Tag Archives: Diagnóstico

Cerca de 77 mil mulheres aguardam mamografia pelo SUS: Com 17 mil pessoas na fila, Santa Catarina está no topo do ranking

Em junho deste ano, 77.243 brasileiras aguardavam por uma mamografia no Sistema Único de Saúde (SUS). Santa Catarina é o estado com mais mulheres na fila de espera, cerca de 17 mil.  Em seguida, aparecem São Paulo (15 mil) e Rio de Janeiro (12,5 mil). Juntos, os três estados somam 56% do total de pacientes à espera do principal exame para detecção do câncer de mama. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (31) pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR).

Segundo a entidade, em alguns locais do país, o tempo de espera por uma mamografia na rede pública pode chegar a 80 dias. O exame, quando realizado em tempo hábil, permite a detecção precoce de alterações mamárias, aumentando as chances de tratamento bem-sucedido e reduzindo a necessidade de intervenções invasivas e onerosas. “Os números revelam parte da sobrecarga no SUS e devem ser levados em conta, especialmente pelos recém-eleitos nas eleições municipais, na formulação e manutenção de políticas de saúde pública”, avaliou o CBR.

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O brasileiro de 8 anos que dá palestras em Londres sobre autismo e TDAH

A uma plateia com 300 crianças de cinco a 11 anos em uma escola em Londres, um garoto conta como é ter o que ele chama de fizzy brain – uma mente “borbulhante” ou “acelerada”.

Quem fala a outras crianças é Noah Faria, de 8 anos, que escreveu um livro infantil sobre como é viver com autismo e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).

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‘Médicos diziam que eu não ia andar’: a primeira pessoa com Down a ser capa da Vogue

Quando a britânica Ellie Goldstein nasceu, em dezembro de 2001, os médicos disseram que ela nunca conseguiria andar ou falar devido à síndrome de Down.

Ela logo provou que eles estavam errados. Ellie fez história como a primeira modelo com Down a ser capa da Vogue.

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Por que tantos adultos estão tomando remédio para tratar TDAH?

Sendo eu uma mulher na casa dos 30 anos que frequentemente digitava “TDAH” no meu computador, algo intrigante ocorreu em 2021. Fui surpreendida por uma série de anúncios online, todos relacionados ao TDAH, ou seja, ao transtorno de déficit de atenção com hiperatividade.

Entre eles, uma avaliação gratuita de um minuto para determinar a possibilidade de eu possuir o distúrbio, uma oferta de um jogo digital destinado a “reativar” o meu cérebro e até mesmo um anúncio indagando se eu estava experimentando dificuldades no trabalho apesar dos meus esforços.

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Imagem destacada: acervo dos pesquisadores

Técnica baseada em inteligência artificial permite detectar a doença de Chagas usando imagens de celular

Pesquisadores brasileiros desenvolveram um algoritmo capaz de identificar o protozoário Trypanosoma cruzi em fotos de amostras de sangue obtidas com câmeras de dispositivos móveis. Método de baixo custo foi descrito na revista PeerJ e pode ser reproduzido

Quando o imunologista Helder Nakaya visitou o Instituto Evandro Chagas, em Belém (PA), em 2017, havia uma comoção porque um dos melhores microscopistas da entidade estava se aposentando à época. Com isso, grande parte daquele conhecimento que permitia identificar rapidamente e com precisão cepas do protozoário Leishmania se perderia.

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Diagnóstico de autismo: a alteração cerebral que pode ajudar a detectar o transtorno

O próprio nome do Transtorno do Espectro Autista (TEA) mostra o quão variadas podem ser as caraterísticas e os graus de alteração em algumas habilidades em pessoas assim diagnosticadas.

Acredita-se também que as causas do TEA sejam multifatoriais, envolvendo desde a genética ao contexto social.

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O que é depressão e como buscar ajuda e tratamento para você ou outras pessoas

“É assustador, mas comum que, não importa o que você diga sobre sua depressão, as pessoas não acreditam, a não ser que você pareça agudamente deprimido”, resumiu o escritor e jornalista americano Andrew Solomon, no best-seller O Demônio do Meio-Dia.

Os obstáculos para diagnosticar e tratar a depressão são enormes, afirma a Associação Brasileira de Psiquiatria, mesmo que essa condição médica seja comum, recorrente e crescente em seus mais diversos sintomas e impactos. Estima-se, aliás, que até 2030 ela deva afetar mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde.

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Pesquisa aponta estabilidade de proteínas quiméricas no diagnóstico de Chagas

Entre os testes disponíveis para diagnóstico da doença de Chagas crônica, o ELISA é um dos mais utilizados por seu custo benefício. Porém, com frequência, apresentam resultados inconsistentes que podem ser atribuídos a várias causas, dentre elas os antígenos escolhidos para captura de anticorpos específicos. Por esse motivo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a utilização de dois testes sorológicos diferentes, sendo uma das alternativas futuras a utilização de proteínas quiméricas, que possuem vários antígenos (epítopos) diferentes do Trypanosoma cruzi em uma única molécula.

Um grupo de especialistas da Fiocruz Bahia, conduzido pelo pesquisador Fred Luciano Neves Santos, analisou o desempenho de quatro proteínas quiméricas de T. cruzi, denominadas IBMP-8.1, IBMP-8.2, IBMP-8.3 e IBMP-8.4 (Instituto de Biologia Molecular do Paraná – IBMP), sob condições adversas de armazenamento e manuseio. Os resultados desta análise funcional, de termoestabilidade e de estabilidade de longo prazo foram publicados no periódico Biosensors.

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Fiocruz cria teste molecular para hanseníase inédito no Brasil

Um novo teste de diagnóstico desenvolvido por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) pode contribuir para o enfrentamento da hanseníase. Baseado na metodologia de PCR, o Kit NAT Hanseníase obteve registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O exame detecta o DNA do bacilo Mycobacterium leprae, causador do agravo, e pode facilitar a detecção precoce da doença, que atinge, em média, 27 mil pessoas por ano no Brasil.

A inovação foi desenvolvida pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) em parceria com o Instituto Carlos Chagas (Fiocruz Paraná) e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), ligado à Fiocruz e ao governo paranaense. Os pesquisadores ressaltam a importância da aplicação de uma metodologia de ponta contra uma doença negligenciada.

“Até então, não havia testes diagnósticos de hanseníase considerados padrão-ouro. É um marco colocar este exame à disposição de populações vulneráveis, que são as que mais desenvolvem a doença e carecem de avanços tecnológicos”, afirma o líder do projeto e chefe do Laboratório de Hanseníase do IOC, Milton Ozório Moraes.

“Doenças tropicais negligenciadas, que são importantes no nosso país, não atraem o interesse da indústria. Com o Kit NAT Hanseníase, temos um teste nacional, com qualidade de primeiro mundo, que pode contribuir para a saúde da nossa população”, acrescenta o pesquisador da Fiocruz-PR, Alexandre Costa, que coordenou o desenvolvimento do exame no IBMP.

O Kit NAT Hanseníase é primeiro teste molecular comercial para a doença desenvolvido no Brasil e o segundo exame deste tipo a obter o registro da Anvisa. Ao longo de anos de pesquisas, o projeto contou com investimentos do Ministério da Saúde, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), da Fundação Novartis e da Leprosy Research Initiative (iniciativa internacional de apoio à pesquisa em hanseníase), além de recursos próprios da Fiocruz e do IBMP.

Problema de saúde pública

Uma das doenças mais antigas da humanidade, com relatos de casos desde 600 a.C., a hanseníase é um grave problema de saúde pública, especialmente no Brasil. O país registra o segundo maior número de casos do mundo. Além disso, entre as pessoas acometidas anualmente, mais de duas mil são diagnosticadas de forma tardia, com lesões neurológicas que provocam deformidades visíveis e prejudicam a visão ou o movimento das mãos ou dos pés.

A bactéria da hanseníase atinge principalmente a pele e os nervos. Entre os sintomas mais comuns da doença estão manchas na pele, que podem ter alteração de sensibilidade ao frio, calor ou dor. Mesmo sem manchas, áreas da pele com alteração de sensibilidade, diminuição de pelos e do suor também podem ser sinal do agravo, assim como o aparecimento de caroços no corpo, sensação de formigamento ou fisgadas e comprometimento neurológico, incluindo alterações sensitivas, motoras ou anatômicas.

Cerca de 70% das pessoas com hanseníase são diagnosticadas na atenção básica, pelo clínico geral, sem necessidade de exames complementares. Quando há dúvidas, os pacientes são encaminhados para atendimento especializado com o dermatologista. Porém, existem casos em que mesmo o especialista tem dificuldade de confirmar o diagnóstico. Nestas situações, o médico pode solicitar a biópsia, que é a retirada de fragmentos de pele para análise.

Segundo Milton, é justamente nestes casos que o Kit NAT Hanseníase pode ser um aliado valioso. Os exames atualmente disponíveis são a baciloscopia, que busca visualizar a bactéria, e a histopatologia, que analisa as alterações do tecido. Em relação a estas técnicas, o teste molecular apresenta uma vantagem importante: o aumento da sensibilidade.

“A baciloscopia costuma ser negativa nos pacientes que apresentam poucas lesões na pele. Nestes casos, chamados de paucibacilares, observamos que a sensibilidade da histopatologia é de 35%, enquanto o teste de PCR alcança 57%. Isso significa que, de cada cem pacientes com hanseníase paucibacilar, a histopatologia consegue identificar 35 e a PCR, 57. A combinação dos dois testes pode elevar a sensibilidade para 65%. É um ganho importante”, diz o pesquisador.

Pioneirismo para o SUS

O desenvolvimento do Kit NAT Hanseníase é resultado de décadas de pesquisas pioneiras com o objetivo de contribuir para o Sistema Único de Saúde (SUS). Centro de referência nacional junto ao Ministério da Saúde, o Laboratório de Hanseníase do IOC atua na pesquisa, no ensino e no atendimento a pacientes, que é realizado por meio do Ambulatório Souza Araújo.

Metodologia que permite amplificar e detectar o material genético, a reação em cadeia da polimerase, conhecida pela sigla em inglês PCR, foi inventada em 1985. Em 1993, o Laboratório de Hanseníase foi o primeiro do Brasil a aplicar a técnica para a detecção do M. leprae.

Posteriormente, os pesquisadores aprimoraram a metodologia com base na técnica de PCR em tempo real, que simplificou e barateou o procedimento. Estudos realizados por diversos pesquisadores e estudantes de pós-graduação do IOC foram fundamentais para o sucesso do projeto.

A última etapa de trabalho consistiu na padronização da metodologia, com estudos de reprodutibilidade e estabilidade, que são essenciais para o registro na Anvisa. O desenvolvimento foi realizado em parceria com o IBMP, responsável pela produção de kits utilizados para o diagnóstico molecular de diversas doenças no SUS, como HIV, hepatites, dengue, zika e chikungunya.

“A produção com boas práticas de fabricação, com controle de qualidade lote a lote, garante o desempenho do exame em diferentes laboratórios”, ressalta Alexandre.

O registro na Anvisa permite a comercialização do teste e é uma exigência para que o exame possa ser oferecido no SUS. A adoção da metodologia depende da avaliação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), que envia a recomendação ao Ministério da Saúde, responsável pela decisão final. “Se o kit for aprovado, temos capacidade de produção em larga escala para atender à população brasileira”, destaca Milton.

Panorama da doença

No Brasil, a hanseníase ocorre em todos os estados, com maior parte dos registros no Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Assim como outras doenças negligenciadas, a infecção está associada à pobreza. Pessoas com condições de habitação e alimentação precárias têm mais chance de adoecer por hanseníase. A dificuldade de acesso das populações vulneráveis aos serviços de saúde é um dos desafios para o diagnóstico precoce do agravo.

Em 2020, a pandemia de Covid-19 dificultou ainda mais as ações de controle da doença. Segundo o Ministério da Saúde, os números preliminares indicam que menos de 14 mil casos foram diagnosticados no ano passado, contra mais de 27 mil em 2019. Especialistas consideram que a redução pode ter ocorrido pela sobrecarga dos serviços de saúde e pelo medo dos pacientes de procurar atendimento.

O tratamento da hanseníase é oferecido gratuitamente pelo SUS. Feito com uma combinação de antibióticos, tem duração entre seis e 12 meses. Recentemente, a eficácia da terapia foi confirmada em uma pesquisa realizada no Ambulatório Souza Araújo. Logo após o começo do tratamento, os pacientes param de eliminar as bactérias em secreções nasais, gotículas da fala, tosse, espirro, interrompendo a transmissão do agravo.

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Dia Mundial do Autismo: meninas autistas podem estar deixando de receber tratamento por falta de diagnóstico correto

“Muitas meninas e mulheres autistas parecem ser apenas pessoas tímidas e introvertidas”, diz a escritora e empresária britânica Alis Rowe. Com frequência, afirma ela, “essas garotas quietas – e seus problemas – podem ser ‘invisíveis’ para outras pessoas”.

Informada de que era autista quando já era adulta, Alis é uma das poucas mulheres a obter um diagnóstico – pelo menos, em comparação com os homens.

Os transtornos do espectro autista (TEA) são uma condição com a qual uma pessoa precisa conviver ao longo da vida e que afeta a forma como ela se comunica e interage com o mundo. O nível de funções cognitivas e intelectuais de autistas varia bastante, desde um profundo comprometimento destas habilidades até impactos bem mais sutis.

Estima-se que 1 a cada 160 crianças em todo o mundo tenha TEA, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mas há uma enorme disparidade nos diagnósticos por gênero.

No Dia Mundial de Conscientização do Autismo, estatísticas publicadas mostram uma grande concentração em casos de autismo entre os homens em comparação com as mulheres. Os números oficiais no Reino Unido indicam que há cerca de 700 mil pessoas no espectro do autismo, com uma proporção de aproximadamente dez homens para uma mulher. Outros estudos no mundo apontam para uma proporção de 16 para 1.

Mas e se os parâmetros de diagnóstico forem tendenciosos quanto ao gênero do paciente? Carol Povey, diretora do Centro para o Autismo da Sociedade Nacional Autista Britânica, diz que há um crescente consciência sobre esta questão.

Novas pesquisas científicas no Reino Unido, especificamente projetadas para detectar características autísticas em mulheres, sugerem que a proporção real entre homens e mulheres austistas pode estar mais próxima de 3 para 1.

Se isso estiver correto, centenas de milhares de meninas e mulheres em todo o mundo estão convivendo com austismo sem sequer saberem disso.

A importância do diagnóstico de autismo

Alis conta que só foi diagnosticada aos 22 anos de idade. “Passei toda a vida me perguntando por que era ‘diferente’, me sentindo aterrorizada por isso e tentando me adequar.”

Ela diz que o diagnóstico transformou sua vida. “Agora, há uma razão pela qual sou diferente. É assustador ser diferente e não ter ideia do porquê. Isso te faz se sentir completamente sozinho”.

Alias afirma que o diagnóstico lhe trouxe “paz de espírito, a sensação de estar se encerrando um ciclo e autoaceitação”.

“Hoje, posso explicar aos amigos e colegas que tenho dificuldades e que meu pensamento e comportamento podem ser um pouco ‘incomuns’. Tudo isso levou, no fim das contas, à uma melhora da minha saúde mental e a relacionamentos mais significativos e agradáveis.”

Como Alis, muitas pessoas dizem que um diagnóstico permitiu que entendam por que são como são e finalmente serem aceitas e compreendidas pela família e por amigos.

Diagnosticar o autismo também é importante porque muitos pacientes têm outros problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e autoflagelação. Um estudo realizado no Reino Unido descobriu que 23% das mulheres hospitalizadas por anorexia preenchiam os critérios diagnósticos para o autismo.

Por que tantas garotas e mulheres autistas passam despercebidas?

Os sinais de autismo em meninas e mulheres não são os mesmos que em meninos e homens e podem passar despercebidos, especialmente em casos de autismo de alto funcionamento, um termo informal usado para designar os casos em que a pessoa tem habilidades cognitivas acima da média em comparação com outros autistas.

Uma dificuldade enfrentada pelos pesquisadores é que meninas com autismo parecem se comportar de maneiras consideradas “adequadas” – se não ideais – para elas em comparação com meninos: podem parecer ser passivas, retraídas, dependentes dos outros, não envolvidas nas situações que vivenciam ou mesmo deprimidas.

Elas podem se tornar aficcionadas e até mesmo obsessivamente interessadas em temas muito específicos, como ocorre com os meninos autistas, mas elas podem não gravitar em direção às áreas de conhecimento “nerds”, como tecnologia ou matemática.

“Infelizmente, na cultura ocidental, as meninas que exibem esses comportamentos são mais propensas a serem alvo de piadas ou ignoradas do que diagnosticadas e tratadas”, diz a mãe de uma garota com TEA.

“Para um observador externo, esse tipo de pessoa simplesmente parece ‘passar despercebida’, é um tipo de pessoa que ‘some na paisagem’. Ela não é considerada ‘problemática’ ou ‘desobediente’, portanto, ninguém realmente nota o que está acontecendo”, diz Alis

A dificuldade de obter um diagnóstico

Alis – que é tímida, mas assertiva – foi ao seu médico com uma lista de motivos pelos quais achava que estava no espectro autista e foi encaminhada para uma avaliação.

Mas e se o paciente é uma criança? O que acontece se ela não souber se expressar e alguém estiver falando em nome dela?

“Quando diagnosticaram minha filha com TEA, foi um grande alívio”, diz Marilu*. “Mas como é que uma mãe pode sentir alívio quando sua filha de 10 anos é diagnosticada com uma doença que não tem cura e terá impacto no resto de sua vida?”

Bem, foi assim com Marilu, após ela lutar por anos para fazer com que médicos e professores ajudassem a descobrir o que estava acontecendo com sua filha, Sophia.

Ela descreve que chegar a esse ponto foi o auge de uma “batalha para entender o que estava por trás da extrema tristeza” da menina.

Os TEAs surgem ainda na infância e tendem a persistir durante a adolescência e a fase adulta. Algumas pessoas no espectro do autismo podem viver de forma independente. Outras têm deficiências graves e requerem cuidados e apoio ao longo da vida.

Se os pais e cuidadores têm as informações corretas, podem buscar treinamento e adquirir habilidades vitais, como administrar as dificuldades de comunicação e comportamento social, o que, por sua vez, podem melhorar o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas com TEA e de quem convive com elas.

A mãe ‘hipersensível, emotiva’ e sua criança ‘mimada’

“Minha filha Sophia é muito tímida de uma forma peculiar. Ela é ‘séria’ e ‘muito criativa’ – foi assim que a professora a descreveu”, diz Marilu.

“Eu sabia desde muito cedo que ela tinha dificuldades de fazer amigos da sua idade. Eu apenas achava que era algo que tinha a ver com o fato de ela ter nascido prematuramente.”

Mas Marilu não queria “exarcebar a situação”. “Não me preocupou que ela fosse percebida como ‘diferente’, até eu a ver sofrendo na escola. Na hora de dormir, ela dizia: ‘Não tenho amigos, mamãe, ninguém gosta de mim'”, diz ela.

“Eu falava para ela que todos nós temos dias bons e ruins. Mas estava ficando preocupada e, muitas vezes, perguntava aos professores se eles notavam se alguma coisa estava acontecendo na escola. A resposta foi sempre a mesma: ‘Nada está acontecendo’.”

Mas a situação piorou, e Marilu voltou a procurar os professores. “Perguntei a eles se Sophia era alvo de bullying. Sabia que algo estava errado. Mas me disseram que eu era ‘muito emotiva’ e ‘hipersensível’. Eu até fui acusada de ‘mimá-la'”.

Enquanto Marilu e sua família lutavam para entender o que estava acontecendo, todos sofriam: “Uma vez, eu disse a um amigo que, ao levar Sophia para a escola, parecia que a estava levando para o matadouro”.

“Ao longo dos meses, vi minha menina ficar cada vez mais com raiva e frustrada. Ela fingia estar bem fora de casa, mas, quando estava em casa comigo, entrava em crise”, diz Marilu.

“Eu não entendia porque tudo tinha de ser tão difícil. Brigava com ela quando insistia em escovar os dentes antes de colocar o pijama. Simplesmente não compreendia porque isso fazia diferença.”

Mesmo sabendo que Sophia estava sofrendo, Marilu diz que não conseguia evitar. “Tentei e falhei. Infelizmente, minhas emoções me levavam a agir de formas ruins. Talvez, se tivesse eu tivesse explicado (aos médicos) o que estava acontecendo por meio de fatos, em vez de sentimentos, poderíamos ter recebido um diagnóstico mais cedo”, diz Marilu.

‘Não há problema se você não se encaixar’

Alis diz que, até recentemente, “pessoas quietas que passam despercebidas”, pessoas que tendem a ser “esforçadas, agradáveis e bem educadas” não atraíam a atenção dos profissionais de educação e saúde.

Mas há uma mudança em curso mundo científico, e o viés de gênero está sendo lenta e progressivamente debatido.

“Se você quiser ajudar os portadores de TEA, leia e aprenda sobre autismo. Mesmo que você nunca receba um diagnóstico, saber sobre isso significa estar ciente das estratégias que pessoas autistas usam. Pode, literalmente, mudar sua vida”, diz Alis.

“Se você é autista e passou a vida inteira tentando se encaixar, comece a entender que não há problema em não se encaixar. Na verdade, você tem muitas habilidades e capacidades únicas. Se puder, transforme suas diferenças em algo que seja seu sustento”, diz Alis, que dirige o The Curly Hair Project, uma empresa que dá apoio a pessoas no espectro autista e a quem convive com elas.

Se você for o pai ou responsável por um autista, observe os interesses ‘diferentes’ da criança e aprecie a forma como eles vêem o mundo. Tenha em mente que o que pode ser fácil para você pode ser muito difícil para eles.

Sophia está feliz por finalmente ter um diagnóstico: “Estou aliviada, mas também um pouco preocupada. Não quero que meus colegas de classe saibam, porque não quero ser diferente, não quero que ninguém tire sarro de mim.”

Mas ela preferiria não ter sido diagnosticada? “Ah, não, isso tira um peso do meu coração.”