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© Marcelo Camargo/Agência Brasil

Prevenção de dengue deve ir além de mensagens sobre hábitos e cuidados: Estudo da Unicef explica aspectos que dificultam a adoção de práticas

Embora grande parte da população saiba que é preciso “evitar água parada” para evitar a disseminação de doenças como dengue, zika e chikungunya, investir apenas em estratégias de comunicação focadas nessa mensagem não é suficiente para provocar mudanças significativas no combate às arboviroses. É o que revela estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), lançado nesta quinta-feira (24), com apoio da biofarmacêutica Takeda.

“O senso comum diz que quando alguém tem uma informação sobre o que é bom para si próprio e sua família, adota um comportamento ou hábito. Mas há uma diferença entre o que as pessoas falam que fazem e os hábitos que efetivamente incorporam em suas rotinas diárias. Fazer ou não fazer algo depende de uma enorme confluência de fatores, comportamentos, normas sociais, infraestrutura e acesso a políticas públicas. São esses aspectos que revelamos nesse estudo”, diz Luciana Phebo, chefe de saúde do Unicef no Brasil.

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Brasil se aproxima de 6 milhões de casos e 4 mil mortes por dengue. Números são divulgados pelo Ministério da Saúde

O painel de monitoramento de arboviroses do Ministério da Saúde contabiliza 5.968.224 casos prováveis de dengue e 3.910 mortes confirmadas pela doença ao longo de 2024. Há, ainda, 2.970 óbitos em investigação. O coeficiente de incidência da dengue no Brasil, neste momento, é de 2.939 casos para cada 100 mil habitantes.

Jovens com idade entre 20 e 29 anos seguem respondendo pela maior parte dos casos de dengue. Em seguida estão as faixas etárias de 30 a 39 anos; de 40 a 49 anos; e de 50 a 59 anos. Já as faixas etárias que respondem pelos menores percentuais de casos da doença são menores de um ano; 80 anos ou mais; e de um a quatro anos.

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Como mosquito egípcio chegou ao Brasil e matou 10 mil pessoas

Popularmente conhecido como mosquito da dengue, o Aedes aegypti há mais de um século é o mais temido “inimigo público” do Brasil.

A espécie, originária do Egito, é responsável pela transmissão das arboviroses urbanas mais comuns do país: dengue, chikungunya e zika.

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Fiocruz alerta para ressurgimento do sorotipo 3 da dengue. Há mais de 15 anos vírus não causa epidemias no país

Estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), coordenado pela Fiocruz Amazônia e pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), mostra o ressurgimento recente do sorotipo 3 do vírus da dengue no Brasil, que há mais de 15 anos não causa epidemias no país, o que faz acender o sinal de alerta quanto ao risco de uma nova epidemia da doença causada por esse sorotipo viral.

A pesquisa apresenta a caracterização genética dos vírus referentes a quatro casos da infecção registrados este ano, três em Roraima, na Região Norte, e um no Paraná, no Sul do país. Segundo a Fiocruz, a circulação de um sorotipo há tanto tempo ausente preocupa especialistas.

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Saúde lança campanha após aumento da dengue, Zika e chikungunya. De janeiro a abril casos de dengue cresceram 30%

Em meio ao aumento de casos de dengue, Zika e chikungunya no Brasil, o Ministério da Saúde lançou nesta quinta-feira (4) a campanha nacional de combate às três arboviroses. Com a mensagem Brasil unido contra a dengue, Zika e chikungunya, a pasta alerta para sinais, sintomas, prevenção e controle das doenças, transmitidas por um mesmo vetor, o mosquito, em particular o Aedes aegypti, popularmente conhecido como pernilongo rajado em razão das listras brancas nas pernas.

A reintrodução do vírus da dengue no Brasil aconteceu em 1986. Já o chikungunya foi registrado pela primeira vez em 2014, enquanto o Zika foi identificado no país em 2015.

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Chikungunya tem alto potencial de transmissão silvestre no Brasil

Chikungunya tem alto potencial de transmissão silvestre no Brasil

Uma pesquisa do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e do Instituto Pasteur, na França, avaliou a possibilidade de estabelecimento do ciclo silvestre do chikungunya no Brasil, o que poderia dificultar o controle do vírus e inviabilizar sua erradicação do território. Atualmente, a doença ocorre em áreas urbanas no país, tendo o Aedes aegypti como vetor. Divulgado na revista científica Plos Neglected Tropical Diseases, o trabalho mostra que, durante testes em laboratório, mosquitos silvestres Haemagogus leucocelaenusAedes terrens coletados no estado do Rio de Janeiro – espécies encontradas em grande parte das florestas do continente americano – são capazes de transmitir o vírus. Ainda é necessário verificar se os macacos brasileiros são capazes de atuar como reservatórios do chikungunya, a exemplo do que ocorre no ciclo de transmissão silvestre da febre amarela, vírus que também é originário da África.

Na continente africano, onde o chikungunya foi identificado pela primeira vez, em 1952, os ciclos silvestre e urbano da doença podem ocorrer simultaneamente. Nas áreas urbanas, os insetos A. aegypti se infectam ao sugar o sangue de pessoas doentes e transmitem a infecção para outros indivíduos. Já nas florestas africanas, diferentes espécies de mosquitos silvestres contraem o vírus ao picar macacos doentes e espalham a infecção para outros animais. Nesse caso, a infecção humana pode ocorrer de forma acidental, quando pessoas entram na mata e são picadas por vetores infectados.

“Hoje, o ciclo de transmissão do chikungunya no Brasil ocorre em espaços urbanos, envolvendo o mosquito A. aegypti. Os nossos resultados indicam que os mosquitos silvestres estudados apresentam as condições para que o vírus possa estabelecer um ciclo de transmissão silvestre nas Américas. Esse cenário apresentaria um grave problema de saúde pública, uma vez que a infecção se tornaria mais difícil de controlar”, afirma o entomologista Ricardo Lourenço de Oliveira, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC e líder do estudo. “É fundamental incorporar o chikungunya em uma rotina de vigilância envolvendo o ambiente silvestre”, destaca o pesquisador.

Ricardo ressalta que não existem dados científicos publicados sobre a suscetibilidade dos macacos das Américas ao vírus chikungunya. “Sabemos que os macacos, na África, integram o ciclo silvestre do vírus. Porém, há diferenças importantes entre as espécies de primatas que habitam os dois continentes. Por isso, são necessárias investigações complementares, que testem a susceptibilidade de infecção dos primatas do nosso continente e seu potencial como amplificadores do vírus para infectar mosquitos”, sintetiza. O pesquisador ressalta que não está descartada a possibilidade de que outros grupos de vertebrados também possam integrar o ciclo de transmissão silvestre da doença.

Resultados comprovam potencial de transmissão

Para avaliar a possibilidade de transmissão silvestre, os pesquisadores realizaram testes com mosquitos H. leucocelaenus e A. terrens coletados no estado do Rio de Janeiro. Os insetos foram alimentados com amostras de sangue contendo as duas linhagens do vírus chikungunya que circulam no Brasil, chamadas de leste-centro-sul africana e asiática.

Os ensaios revelaram alto potencial dos mosquitos para disseminar o agravo: sete dias após ingerir o sangue infectado com a linhagem africana, mais de 60% dos insetos apresentaram partículas virais infectivas – capazes de provocar a infecção – na saliva. Para alguns mosquitos H. leucocelaenus, a presença do vírus infectivo na saliva se deu de forma ainda mais acelerada: apenas três dias após a ingestão do sangue infectado. No caso da linhagem asiática, os pesquisadores ofereceram sangue com uma dose menor do vírus aos insetos. Mesmo assim, aproximadamente 40% dos H. leucocelaenus e 5% dos A. terrens apresentaram partículas virais infectivas na saliva após sete dias.

“O fato de que esses mosquitos são competentes para transmissão do chikungunya nos diz que eles poderiam transmitir o vírus de pessoas infectadas para animais nas florestas, possibilitando o início de um ciclo silvestre da doença”, afirma a pesquisadora Anna-Bella Failloux, chefe da Unidade de Arboviroses e Mosquitos Vetores do Instituto Pasteur e coautora do estudo. Ela ressalta que, apesar de envolver uma série de desafios, a realização de pesquisas sobre a transmissão silvestre de vírus é uma peça-chave para o enfrentamento das doenças emergentes. “É necessário estimular a investigação sobre esses ciclos. No entanto, os mosquitos silvestres não se desenvolvem bem em colônias em laboratório. Outra dificuldade frequente é que muitos vírus silvestres crescem mal em culturas in vitro. Por isso, pouco se sabe sobre esse assunto”, comenta.

Febre amarela, exemplo da passagem urbano-silvestre

De acordo com os cientistas, a passagem de um vírus do ciclo urbano para o silvestre foi um fenômeno observado com o vírus da febre amarela no passado. Trazida da África para as Américas, a doença circulou inicialmente nas cidades, provocando grandes epidemias. No começo do século 20, com o sucesso das campanhas de erradicação do A. aegypti, o agravo deixou de ser transmitido nas áreas urbanas do continente. No entanto, uma vez que a circulação viral já tinha se estabelecido nas florestas – com a disseminação entre mosquitos silvestres, incluindo o H. leucocelaenus, e macacos –, epidemias periódicas continuaram ocorrendo nas áreas próximas de matas.

“Nas regiões onde ocorre o ciclo silvestre, a vacinação se tornou a única ferramenta eficaz para prevenir os casos de febre amarela. Mas esse não é ainda um instrumento disponível contra a chikungunya”, alerta Ricardo, lembrando que as medidas usadas para controle do A. aegypti não são aplicáveis aos vetores das florestas. “Os mosquitos silvestres, como H. leucocelaenus e A. terrens, colocam seus ovos nos ocos de árvores, que acumulam água em períodos de chuva. Esse tipo de criadouro não pode ser eliminado ou vedado como fazemos com pneus, pratos de planta, caixas d’água e outros criadouros do A. aegypti em ambiente urbano. Se iniciar um ciclo silvestre, a chikungunya pode se tornar uma doença de muito difícil controle no nosso país”, completa.

Rotina de vigilância é a principal recomendação

Os autores do estudo defendem que sejam organizados programas de vigilância para a chikungunya que incluam uma rotina de avaliação de macacos e mosquitos, de modo similar ao que é preconizado para a febre amarela. Assim, seria possível determinar se a transmissão do vírus em ambientes silvestres já está ocorrendo e monitorar essa possibilidade no futuro. Em locais próximos de matas, os pesquisadores recomendam redobrar a atenção em relação a casos humanos de chikungunya, uma vez que, como o estudo apontou, os mosquitos silvestres estão aptos a transmitir o vírus. “É fundamental combater a doença, intensificando as medidas de controle do A. aegypti, especialmente nas áreas próximas às florestas, para prevenir o estabelecimento do vírus nas regiões de matas”, enfatiza Ricardo.

De acordo com os cientistas, as ações de vigilância devem incluir a coleta de amostras de macacos e mosquitos para avaliar a ocorrência de infecção natural. Além disso, a pesquisa de anticorpos – moléculas produzidas pelo organismo em resposta à infecção e que demonstram ter havido contato prévio com o vírus – deve ser realizada nos primatas e em outros animais vertebrados. “No caso da febre amarela, algumas espécies de macacos, como os bugios, são mais suscetíveis à infecção, e o seu adoecimento é um alerta para a circulação da doença – por isso são conhecidos como ‘sentinelas’. Em relação à chikungunya, ainda é preciso identificar quais os animais mais importantes para o monitoramento”, pondera o pesquisador.

Estudos anteriores

Em estudos anteriores, publicados em abril de 2014, o mesmo grupo de cientistas apontou, de forma pioneira, a possibilidade de transmissão do chikungunya nas áreas urbanas do Brasil e de outros países das Américas. O estudo que confirmou a alta competência vetorial dos mosquitos A. aegyptiA. albopictus de dez países do continente americano foi publicado no Journal of Virology. Os primeiros casos de infecção por chikungunya no território brasileiro foram confirmados pelo Ministério da Saúde poucos meses após a publicação do estudo, em setembro de 2014.

Segundo o Ministério da Saúde, do início do ano até 16 de março, foram registrados quase 13 mil casos de chikungunya no Brasil. O número é 44% menor do que o observado no mesmo período do ano passado, quando ocorreram mais de 23 mil notificações. A queda na média nacional não significa que a doença retrocedeu em todo o país. No Rio de Janeiro, houve 6,7 mil ocorrências de chikungunya em 2019 contra 5,8 mil em 2018, o que representa alta de 14%. Com maior número do país, o estado notificou duas vezes mais casos de chikungunya do que dengue este ano. Altos índices da infecção também foram observados em Tocantins, Pará e Acre.

Os sintomas da chikungunya são semelhantes aos da dengue, com febre e manchas vermelhas na pele, além de forte dor nas articulações, muitas vezes acompanhada de inchaço, entre outras manifestações. Além da possibilidade de formas graves, a chikungunya preocupa pelo risco de desenvolvimento de quadros crônicos: em alguns pacientes, a dor articular permanece por meses ou anos, causando limitações de movimentos.

Casos de dengue caem 98% no Paraná

O período epidemiológico da dengue foi encerrado com 870 casos e nenhum óbito no Paraná entre agosto de 2016 e julho de 2017. O informe técnico divulgado nesta segunda-feira (31) apontou uma redução de 98% de casos, comparado ao período anterior – de agosto de 2015 a julho de 2016 – que foi finalizado com 56.351 casos de dengue e 63 óbitos.

“Finalizamos este período com uma situação muito mais favorável. Isso mostra que as estratégias adotadas pelo Governo no combate à dengue estão sendo efetivas. Além de recursos para as prefeituras, também organizamos comitês, visitas domiciliares, fumacês, mutirões de limpeza, campanhas publicitárias, entre outras ações para reduzir esses números cada vez mais”, detalha o secretário de Saúde em exercício, Sezifredo Paz.

Entretanto, o cuidado com o Aedes aegypti deve continuar. “Mesmo com a significativa redução de casos que tivemos do período anterior para este, os cuidados não podem parar”, diz a chefe do Centro estadual de Vigilância Ambiental, Ivana Belmonte. Ela explica que a dengue é uma doença cíclica, ou seja, pode reaparecer periodicamente.

OUTRAS DOENÇAS – Ivana também destaca que, além da dengue, o mosquito transmite a chikungunya e a zika. “Alguns estados do Brasil estão apresentando alta nos casos de chikungunya. No Paraná, o município de Paranaguá, por exemplo, confirmou nove casos da doença em maio. Portanto, a orientação de eliminar todos os focos de água parada que podem se tornar possíveis criadouros do Aedes continua”, diz.

Os casos de zika também reduziram comparados ao período epidemiológico anterior, passando de 263 para apenas cinco casos em todo o Paraná. Ao contrário da dengue e da zika, os casos de chikungunya foram os únicos a aumentarem no Estado, com um total de 73 confirmações. São 17 a mais do que no período de 2015/2016, quando foram confirmados 56 casos.

Para evitar novas epidemias, a recomendação é de reservar ao menos um dia na semana para realizar uma limpeza em casa e no ambiente de trabalho. O mosquito leva de três a sete dias para se desenvolver do ovo até sua forma adulta, dependendo das temperaturas e da quantidade de chuvas, portanto uma semana é o período de intervalo máximo para realizar as vistorias.

BOLETIM – Mais informações podem ser acessadas no site . O último informe técnico foi publicado nesta segunda-feira (31). Entretanto, pode sofrer alterações, pois municípios têm até o mês de setembro para revisar e atualizar os dados.

Plataforma Zika apresenta primeiros resultados em evento

Projeto do Centro de Integração de Dados em Conhecimento para a Saúde (Cidacs/ Fiocruz), a Plataforma de Vigilância de Longo Prazo para a Zika e suas Consequências no Âmbito do SUS (Plataforma Zika) apresentará seus primeiros resultados com a realização da Feira de Soluções para a Saúde – Zika, que ocorre entre os dias 8 e 10/8, em Salvador. O evento é o primeiro de uma série de cinco, que acontecerão em todas as outras quatro regiões do país.

O objetivo geral da plataforma é a integração de conhecimentos da coorte epidemiológica com diferentes bases de dados da saúde e de políticas de desenvolvimento social (CadÚnico/PBC), para acompanhamento de longo prazo das condições de vida de crianças nascidas entre 2001 e 2015, acometidas pelo vírus. “A Plataforma foi proposta como uma contribuição da Fiocruz em resposta à emergência decorrente da epidemia de zika e da identificação das anomalias congênitas decorrentes da infecção na gestação, durante o primeiro semestre de 2016”, conta Wanderson Oliveira, membro da plataforma que conta com outros cerca de 50 pesquisadores, apoiadores e instituições participantes no Brasil e no exterior.

O estudo atuará em cinco eixos: Epidemiologia, Pesquisas, Redes, Segurança e Ciência aberta.  Cada eixo possui um responsável pela coordenação e gestão de projetos e subprojetos. Apesar de serem integrados, os mesmos possuem independência e agenda própria de atividades. A Feira de Soluções é um dos produtos esperados no desenvolvimento do Eixo 3.

O evento, promovido pela Fiocruz Brasília em parceria com o Centro, receberá centenas de expositores que apresentarão um importante conjunto de soluções para as arboviroses que acometem o Brasil. Nos dois primeiros dias da Feira, a programação contempla também o Seminário Internacional da Resposta Brasileira ao Vírus Zika, organizado pelo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e parceiros. Outro destaque será o Hackathon, maratona tecnológica em que os participantes serão desafiados a propor o desenvolvimento de softwares ou aplicativos que facilitem a prevenção e o combate às arboviroses como zika, dengue e chikungunya.

Ondas de infecções

Uma pesquisa sobre as duplas epidemias da infecção do vírus foi realizada por Wanderson Oliveira, resultado de sua tese de doutorado em epidemiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em conjunto com estudiosos vinculados ao Ministério da Saúde e da UFGRS, o pesquisador utilizou dados obtidos através dos sistemas de informação de saúde, coordenados pelo Ministério da Saúde, de janeiro de 2015 até novembro de 2016, e analisou o agrupamento espacial da infecção durante a gravidez e da microcefalia no país, para obter a estimativa da densidade.

Os achados deste estudo foram publicados no periódico científico The Lancet, em 22 de junho, no artigo Infection-related microcephaly after the 2015 and 2016 Zika virus outbreaks in Brazil: a surveillance-based analysis. A pesquisa identificou duas ondas distintas de possíveis infecções pelo vírus zika que se estenderam em todas as regiões brasileiras no período analisado. Dados apontam que a distribuição da microcefalia relacionada à infecção após os surtos do vírus variou ao longo do tempo e nas regiões brasileiras. As razões para essas aparentes diferenças ainda não estão totalmente esclarecidas.

A maioria dos casos (70,4%) de microcefalia ocorreu na região nordeste após a primeira onda de infecções, com o pico de ocorrência mensal estimado em 49,9 casos por 10 mil nascidos vivos. Após uma grande e bem documentada segunda onda de infecção pelo vírus em todas as regiões do Brasil, de setembro de 2015 a setembro de 2016, a ocorrência de microcefalia foi muito menor do que a primeira, atingindo níveis de epidemia em todas as regiões brasileiras, exceto no Sul, com picos mensais estimados variando de 3,2 a 15 casos por 10 mil nascidos vivos.

Estudo sobre dengue revela dados de zika e chikungunya

A pesquisa sobre diagnóstico de dengue desenvolvida pela Fiocruz Pernambuco, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Paulista, obteve resultados preliminares que surpreenderam os investigadores. Entre os voluntários estudados, ao contrário da expectativa inicial, nenhum caso de dengue foi comprovado – apenas de chikungunya (50%), zika (13%) e indeterminados (37%). Um resultado importante, pois fez um registro do período final da epidemia de zika, a partir de maio de 2015 e do posterior crescimento dos casos de chikungunya, até maio de 2016.

“Esses dados serão muito úteis para aumentar o conhecimento sobre as características laboratoriais e clínicas desses pacientes e para o diagnóstico diferencial da dengue”, explica a colaboradora da Fiocruz PE Tereza Magalhães, que integrou a equipe do projeto, coordenado pelo pesquisador Ernesto Marques (Fiocruz PE/Universidade de Pittsburgh). Outro aspecto de destaque é a oportunidade de disponibilizar informações mais específicas sobre chikungunya, uma doença que circula no estado há mais tempo que a zika, mas sobre a qual ainda não se reuniu muito conhecimento, especialmente de caráter epidemiológico. Nesse estudo, a equipe conseguiu dados sobre os sintomas crônicos, que perduram por longo tempo e causam muito sofrimento aos pacientes.

A pesquisa, que também recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe) pelo edital do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS), faz parte de um projeto multicêntrico do International Research Consortium on Dengue Risk Assessment, Management and Surveillance (Idams), um consórcio internacional de pesquisa em dengue da Comissão Europeia. A iniciativa chegou agora à etapa de análise dos dados, na qual estão sendo consolidadas as informações de um total aproximado de 7.500 pacientes, recrutados em oito países, da América Latina e da Ásia. No Brasil, além da Região Metropolitana do Recife, outras duas capitais participaram do estudo, com outros grupos de pesquisa: Rio de Janeiro e Fortaleza.

Estudo dengue

Em Pernambuco, os trabalhos de campo foram realizados entre maio de 2015 e maio de 2016, na UPA de Paulista, em parceria com o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip). Foram recrutados 263 pacientes, escolhidos por terem sintomas sugestivos de dengue, com tempo máximo de 72h desde o início da febre, entre outros critérios. Em relação a esses critérios de inclusão, Tereza considera que a pesquisa foi muito bem-sucedida: 63% dos participantes tiveram arboviroses (zika ou chikungunha) confirmadas.

Chamou a atenção dos pesquisadores o excesso de reação cruzada entre dengue e zika no teste sorológico adotado. Os casos de zika davam falso positivo para dengue. “Numa área como a região metropolitana do Recife, onde esses vírus estão co-circulando, é muito importante avaliar o desempenho dos testes sorológicos usados nos laboratórios, inclusive de referência, porque você tem um número significativo de falsos positivos”, explica a pesquisadora. “Todas as amostras que foram testadas para a sorologia de dengue nós testamos também para zika e chikungunya (com um exame não comercial), com resultados bem mais confiáveis”.

Com relação ao gênero, o número de mulheres e homens recrutados foi praticamente igual. No entanto, os casos de zika foram observados mais em mulheres (70%) do que em homens (30%), enquanto para chikungunya o padrão foi oposto, muito mais homens que mulheres. “Vários estudos reportam um viés assim, com uma proporção maior de mulheres com zika do que homens e uma hipótese é que isso pode estar relacionado com a transmissão sexual do vírus”, declara a pesquisadora. Isso porque as mulheres são mais suscetíveis a essa forma de transmissão de patógenos do que os homens. “Pelo que sabemos, trata-se do primeiro estudo que identifica esse padrão oposto entre os pacientes com zika e os com chikungunya”, comenta.

Transmissão sexual

Esse estudo inicial servirá de base para uma nova abordagem, que tentará comprovar casos de transmissão de zika por via sexual, num projeto que envolve duas partes. A primeira utilizando modelos animais de transmissão sexual, que será feita exclusivamente nos EUA e a segunda, sobre a parte clínica, que será feita em sua maior parte no Brasil. Os trabalhos da pesquisa Tropismo urogenital, patogenia e transmissão sexual do vírus zikasão feitos em colaboração entre a Universidade Estadual do Colorado (CSU) e a Fiocruz PE, com financiamento dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH).

A pesquisa já foi iniciada, a partir de uma visão retrospectiva, utilizando como ferramentas a sorologia e a aplicação de um questionário. Todos os participantes do estudo Idams sobre dengue estão sendo convidados a colaborar. Serão pesquisados os parceiros sexuais e moradores da mesma residência para tentar identificar se houve transmissão do vírus e se foi por vetor ou por via sexual. A hipótese dessa investigação é que os parceiros sexuais das pessoas que tiveram zika tenham uma probabilidade maior de terem sido infectados do que os parceiros sexuais dos que tiveram chikungunya (e outras doenças) e do que os outros moradores da residência. A expectativa é de que os resultados sejam apresentados ainda este ano.

A coordenação é composta pelos pesquisadores da Fiocruz PE Ernesto Marques e Clarice Lins, do Depto de Virologia, além de Ana Brito, do Depto de Saúde Coletiva e pela colaboradora Tereza Magalhães (atualmente pesquisadora da Colorado State University – CSU). O coordenador da pesquisa nos EUA é o professor titular da CSU Brian Foy, que foi pioneiro em verificar a possibilidade de transmissão sexual do vírus zika. Seu estudo inicial sobre o tema foi baseado numa experiência própria, pois em 2008 o cientista foi infectado no Senegal e acabou contaminando a esposa ao retornar para o Colorado – um local sem incidência do vetor, o Aedes aegypti.

Artigos sobre febre amarela e chikungunya ganham publicação acelerada na revista ‘Memórias do IOC’

A revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz ampliou seu sistema de publicação acelerada de artigos para incluir pesquisas sobre febre amarela e chikungunya, além dos estudos relacionados ao vírus zika. Implantado em junho de 2015, o sistema de Fast Track oferece uma via rápida para divulgação de trabalhos, que são disponibilizados online em um prazo de 24 horas após a submissão. De acordo com os editores do periódico, a decisão foi tomada considerando o contexto atual dos agravos. “A zika já não é considerada uma emergência de saúde pública de interesse internacional, mas ainda há necessidade de mais investigação sobre esta infecção, assim como sobre outras doenças emergentes e re-emergentes. Portanto, ‘Memórias’ decidiu expandir a seção Fast Track para incluir investigações sobre chikungunya e febre amarela, além do vírus zika”, afirmam em texto divulgado no site da revista.

A publicação através do sistema acelerado ocorre após a avaliação de um editor do periódico. Os artigos considerados relevantes são indexados, recebendo um registro preliminar de indicador de objeto digital (DOI, na sigla em inglês), e divulgados no site da revista, na seção Fast Track. Para orientar os leitores, é indicado que a revisão por pares está em andamento. O processo de submissão não é alterado no sistema de Fast Track e os manuscritos podem ser enviados através do site da revista. Após a conclusão da revisão, os estudos aceitos para publicação são incluídos em uma edição regular do periódico, com menção ao período de dados abertos no sistema de Fast Track. Em caso de rejeição, o acesso ao manuscrito é retirado e um aviso de que o manuscrito não foi aceito é mostrado na seção. Os autores ficam livres para submeter o estudo a outro periódico.

Fundada em 1909, a revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz é um dos periódicos mais antigos e acessados da América Latina. Todo o seu conteúdo é disponibilizado online com gratuidade dupla, tanto para acesso quanto para publicação. Clique aqui para acessar os artigos publicados na seção Fast Track.