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Consumo de álcool causa 12 mortes por hora no país, diz Fiocruz: Em 2019 foram registrados 104,8 mil óbitos

Um estudo divulgado hoje (5) pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostra que o consumo de álcool causa, em média, 12 mortes por hora no país. O levantamento, chamado de Estimação dos custos diretos e indiretos atribuíveis ao consumo do álcool no Brasil, foi feito pelo pesquisador Eduardo Nilson, do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura (Palin) da instituição, a pedido das organizações Vital Strategies e ACT Promoção da Saúde.

São levadas em conta as estimativas de mortes atribuídas ao álcool da Organização Mundial da Saúde (OMS). Os números totais são de 104,8 mil mortes em 2019 no Brasil. Homens representaram 86% das mortes: quase a metade relacionam o consumo de álcool com doenças cardiovasculares, acidentes e violência. Mulheres são 14% das mortes: em mais de 60% dos casos, o álcool provocou doenças cardiovasculares e diferentes tipos de câncer.

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RJ: médicos receberão manual sobre obesidade e doença cardiovascular. Publicação usa linguagem acessível para atualização de conhecimentos

A Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj) lança nesta quarta-feira (1º) o manual Obesidade e Doença Cardiovascular, destinado a médicos da rede pública de saúde. A publicação é inédita e será lançada durante o 41º Congresso de Cardiologia da Socerj, que começa hoje (30).

O diretor do Departamento de Hipertensão da Socerj e um dos editores do manual, Fábio de Souza disse à Agência Brasil que o manual traz conteúdos práticos, principalmente para médicos no início da formação, sobre a obesidade que assume proporções epidêmicas no país.

Existe hoje um grande número de pessoas que convivem com a obesidade e, por isso, é preciso que, além dos cardiologistas, os demais profissionais da área médica estejam cientes disso e consigam levar informações sobre a questão “da forma mais digerível possível”, afirmou Souza.

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Campanha da OMS alerta sobre malefícios do tabaco ao meio ambiente. Fumo provoca quatro vezes mais doenças coronarianas

“Precisamos de comida, não de tabaco”, reforça o tema, em português, da campanha da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o Dia Mundial sem Tabaco, comemorado nesta quarta-feira (31). A campanha chama a atenção para a sobrevivência humana e para os impactos negativos do tabaco para o meio ambiente. Em entrevista à Agência Brasil, o diretor executivo da Fundação do Câncer, cirurgião oncológico Luiz Augusto Maltoni, reconheceu que esse é um desafio imenso ainda.

“Porque a gente sabe que o Brasil é um grande produtor de tabaco, principalmente na Região Sul. E é difícil sensibilizar aquela população do cultivo de que é importante mudar a cultura para outros tipos de plantio. Sobretudo porque naquela região existem incentivos por parte dos governos locais. Fica difícil mudar uma cultura que vem, muitas vezes, de gerações de famílias que cultivam tabaco. É um trabalho que ocorre não só no Brasil, mas no mundo todo e a OMS pegou isso como uma bandeira importante no contexto todo do controle do tabaco”, disse o médico.

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Por que risco de infarto aumenta entre mulheres na menopausa

As doenças cardíacas são a principal causa de morte de mulheres em todo o mundo, mas permanecem com barreiras importantes na hora do diagnóstico e do tratamento, alerta uma reconhecida cardiologista.

Para a médica Susan Connolly, consultora do Hospital Universitário Galway, na Irlanda, é fundamental que as mulheres estejam cientes dos riscos das doenças cardíacas.

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Estudo sugere que comer verduras e legumes não é suficiente contra risco de doenças cardíacas

Legumes e verduras são muito bons para sua saúde. Se você já os inclui em sua dieta diária, parabéns. Se ainda não, é bom começar logo.

A má notícia é que, de acordo com um recente amplo estudo, pode ser que a ingestão de vegetais em grande quantidade não reduza o risco de você ter um ataque do coração ou um derrame.

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Estudo alerta sobre potenciais riscos à saúde causados pelo estresse térmico

Um estudo inédito conduzido por pesquisadores da Fiocruz alerta sobre os potenciais riscos de aumento da mortalidade por doenças cardiovasculares e respiratórias devido ao estresse térmico, um termo técnico para definir o impacto do aumento das temperaturas no corpo humano. Os dados constam das análises sobre saúde contemplados na componente de Impactos, Vulnerabilidade e Adaptação da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), cuja elaboração é coordenada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). A pesquisadora Sandra Hacon, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), coordena o projeto.

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Metade dos adultos com ansiedade ou depressão em São Paulo apresenta dor crônica

Há uma forte relação bidirecional entre ansiedade ou depressão e algumas doenças físicas crônicas. Pesquisadores do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo mensuraram essa relação em pessoas adultas residentes na Região Metropolitana de São Paulo e os dados são alarmantes.

A dor crônica foi a mais comum entre os indivíduos com transtorno de humor – como depressão e bipolaridade –, ocorrendo em 50% dos casos de transtornos de humor, seguidos por doenças respiratórias (33%), doença cardiovascular (10%), artrite (9%) e diabetes (7%).

Os distúrbios de ansiedade também são largamente associados com dor crônica (45%) e doenças respiratórias ( 30%), assim como com artrite e doenças cardiovasculares (11% cada). A hipertensão foi associada a ambos os distúrbios em 23%. O resultado do estudo é que indivíduos com transtornos de humor ou de ansiedade tiveram duas vezes mais chance de apresentar doenças crônicas.

O artigo, publicado no Journal of Affective Disorders, faz parte do São Paulo Megacity Mental Health Survey, levantamento concluído em 2009 no âmbito do Projeto Temático “Estudos epidemiológicos dos transtornos psiquiátricos na Região Metropolitana de São Paulo: prevalências, fatores de risco e sobrecarga social e econômica”, financiado pela FAPESP. Ao todo, foram entrevistados 5.037 moradores da Região Metropolitana de São Paulo, com 18 anos ou mais (Mais informações sobre São Paulo Megacity Mental Health Survey em agencia.fapesp.br/15215).

Os dados mostram a necessidade de maior atenção ao tema. “Já era esperado que houvesse uma relação forte entre essas doenças. O problema é que a prevalência de ansiedade e depressão em São Paulo é muito alta por causa do estresse. Com esses números precisamos atentar para a necessidade de passar a informação para o médico que está na linha de frente, no atendimento primário. É preciso reconhecer a comorbidade de ansiedade e depressão com as doenças crônicas que não se resume apenas à dor ”, disse Laura Helena Andrade, coordenadora do Núcleo de Epidemiologia Psiquiátrica do IPq e uma das autoras do estudo.

Para entender a magnitude do problema é preciso fazer uma conta simples. Dos cerca de 11 milhões de moradores adultos da Região Metropolitana de São Paulo, 10%, ou 1,1 milhão de pessoas, tiveram depressão nos últimos 12 meses. Já os transtornos de ansiedade acometem mais de 2,2 milhões de paulistanos, sendo que 990 mil apresentam dor crônica também. Seguindo esse cálculo, no total, mais de 2 milhões de pessoas convivem com depressão ou ansiedade associadas à dor crônica na Região Metropolitana de São Paulo.

Ante esse cenário, os pesquisadores afirmam no estudo a necessidade clara de tornar o diagnóstico e o tratamento da saúde mental uma prioridade no sistema de saúde. Andrade alerta ainda que o esperado é que a prevalência dessas doenças aumente nos próximos anos na Região Metropolitana de São Paulo.

“Ao pesquisar a questão de saúde das cidades é possível notar um aumento das prevalências de depressão e ansiedade, muito provavelmente ligado à alteração de estilo de vida na metrópole. Então é possível esperar que haja um aumento também em todo o pacote, não só de depressão e ansiedade, mas também de outras doenças como infarto, acidente vascular cerebral, diabetes, hipertensão e dor”, disse.

Relação antiga

Estudos anteriores já haviam mostrado de forma consistente a associação entre doenças crônicas e transtornos de humor e ansiedade. Mas ainda não se sabe porque a relação entre dor crônica e ansiedade ou depressão é tão intensa, pois os mecanismos fisiopatológicos da dor crônica são pouco conhecidos.

A comorbidade pode ser explicada a partir das limitações comportamentais devido a doenças físicas, que restringem o indivíduo a exercer atividades gratificantes.

Andrade explica que, assim como as células do sistema de defesa são ativadas quando há uma invasão por um agente patógeno, o estresse psicológico em uma situação ambiental – como, por exemplo, viver em uma cidade como São Paulo – acaba ativando o sistema inflamatório.

“Aumento da inflamação, lesões do endotélio – camada de célula presente em todos os vasos sanguíneos – e danos oxidativos são algumas vias que podem estar relacionadas à ocorrência da comorbidade. Consequentemente, é imperativo que sintomas depressivo-ansiosos sejam tratados agressivamente em pacientes com condições médicas crônicas, pois sua resolução pode ser acompanhada por melhora geral sintomática e uma importante diminuição no risco de mortalidade e complicações”, disse Andrade.

No entanto, de acordo com a pesquisadora, ainda é preciso fazer mais pesquisa enfocando a interação entre depressão, ansiedade e doenças físicas crônicas para elucidar os mecanismos pelos quais se originam as doenças.

O artigo Dual burden of chronic physical diseases and anxiety/mood disorders among São Paulo Megacity Mental Health Survey Sample, Brazil (http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0165032717308364), de Melanie S. Askari, Laura Helena Andrade, Alexandre Chiavegatto Filho, Camila Magalhães Silveira, Erica Siu, Yuan-Pang Wang, Maria Carmen Viana, Silvia S. Martins, pode ser lido em http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0165032717308364.

Droga para controlar colesterol protege cérebro durante a sepse

Estudo revela que a sinvastatina pode proteger cérebro de pacientes em quadro de infecção generalizada denominado sepse

Além de baixar os níveis de lipídeos no sangue e prevenir doenças cardiovasculares, a sinvastatina também pode proteger o cérebro exposto à sepse

Medicamento da classe das estatinas, a sinvastatina é mundialmente utilizada para controle do “colesterol ruim”, o LDL. Mas, além de baixar os níveis de lipídeos no sangue e prevenir doenças cardiovasculares, a droga também pode proteger o cérebro exposto à resposta inflamatória generalizada à infecção, ou seja, sepse. Esse foi um dos principais achados de estudo realizado por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP, liderado pela professora Maria José Alves da Rocha.

Na sepse, manifestações graves podem atingir todo o organismo e levar o paciente à morte. Muitos têm sido os esforços na busca por novas estratégias de tratamento, mas a mortalidade em unidades de tratamento intensivo continua alta; no Brasil, alcança os 70%.

Essa resposta inflamatória pode atingir diferentes tecidos e órgãos. Dependendo da gravidade, compromete também estruturas cerebrais, com danos em áreas responsáveis por importantes funções orgânicas. Os alvos dos estudos da equipe da USP em Ribeirão Preto foram o córtex pré-frontal e o hipocampo, responsáveis pela cognição – controle da atenção, memória, linguagem, raciocínio e compreensão.

Já a sinvastatina, que possui também propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, tem sido testada não apenas em doenças que afetam o sistema cardiovascular mas, também, o sistema nervoso central, como os acidentes vasculares encefálicos. Por isso, os pesquisadores decidiram verificar se os pacientes que usam sinvastatina estariam de alguma forma protegidos dos danos neuronais que podem acontecer durante a sepse.

Em estudo anterior, a equipe observou que a sinvastatina diminuiu a produção de óxido nítrico (substância liberada pelas células periféricas em condições como a sepse e que pode causar morte de neurônios e comprometer funções do organismo).

Como não se conhece a ação antioxidante da sinvastatina na sepse, pois pacientes que fazem uso crônico da droga interrompem a medicação para tratar a doença inflamatória, os pesquisadores, utilizando modelo animal, simularam uma situação clínica na qual o paciente tratado da sepse continua usando a sinvastatina.

As análises de amostras de sangue, tecido cerebral e imagens das regiões do córtex pré-frontal e do hipocampo (áreas dos cérebros dos animais) não só confirmaram os efeitos antioxidante e anti-inflamatório nas células, mas mostraram que a sinvastatina reduz alterações observadas nessas áreas do cérebro após a sepse.

Cuidar da sepse sem suspender sinvastatina

O efeito neuroprotetor da droga que controla colesterol em caso de sepse foi observado em experimentos com ratos de laboratório, mas permite sugerir a não interrupção da sinvastatina naqueles pacientes que já fazem uso da medicação enquanto recebem cuidados médicos. Para  a professora Maria José, ao retirar essa droga, o médico “estaria removendo um neuroprotetor em potencial”.

No estudo, foi constatado que, 48 horas após a sepse, o efeito antioxidante da sinvastatina ainda protegia as estruturas cerebrais responsáveis pela cognição. E após dez dias, os animais sobreviventes não apresentavam sintomas de alterações cognitivas, especialmente déficits de memória.

Maria José afirma que novos estudos são necessários para investigar mais profundamente quais são as alterações presentes nos cérebros desses sobreviventes. Adianta também que seu grupo trabalha para desvendar os mecanismos da proteção neuronal da sinvastatina contra as alterações provocadas pela sepse.

Contudo, a professora acredita que pacientes com doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, possam ser beneficiados com o uso da sinvastatina. Porém, outros “estudos experimentais e clínicos precisam comprovar esta hipótese”, diz. Vale lembrar ainda que o uso prolongado e em altas doses da droga apresenta efeitos colaterais, entre eles, o risco de insuficiência renal.

O trabalho foi desenvolvido pelo doutorando Carlos Henrique Rocha Catalão e os resultados parciais desse estudo foram publicados na revista científica Molecular Neurobiology.

Rita Stella, de Ribeirão Preto

Mais informações: e-mail mjrocha@forp.usp.br

Pet Terapia beneficia saúde dos idosos em contato com animais

A Terapia Assistida por Animais, conhecida como Pet Terapia, é um tratamento auxiliar para diversos tipos de doenças

Foto: via Pixabay / CC / Public Domain

A Terapia Assistida por Animais (TAA), popularmente conhecida como Pet Terapia, é um tratamento auxiliar para diversos tipos de doenças e comprovadamente desencadeadora de “bem-estar, saúde emocional, física, social e cognitiva” em pacientes psiquiátricos, hospitalizados e idosos moradores em instituições. Nesse tratamento, o animal é “o principal agente da terapia, que funciona como ponte de ligação entre o tratamento e o paciente”, afirmam os autores de artigo recém-publicado na Revista de Medicina. O artigo é resultado de um estudo realizado em uma casa de repouso em Vila Velha, no Espírito Santo, com 25 idosos hipertensos, no intuito de avaliar a influência dessa terapia na pressão arterial dos mesmos, no período imediato “às alterações físicas, cognitivas, doenças agudas ou crônicas, perda do cônjuge ou filho, perda de apoios sociais, pobreza, gerando dependência na realização das atividades da vida diária e locomoção”.

A Pet Terapia é uma técnica terapêutica que conta com os animais como apoio para o tratamento de pessoas portadoras de problemas de saúde, “estimulando tanto o aspecto físico quanto o emocional, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas e acelerar os processos de recuperação”, afirmam os autores. Essa terapia é indicada, sobretudo, como alternativa que dispensa medicamentos para a hipertensão, doença comum nos idosos, responsável por grande parte de óbitos no mundo. Os animais, de acordo com esse estudo, mostram-se verdadeiros antídotos contra o estresse e a ansiedade, fatores que muito contribuem para o surgimento das doenças cardiovasculares.

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O tratamento aposta no estímulo sensorial do tato para despertar a autoestima e a sensibilidade, na relação integradora das pessoas com os animais, seja falando com eles, seja tocando-os – é assim que a ansiedade, a frequência cardíaca e a pressão arterial diminuem. Os cachorros e os cavalos são os campeões quando o assunto é terapia com bichos para beneficiar seres humanos, segundo os autores, pois é “remédio” eficaz que auxilia na demência senil, no mal de Alzheimer, na esquizofrenia, na reabilitação de idosos, no tratamento para transtornos psicossociais, para crianças e adultos hospitalizados, e também na redução do colesterol, pressão sanguínea e estresse.

A pesquisa comportou sessões de TAA semanais, com duração de uma hora, durante quatro meses, e mostrou resultados bem positivos na amenização dos sentimentos de inutilidade, de incapacidade, da dor e da solidão que acometem, em geral, os idosos. Os autores citam outros estudos nos quais a terapia com animais aliou-se a atividades físicas como caminhadas e passeios, gerando benefícios físicos e emocionais, momentos de relaxamento e alegria, em uma integração de corpo e alma com os animais, o que propicia a redução da pressão arterial.

Foto: via Pixabay / CC / Public Domain

“A sensação de felicidade com a chegada dos animais era evidente com a presença de sorrisos notados em cada idoso. As sessões de TAA promoveram momentos de tranquilidade e descontração entre os idosos e toda a equipe de saúde participante.” A intenção dos autores, tendo em vista a comprovação dos benefícios da terapia, é abrir “a expectativa para a realização de outros semelhantes envolvendo um número maior de pacientes”, já que as pesquisas nessa área são poucas, para que se avalie a influência da TAA tanto na pressão arterial quanto “em outros fatores fisiológicos, como a função endócrina e sobre o alívio do estresse”.

O trabalho foi apresentado na 22ª Conferência Mundial de Promoção da Saúde.

Fernanda de Toledo Vieira é médica veterinária, mestre pela UFV, coordenadora do Projeto Bicho Solidário e docente da Universidade Vila Velha.

VIEIRA, Fernanda de Toledo et al. Terapia assistida por animais e sua influência nos níveis de pressão arterial de idosos institucionalizados. Revista de Medicina, São Paulo, v. 95, n. 3, p. 122-127, dez. 2016. ISSN: 1679-9836. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revistadc/article/view/111963. Acesso em: 02 jan. 2017.

Margareth Artur / Portal de Revistas da USP

Estudo aponta relação entre vitamina D e perfil da microbiota intestinal

Em artigo divulgado na revista Metabolism, pesquisadores da USP sugerem que concentração de vitamina D no sangue pode influenciar perfil da microbiota e risco cardiometabólico (foto> Ragesoss/Wikimedia Commons)

Um estudo brasileiro divulgado na revista Metabolism sugere que os níveis de vitamina D circulantes no organismo podem influenciar o perfil da microbiota intestinal e, consequentemente, o risco de desenvolver doenças cardiovasculares e metabólicas.

Como ressaltam os autores, o artigo apresenta apenas indícios sobre a existência dessa relação – o que ainda precisa ser confirmado por investigações mais aprofundadas.

“Já se sabia que a vitamina D é importante para a homeostase do sistema imune. O que nosso estudo acrescenta é que essa relação ocorre, pelo menos em parte, pelas interações com a microbiota intestinal”, afirmou Sandra Roberta Gouvea Ferreira Vivolo, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) e coordenadora da pesquisa apoiada pela FAPESP.

As conclusões estão baseadas na análise dos dados de 150 voluntários entre 20 e 30 anos (91% do sexo feminino) que estão cursando ou já concluíram a graduação em Nutrição. Como explicou Vivolo, essa pesquisa transversal é um desdobramento de um estudo maior do tipo longitudinal conhecido como Nutritionists Health Study (NutriHS), que acompanha desde 2013 os hábitos de vida de uma amostra específica de estudantes de Nutrição e nutricionistas.

“É oportuno avaliar nutricionistas, pois são indivíduos aptos a responder questionários técnicos, especialmente relacionados à alimentação. Além disso, são pessoas muito ligadas a questões de alimentação e saúde, o que pode influenciar o hábito alimentar”, disse Vivolo.

De acordo com a pesquisadora, o primeiro passo foi descobrir se existia uma relação entre ingerir uma quantidade maior de alimentos ricos em vitamina D e apresentar um maior nível do nutriente na circulação sanguínea.

“Essa associação pode parecer óbvia a princípio, mas não é. A literatura científica é controversa sobre o assunto, pois apenas 20% da vitamina D existente no organismo humano é proveniente da dieta. A quantidade ideal recomendada só é alcançada por meio da exposição ao sol – algo cada vez mais raro no meio urbano – ou pela ingestão de suplementos”, comentou Vivolo.

Após dosar a concentração do nutriente no sangue dos participantes e avaliar o padrão alimentar, o grupo concluiu que de fato havia uma associação entre maior ingestão de alimentos ricos em vitamina D e níveis circulantes mais elevados. As principais fontes alimentares na amostra foram: ovos, leite e seus derivados.

Com base nesses resultados, a população estudada foi estratificada em três grupos: o primeiro com níveis insuficientes de vitamina D; o segundo com concentrações intermediárias, dentro do mínimo recomendado; e o terceiro grupo com as concentrações mais altas, no qual estavam inseridos participantes que faziam uso de suplementos polivitamínicos.

O passo seguinte foi comparar o perfil de saúde dos três grupos, levando em conta fatores como índice de massa corporal (IMC), circunferência da cintura, pressão arterial, glicemia e sensibilidade à insulina.

“Em nenhum desses aspectos notamos diferença significativa. Observamos apenas que os participantes com maior nível de vitamina D circulante apresentavam no sangue uma quantidade menor de lipopolissacarídeos (LPS)”, contou Vivolo.

Como explicou a pesquisadora, as moléculas de LPS estão presentes na superfície de algumas bactérias do tipo Gram-negativas do trato intestinal. Vale ressaltar que grande parte das bactérias Gram-negativas são patogênicas, enquanto a maioria das Gram-positivas não o são – algumas delas são até mesmo consideradas benéficas para a saúde humana.

“Esse dado nos possibilita levantar a hipótese de que os indivíduos mais suficientes de vitamina D tenham uma composição mais saudável da microbiota intestinal – o que teria, por sua vez, um impacto benéfico no risco cardiometabólico”, avaliou.

Segundo Vivolo, a molécula de LPS é considerada imunogênica, ou seja, ela é capaz de induzir uma resposta inflamatória no organismo. Níveis sanguíneos mais altos dessa substância, portanto, favoreceriam o desenvolvimento de um estado de inflamação subclínica (crônica, de baixo grau e sistêmica), fator que tem sido associado em diversos estudos ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares e metabólicas, entre elas o diabetes.

“A composição da microbiota intestinal tem sido associada ao desenvolvimento de doenças – não apenas as infecciosas como também aquelas que têm relação com uma inflamação de pequeno grau. É possível que a vitamina D tenha alguma participação nesse processo, mas ainda é muito cedo para apontar uma relação de causa e consequência. Para isso, seria necessário fazer um estudo de intervenção, ou seja, comparar grupos que ingerem diferentes quantidades do nutriente por um longo período e observar o impacto na microbiota”, disse a pesquisadora.

Censo microbiano

Em busca de mais pistas que permitam comprovar a hipótese levantada, o grupo coordenado por Vivolo realizou uma espécie de censo bacteriano em amostras de fezes dos participantes do estudo. Por meio de técnicas de sequenciamento do DNA e auxílio de métodos estatísticos, o grupo conseguiu identificar, entre os trilhões de microrganismos presentes, os filos e os gêneros mais frequentes em cada grupo de voluntários.

“Em apenas alguns dos gêneros identificados observamos relevância estatística. Por exemplo, nos participantes com mais vitamina D foram menos abundante os gêneros Haemophilus e Veillonella – ambos de bactérias Gram-negativas. Por outro lado, esses mesmos voluntários tinham mais bactérias do gênero Coprococcus e Bifidobacterium – ambos de bactérias Gram-positivas”, comentou Vivolo.

Após ajustar a análise considerando fatores que podem enviesar os resultados, como sexo e idade dos participantes, além da estação do ano em que foi feita a análise (o que pode influenciar o nível de vitamina D em função da exposição solar), o que restou de mais significante, segundo Vivolo, foi a associação entre maior nível de vitamina D e maior abundância dos gêneros Coprococcus e Bifidobacterium, ambas consideradas benéficas para a saúde humana. As chamadas bifidobactérias são classificadas como probióticas, ou seja, favorecem uma flora intestinal mais saudável. Estudos indicam que elas ajudam a controlar o crescimento de bactérias nocivas e minimizam sintomas de alergias e inflamações.

“A análise dos resultados nos permite especular que a relação da vitamina D com a microbiota é um caminho de duas vias. Encontramos evidências tanto de que o nutriente pode interferir na composição da flora intestinal – uma vez que a vitamina D é uma espécie de guardiã do organismo favorecendo a homeostase do sistema imune – como também do oposto, ou seja, de que um determinado perfil de microbiota poderia influenciar o nível de vitamina D circulante. Análises longitudinais e de intervenção são necessárias para testar essas hipóteses”, afirmou Vivolo.

O artigo Gut microbiota interactions with the immunomodulatory role of vitamin D in normal individuals pode ser lido em: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0026049517300112.