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Covid-19: Brasil registra 380 casos e duas mortes em 24 horas: ao todo, 33,9 milhões de pacientes se recuperaram da doença

O Brasil registrou 380 casos e duas mortes por covid-19 em 24 horas, segundo boletim divulgado neste domingo (16) pelo Ministério da Saúde. Desde o início da pandemia, foram registrados 34,7 milhões de casos e 687.155 mortes.

O boletim não inclui os dados completos da Bahia, do Distrito Federal, do Maranhão, de Minas Gerais, de Mato Grosso do Sul, de Mato Grosso, da Paraíba, de Pernambuco, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Norte, de Roraima, de São Paulo e do Tocantins.

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Anticoagulante Apixaban inibe replicação do vírus da Covid-19

Publicado no Journal of Molecular Cell Biology, estudo da Fiocruz comprovou que o anticoagulante de uso oral Apixaban é eficaz para inibir a replicação do vírus Sars-CoV-2, causador da Covid-19. Este tipo de medicamento já era recomendado para prevenir níveis altos de Dímero D, que é o produto final da cascata de coagulação e está relacionado diretamente à Covid-19 severa. Os pesquisadores da Fundação descobriram, porém, que a droga também apresenta função antiviral ao inibir, de forma não competitiva, a replicação do vírus. Isso acontece devido à semelhança estrutural entre Fator X Ativado (FXa), fundamental no processo de coagulação, e a Major Protease (Mpro), uma enzima importantíssima para os coronavírus.

“O uso de anticoagulantes ajuda a prevenir a Covid severa, e tínhamos a preocupação de descobrir se havia mecanismos adicionais para esse benefício clínico. Quando você sobrepõe as imagens de FXa e Mpro, elas têm uma correlação estrutural, então nos perguntamos se os anticoagulantes poderiam também inibir a enzima viral. Esse trabalho mostra que sim e descreve como este mecanismo funciona, provando que essa atividade antiviral também pode estar contribuindo, em alguma magnitude, para o benefício clínico que esses pacientes têm”, explicou um dos autores do estudo, o pesquisador Thiago Moreno L. Souza, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz).

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Foto destacada: Gerd Altmann/Pixabay

Novo método pode ajudar a prever casos de variantes da COVID-19 em populações já infectadas ou vacinadas

Estudo divulgado na revista Vaccines usou amostras de bancos de sangue de sete capitais brasileiras para medir a quantidade de anticorpos contra o SARS-CoV-2, relacionando a proteção da vacina à variante delta e seu nível de mortalidade

Pesquisadores do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido de Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE) desenvolveram um método mais rápido e de menor custo para analisar dados sorológicos da população que pode contribuir com a avaliação e a previsão do comportamento epidemiológico da COVID-19.

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Foto destacada: Klaus Hausmann/Pixabay

Vacina contra COVID-19 desenvolvida por grupos da UFMG, USP e Fiocruz está pronta para testes em humanos

Resultados dos experimentos com animais acabam de ser divulgados na Nature Communications. Pesquisadores aguardam aval da Anvisa para dar início ao ensaio clínico.

Uma nova vacina contra a COVID-19 desenvolvida no Brasil pode começar a ser testada em humanos ainda este ano. O imunizante apresentou bons resultados nos estudos com animais, que foram divulgados este mês na revista Nature Communications. Os cientistas já receberam autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para dar início ao ensaio clínico e aguardam, agora, o sinal verde da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

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Foto destacada: Wikimedia Commons

No mundo todo, infecções fúngicas aumentaram a mortalidade de internados por COVID-19

Conclusão foi apresentada por um grupo internacional de cientistas em artigo publicado na revista Nature Microbiology. Trabalho alerta sobre a urgência de desenvolver novos fármacos antifúngicos

Todos os dias inalamos milhares de esporos de fungos potencialmente patogênicos, mas nosso sistema imune simplesmente os elimina. Em pessoas que estão com a imunidade comprometida – como transplantados, pacientes em tratamento contra o câncer ou internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) –, porém, essa interação entre patógeno e hospedeiro pode ser bastante diferente.

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Pesquisa mostra eficácia da vitamina B12 para atenuar Covid-19

Um estudo da Fiocruz Minas constatou que a vitamina B12 regula processos inflamatórios que, durante a infecção pelo vírus Sars-CoV-2, se encontram desregulados e levam ao agravamento da Covid-19. A pesquisa comparou amostras de sangue de pacientes hospitalizados com as formas grave e moderada da doença com amostras de sangue de pessoas saudáveis (voluntários sem Covid-19), analisando a expressão de todos os genes pelas células de defesa, os leucócitos, em cada um dos grupos. As análises mostraram que os pacientes com Covid-19 tinham expressão alterada de muitos genes, embora estivessem em tratamento com corticoides há cerca de 11 dias. Com a introdução da vitamina B12, a expressão dos genes inflamatórios e de resposta antiviral dos pacientes se aproximou à dos indivíduos saudáveis, mostrando a eficácia da vitamina para o controle da inflamação.

Todos os dados gerados pela pesquisa foram publicados em um artigo, em formato ainda em preprint, enquanto é aguardado o processo de revisão pelos pares que antecede a publicação da versão definitiva. Segundo o estudo, a B12 atenua um quadro conhecido como tempestade inflamatória, causado por uma resposta imune excessiva do organismo. A B12 atua, então, como um regulador desse evento, ao aumentar a produção da molécula doadora universal de uma substância chamada metil, capaz de desativar genes que favorecem a inflamação.

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Respostas e lacunas sobre a covid longa, que afeta até 20% dos que foram infectados pelo coronavírus

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 10% e 20% das pessoas que tiveram Covid-19 desenvolvem alguma complicação prolongada. Agora, pesquisadores se debruçam sobre esses mais de 200 sintomas, agrupados genericamente pelo termo covid longa. Se ainda existem muitas lacunas a serem preenchidas, principalmente sobre o mecanismo causador dessas sequelas, também há conclusões que já ajudam na assistência aos que, por meses, procuraram serviços de saúde em busca de um diagnóstico. O repórter Bruno Dominguez, da revista Radis, conversou com três pesquisadores brasileiros envolvidos diretamente nessa investigação, entre eles, Margareth Portela, da ENSP, para contar o que se sabe.
Desde sua primeira infecção, a covid se impôs como desafio monumental para a ciência, que concentrou esforços globalmente para investigar desde a transmissão até as formas de tratamento. O desenvolvimento de uma vacina pareceu trazer alívio à rotina extenuante nos centros de pesquisa, até que múltiplas sequelas começaram a ser relatadas por pacientes de todo o mundo. Enquanto a maioria das pessoas que foram infectadas pelo coronavírus se recupera completamente, outra parte continua a sofrer com efeitos de longo prazo em vários órgãos — pulmão, coração, sistema nervoso.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 10% e 20% das pessoas que tiveram covid desenvolvem alguma complicação prolongada. Agora, pesquisadores se debruçam sobre esses mais de 200 sintomas, agrupados genericamente pelo termo covid longa. Se ainda existem muitas lacunas a serem preenchidas, principalmente sobre o mecanismo causador dessas sequelas, também há conclusões que já ajudam na assistência aos que, por meses, procuraram serviços de saúde em busca de um diagnóstico. Radis conversou com três pesquisadores brasileiros envolvidos diretamente nessa investigação, para contar o que se sabe.
O QUE É A COVID LONGA?
“Covid longa é um termo cunhado por pacientes para se referir a uma gama de sintomas experimentados por aqueles que tiveram covid-19 depois de se recuperarem dos estágios iniciais da infecção”, resume Margareth Portela, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) que integra a equipe do Observatório Covid-19 Fiocruz.
“São manifestações múltiplas, sistêmicas, que afetam diferentes órgãos, algumas muito graves, sobre as quais ainda não se tem conhecimento suficiente”, acrescenta ela, que participa da busca internacional por respostas coordenando um estudo sobre efeitos da covid longa em sobreviventes de hospitalização por covid no SUS.
O termo vem servindo para abarcar tanto sintomas prolongados da infecção quanto complicações secundárias, e por vezes é substituído por síndrome pós-covid e outras variações. Em novembro de 2020, durante conferência internacional, pesquisadores chineses já apresentavam evidências sobre o aparecimento de manifestações a longo prazo da covid-19 em moradores da cidade de Wuhan, alertando que estas poderiam persistir por ao menos seis meses.
Foi em 6 de outubro de 2021 que a OMS publicou a primeira definição clínica oficial sobre a nova enfermidade, após consulta global envolvendo pacientes e cientistas de todos os continentes: “é a doença que ocorre em pessoas com história de infecção pelo SARS-CoV-2, usualmente depois de três meses do início da fase aguda, com sintomas e efeitos não explicáveis por outro diagnóstico”. Para se ter uma perspectiva histórica, o primeiro caso humano de infecção pelo HIV foi identificado em junho de 1981 e a definição de caso foi desenvolvida apenas em outubro de 1985.
A condição recebeu um código próprio na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-10): U09. Diante de tantas incertezas à época, a OMS ressalvou que a definição de pós-covid poderia mudar a qualquer momento, com a descoberta de novas evidências.
QUAIS SÃO OS SINTOMAS?
A variedade de complicações pós-covid é tamanha que a OMS fala em “constelação de sintomas”. Os mais frequentes são fadiga, falta de ar, tosse persistente, dor no peito e distúrbios cognitivos — confusão mental, esquecimento, dificuldade de concentração. Pessoas com essa condição podem ter dificuldades de exercer atividades comuns, como trabalhar e realizar tarefas domésticas simples.
“Conviver com sequelas ou sintomas permanentes é algo difícil para qualquer um”, observa Rafaella Fortini, pesquisadora do Instituto René Rachou (Fiocruz Minas). “Sequelas mais graves, como redução de mobilidade, dificuldade respiratória, trombose, hipertensão arterial sistêmica, ansiedade, insônia, fadiga, perdas cognitivas ou de memória, afetam muito a rotina das pessoas”. Sequelas mais leves, como perda de olfato e paladar, dores no corpo, tosse persistente, dores de cabeça e perda de cabelos, devem ser consideradas igualmente relevantes, de acordo com Rafaella: ao perdurarem por muito tempo, também são capazes de impactar a qualidade de vida.
A pesquisadora coordenou estudo longitudinal sobre os efeitos da covid, que acompanhou, durante 14 meses, 646 pacientes atendidos no pronto-socorro do Hospital da Baleia e do Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro, ambos referência para covid-19 em Belo Horizonte. Desse total, 324, ou 50,2%, apresentaram algum tipo de sintoma da covid longa.
A principal queixa foi fadiga (35,6%), que se caracteriza por cansaço extremo e dificuldade para realizar atividades rotineiras. Os participantes relataram ainda tosse persistente (34%), dificuldade para respirar (26,5%), perda do olfato ou paladar (20,1%), dores de cabeça frequentes (17,3%), dores musculares (10,8%), dores no corpo (9%), irritação nos olhos (8%) e mudanças na pressão arterial (7,4%).
Distúrbios mentais, como insônia (8%), ansiedade (7,1%) e vertigem ou tontura (5,6%), também foram registrados. A trombose, uma das sequelas mais graves, foi diagnosticada em 6,2% da população monitorada.
O estudo contabilizou 23 diferentes manifestações, que ainda incluíram diarreia, dor no peito, baixa mobilidade e taquicardia. A maioria dos pesquisados (43,8%) apresentou duas ou três sequelas simultaneamente, mas alguns chegaram a relatar mais de 10 sequelas ao mesmo tempo. Muitas persistiram durante os 14 meses de pesquisa. Uma das exceções foram os casos de trombose, todos tratados, que duraram cerca de cinco meses.
SINTOMAS DA COVID LONGA
  • Cansaço e fadiga que interferem no dia a dia, especialmente após esforço físico ou mental
  • Falta de ar ou dificuldade para respirar
  • Tosse persistente
  • Dor no peito
  • Palpitações no coração
  • Problemas de memória e concentração (chamados de “névoa mental”)
  • Dificuldades na fala
  • Perda de olfato ou paladar
  • Problemas do sono
  • Dor de cabeça
  • Tontura ao se levantar
  • Sensação de formigamento
  • Depressão e ansiedade
  • Dor muscular
  • Febre
  • Diarreia
  • Dor no estômago
  • Mudanças no ciclo menstrual

Fontes: OMS e CDC.
QUAIS SÃO OS GRUPOS MAIS AFETADOS?
Os estudos clínicos, como o coordenado por Rafaella, correlacionam os relatos dos pacientes — referência inicial na identificação das sequelas — com diagnóstico feito por equipe médica. Também são feitas análises de correlação das sequelas com as condições dos pacientes antes e após a covid-19. “Tudo isso nos ajuda a gerar o entendimento sobre a fisiopatologia da covid longa, ou seja, como e em que condições essas sequelas se iniciam e permanecem, como elas podem acometer os vários órgãos do corpo, que vias elas estão ativando e quais as relações destas vias com a permanência das sequelas”, explica a pesquisadora.
Em artigo publicado na revista Transactions of The Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, sua equipe apontou correlação da persistência da covid longa com a presença de comorbidades (hipertensão arterial crônica, diabetes, cardiopatias, câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal crônica e tabagismo ou alcoolismo), o avanço da idade (acima de 60 anos) e a severidade da fase aguda da infecção pelo SARS-CoV-2.
ASSINTOMÁTICOS PODEM DESENVOLVER COVID LONGA?
As sequelas apareceram em pacientes que tiveram covid-19 leve ou assintomática, moderada ou grave, e em todas as faixas etárias de 18 a 94 anos. Dentre os que tiveram quadro assintomático ou leve, 59% desenvolveram manifestações da covid longa. “Pessoas assintomáticas também desenvolvem sequelas, inclusive sequelas graves”, indica Rafaella. “Temos identificado pacientes assintomáticos que apresentaram trombose, perdas cognitivas, fadiga ou cansaço extremo, dificuldade respiratória ao esforço leve e dores de cabeça frequentes e diárias do tipo enxaqueca”.
Vacinas evitam a covid longa?
No grupo dos não-vacinados, mais de 50% apresentaram covid longa com sequelas de leves a graves e que permaneceram por pelo menos dois anos — as sequelas moderadas e graves precisaram de intervenção médica e por fisioterapeutas, com uso de medicação. Nos pacientes vacinados com qualquer uma das vacinas disponíveis e aprovadas no Brasil, o risco de desenvolvimento da covid longa caiu pela metade. Nesse grupo, as sequelas tenderam a ser leves, algumas sendo resolvidas espontaneamente e outras perdurando por cerca de um ano.
“A vacinação completa reduz o risco de infecções graves e de óbitos pelo coronavírus, e também reduz a chance de desenvolvimento da covid longa e de sequelas graves”, reforça a pesquisadora. Ela destaca que quem quer evitar a covid longa precisa, primeiro, evitar a covid — mantendo cuidados não farmacológicos, como o uso de máscaras em ambientes fechados e não ventilados, higienização frequente das mãos e isolamento quando houver sinais de infecção.
A vacinação completa reduz o risco de infecções graves e de óbitos pelo coronavírus, e também
DÉFICIT COGNITIVO TAMBÉM PODE SER COVID LONGA?
Dificuldade de formar frases, de lembrar onde guardou as chaves, de estacionar o carro, de chegar ao supermercado: queixas de confusão mental também foram associadas como sequelas da covid. Mas seria realmente possível que pessoas que tiveram quadros leves de covid pudessem desenvolver sintomas neuropsiquiátricos?
Foi o que se perguntou a equipe do professor Marco Romano-Silva, chefe do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Era esperado algum nível de consequência neurológica e psiquiátrica em indivíduos que tiveram casos severos de covid, especialmente os que passaram por internações; nossa intenção era investigar se havia essa possibilidade entre aqueles que passaram pela infecção sem apresentar sintomas importantes”, conta ele à Radis.
Em agosto de 2020, os pesquisadores começaram a acompanhar cerca de 200 pessoas, com idade média de 38 anos, para verificar o aparecimento de possíveis sequelas neuropsiquiátricas da covid-19 ao longo de dois anos. Logo no início já constataram alterações cognitivas importantes. Um quarto dos pesquisados apresentou déficits cognitivos nos primeiros meses após a infecção: falta de atenção e de foco, falhas na memória. “Era um grupo de pessoas muito jovens, com alterações que se esperaria encontrar em idosos em início de demência, com quadros compatíveis com Parkinson ou traumas importantes na cabeça”, observa.
A sequela não foi apenas relatada, mas comprovada por testes neuropsicológicos, neurológicos e oculares, ensaio de marcadores imunológicos e exames de imagem (ressonância e PET/CT). “O déficit detectado foi nas capacidades visuoconstrutivas, que nos ajudam a perceber o ambiente, a nos orientar no espaço e a realizar trabalhos manuais”, aponta ele. Os achados foram publicados na Molecular Psychiatry, periódico do grupo Nature.
Não ficou elucidado como o coronavírus causa tais sequelas, nem a duração delas — aparentemente são duradouras. A pesquisa segue, agora buscando investigar a influência da vacinação nesse tipo de sintoma. “A pandemia nem acabou e estamos descobrindo suas várias sequelas”, comenta Romano-Silva. O pesquisador reforça a importância de as pessoas que sentem ter perdido sua qualidade de vida buscarem assistência, e dos profissionais de saúde acompanharem as evidências que surgem todos os dias. “Às vezes o paciente reclama que a memória está péssima, que está esbarrando em tudo, e o médico descarta, simplifica, diz que vai passar. Mas não vamos conseguir identificar se não pesquisarmos”.
Para ele, fica a lição de não tratar com banalidade as doenças virais e as sequelas que elas podem trazer: “É um alerta de que, mesmo quando não causa sintomas muito intensos, as doenças virais podem gerar sequelas no sistema nervoso”.
COMO DIAGNOSTICAR A COVID LONGA?
Como não estão estabelecidos os mecanismos que levam a essas sequelas, ainda não há métodos precisos para identificá-las. “É um diagnóstico impreciso, que acontece por exclusão, quando não se encontram outras justificativas para aqueles sintomas”, observa Margareth Portela.
Outra questão em aberto é a duração desse quadro — podendo variar de quatro semanas a vários meses ou, potencialmente, anos. Até é possível que sintomas desapareçam e apareçam novamente. Também não se estabeleceu a gravidade dos sintomas, que podem ser leves ou mesmo incapacitantes.
Essa indefinição faz com que pacientes não encontrem assistência adequada. Por um tempo, queixas desse tipo sequer foram levadas a sério. Na Radis 218, a repórter Ana Cláudia Peres entrevistou pessoas que, ao procurarem serviços de saúde com sequelas pós-covid, ouviram que “não tinham nada”. Nos comentários do site, leitores relataram dificuldades para receber um diagnóstico. “Muitas vezes achei que estava ficando doida, mas agora vejo que muitos estão passando por isso também”, escreveu Angelita Siqueira, que teve fraqueza a ponto de a voz sumir, meses depois da infecção aguda.
“Neste momento, caminhamos com o objetivo de descrever a fisiopatologia da covid longa e entender por que órgãos tão diversos têm sido acometidos por essas sequelas”, afirma Rafaella. Até lá, indica ela, é particularmente importante que pessoas que percebam possíveis manifestações procurem um médico, mesmo quando estas pareçam não ter relação com a covid. “Partimos dos relatos para aprofundarmos nossos estudos sobre como, por que e por quanto tempo essas sequelas ocorrem e permanecem, e em quais casos precisamos ter tratamento medicamentoso e por equipe multiprofissional”.
HÁ TRATAMENTO DISPONÍVEL?
Não há tratamento medicamentoso definido para a covid longa. Por enquanto, a OMS sugere um cuidado holístico, que inclua reabilitação. “A ciência vem trabalhando incansavelmente no entendimento das diversas lacunas que ainda temos acerca desta condição, mas já caminhamos em grande parte nesse entendimento, o que já nos permite preparar os profissionais de saúde para que saibam receber os pacientes com sequelas com a devida seriedade, para que o diagnóstico seja feito corretamente e para que o tratamento seja iniciado”, comenta Rafaella.
O que já se sabe é que a atenção deve ser multidisciplinar: “O cuidado com o paciente com covid longa deve ser feito, sem dúvida, por uma equipe multidisciplinar”. O objetivo é permitir que o paciente volte a ter a qualidade de vida que tinha antes da infecção pelo coronavírus. Ensaios clínicos recentes estão focando na prevenção e tratamento baseados em suplementos antioxidantes, exercício e outros mecanismos.
QUAL O IMPACTO SOBRE O SISTEMA DE SAÚDE?
A comparação de estimativas de prevalência da covid longa encontradas em estudos internacionais tem sido dificultada pela diversidade de grupos de pacientes focados, estratégias de coleta de dados e critérios de contagem de tempo, como explica Margareth Portela. Alguns deles têm apontado prevalências muito mais elevadas, possivelmente por acompanharem pacientes com maior gravidade na fase aguda da doença, internados em unidades ambulatoriais ou hospitalares de saúde.
Confirmada a estimativa da OMS de que entre 10% e 20% dos infectados pela covid desenvolvem sequelas, o número de brasileiros com covid longa poderia ser de até 6,6 milhões — considerando-se que o país registrou 33 milhões de casos até 12 de julho.
“A covid longa, do ponto de vista clínico, é o maior desafio médico a ser enfrentado atualmente, pela complexidade e diversidade dos efeitos a médio e longo prazo em todas as áreas”, alertou Margareth Dalcomo, pesquisadora da Fiocruz, no webinar A pandemia de Covid-19 no Brasil, do Observatório Covid-19 Fiocruz, realizado em 2 de junho. Pneumologista, ela observou que muitos pacientes não recuperam sua função respiratória a ponto de estarem aptos a levar uma vida normal, especialmente para atividades aeróbias, o que demanda reabilitação. O mesmo acontece com sequelas motoras, cardiovasculares ou psicológicas, que demandam serviços de reabilitação física e apoio psicossocial.
Trata-se, portanto, de uma elevada carga para o SUS. Além da preparação da atenção primária à saúde, com envolvimento de equipes multidisciplinares, é preciso reforçar a atenção especializada, comumente mais fragilizada. O desafio se agrava quando essas demandas ainda concorrem com demandas impostas pela própria covid-19 e outras demandas represadas no decorrer da pandemia, como o acompanhamento de doenças crônicas, exames preventivos para detecção precoce de câncer e cirurgias eletivas, ressalta Margareth Portela.
“Essa demanda já está colocada e talvez não esteja sendo atendida de fato, principalmente no caso de pessoas que demandam cuidados um pouco mais complexos”, sugere Portela. A covid longa, segundo ela, exige que “o sistema funcione como sistema”, ou seja, que os pacientes que procuram a atenção primária sejam referidos aos cuidados necessários em outros níveis de atenção. “É preciso um trabalho de articulação, para que o sistema funcione em rede eficiente para dar respostas adequadas”, conclui.
RELATOS DE LEITORES
“Fiquei 22 dias em isolamento com sintomas leves e depois parecia que ainda estava com covid. Dor no corpo, dor de garganta, olfato distorcido, paladar ainda alterado, dor no ouvido, muito cansaço, taquicardia, falta de concentração… Só não alterou minha pressão.” Ana Lucia Malta
“Minhas costas tem dias que doem e queimam. Dor de garganta. Me sinto mal dia sim dia não. Quando parece que vai melhorar volta tudo novamente. Sem saber o que fazer.” Thay Borges
“Estou fazendo acompanhamento com neurologista devido a um exame (eletroneuromiografia) ter concluído que estou com sinais de neuropatia sensitivo-motora, axonal, mais evidente em membro inferior, com sinais de acometimento miopático. Esse exame fiz ainda quando estava internado. Vou refazer ele novamente após alta hospitalar a pedido de outro neurologista.” Rodrigo Souza
“Eu estou sofrendo com isso também! Está acabando com meus dias! Quedas de pressão, dores, taquicardia, cansaço, refluxo, trânsito intestinal acelerado. Os exames cardiológicos e de sangue não acusam nada! Ficam dizendo que é psicológico! Às vezes os locais doem tanto que queima! Tem dia que acordo bem e tem dia que acordo péssima. Eu tive sintomas leves e só descobri por causa de um espirro que dei e doeu o peito! Gente, covid é coisa séria! Eu me cuidei tanto e infelizmente peguei nem sei onde! Não vou em bares, festas nem nada. Eu ando triste, deprimida, com medo de morrer, já que ninguém tem um tratamento adequado para essa síndrome (pelo menos não que eu saiba).” Marília Silva
“Em outubro tive suspeita de covid, fiquei sem sentir gosto e cheiro durante 15 dias e depois normalizou. Só que, passados três meses, agora sinto gosto e cheiro distorcidos: é como se tudo tivesse um gosto ruim, de estragado ou gosto metalizado artificial.” Marcinha Nut
“Infelizmente todos os médicos por que passei até hoje não descobriram nada. As dores são constantes. Mais de um ano que peguei esse vírus, ainda sofro com as sequelas.” Priscila Iglezias Valin
“Tive covid em dezembro e a vida não voltou ao normal ainda. Sinto muita fraqueza, até a voz some. Tem momentos que mal consigo ir ao banheiro. Só me disseram que era síndrome pós-covid. Remédio não deram nenhum, só vitaminas. Muitas vezes achei que estava ficando doida, mas agora vejo que muitos estão passando por isso também.” Angelita Siqueira
Foto destacada: fotomontagem com elementos FreePik e Fotos Públicas

Prática de exercício físico ajudou a manter boa saúde mental na pandemia

Quem praticou atividade física correu menores riscos de depressão, ansiedade e estresse, segundo estudo com 5 mil pessoas do Brasil, Chile e Espanha

Entre março e agosto de 2020, foram analisados, só no Brasil, 3.386 formulários com dados sociodemográficos, de saúde mental e geral, além de prática de exercícios físicos

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Foto destacada: Raman Oza/Pixabay

Estudo relaciona alteração de olfato ou paladar após a COVID-19 com problemas de memória

Pesquisadores da USP acompanharam 701 pacientes internados por complicações da doença no Hospital das Clínicas. Em avaliações feitas seis meses após a alta hospitalar, observou-se que os indivíduos que apresentavam mais sequelas sensoriais também tinham pior desempenho nos testes cognitivos, principalmente os de memorização.

Estudos feitos antes da pandemia de COVID-19 apontaram a perda de olfato como um possível sinal precoce da doença de Alzheimer. Há, na literatura científica, evidências de que essa disfunção sensorial pode se manifestar anos antes dos primeiros sintomas cognitivos aparecerem, o que sugere haver uma conexão entre a região cerebral responsável pela memória e a que registra e interpreta os estímulos olfativos.

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Imagem destacada: Infográfico cedido pelo pesquisador

Testes preliminares sugerem potencial de medicamento para esclerose contra vírus da covid

Fármaco envolvido em cápsulas mil vezes menores que células humanas destruiu coronavírus com dosagem muito menor que versão não encapsulada. Experimentos ainda estão em fase inicial

No Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, uma pesquisa testou com sucesso um medicamento já usado no tratamento da esclerose múltipla para eliminar o vírus da covid-19. No estudo, feito em laboratório com células infectadas pelo vírus, o fármaco, envolvido em cápsulas mil vezes menores que uma célula humana, conseguiu destruir o coronavírus usando uma concentração do medicamento 60 vezes menor que a versão não encapsulada, o que deverá reduzir efeitos colaterais. Concluída a primeira etapa da pesquisa, a meta é realizar testes clínicos em pacientes e obter a futura aprovação do medicamento para tratar a covid-19.

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