falam nem trocam experiências, não participam dos mesmos eventos científicos, não leem nem publicam nas mesmas revistas, não participam dos mesmos comitês científicos e de delineamento de políticas públicas”, afirma. Na opinião da pesquisadora, isso agrava ainda mais a dificuldade de produção mais ampla do conhecimento social necessário para compreensão integrada da problemática da prevenção e controle das arboviroses.

“Esse projeto busca exatamente atuar nessa questão: unir esforços e conhecimento científico, bem como da ciência biomédica e das ciências sociais e humanas”, diz.