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Webinário debate tecnologias digitais e Atenção Primária no SUS

O terceiro webinário da série Transformação Digital na Saúde Pública, produzida pelo Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz Antonio Ivo de Carvalho (CEE/Fiocruz), terá como tema As tecnologias digitais na Atenção Primária à Saúde: Desafios e estratégias para o Sistema Único de Saúde [SUS]. O evento será realizado na próxima quinta-feira (5/11), às 10h, com transmissão ao vivo pelo canal do YouTube da Vídeo Saúde Distribuidora da Fiocruz. Nele será discutido o uso de tecnologias da informação e comunicação (TICs) para melhorar a gestão, o diagnóstico e o cuidado dos usuários do SUS. O público poderá participar com comentários e perguntas enviadas pelo chat.

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Estudo mostra que o brasileiro está mais obeso, diabético e com a pressão mais alta

Grande estudo sobre doenças crônicas com a participação do HU traz um retrato preocupante da saúde no País

A saúde da população brasileira adulta não vai bem. As pessoas estão mais obesas, um terço tem hipertensão, muitas delas desenvolveram diabetes e quase metade tem colesterol alto. A avaliação é do médico Paulo Lotufo, e tem um fundamento bem sólido: dados levantados no Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), que ele coordena na USP desde 2008.

A primeira divulgação dos resultados do Elsa-Brasil a um público mais amplo foi feita no dia 1º de fevereiro no Hospital Universitário (HU) da USP, uma das bases operacionais do projeto. A apresentação trouxe um retrato das principais doenças crônicas no País – arterosclerose, enxaqueca, hipertensão, diabetes e dislipidemia (presença de gordura no sangue). Estas patologias crônicas são as responsáveis pelos maiores índices de mortalidade e morbidade no Brasil e seu aumento, principalmente a partir dos anos 1960, têm gerado altos gastos para o Sistema Único de Saúde (SUS).

O projeto Elsa testou e validou algumas medidas e escores de pesquisas já realizadas em populações no exterior com doenças cardiovasculares, para saber em que medida os critérios desses estudos poderiam ser aplicados à população brasileira. De forma geral, houve similaridade, inclusive com relação aos fatores de risco: obesidade, hipertensão arterial, colesterol elevado e diabetes. Em uma próxima etapa, serão considerados outros elementos como diversidade racial e hábitos de vida dos brasileiros.

USP em alerta

O público pesquisado na USP é composto por professores e funcionários. Para esse grupo, o cardiologista Márcio Sommer Bittencourt, pesquisador do Elsa e um dos palestrantes do evento, não têm boas notícias. Segundo ele, apesar destes servidores terem mais acesso aos serviços de saúde do que a população em geral, andam com hábitos de vida não muito saudáveis. Mesmo sendo um pequeno subgrupo analisado, pouco mais de 5 mil, os participantes “uspianos”, quando comparados à maioria da população brasileira, estão mais obesos ou com sobrepeso, fazem menos atividade física fora do ambiente de trabalho e têm maior propensão ao diabetes.

Em relação ao acompanhamento da própria saúde, porém, o grupo da USP está em melhor situação. Dados da pesquisa sobre hipertensão arterial mostram que dos 35% dos participantes da USP que tiveram diagnóstico de hipertensão, 80% já tinham conhecimento dessa informação, enquanto que na população brasileira esta média cai para 50%.

Bittencourt espera que os exames realizados pelos servidores, cujos resultados foram entregues individualmente para cada participante, sirvam de estímulo para que cuidem melhor de si mesmos. Isso com o objetivo não apenas de melhorar sua expectativa de vida em anos, mas de ter uma “perspectiva de saúde mais prolongada”.

Elenir Aguilhera de Barros, de 72 anos, professora aposentada do Departamento de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, esteve o tempo todo sentada na primeira fila do evento a fim de acompanhar a apresentação dos trabalhos – e garante se sentir muito bem assistida pelo Elsa. Não só fez vários exames para investigar alguns problemas de saúde, conta ela, como também teve acesso ao acompanhamento psicológico para aposentados.

Enxaqueca e doenças tiroidianas

Além de doenças cardiovasculares, os resultados apresentados trouxeram dados sobre enxaqueca e doenças da tireoide. A pesquisadora Alessandra Goulart anuncia que o brasileiro está mais “enxaquecoso”, ou seja, ele tem mais episódios de dores de cabeça durante sua vida – cujos sintomas são dores pulsantes, náuseas, perda parcial da visão e sensibilidade à luz e ao som.

Apesar de não haver ainda nenhum estudo comprovando o crescimento do problema, há uma prevalência da enxaqueca aumentada em toda a América Latina. A novidade do estudo nessa área foram as evidências encontradas de que há correlação entre as pessoas que sofrem de enxaqueca e de transtornos de ansiedade e depressão.

Sobre doenças tiroidianas, há indícios de que a levotiroxina (medicamento utilizado no tratamento do hipotireoidismo) esteja sendo receitada de forma inadequada aos pacientes. Segundo a pesquisadora Isabela Benseñor, o diagnóstico de hipotireoidismo subclínico (forma mais branda da doença, geralmente sem sintomas, mas detectável em exames) é feito pelo Elsa a partir da dosagem dos hormônios e de informações do paciente se ele faz uso ou não da levotiroxina. A partir desse procedimento, foi possível observar que há mais pessoas com hipotireoidismo clínico do que com hipotireoidismo subclínico, o que sugere que “tem mais gente do que deveria usando a levotixoxina”, adverte Isabela.

Projeto Elsa-Brasil

Foto: Cecília Bastos

A investigação multicêntrica do projeto Elsa-Brasil vem sendo desenvolvida desde 2008 com cerca de 15 mil pessoas entre 35 e 74 anos de várias instituições públicas de ensino superior e pesquisa das regiões nordeste, sul e sudeste do Brasil. Na USP, são 5.061 voluntários que participam do trabalho. O objetivo é investigar, a longo prazo, a incidência e os fatores de risco para doenças crônicas. A importância das pesquisas do Elsa se confirma na área de saúde pública brasileira. Os resultados vão servir de subsídio para direcionamento e adequações de políticas públicas. As ações do SUS, dos programas de atenção primária e do sistemas privados terão impactos direto dos resultados dessas pesquisas, conclui Lotufo.

Mais informações: site www.elsa.org.br

Estudos internacionais abordam bullying e hanseníase

Por Raquel Duarte, da Assessoria de Comunicação da EERP

A influência de variáveis familiares na prática do bullying escolar e a hanseníase na perspectiva de profissionais da saúde são os temas de dois estudos internacionais realizados por pesquisadores da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP. O doutorando Wanderlei Oliveira e a mestranda Karen Santos, ambos da EERP, fazem pós-graduação sanduíche na Universidade Católica do Sagrado Coração, Itália, e na Universidade de Limoges, França, respectivamente.

Wanderlei é psicólogo, e doutorando no Programa de Enfermagem em Saúde Pública, da EERP, com orientação da professora Marta Angélica Iossi. O pós-graduando iniciou suas atividades no exterior em janeiro de 2015, com a pesquisa Relações entre bullying na adolescência e interações familiares: do singular ao plural. Na Itália recebe orientação da professora Simona Caravita.

O tema do estudo de Karen é Significados e Sentidos da Hanseníase para os trabalhadores da saúde, orientada no Brasil por Cinira Fortuna e na França é pela professora Patricia Alonso

Segundo Wanderlei, os objetivos da pesquisa são conhecer e analisar a relação entre a qualidade das interações familiares de adolescentes e o envolvimento em práticas de bullyingescolar, na perspectiva dos próprios adolescentes. “A novidade do estudo reside na incorporação de variáveis familiares no debate sobre esse fenômeno, uma vez que as pesquisas, sobretudo no Brasil, ainda se concentram na caracterização do fenômeno ou em abordagens focalizadas no cenário escolar”.

Para o pesquisador, “o estudo ampliará, dessa forma, a compreensão do bullyinge incorporará análises que poderão subsidiar práticas em saúde, principalmente na atenção primária, e programas de intervenção intersetoriais, com diferentes frentes de atuação”. O doutorando explica que, na realidade italiana, as questões sobre o bullying estão relacionadas com a origem étnica ou territorial. Para ele, o Brasil também pode ser visto da mesma forma, uma vez que é um país com vasta diversidade e de proporções continentais.

Dentre algumas experiências que a pesquisa proporcionou em sua vida, o aluno destaca que, “quando se trata de doutorado sanduíche, se estabelece relação que preza pelo compartilhar do saber, como em Grupo de Estudos, Ensino e Pesquisa do Programa de Atenção Primária de Saúde do Escolar (PROASE) na área da violência escolar ou mesmo em questões metodológicas.” O estágio sanduíche de Wanderlei, termina em no dia 31 de dezembro de 2015. Seu doutorado será concluído no Brasil, com previsão da defesa para o mês de outubro de 2016.

Hanseníase
Karen Santos é mestranda no Programa de Saúde Pública, participa do Grupo Núcleo de Pesquisas e Estudos em Saúde Coletiva (NUPESCO) e está na França desde agosto de 2015. No Brasil, ela recebe a orientação da professora Cinira Fortuna, já na França é orientada pela professora Patricia Alonso. O tema da pesquisa de Karen no Brasil é Significados e Sentidos da Hanseníase para os trabalhadores da saúde. Na França, a aluna pretende manter o mesmo tema, trabalhando com a temática da hanseníase e utilizando o referencial teórico da análise institucional.

Segundo a mestranda, sua pesquisa é importante para a compreensão do pensamento e da linguagem utilizada pelos trabalhadores que lidam com pessoas atingidas pela hanseníase. O estudo irá possibilitar interpretação das relações entre profissional e usuário, profissional e serviço e profissional e sociedade. Karen explica que as aulas do mestrado na França são direcionadas aos aspectos pedagógicos e institucionais da formação de adultos. O mestrado sanduíche termina no mês de junho de 2016, e então a aluna retorna ao Brasil para finalizar o estudo na EERP.

No Brasil, a aluna participou como diretora do documentário Hanseníase recontada, revivida, da Liga de Hanseníase da EERP. Karen também foi a primeira presidente da Liga. Todos os seus trabalhos foram orientados pela professora Cinira Fortuna.

A pós-graduação sanduíche é um período que o aluno realiza seus estudos fora do seu país de origem. A média é de um ano, mas antes de ingressar na universidade estrangeira, é necessário que tenha iniciado uma parte dos estudos em seu país. O termo sanduíche se dá em função de acontecer a vivência no exterior  no meio do curso.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Mais informações: email wanderleio@hotmail.com, com Wanderlei Oliveira; email karen-web@hotmail.com, com Karen Santos