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Webinário debate tecnologias digitais e Atenção Primária no SUS

O terceiro webinário da série Transformação Digital na Saúde Pública, produzida pelo Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz Antonio Ivo de Carvalho (CEE/Fiocruz), terá como tema As tecnologias digitais na Atenção Primária à Saúde: Desafios e estratégias para o Sistema Único de Saúde [SUS]. O evento será realizado na próxima quinta-feira (5/11), às 10h, com transmissão ao vivo pelo canal do YouTube da Vídeo Saúde Distribuidora da Fiocruz. Nele será discutido o uso de tecnologias da informação e comunicação (TICs) para melhorar a gestão, o diagnóstico e o cuidado dos usuários do SUS. O público poderá participar com comentários e perguntas enviadas pelo chat.

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Webinário debate desafios globais diante de emergências sanitárias

No dia 20 de maio, às 14h, a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) vai realizar o webinário Preparação e resposta a emergências sanitárias: desafios globais e o caso dos Brics. A atividade será transmitida pelo canal da Ensp/Fiocruz no YouTube, não é necessário fazer inscrição para participar. O evento tem como público-alvo pesquisadores, estudantes e trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS) interessados no tema da preparação e resposta a emergências sanitárias em perspectiva global e, particularmente, o caso dos países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Com a coordenação do pesquisador Carlos Machado de Freitas e organização da pesquisadora Adelyne Mendes Pereira, o evento contará com os seguintes palestrantes: Deisy Ventura, professora da Faculdade de Saúde Pública (FSP-USP) e vice-diretora do Instituto de Relações Internacionais (IRI-USP); Eduardo Hage, pesquisador da Fiocruz Brasília e membro do Painel de Especialistas da Organização Mundial da Saúde para o RSI; e do embaixador Alexandre Ghisleni, da Assessoria Especial de Assuntos Internacionais (AISA/Ministério da Saúde). Deisy Ventura abordará o processo de reforma do Regulamento Sanitário Internacional (RSI) e do acordo sobre pandemias, enquanto Eduardo Hage tratará dos desafios globais para preparação e resposta a emergências sanitárias. Por fim, Ghisleni enfocará os desafios e possibilidades dos Brics em face às emergências sanitárias.

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Roda de conversa na Fiocruz debate papel de mulheres negras em práticas antirracistas

A Coordenação de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas (Cedipa/Fiocruz) promove, na próxima terça-feira (19/3), às 9h, a roda de conversa Mulheres negras por uma sociedade antirracista, que integra a programação da campanha 21 Dias de Ativismo contra o Racismo. Realizado na sala 410 da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), no campus Manguinhos no Rio de Janeiro, com transmissão on-line pelo canal da Fiocruz no YouTube, o encontro visa debater o espaço das mulheres negras no diálogo sobre a pauta antirracista na sociedade. 

A roda de conversa reunirá como debatedoras: Eliane Barbosa, da Fundação Getúlio Vargas-SP/Unilab Brasil; Marly Cruz, do Departamento de Endemias Samuel Pessoa (Densp/Ensp/Fiocruz); Flavia Diniz, da Frente Popular da Mulher com Deficiência; e Jaqueline Gomes de Jesus, do Departamento de Direitos Humanos, Saúde e Diversidade Cultural (Dihs/Ensp/Fiocruz). A mediação será realizada pela coordenadora do eixo de Relações Étnico-Raciais da Cedipa/Fiocruz, Roseli Rocha. Além disso, está prevista a realização de uma homenagem a Dona Maria Soares, militante pelos Direitos Humanos que completará 100 anos em 2024, sendo um momento especial de reconhecimento e valorização da sua história para a luta do movimento negro.

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Observatório do SUS: seminário debate carreiras no sistema público de saúde

Analisar desafios e debater alternativas para a constituição de carreiras para o Sistema Único de Saúde (SUS). Com esse objetivo, a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) vão promover, na próxima segunda-feira (11/3), o seminário Carreiras no SUS: Obstáculos e Alternativas. A iniciativa integra as atividades do Observatório do SUS da Ensp/Fiocruz e vai ocorrer de 8h30 às 16h30, no Auditório Térreo da Escola no Rio de Janeiro. O evento é o último de uma série de três seminários que abordam os desafios estruturais do SUS e também será transmitido pelo canal da Ensp/Fiocruz no YouTube.

“A atividade integra um conjunto de três seminários pensados pelo Observatório do SUS da Ensp, em conjunto com a Abrasco, uma parceira estratégica da Escola para aprofundar o debate, de forma ampliada, sobre os desafios estruturais do SUS, e apontar propostas para superá-los”, destaca o diretor da Ensp/Fiocruz, Marco Menezes. “O primeiro seminário da série debateu o financiamento da saúde enquanto o país debatia o novo arcabouço fiscal. No segundo, debatemos a regionalização da rede, quando estavam na pauta os consórcios e a gestão federativa. Agora, em um contexto onde trabalhadoras e trabalhadores discutem, com o governo federal, a justa recomposição salarial, a valorização de trabalhadoras e trabalhadores e do trabalho, e no qual também iniciamos a etapa municipal da 4ª Conferência Nacional de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde, realizamos esse debate sobre as carreiras no SUS como contribuição para este cenário desafiador”.

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Pesquisa analisa gastos com medicamentos no Brasil

Dados da Organização Mundial de Saúde apontam que a compra de medicamentos representa uma das principais fontes de despesa para os sistemas públicos de saúde. Para compreender os gastos voltados para a assistência farmacêutica no Brasil, pesquisadores de três instituições, entre elas a Fiocruz, fizeram uma análise das compras realizadas pelo Governo Federal no período compreendido entre janeiro de 2006 e dezembro de 2013. O estudo, publicado recentemente na revista Plos One, baseou-se no Sistema Integrado de Administração de Serviços Gerais (SIASG), um banco de dados geral de compras, que inclui aquisições de medicamentos realizadas por todos os ministérios e outros entes da federação.

De acordo com a pesquisa, foram gastos, entre 2006 e 2013, cerca de 34 bilhões de reais. Quase 50% desse valor foram destinados a três classes de medicamentos: os imunossupressores (que são os usados no tratamento de doenças autoimunes e na preparação e manutenção de transplantes de órgãos), os antivirais de uso sistêmico (voltados para o tratamento de Aids, herpes, influenza) e os agentes antineoplásicos (que são os medicamentos usados no tratamento de câncer). O estudo também observou que, embora liderem o ranking das despesas, essas três categorias começaram a ser adquiridas principalmente a partir de 2009, apontando uma mudança no perfil de aquisições.

“A análise dos dados mostra que, nos últimos anos, houve incorporação de novos fármacos à lista de medicamentos oferecidos. A mudança é positiva, pois significa que o sistema público de saúde passou a oferecer tratamentos que, até pouco tempo atrás, não estavam acessíveis para a maior parte da população”, explica Tatiana Luz, pesquisadora do Grupo de Estudos Transdisciplinares de Educação em Saúde e Ambiente da Fiocruz Minas.

O estudo também constatou que houve um aumento de 271% dos gastos, comparando o primeiro e o último ano analisados. Foram R$ 2,63 bilhões em 2006 e R$ 7,15 bilhões, em 2013. Os imunossupressores encabeçam a lista dos medicamentos que mais tiveram aumento na despesa, correspondendo a uma elevação de 25 mil por cento entre 2006 e 2013.

“As novas drogas que entraram no mercado têm custo elevado. Isso significa que, se por um lado é possível oferecer tratamento para mais doenças, por outro, há um aumento substancial dos gastos com medicamentos Nesse sentido, é fundamental conhecer bem a demanda para que, ao comprar, os governos consigam aumentar a capacidade de negociação”, afirma a pesquisadora.

Outras categorias de fármacos também contribuíram para a elevação dos gastos gerais, como os medicamentos usados para o tratamento de diabetes, cuja despesa subiu quase 190%, e os anestésicos, que tiveram um aumento no valor total de cerca de 175%, comparando os anos de 2006 e 2013. Porém, em relação a esses dois exemplos o crescimento da despesa foi provocado pelo aumento da quantidade de itens comprados.

“Isso reforça a importância de compreender o impacto que cada produto tem no orçamento. A ideia não é deixar de oferecer, mas conhecer bem as necessidades da população para que seja possível comprar com preço melhor”, destaca Tatiana.

O estudo envolveu pesquisadores da Fiocruz Minas, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), da Universidade Federal Fluminense (UFF) e do Karolinska Institutet, na Suécia.

Nascer nas prisões: gestação e parto atrás das grades no Brasil

Um estudo realizado pela Fiocruz descreve pela primeira vez, em nível nacional, o perfil da população feminina encarcerada que vive com seus filhos em unidades prisionais femininas das capitais e regiões do Brasil, assim como as características e as práticas relacionadas à atenção, à gestação e ao parto durante o encarceramento. A pesquisa revela, por exemplo, que mais de um terço das mulheres presas grávidas relataram o uso de algemas na internação para o parto, 83% tem pelo menos um filho, 55% tiveram menos consultas de pré-natal do que o recomendado, 32% não foram testadas para sífilis e 4,6% das crianças nasceram com sífilis congênita.

Nascer nas prisões: impacto social

A análise foi feita a partir de uma série de casos provenientes de um censo nacional, realizado entre agosto de 2012 e janeiro de 2014. De acordo com a pesquisa, 31% das mulheres encarceradas são chefes de família. Foram ouvidas 241 mães e 200 grávidas, sendo que 45% com menos de 25 anos de idade, 57% de cor parda, 53% com menos de oito anos de estudo e 83% com mais de um filho. O acesso à assistência pré-natal foi inadequado para 36% das mães. Durante o período de hospitalização, 15% afirmaram ter sofrido algum tipo de violência (verbal, psicológica ou física).

“Visitamos todas as prisões femininas de todas as capitais e regiões do Brasil que recebem grávidas e mães. Verificamos que foi baixo o suporte social e familiar recebido, e foi frequente o uso de algemas na internação para o parto, relatado por mais de um terço das mulheres. Piores condições da atenção à gestação e ao parto foram encontradas para a mães encarceradas em comparação as não encarceradas, usuárias do SUS. O estudo mostrou também que havia diferença na avaliação da atenção recebida durante a internação para o parto de acordo com a condição social das mães. “Foi menor a satisfação para as pobres, as de cor de pele preta ou parda”, relatou a pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), Maria do Carmo Leal, que coordenou o estudo ao lado da pesquisadora Alexandra Roma Sánchez.

Estima-se que haja dez milhões e duzentas mil pessoas presas no mundo, dos quais as mulheres são uma minoria, embora com a participação crescente nesse contingente de pessoas detidas. Os principais motivos que levam as mulheres à prisão são crimes relacionados ao tráfico de drogas e crimes contra o patrimônio, como estelionato e roubo, respectivamente 21% e 9,7% no Brasil. Entre 2005 e 2014, houve um aumento de 118% da população carcerária feminina brasileira.

Contexto

Na maioria dos estados brasileiros, a mulher grávida é transferida no terceiro trimestre de gestação de sua prisão de origem para unidades prisionais que abriguem mães com seus filhos, geralmente localizadas nas capitais e regiões metropolitanas. Essas mulheres são levadas ao hospital público para o parto e retornam à mesma unidade onde permanecem com seus filhos por um período que varia de seis meses a seis anos: a maioria entre seis meses e um ano. Depois desse período, geralmente as crianças são entregues aos familiares maternos/paternos, ou, na ausência destes, vão para abrigos e a mãe retorna à prisão de origem.

Documentário

Com base no estudo e entrevistas com mães e profissionais de saúde realizadas durante a pesquisa, a Fiocruz produziu o documentário Nascer nas prisões, que será lançado brevemente. O filme sairá pelo Selo Fiocruz Vídeo e tem direção de Bia Fioretti.

Confira abaixo mais um trailer do documentário.

Nascer nas prisões: gestar, nascer e cuidar

“Não há solução mágica contra as drogas”, afirma especialista da Fiocruz

Em entrevista para a Agência Fiocruz de Notícias (AFN), o coordenador-executivo do Programa Institucional Álcool, Crack e Outras Drogas da Fundação Oswaldo Cruz, Francisco Netto, apresentou um panorama geral da questão da redução de danos no Brasil e na América Latina.  Ele analisou também a situação que tem se desenrolado na Cracolândia, em São Paulo. De acordo com Netto, não há solução mágica para o uso problemático de drogas: a saída é a garantia de direitos, o acesso ao cuidado e a inserção social.

A conversa aconteceu durante o Seminário Internacional: Cenários da Redução de Danos da América Latina, que foi realizado nos dias 29 e 30 de maio, na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), no Rio de Janeiro. O evento foi dedicado à troca de experiências e reflexões sobre a redução de riscos e danos associados ao uso problemático de drogas. No primeiro dia de encontro foram debatidas as novas práticas e o contexto histórico da redução de danos no continente. Ao final do seminário, que contou com a presença de especialistas de diversos países da América Latina, foi divulgada a Carta de Manguinhos, abordando a situação atual das políticas de redução de danos e suas interfaces na América Latina.

Como o Programa Institucional Álcool, Crack e outras Drogas, da Fiocruz, enxerga a questão das drogas atualmente?

Francisco Netto: A realidade global, e também nacional, é que há uma expressiva prevalência do uso de drogas lícitas e ilícitas. Pessoas usam substâncias que alteram a consciência. Isso é uma realidade e não tem como fugir dela. Não é factível que todas as pessoas deixem de usar substâncias. Então um dos objetivos do programa é apoiar ações que reduzam os danos associados ao uso, ou seja, que aquelas pessoas que não querem ou podem parar de usar estejam expostas a menos riscos e danos decorrentes do uso prejudicial.

Como os países com participantes no Seminário Internacional lidam com o problema?

Francisco Netto: Em todos o uso de álcool é a maior questão. A situação do uso de cocaína é importante, particularmente o uso de cocaína fumável por pessoas em situação de extrema vulnerabilidade, que no Brasil é majoritariamente o crack. Há diferenças entre os países, mas todos lidam de alguma forma com esta questão. A verdade é que nem eles nem nenhum estado ou cidade brasileira vive uma situação parecida com o que acontece em São Paulo, onde existe uma concentração grande em um único território, a área central cidade, no bairro da Luz. Há uma maior dispersão das cenas de uso, em diferentes graus. O problema de uso de drogas é complexo e a solução nunca pode ser dada de forma simples. Não existe uma solução mágica para o problema. Nenhum país conseguiu ter uma solução simples. O caminho que a gente acredita e defende no Programa Institucional Álcool, Crack e Outras Drogas e que compartilhamos com outros profissionais de outros países é a lógica do cuidado e da inserção social. Pensamos o cuidado entendendo que algumas das pessoas não vão conseguir parar de usar drogas e vão necessitar de cuidados e estratégias de inserção e proteção, porque o uso de substâncias psicoativas pode implicar em riscos e danos àquela pessoa.

Qual país teve pelo menos uma redução mínima dos danos?

Francisco Netto: Os lugares onde houve uma redução de danos a relação do uso de crack foi em São Paulo e Recife, com o Programa De Braços Abertos e Atitude, respectivamente. Em São Paulo, na gestão anterior, havia um programa que pensava em trazer moradia, geração de renda e outros tipos de elementos de inserção social para os usuários. Há pesquisas que indicam que houve uma redução significativa no uso de substâncias durante o programa, assim como em Recife com o Atitude. Em contrapartida, os meios que têm sido usados atualmente em São Paulo são completamente ineficazes no ponto de vista da saúde, de tentar evitar o uso com repressão e internações compulsórias em massa, chegando ao ponto de derrubar muros com pessoas ainda dentro das casas, sendo atingidas por escombros. Havia um caminho e um avanço pela lógica da inserção social, da garantia de moradia e da garantia dos direitos dessas pessoas.

Além do programa feito na gestão anterior em São Paulo e em Recife, existe, em algum outro lugar, um programa que deu certo?

Francisco Netto: Os países europeus e os países norte-americanos têm experiências bem interessantes. Há uma diferença porque lá a substância que é mais usada e que gera um impacto maior à saúde é a heroína, que não está significativamente presente aqui no Brasil e na maioria dos países da América Latina, exceto a Colômbia e México. O caminho construído nos países europeus, assim como no Canadá,  segue a linha do que nós acreditamos. Eles formularam que, para as pessoas que não conseguem parar de usar, a melhor forma para poder reduzir os danos do uso é garantir que o Estado possa acompanhar as pessoas. Ou seja, há salas de uso seguro, que o Estado disponibiliza para as pessoas, o que garante que não haja overdoses e transmissão de doenças por seringas contaminadas. Isso garante também que haja uma diminuição muito grande da transmissão de doenças e, na verdade, é esse o caminho que acreditamos ser bom. Obviamente, entendemos que quando uma pessoa quer parar de usar uma droga é necessário – e a gente tem que ter sempre em mente isso -, diversos procedimentos e instrumentos que ajudem o indivíduo a parar de usar a droga.

Vimos a Cracolândia, uma área degradada, que agora sofre de interesses da especulação imobiliária. E o problema se espalhou para 23 pontos. Aqui no Rio de Janeiro também vemos. Qual a solução?

Francisco Netto: Qualquer um que afirmar que existe uma solução simplista não estará falando a verdade. Do nosso ponto de vista, são ações de cuidado e garantia de direitos que devem ser implementadas. De forma mais ampla, devemos reduzir desigualdades e reduzir a vulnerabilidade social dessas pessoas. O que se fez recentemente em São Paulo não vai acabar com a situação no bairro da Luz. Essas pessoas certamente vão se reagrupar – não muito longe de onde estavam. Você pode se preocupar em fechar um quarteirão e logo outra parte próxima dali vai acabar se configurando como novo espaço de uso. Esse tipo de ação só serve para fazer com que certas áreas ganhem valorização imobiliária. Então, não tem uma preocupação com a saúde das pessoas e não tem preocupação com a sociedade. Porque na verdade não se está garantindo que as pessoas em situações de vulnerabilidade estejam melhores. É a partir de um olhar de cuidado, da saúde, que a gente tem que encarar a questão de drogas, não é por meio de repressão nem de uma lógica criminalizante que conseguiremos resolver o problema. Então, temos que entrar com uma lógica de inserção social dessas pessoas, e não de afastar. Não se pode fazer limpeza social que tire as pessoas de nossas vistas, isso definitivamente não resolve em nada o problema.

Coletânea traz panorama das políticas de controle do HIV no Brasil e em Moçambique

Uma reflexão menos cuidadosa pode induzir à falsa impressão de que a epidemia de HIV/Aids está sob controle a ponto de não chamar mais a atenção dos países como outrora. Entretanto, se o objetivo de acesso ao tratamento a 15 milhões de pessoas soropositivas até 2015 foi plenamente alcançado, novas metas se impõem. “O novo desafio é o chamado ‘90-90-90’, que inclui 90% das pessoas vivendo com HIV conhecedoras do seu estado; 90% de todas as pessoas com diagnóstico de infecção pelo HIV recebendo terapia antirretroviral; e 90% de todas as pessoas que recebem terapia antirretroviral atingindo a supressão viral”, afirmam Nair Teles, Jairo Jacques da Matta e Wanda Espírito Santo, pesquisadores do Departamento de Direitos Humanos, Saúde e Diversidade Cultural da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) e organizadores do livro Políticas de Controle do HIV/Aids no Brasil e em Moçambique, lançamento da Editora Fiocruz.

Apesar dos avanços no enfrentamento do HIV/Aids, as disparidades entre as regiões permanecem significativas. A África subsaariana registrou conquistas importantes nos últimos anos, como aumento de cobertura com a introdução da terapia antirretroviral, redução do número de novas infecções e diminuição da mortalidade por HIV/Aids. Contudo, “o continente do qual Moçambique faz parte continua sendo a área mais afetada pelo HIV, pois aí residem mais de dois terços das pessoas vivendo com a doença”, dizem os organizadores do livro. Moçambique é o terceiro país com maior taxa de soroprevalência estimada entre a população adulta, atrás apenas de Lesoto e Suazilândia.

Destaca-se que o enfrentamento do HIV/Aids compõe os planos de combate à miséria do governo moçambicano, “pois os altos níveis de soroprevalência estão presentes em áreas onde a pobreza também apresenta elevados índices”. Além disso, as políticas de saúde precisam considerar as questões étnicas e tribais, com suas respectivas expressões culturais e religiosas, que constituem importantes elementos no cotidiano dos indivíduos. “Sobretudo no que diz respeito aos temas relacionados ao HIV/Aids, que remetem a valores e comportamentos conjugais e sexuais, ensejando práticas sociais referentes a mitos e tabus que envolvem questões ligadas a gênero, relações intergeracionais e de trabalho”, assinalam os organizadores.

Quanto às iniciativas brasileiras voltadas para a redução do HIV/Aids, elas são positivamente reconhecidas em âmbito mundial, contando com a participação do Estado, da sociedade civil e da comunidade científica. O país, por exemplo, disponibiliza a terapia antirretroviral para todos os pacientes assim que a doença é diagnosticada. No entanto, “o índice de novos infectados no Brasil subiu 6% entre 2005 e 2014, tendência contrária a verificada na maioria dos países”, alertam os organizadores.

Na passagem do século 20 para o 21, a epidemia de HIV/Aids no país começou a adquirir diferentes contornos, expandindo-se nas regiões Norte e Nordeste; em indivíduos acima de 50 anos, notadamente heterossexuais masculinos; entre jovens de 15 a 24 anos; e também entre mulheres, atingindo, em particular, aquelas em situação de pobreza. Em 2014, o Brasil foi responsável por 43% do número de pessoas vivendo com HIV e por quase 40% das mortes relacionadas à Aids no continente latino-americano.

Políticas de Controle do HIV/Aids no Brasil e em Moçambique descortina os distintos contextos e experiências dos dois países, mas apresenta também as relações entre eles, que não são de agora. A Fiocruz tem um escritório regional em Moçambique, além de diversas parcerias com instituições do país africano. E o livro publicado pela Editora Fiocruz é mais um dos frutos dentro desse processo de colaboração mais amplo. A obra é resultado de uma das várias atividades previstas no âmbito de uma cooperação técnica entre a Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane, de Moçambique, e a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz).

Assinada por docentes de ambas as instituições, a coletânea aborda temáticas variadas consideradas relevantes pelas respectivas nações. Entre essas temáticas destacam-se as relações sociais e comunitárias, a participação social e as características dos sistemas e das políticas de saúde inerentes a Brasil e Moçambique. Os capítulos “proporcionam um panorama daquilo que em ambos os países é hoje prioritário e que, em certa medida, dialogam entre si. Em ambos há um eixo comum: a certeza de que a saúde é um direito humano inalienável”, resumem os organizadores.

Fiocruz forma agentes populares para controle do Aedes

A segunda edição da Expedição Manguinhos, do Curso de Formação de Agentes Populares de Saúde e Vigilância, promovido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), capacitou jovens, adultos e idosos de comunidades do Rio de Janeiro para combaterem focos do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya, e disseminar informações sobre o controle das doenças em seus territórios. Moradores de Manguinhos, Benfica e Complexo do Alemão participaram da iniciativa realizada de 13 a 17 de fevereiro, na Casa do Trabalhador, em Manguinhos.

Utilizando o método ‘cienciarte’, as aulas abordaram as características do vetor e das doenças, entre outras questões (Foto: Rita Machado)

“O controle do Aedes depende do engajamento da população. De um lado, muitos criadouros se encontram no ambiente doméstico. De outro, existem questões importantes relativas ao poder público, como o abastecimento de água e a coleta regular de lixo. A informação é fundamental para mudar essa realidade, e os agentes populares de saúde e vigilância são multiplicadores, atuando para divulgar ações que qualquer cidadão pode realizar e para o empoderamento das comunidades em suas demandas junto ao poder público”, ressaltou Luciana Garzoni, pesquisadora do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos do IOC/Fiocruz, que coordenou as atividades juntamente com Tania Araújo Jorge, chefe do mesmo Laboratório, além de Ricardo Malheiros, estudante de doutorado no Programa de Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde do IOC/Fiocruz.

A partir da metodologia ‘cienciarte’, que trabalha com a interface entre a ciência e a arte, promovendo a criatividade e a inovação por meio da integração entre os métodos científico e artístico de apreensão e transformação do mundo, o curso abordou aspectos importantes para o combate às doenças. Em oficinas, aulas teóricas e atividades práticas foram discutidas características do vetor e dos agravos, determinantes ambientais e sociais para a manutenção do Aedes no território de Manguinhos, o papel da mídia na comunicação relacionada ao tema e a produção audiovisual comunitária em saúde, entre outros tópicos.

Além de observar o Aedes nas suas diferentes fases de vida, da larva até o inseto adulto, os alunos realizaram um mapeamento de possíveis focos do mosquito em Manguinhos, utilizando como ferramenta um aplicativo desenvolvido pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz). Os participantes também montaram uma tabela de checagem semanal contendo os possíveis criadouros domésticos do Aedes. Como base, foi utilizado o material informativo do projeto 10 Minutos Contra o Aedes, elaborado por pesquisadores e profissionais de comunicação do IOC/Fiocruz. A produção de curtas-metragens a partir do registro audiovisual do curso e uma oficina de linguagem musical dialógica também fizeram parte da programação.

Multiplicação do aprendizado

Moradora de Manguinhos, Sílvia de Souza Cardoso, de 18 anos, disse que as atividades chamaram sua atenção para a importância da atuação da população no combate às doenças. “Durante o curso, encontramos muitos possíveis focos na comunidade, onde coletamos água parada e observamos a presença de larvas do mosquito. Essa atividade despertou em mim uma atenção ainda maior para esse problema de saúde pública. Vou retirar rapidamente do ambiente qualquer objeto que traga perigo” afirmou a jovem. Também morador da comunidade, Jonathan Vieira da Silva, de 19 anos, considerou que a integração entre ciência e arte tornou os conteúdos mais atrativos, o que é importante para a mobilização. “Antes do curso, tinha muitas garrafas no quintal da minha casa, que acumulavam água quando chovia. Com as aulas, aprendi sobre esse perigo e acho que posso contribuir também avisando para outras pessoas da comunidade, para que elas se mobilizem para prevenir as doenças”, comentou ele. A professora Angelita dos Santos Pereira, de 45 anos, também ressaltou a vontade de disseminar o aprendizado. “Por exemplo, eu não sabia que os ovos do mosquito podem sobreviver por até um ano no ambiente seco. Por isso, não basta só despejar a água acumulada, é preciso lavar os potes com esponja e detergente. Como professora, posso levar essa informação para as crianças”, destacou ela, que mora em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, e trabalha em Manguinhos.

O curso contou com apoio do Conselho Gestor Intersetorial de Manguinhos, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), da Coordenadoria de Cooperação Social da Fiocruz, da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, da escola municipal Ciep Juscelino Kubitschek, da Casa do Trabalhador de Manguinhos e do jornal Fala Manguinhos. A equipe do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos e estudantes do Programa de Vocação Científica da Fiocruz (Provoc) e de Programas de Pós-graduação do IOC/Fiocruz e da UFF participaram da elaboração e da execução das atividades.03

Cadernos de Saúde Pública debate vigilância em tuberculose

O perfil do volume 31, número 4, da revista Cadernos de Saúde Pública está muito interessante. A começar pela tuberculose, que tem no editorial O Brasil precisa de um sistema nacional de vigilância de óbito por tuberculose? a defesa da implementação de sua vigilância nos moldes dos programas bem-sucedidos de vigilância de óbitos infantis, mulheres em idade fértil e causas mal definidas. Já na seção Perspectivas, o editor associado, Mário Scheffer, discute as implicações da abertura para o capital estrangeiro proporcionada pela Emenda Constitucional recém-aprovada. As dificuldades na pesquisa qualitativa, e sua qualidade, são trabalhadas em artigo coautorado pela pesquisadora da Ensp Maria Cecília Minayo, editora-chefe do periódico Ciência & Saúde Coletiva. Confira os demais destaques da publicação.

Em Percepção de pesquisadores médicos sobre metodologias qualitativas, Stella Regina Taquette e Adriana de Oliveira Rodrigues, ambas da Uerj, junto com Maria Cecília Minayo (Ensp/Fiocruz), buscaram verificar a percepção de médicos sobre o método qualitativo de pesquisa. Por meio de entrevistas com questões sobre o perfil acadêmico do médico e perguntas abertas a respeito do método, foram entrevistados 42 profissionais, sendo 18 com experiência no método qualitativo e 24 com o quantitativo. Os resultados evidenciaram que o conhecimento sobre o qualitativo é quase nulo entre os pesquisadores ‘quantitativistas’, os quais não valorizam a pesquisa qualitativa, embora alguns percebam que seria importante ter uma postura mais compreensiva na prática clínica. Outros só a veem como subsidiária ao quantitativo. As principais dificuldades da maioria são: falta de formação, tempo longo despendido nos estudos empíricos e dificuldade de publicação. Todos os entrevistados criticaram o mau uso do método, e os ‘quantitativistas’ ressaltaram, como problema, sua não reprodutibilidade. As autoras concluem que ampliar o uso do método qualitativo por médicos exige investimento na formação desde o início da graduação e participação em projetos de pesquisa.

O artigo Doença de Alzheimer: estudo da mortalidade no Brasil, 2000-2009, de Jane Blanco Teixeira e Mariza Miranda Theme Filha (Ensp/Fiocruz), acompanhadas de Paulo Roberto Borges de Souza Junior (Icict/Fiocruz) e Joelma Higa (PUC-SP), avaliou a evolução da mortalidade por doença de Alzheimer no Brasil, a partir do desenvolvimento de um estudo descritivo com os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde, no período de 2000 a 2009. Os autores calcularam as taxas de mortalidade padronizadas por idade e sexo nas capitais brasileiras e observaram a variação percentual por meio de ajuste por regressão exponencial. Como conclusão, destacaram o aumento da mortalidade por doença de Alzheimer no contexto das doenças crônicas como um indicador aproximado da prevalência da doença na população, e apontaram estratégias de assistência ao cuidado dos portadores de doenças de longa duração.

Confira a íntegra do volume 31, número 4, da revista Cadernos de Saúde Pública.