Tag Archives: Estresse

Luta contra alcoolismo envolve suporte do Estado e da sociedade

Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo é lembrado hoje

Ao ouvir experiências de outras pessoas, Bernardino Freitas, de 60 anos, descobriu que não estava sozinho. Nem havia motivo para se envergonhar. O homem, nascido em Miracema do Norte (TO) e que vive há sete anos em Brasília (DF), queria mesmo que a lembrança do copo com aguardente ficasse no passado. “Fui procurar ajuda no Caps (Centro de Atenção Psicossocial) quando tinha passado do limite”.

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Governo orienta população sobre eventual contaminação do Rio Tocantins

Caminhões com produtos químicos caíram da Ponte Juscelino Kubitschek

O Ministério da Saúde publicou nota técnica com orientações para populações que vivem próximo ao Rio Tocantins, onde a Ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, localizada entre Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA), ruiu.

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Campanha Janeiro Branco alerta para saúde mental e emocional. Programa visa a prevenir doenças decorrentes do estresse

Criar uma cultura de cuidado emocional, proporcionando informações e apoio para indivíduos, famílias, instituições e comunidades em geral, é a proposta da campanha Janeiro Branco, que visa a alertar para os cuidados com a saúde mental e emocional da população a partir da prevenção de doenças decorrentes do estresse, como ansiedade, depressão e pânico. 

O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) lembra que também entram no rol transtornos de humor, esquizofrenia e transtorno bipolar que, muitas vezes, fazem com que as pessoas se tornem impossibilitadas (temporária ou permanentemente) de exercer suas funções laborais. A concessão de benefícios, no entanto, está sujeita a critérios específicos.

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Uso de celular antes de dormir pode retardar a sensação de sono

É difícil esquecer de uma noite mal dormida, pois o corpo não deixa: o sono domina, o trabalho não rende, a cabeça pesa e o humor fica péssimo. Além disso, quem não dorme bem, ou insuficientemente, pode ter sonolência excessiva durante o dia. Não é preciso ser um especialista no assunto para saber da importância do sono em nossa saúde como um todo e na qualidade de vida.

Na era da tecnologia, como os aparelhos eletrônicos se tornaram mais leves e portáteis, podemos levá-los a qualquer lugar, inclusive para a cama. O celular, hoje, é um instrumento de assessoria quase indispensável, pela praticidade, facilidade e rapidez de comunicação entre as pessoas, mas usá-lo à noite, antes de dormir, pode retardar a sensação do sono e conduzir a uma “diminuição do estado de alerta no dia seguinte, além de alteração na secreção hormonal de melatonina”, segundo artigo recém-publicado na Revista de Medicina.

 

O sono é responsável pelo bom funcionamento da memória. Foto: via Pixabay / CC0 Public Domain

O sono é responsável pelo bom funcionamento da memória e é regulado por três fatores: a necessidade biológica de dormir, o horário em que se dorme, relacionado com o fator claro-escuro do ambiente, e “o fator comportamental, notado principalmente em hábitos próximos à hora de dormir”. O objetivo da pesquisa é verificar a alteração na qualidade e duração do sono, assim como na sonolência diurna após abstenção do uso do telefone celular próximo ao horário de dormir. Para essa pesquisa foram aplicados questionários, testes e estatísticas com estudantes de medicina voluntários, na faixa de idade entre 17 e 40 anos, que já vivenciam a qualidade do sono alterada devido às elevadas cargas horárias de estudo e trabalho.

As autoras associam o uso de smartphones à noite ao fato de o usuário estar disponível a contatos o tempo todo, inclusive durante a noite, fato que se revela um grande desencadeador de estresse, sobretudo quando se usa mais de um aparelho eletrônico por longos períodos de tempo, podendo diminuir a produção de melatonina, responsável pela regulação hormonal do sono. “A melatonina é liberada durante o anoitecer e induz ao sono. A exposição à luz, no entanto, inibe sua produção.”

Os resultados apontam para o perfil sociodemográfico da amostra dos 76 estudantes – “93% dos alunos voluntários mantêm o celular próximo de si, 76% o utilizam mesmo já na cama e 68% dos participantes acordam caso o celular toque, sem contar que 79% participantes utilizam o celular por pelo menos 15 minutos após se deitar”. O artigo cita outras pesquisas que comprovam os benefícios da abstinência do uso de celulares por uma hora antes de dormir, o que diminui a sonolência diurna.

Apesar de outros aparelhos eletrônicos, como tablets, computadores, televisores, também poderem influenciar a qualidade do sono devido à luz emitida por qualquer um deles, os autoras alertam que a pesquisa enfoca apenas os celulares, sugerindo pesquisas sobre esses outros aparelhos e a crise de ansiedade que pode ser gerada pela abstinência dos mesmos. Para as autoras, “com a restrição do uso do aparelho celular por uma hora antes de dormir por um período de 15 dias, foi possível notar mudanças estatisticamente significativas no sono dos participantes”. Dessa forma, é interessante buscar-se hábitos que melhorem o descanso noturno, aumentem a disposição diária com a diminuição do uso dos telefones antes de dormir, pois, definitivamente, celular e sono não combinam.

Vera Lucia Ribeiro Fuess é professora adjunta da Universidade de Mogi das Cruzes e doutora em Otorrinolaringologia pela USP, com certificação em Medicina do Sono pela Associação Brasileira de Medicina do Sono.

Carine Cristina Moraes de Freitas, Agda Lopes Donnabella Marconi Gozzoli, Juliana Naomi Konno são acadêmicas do quarto ano da Faculdade de Medicina da Universidade de Mogi das Cruzes.

FREITAS, Carine Cristina Moraes; GOZZOLI, Agda Lopes Donabella Marconi; KONNO, Juliana Naomi; FUESS, Vera Lucia Ribeiro. Relação entre uso do telefone celular antes de dormir, qualidade do sono e sonolência diurna. Revista de Medicina, São Paulo, v. 96, n. 1, p. 14-20, mar. 2017. ISSN: 1679-9836. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/revistadc/article/view/121890/125311>. Acesso em: 05 abr. 2017.

Maternidade realiza pesquisa sobre relação entre infertilidade e estresse

Entre maio e dezembro de 2017, será realizada uma pesquisa na Maternidade Escola Januário Cicco da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Mejc-UFRN), visando investigar o efeito psicofisiológico do estresse em casais que se submetem ao tratamento de fertilização in vitro (FIV). A pesquisa é fruto da parceria entre o Centro de Reprodução Assistida (CRA) da Mejc – unidade hospitalar filiada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) – e o Laboratório de Medidas Hormonais da UFRN. A coleta ocorrerá no próprio CRA, único do Norte e Nordeste a oferecer este serviço pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O estudo será realizado pela biomédica Nathália Maia, mestranda da psicobiologia da UFRN. “Essa pesquisa é a primeira que busca correlacionar a interferência de uma ampla gama de variáveis psicológicas (disfunções sexuais, estratégias de enfrentamento, estilos de apego, suporte social, ansiedade e estresse) com o cortisol coletado por meio da saliva, no contexto da reprodução assistida”, disse a pesquisadora. 

Nathália explica que a coleta de cortisol salivar será realizada ao despertar, nos casais que estarão aptos a começarem o tratamento de FIV. “Deverá acontecer necessariamente antes de iniciar a estimulação hormonal, visto que depois pode haver interferência e, dessa forma, os resultados serem mascarados”. A pesquisadora ainda ressalta que, ao longo da pesquisa, será investigado também o desejo desses casais de se tornarem pais, bem como o apoio que eles recebem da família e dos amigos, além da forma como cada um lida com a infertilidade.

Mychelle Garcia, especialista em reprodução assistida e coordenadora do Centro faz uma correlação do estresse e a rotina do tratamento, que pode vir a ser comprometido. “O estresse pode interferir negativamente, inclusive na parte técnica, porque existem horários para administrar as medicações, pois as pacientes precisam comparecer em dias específicos. Elas levam recomendações para casa e, inclusive, já tivemos situações em que o nível de ansiedade, frente a tantas informações, faz com que a paciente se atrapalhe”, comenta.

Infertilidade

A infertilidade é definida como a incapacidade de alcançar a gravidez mantendo relações sexuais frequentes durante o período de um ano e sem o uso de métodos contraceptivos. A busca por tratamento especializado visa investigar, do ponto de vista médico, as causas da infertilidade masculina e feminina, realizando exames como espermograma e ultrassonografias para avaliar a reserva ovariana.

Estudos da Universidade de Copenhagen na Dinamarca revelam que de cada dez casais que encontram dificuldades para engravidar, apenas quatro não possuem problemas, ou seja, mais da metade apresenta algum grau de infertilidade. Nessa perspectiva, os fatores psicológicos podem interferir, haja vista a expectativa e ansiedade geradas quando a paciente tem de viver entre a possibilidade ou não de conseguir ter um filho.

Sobre a Ebserh

A Mejc é uma das três instituições do Rio Grande Norte filiadas à Ebserh, estatal vinculada ao Ministério da Educação que administra atualmente 39 hospitais universitários federais. O objetivo é, em parceria com as universidades, aperfeiçoar os serviços de atendimento à população, por meio do SUS, e promover o ensino e a pesquisa nas unidades filiadas.

Estudo testa nova classe de drogas com potencial efeito antidepressivo

Situações de estresse prolongado e momentos repetidos de raiva, medo ou ansiedade podem induzir modificações estruturais e funcionais no cérebro que predispõem ao desenvolvimento de doenças como a depressão.

Os antidepressivos convencionais são capazes de reverter essas alterações cerebrais, mas levam pelo menos 15 dias para começar a surtir efeito e apenas 60% dos pacientes respondem ao tratamento. Desses, apenas 50% atingem a remissão completa dos sintomas.

Em busca de terapias mais eficazes e com ação mais imediata, pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (FCFRP-USP), testam, em modelos animais, novas classes de drogas que têm como mecanismo de ação inibir a enzima DNAmetiltransferase (DNMT), cujo papel é catalisar uma reação química conhecida como metilação do DNA (adição de um grupo metil à molécula de DNA).

A metilação do DNA é considerada uma modificação epigenética, ou seja, que altera o funcionamento do genoma sem alterar o código genético em si. Pode ser induzida por diferentes estímulos biológicos e ambientais, entre eles o estresse, promovendo o silenciamento de genes e, consequentemente, a diminuição da expressão de proteínas.

Resultados recentes do projeto apoiado pela FAPESP foram publicados  este ano na revista Acta Neuropsychiatrica e apresentados pela pesquisadora Sâmia Joca durante a nona edição do Congresso Mundial do Cérebro, realizado no Rio de Janeiro entre os dias 7 e 11 de julho.

“Experimentos com camundongos mostraram que diferentes classes de drogas inibidoras da enzima DNMT apresentam efeito tipo-antidepressivo agudo. Quando combinamos esses inibidores com antidepressivos convencionais, também de diferentes classes farmacológicas, observamos um efeito sinérgico entre os compostos”, contou Joca em entrevista à Agência FAPESP.

Conforme explicou a pesquisadora, tanto os antidepressivos convencionais como os inibidores de DNMT parecem favorecer a expressão de genes importantes para a resiliência ao estresse. A diferença, segundo indicam os resultados dos experimentos feitos em Ribeirão Preto, é que o segundo grupo de drogas induz esse efeito mais rapidamente.

“Quando somos expostos a uma situação estressante, nosso organismo libera uma série de mediadores endógenos, como glutamato e cortisol, necessários para ativar circuitos importantes para a resposta aguda ao estresse. Mas, quando a liberação desses mediadores se torna crônica e excessiva, pode causar atrofia ou morte de neurônios, prejudicando o funcionamento adequado de circuitos importantes para a regulação do humor, do afeto ou da cognição”, disse a pesquisadora.

Evidências da literatura científica indicam que o estresse também reduz a formação de sinapses, a neurogênese e a proliferação celular em determinadas partes do cérebro, comprometendo a plasticidade neuronal, ou seja, a capacidade cerebral de se modificar para se adaptar aos estímulos ambientais.

Algumas proteínas, porém, atuam protegendo os neurônios contra os danos causados pelo estresse – entre elas a mais conhecida é a BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro, na sigla em inglês).

“Evidências indicam, no entanto, que a metilação do DNA induzida pelo estresse, por fazer a cromatina ficar mais condensada no núcleo das células, dificulta a expressão do gene do BDNF e possivelmente de outros fatores importantes para a sobrevivência dos neurônios. Acreditamos que, no longo prazo, esse prejuízo ao mecanismo de plasticidade neuronal importante para a resiliência ao estresse possa predispor ao desenvolvimento de transtornos psiquiátricos”, disse Joca.

Estudos de outros grupos, contou a pesquisadora, haviam mostrado que um dos efeitos do tratamento crônico com antidepressivos convencionais é o aumento na expressão de BDNF, principalmente no córtex e no hipocampo – as regiões do cérebro mais afetadas pelo estresse. Mostraram ainda que, se a expressão de BDNF for bloqueada, os antidepressivos não surtem efeito.

“Acreditamos que os antidepressivos convencionais, ao aumentar a liberação de neurotransmissores como serotonina ou noradrenalina, induzem uma cascata de efeitos intracelulares que, em última instância, interferem no padrão de metilação do DNA. Mas, como é um efeito indireto, acaba sendo necessário um tratamento crônico para que ele apareça. Imaginamos então que drogas capazes de interferir diretamente no padrão de metilação do DNA poderiam ter um efeito antidepressivo agudo”, contou a pesquisadora.

Para testar a hipótese, o grupo de Ribeirão Preto realizou um tipo de experimento com ratos, utilizado há mais de 30 anos, para triar o efeito de fármacos candidatos a antidepressivos. O modelo consiste em colocar o roedor durante 15 minutos em um tanque com água, de onde por mais que ele se esforce não consegue sair. No dia seguinte, o experimento é repetido durante 5 minutos.

“Os antidepressivos de maneira geral, mas não outras classes de drogas com efeito central, fazem aumentar no segundo dia do experimento o tempo que o animal fica nadando para tentar escapar. É como se a droga não o deixasse desistir facilmente. Portanto, esse efeito observado no teste em resposta a um tratamento novo é considerado preditivo de potencial antidepressivo”, contou Joca.

Nesse modelo de estresse agudo, o grupo testou dois diferentes inibidores de DNMT: uma droga experimental conhecida como RG108 e uma droga já usada na clínica como quimioterápico, a decitabina.

Os primeiros resultados dos experimentos, feitos apenas com a decitabina, foram divulgados em 2012 no British Journal of Pharmacology.

“Tanto a decitabina como o RG108 interferem na metilação do DNA, mas por mecanismos completamente diferentes, e ambos apresentaram nesse modelo de estresse agudo o mesmo efeito dos antidepressivos convencionais fluoxetina e desipramina, porém mais rapidamente”, disse Joca.

Em um novo experimento, o grupo combinou as quatro classes de drogas entre si (fluoxetina, desipramina, decitabina e RG108) em doses subefetivas – abaixo do necessário para obter efeito terapêutico quando usadas de maneira isolada. Em todas as combinações foi observado efeito antidepressivo significativo.

“Se apenas uma ou duas combinações tivesse funcionado, poderia ser algo específico de uma determinada droga. Mas como todas tiveram efeito, isso sugere um sinergismo entre os inibidores de DNMT e os antidepressivos convencionais, ou seja, os efeitos se somam. Tal abordagem seria interessante na clínica, pois, ao reduzir as doses dos tratamentos isolados, os efeitos adversos também seriam, em tese, reduzidos”, comentou Joca.

O grupo vem estudando atualmente como os inibidores de DNMT alteram o padrão de expressão gênica no córtex e no hipocampo – particularmente a expressão de BDNF – e devem publicar os resultados em breve.

“O que temos observado é que os inibidores de DNMT não diminuem a metilação do DNA em todas as regiões cerebrais. Eles parecem modular o efeito que o estresse provoca no cérebro”, disse Joca.

Modelo de estresse crônico

Após as primeiras evidências positivas com a decitabina, o grupo decidiu testar os inibidores de DNMT em um modelo de estresse crônico, capaz de induzir em ratos alterações comportamentais e endocrinológicas semelhantes às observadas em humanos deprimidos.

O modelo consiste em expor os roedores a 30 sessões de estresse intenso. Após sete dias, o animal é colocado no mesmo ambiente do teste anterior, mas numa condição em que é capaz de controlar sua exposição ao estresse.

“Quando comparamos os ratos submetidos às sessões iniciais de estresse com um grupo controle [não estressado], vemos que eles têm mais dificuldade de aprender a controlar a exposição ao estresse no dia do teste”, explicou Joca.

Observou-se nesse modelo que o tratamento com antidepressivos convencionais demora cerca de sete dias para alterar a expressão gênica no córtex e apresentar efeito sobre o comportamento dos animais.

Os inibidores de DNMT, por outro lado, promoveram efeito após administração aguda. Uma única injeção da droga dada após o primeiro dia de estresse foi suficiente para promover efeito tipo-antidepressivo (evidenciado por atenuação do efeito induzido pela pré-exposição ao estresse) e tornar o padrão de metilação no córtex e o comportamento dos animais mais semelhante ao do grupo controle.

A pesquisadora ressalta, no entanto, que a ideia neste momento não é propor o uso de inibidores de DNMT como um tratamento clínico para depressão e sim entender os mecanismos intracelulares induzidos por esses compostos e gerar conhecimentos sobre vias que possam ser exploradas farmacologicamente.

“A relação risco-benefício do uso da decitabina poderia ser avaliada no caso de um paciente em estado grave, com risco de suicídio, pois já é uma droga aprovada para uso em humanos”, avaliou Joca.

Em casos desse tipo, contou a pesquisadora, tem sido usada uma droga conhecida como cetamina – aprovada para uso humano como anestésico local e que também demostrou efeito antidepressivo agudo e sustentado, de até 14 dias com uma única dose.

“Está descrito na literatura que a cetamina regula a expressão de vários genes e estamos estudando por qual mecanismo ela induz esse efeito antidepressivo agudo. O problema é que a cetamina é uma droga de abuso e há risco de o paciente se tornar dependente ou sofrer overdose. Por isso há necessidade de encontrar novas opções com ação semelhante e menor risco de dependência”, disse a pesquisadora.

Adversários na luta contra a hipertensão

A população em geral sabe que aspectos emocionais influenciam na saúde física, mas não tem conhecimento de que sentimentos como ansiedade e estresse diminuem a adesão ao tratamento de hipertensão. Esse e outros fatores que comprometem a terapia foram evidenciados numa dissertação de mestrado desenvolvida na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP.
Segundo o autor da dissertação, enfermeiro André Almeida de Moura, além dos sentimentos já citados, a dificuldade de adaptação a um novo estilo de vida e o apoio familiar são decisivos no tratamento da hipertensão arterial. “42% dos entrevistados não conseguem acompanhar o ritmo de dietas e exercícios físicos, que são essenciais para o controle da pressão, e cerca de 13% percebe que a família não está colaborando com o tratamento.”

Realizado na cidade de Santa Helena de Goiás (GO), o estudo de Moura avaliou 138 pacientes atendidos em seis unidades de saúde do município. “Com 100% de cobertura, foi possível detectar que, mesmo com todos os remédios e ferramentas disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a adesão ainda era muito baixa”, conta o pesquisador.
Com a coleta de dados realizada entre novembro de 2012 e abril de 2013, o estudo aponta que apenas 21% dos participantes aderiram ao tratamento medicamentoso e 15,9% cumpriam as recomendações médicas que, de acordo com o enfermeiro, eram a alimentação balanceada, prática de exercícios físicos e exclusão de bebidas alcoólicas e tabaco.

Contribuição –
De acordo com a pesquisa, que traçou o perfil das pessoas que sofrem com hipertensão na cidade goiana, a maioria dos hipertensos (65,9%) era composta por mulheres com idade média de 60 anos. “Podemos afirmar que o sexo feminino foi prevalente devido às atividades e responsabilidades que as mulheres possuem, seja na vida profissional ou como mãe ou avó”, diz o enfermeiro.

Moura também fala que as seis unidades de saúde que participaram do estudo promovem atividades educativas a fim de aumentar a adesão ao tratamento de hipertensão arterial. “Os resultados da minha pesquisa deixam claro que os hipertensos, independente dos motivos, ainda não conseguem seguir as orientações médicas.”

Com o objetivo de dar um retorno para a instituição, o pesquisador realizou algumas reuniões, a fim de discutir e aplicar novas ações para reverter a baixa adesão ao tratamento de hipertensão. “Entendo ser esta uma responsabilidade de todo pesquisador: contribuir para a melhoria da prática profissional”, afirma Moura.

Orientada pela professora Isabel Amélia Costa Mendes, a dissertação “Fatores da não adesão ao tratamento da hipertensão arterial em um município do interior de Goiás” foi apresentada no segundo semestre do ano passado. O pesquisador pretende utilizar esse trabalho como base para o doutorado. “Desejo contribuir com os enfermeiros, para que estes possam avaliar os resultados da pesquisa e buscar outras estratégias para o aumento da adesão, tendo em vista melhorar a qualidade de vida do público em questão”, diz o pesquisador.

Privação do sono pode desencadear doenças graves

O sono é essencial para a vida e é a base de muitas funções fisiológicas e psicológicas do organismo, tais como a reparação de tecidos, o crescimento, a consolidação da memória e a aprendizagem. Embora nem todos os adultos precisem do mesmo número de horas de sono, os especialistas acreditam que menos de sete horas de sono por noite, numa base contínua, pode ter consequências negativas para o corpo e para o cérebro.

A falta de uma boa qualidade do sono tem impacto nos condutores fisiológicos do balanço energético, nomeadamente no apetite, na fome e no gasto energético. Além disso, a privação do sono apresenta efeitos negativos na capacidade do corpo distribuir a glicose sanguínea e pode aumentar o risco de diabetes tipo II.

Obesidade

Um estudo realizado numa grande população demonstrou uma relação significativa entre a habitual duração do sono curta e o aumento no índice de massa corporal (IMC). A reduzida duração do sono está associada a alterações nos hormônios que controlam a fome; por exemplo, os níveis de leptina (acção na redução do apetite) baixam, enquanto os níveis de grelina (acção estimulante do apetite) aumentam. Estes efeitos observam-se quando a duração do sono é inferior a 8 horas, sugerindo que a privação de sono é um fator de risco para a obesidade. Num estudo realizado numa população masculina saudável, descobriu-se que uma média de 4 horas de sono está associada a um desejo significativo de alimentos calóricos, com um conteúdo mais elevado de hidratos de carbono (alimentos doces, salgados e ricos em hidratos de carbono complexos). Estes indivíduos também manifestaram ter mais fome. É necessário ter em consideração também que quanto menos horas se dorme, mais tempo se tem para comer e beber. Existem estudos que mostram que este é um fator que contribui para os aspectos obesogénicos da redução do número de horas de sono.

Estresse

O hormônio cortisol, conhecido como o hormônio do stress, é responsável por manter o corpo em estado de alerta. Segundo a pneumologista e especialista em doenças do sono Heloisa Glass, quando ele está em níveis normais, é extremamente importante para o funcionamento do corpo. “Com o cortisol baixo, o corpo fica mais sensível à dor e desenvolve um cansaço acima do normal”, explicou a especialista. Problemas relacionados ao sono aumentam a produção de cortisol, o que mantém o corpo em constante estado de alerta, sem espaço para o descanso da noite. Isso faz com que o corpo não descanse a musculatura. Há ainda o hormônio conhecido como melatonina. Quando o dia acaba e o sol se põe, a ausência da luz naturalmente inibe a produção desse hormônio no corpo, o que é, segundo Heloisa Glass, um “sinal para dormir”. Os atuais hábitos noturnos, em especial da faixa etária que vai dos 16 aos 38 anos, impedem o que deveria ser a ação natural do corpo à noite.

Depressão

Dormir poucas horas por noite também pode aumentar as chances de desenvolver depressão. A falta de sono pode trazer problemas psicológicos, principalmente em adolescentes que ainda não conseguem lidar com questões emocionais. O tempo de sono suficiente para revitalizar uma pessoa pode variar, porém, o ideal são oito horas de sono por noite.

Diabetes

A redução dos períodos de sono está associada a uma redução da tolerância à glicose. A tolerância à glicose é um termo que descreve a forma como o organismo controla a disponibilidade de glicose sanguínea para os tecidos e cérebro. Em períodos de jejum, o elevado nível de glicose e insulina no sangue indica que a distribuição da glicose pelo organismo é realizada de forma inadequada. Há evidências que demonstram que a baixa tolerância à glicose é um fator de risco para a diabetes tipo II. Estudos sugerem que a restrição do sono, a longo prazo (menos de 6,5 horas por noite), pode reduzir a tolerância à glicose em 40%.

Hipertensão

Quem dorme mal tem cinco vezes mais chance de desenvolver um quadro de pressão alta do que uma pessoa sem problemas para dormir. O causador é a mistura de cortisol, adrenalina e noradrenalina, que tem ação vasoconstritora, o que favorece não só a hipertensão, como as arritmias cardíacas. É necessário procurar um médico quando estas interrupções do sono prejudicam a rotina da família, não deixando que um ou mais membros tenham uma noite tranquila de descanso, pois dormir é essencial para a nossa saúde.

Enfermeiros sofrem com carga horária de trabalho extensa

Pesquisa realizada na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP alerta: profissionais de enfermagem que trabalham mais que 30 horas semanais têm maior chance de sofrer com estresse. Outro fator que pode estar relacionado ao estresse é a presença de dois ou mais vínculos empregatícios, detectado em 44,1% dos entrevistados. Para a pesquisadora Márcia Teles Gouveia, esse dado pode ser explicado pelo fato de que a maioria dos profissionais recebe entre um e dois salários mínimos.

A afirmação é baseada em dados estatísticos presentes na tese de doutorado Estresse e jornada laboral dos trabalhadores de enfermagem. Com 145 entrevistados, a pesquisa foi desenvolvida em duas fases. A primeira, que analisou os fatores de risco no ambiente de trabalho e os problemas de saúde dos trabalhadores, foi desenvolvida entre os meses de janeiro a abril de 2013, com 145 trabalhadores, dentre eles enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem. “Depois, avaliamos os sintomas de estresse e coletamos amostras de saliva dos trabalhadores, para mensurar o cortisol, o ‘hormônio do estresse’”, conta a pesquisadora.

Expostos a riscos ocupacionais biológicos, químicos, físicos e mecânicos do ambiente hospitalar, esses profissionais da saúde são responsáveis pelo cuidado direto do paciente. “Com isso, eles convivem com processos de dor, morte, sofrimento e limitações técnicas e materiais”, lembra Márcia.

Perfil
Realizado no Hospital Getúlio Vargas (HGV), no Estado do Piauí, o estudo traz o perfil dos profissionais da enfermagem. Apesar de a pesquisa ser regional, Márcia diz que dados como sexo, idade e categoria profissional são semelhantes aos dos demais estados do País. O sexo feminino predomina, assim como a formação técnica. A idade média é de 44,4 anos e apenas 13,1% mencionaram trabalhar na central de materiais esterilizados. Já referente à carga horária, a maioria (69,7%) realiza 30 horas semanais ou menos.

Os problemas de saúde mais comuns entre esses trabalhadores são varizes (56,5%), lombalgias (46,9%), estresse ou depressão (41,4%) e lesões por acidentes (32,4%). “Alguns entrevistados apresentaram sintomas de estresse, mas a maioria ainda está em fase de resistência e alerta”, conta a enfermeira. Fatores de risco no ambiente de trabalho também foram analisados e, segundo Márcia, as chances de contrair infecções ou doenças é de 77,2%. Lesões por material cortante e risco de sobrecarga no trabalho também foram contabilizados, representando 55,9% e 53,8%.

Impacto negativo
“O estresse excessivo tem consequências diretas na qualidade de vida dos trabalhadores, podendo influenciar de forma intensa no bem estar físico e gerar problemas de ajustamento social, familiar, de saúde e profissional”, ressalta a pesquisadora, que afirma que é necessário evitar que o estresse chegue a níveis elevados.

Conhecer os sintomas, bem como os agentes causadores da irritação são os primeiros passos que devem ser dados por esses profissionais. A enfermeira indica que ser paciente e otimista minimiza os impactos dos agentes estressores. “Eles precisam tentar melhorar a qualidade de vida e manter o equilíbrio para ter uma vida saudável.”

Estresse materno pode afetar bebê ainda no útero

A gestação é cercada de grandes mudanças e as futuras mamães precisam ficar atentas para evitar o acúmulo de estresse durante este período. Isso porque, o nervosismo pode ser um inimigo poderoso. É fundamental pegar leve no trabalho, na alimentação e rotina. “Antigamente acreditava-se que o bebê, ainda na barriga, vivia num mundo isolado, sem barulho e sem interferência do ambiente fora do útero da mãe. Mas, depois de estudos e imagens de ultrassom, podemos observar o feto e saber que ele sente, ouve e se movimenta, por exemplo. O diálogo entre a mãe e o bebê começa muito antes dele nascer, por isso é fundamental a mulher ter uma gestação tranquila”, orienta a psicóloga da linha de cuidados mãe-bebê, do Hospital Nossa Senhora de Conceição (RS), Eliana Bernner.

O estresse de uma mãe pode afetar seu bebê ainda no útero, produzindo efeitos a longo prazo na vida da criança, sugerem pesquisadores alemães. “É impossível durante quarenta semanas a mulher não se estressar, o que deve ser evitado é o extremo, ficar sob tensão intensa, por exemplo, conviver com um parceiro violento. O estresse provoca alterações biológicas em um receptor de hormônios e o bebê sente essa mudança, ele consegue ouvir os batimentos e inquietação da mãe”, explica.

Segundo a especialista, as alterações sofridas pelo feto durante a gestação podem fazer com que a própria criança seja menos capaz de lidar com o estresse mais tarde. “Essas alterações foram associadas, por exemplo, a problemas de comportamento, ansiedade, até mesmo doenças mentais. Entretanto, a maioria das mulheres grávidas não estão expostas a graus tão elevados de estresse e nem em períodos tão longos”, observa.

É muito importante a mãe se preparar para esse período gestacional e saber equilibrar o ambiente em que vive. “Evitar o estresse elevado é fundamental, mas é impossível não passar por algum tipo estresse durante essas quarenta semanas, por isso é primordial preparar todo o ambiente para a chegada desse bebê. As pessoas precisam se conscientizar que gestação não começa na fecundação, mas antes disso, quando esses pais consciente ou inocentemente se preparam para ter esse bebê. Muitas vezes, a mulher não se dá conta desse desejo, e quando pega o resultado e se vê grávida já começa o nível de estresse. Talvez, esse estudo venha para destacar a importância de preventivos, caso a mulher não tenha a intenção de engravidar”, diz.

O útero tem um papel crucial no desenvolvimento saudável do bebê. “Este órgão está ligado ao desenvolvimento físico e psíquico desse bebê. Além disso, o feto consegue receber de sua mãe sinais de que está nascendo em um mundo perigoso ou estressante, assim como conseguem perceber quando aquele ambiente é tranquilo e receptivo. Os bebês têm um limite mais baixo de tolerância ao estresse e parecem ser mais sensíveis a ele”, finaliza.