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Espírito Santo tem aumento significativo de casos de arboviroses

Dados foram divulgados nesta segunda pelo Ministério da Saúde

O Espírito Santo vem registrando um aumento significativo de casos de arboviroses ao longo das últimas semanas e tem concentrado a maior parte das ocorrências no país. As informações foram divulgadas nesta segunda-feira (2) pelo Ministério da Saúde. Em nota, a pastou avaliou que o cenário gera “preocupações” diante da rápida disseminação das doenças.

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Com 6,3 milhões de casos prováveis, Brasil lidera ranking de dengue. Argentina ocupa segundo lugar, com 420 mil casos prováveis

Com quase 6,3 milhões de casos prováveis de dengue, sendo mais de 3 milhões confirmados em laboratório, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de países com maior número de notificações da doença em 2024. Em seguida estão Argentina, com 420 mil casos prováveis; Paraguai, com 257 mil casos prováveis; e Peru, com quase 200 mil casos prováveis.

Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS), que já contabiliza este ano um total de 7,6 milhões de casos prováveis de dengue em todo o mundo, sendo 3,4 milhões confirmados em laboratório. O painel de monitoramento da entidade aponta ainda mais de 3 mil mortes provocadas pela doença. Atualmente, 90 países registram transmissão ativa de dengue.

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Fiocruz vira referência em protocolo de detecção do vírus Oropouche

A previsão é de que, a partir de 2024, todos os estados do país estejam realizando o diagnóstico (foto: Eduardo Gomes)

Desenvolvido no Instituto Leônidas & Maria Deane (Fiocruz Amazônia), o protocolo de diagnóstico por PCR em tempo real para a detecção do Oropouche será utilizado por oito laboratórios públicos brasileiros e, futuramente, em outros países da América. O Oropouche é um arbovírus que causa sintomas parecidos com a dengue e a decisão de uso do protocolo foi tomada pela Coordenação Geral de Laboratório de Saúde Pública (CGLAB) do Ministério da Saúde (MS), como parte da estratégia de vigilância de vírus emergentes no continente. A adoção do ensaio visa ampliar a oferta diagnóstica para a prevenção do surgimento de doenças com potencial para se transformar em epidemias ou pandemias.

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Pesquisadores defendem expansão do monitoramento genômico de arbovírus

Pesquisadores de 54 países se reuniram para defender a necessidade de implantar uma vigilância genômica mundial para arbovírus endêmicos de alto impacto. A proposta do grupo é que seja utilizado o modelo e a infraestrutura de monitoramento que foi implementada com sucesso para o Sars-CoV-2, o causador da pandemia de Covid-19. A carta, assinada por 74 estudiosos, foi publicada na conceituada revista científica The Lancet Global Health nesta terça-feira (1º/8). A carta inclui pesquisadores do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco), do Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia) e do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

Segundo os autores, os vírus da dengue, zika e chikungunya deveriam ser os primeiros a receber esse enfoque, devido ao seu impacto mundial e ao fato de que eles causam uma pesada carga de doença com sintomas de leves a potencialmente fatais, resultando no curto e longo prazo em substancial morbimortalidade. “Estimativas epidemiológicas destacam o impacto desses vírus, com metade da população mundial em risco de infecção pelo vírus da dengue e cerca de 100 a 400 milhões casos e 20 mil mortes registradas a cada ano”, destacam os autores na publicação. A expansão dos principais vetores – os mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus – para novas áreas, em função da urbanização, globalização, mobilidade humana e mudanças climáticas é mais um fator de preocupação apontado.

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Casos de dengue caem 98% no Paraná

O período epidemiológico da dengue foi encerrado com 870 casos e nenhum óbito no Paraná entre agosto de 2016 e julho de 2017. O informe técnico divulgado nesta segunda-feira (31) apontou uma redução de 98% de casos, comparado ao período anterior – de agosto de 2015 a julho de 2016 – que foi finalizado com 56.351 casos de dengue e 63 óbitos.

“Finalizamos este período com uma situação muito mais favorável. Isso mostra que as estratégias adotadas pelo Governo no combate à dengue estão sendo efetivas. Além de recursos para as prefeituras, também organizamos comitês, visitas domiciliares, fumacês, mutirões de limpeza, campanhas publicitárias, entre outras ações para reduzir esses números cada vez mais”, detalha o secretário de Saúde em exercício, Sezifredo Paz.

Entretanto, o cuidado com o Aedes aegypti deve continuar. “Mesmo com a significativa redução de casos que tivemos do período anterior para este, os cuidados não podem parar”, diz a chefe do Centro estadual de Vigilância Ambiental, Ivana Belmonte. Ela explica que a dengue é uma doença cíclica, ou seja, pode reaparecer periodicamente.

OUTRAS DOENÇAS – Ivana também destaca que, além da dengue, o mosquito transmite a chikungunya e a zika. “Alguns estados do Brasil estão apresentando alta nos casos de chikungunya. No Paraná, o município de Paranaguá, por exemplo, confirmou nove casos da doença em maio. Portanto, a orientação de eliminar todos os focos de água parada que podem se tornar possíveis criadouros do Aedes continua”, diz.

Os casos de zika também reduziram comparados ao período epidemiológico anterior, passando de 263 para apenas cinco casos em todo o Paraná. Ao contrário da dengue e da zika, os casos de chikungunya foram os únicos a aumentarem no Estado, com um total de 73 confirmações. São 17 a mais do que no período de 2015/2016, quando foram confirmados 56 casos.

Para evitar novas epidemias, a recomendação é de reservar ao menos um dia na semana para realizar uma limpeza em casa e no ambiente de trabalho. O mosquito leva de três a sete dias para se desenvolver do ovo até sua forma adulta, dependendo das temperaturas e da quantidade de chuvas, portanto uma semana é o período de intervalo máximo para realizar as vistorias.

BOLETIM – Mais informações podem ser acessadas no site . O último informe técnico foi publicado nesta segunda-feira (31). Entretanto, pode sofrer alterações, pois municípios têm até o mês de setembro para revisar e atualizar os dados.

Plataforma Zika apresenta primeiros resultados em evento

Projeto do Centro de Integração de Dados em Conhecimento para a Saúde (Cidacs/ Fiocruz), a Plataforma de Vigilância de Longo Prazo para a Zika e suas Consequências no Âmbito do SUS (Plataforma Zika) apresentará seus primeiros resultados com a realização da Feira de Soluções para a Saúde – Zika, que ocorre entre os dias 8 e 10/8, em Salvador. O evento é o primeiro de uma série de cinco, que acontecerão em todas as outras quatro regiões do país.

O objetivo geral da plataforma é a integração de conhecimentos da coorte epidemiológica com diferentes bases de dados da saúde e de políticas de desenvolvimento social (CadÚnico/PBC), para acompanhamento de longo prazo das condições de vida de crianças nascidas entre 2001 e 2015, acometidas pelo vírus. “A Plataforma foi proposta como uma contribuição da Fiocruz em resposta à emergência decorrente da epidemia de zika e da identificação das anomalias congênitas decorrentes da infecção na gestação, durante o primeiro semestre de 2016”, conta Wanderson Oliveira, membro da plataforma que conta com outros cerca de 50 pesquisadores, apoiadores e instituições participantes no Brasil e no exterior.

O estudo atuará em cinco eixos: Epidemiologia, Pesquisas, Redes, Segurança e Ciência aberta.  Cada eixo possui um responsável pela coordenação e gestão de projetos e subprojetos. Apesar de serem integrados, os mesmos possuem independência e agenda própria de atividades. A Feira de Soluções é um dos produtos esperados no desenvolvimento do Eixo 3.

O evento, promovido pela Fiocruz Brasília em parceria com o Centro, receberá centenas de expositores que apresentarão um importante conjunto de soluções para as arboviroses que acometem o Brasil. Nos dois primeiros dias da Feira, a programação contempla também o Seminário Internacional da Resposta Brasileira ao Vírus Zika, organizado pelo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e parceiros. Outro destaque será o Hackathon, maratona tecnológica em que os participantes serão desafiados a propor o desenvolvimento de softwares ou aplicativos que facilitem a prevenção e o combate às arboviroses como zika, dengue e chikungunya.

Ondas de infecções

Uma pesquisa sobre as duplas epidemias da infecção do vírus foi realizada por Wanderson Oliveira, resultado de sua tese de doutorado em epidemiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em conjunto com estudiosos vinculados ao Ministério da Saúde e da UFGRS, o pesquisador utilizou dados obtidos através dos sistemas de informação de saúde, coordenados pelo Ministério da Saúde, de janeiro de 2015 até novembro de 2016, e analisou o agrupamento espacial da infecção durante a gravidez e da microcefalia no país, para obter a estimativa da densidade.

Os achados deste estudo foram publicados no periódico científico The Lancet, em 22 de junho, no artigo Infection-related microcephaly after the 2015 and 2016 Zika virus outbreaks in Brazil: a surveillance-based analysis. A pesquisa identificou duas ondas distintas de possíveis infecções pelo vírus zika que se estenderam em todas as regiões brasileiras no período analisado. Dados apontam que a distribuição da microcefalia relacionada à infecção após os surtos do vírus variou ao longo do tempo e nas regiões brasileiras. As razões para essas aparentes diferenças ainda não estão totalmente esclarecidas.

A maioria dos casos (70,4%) de microcefalia ocorreu na região nordeste após a primeira onda de infecções, com o pico de ocorrência mensal estimado em 49,9 casos por 10 mil nascidos vivos. Após uma grande e bem documentada segunda onda de infecção pelo vírus em todas as regiões do Brasil, de setembro de 2015 a setembro de 2016, a ocorrência de microcefalia foi muito menor do que a primeira, atingindo níveis de epidemia em todas as regiões brasileiras, exceto no Sul, com picos mensais estimados variando de 3,2 a 15 casos por 10 mil nascidos vivos.

Estudo sobre dengue revela dados de zika e chikungunya

A pesquisa sobre diagnóstico de dengue desenvolvida pela Fiocruz Pernambuco, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Paulista, obteve resultados preliminares que surpreenderam os investigadores. Entre os voluntários estudados, ao contrário da expectativa inicial, nenhum caso de dengue foi comprovado – apenas de chikungunya (50%), zika (13%) e indeterminados (37%). Um resultado importante, pois fez um registro do período final da epidemia de zika, a partir de maio de 2015 e do posterior crescimento dos casos de chikungunya, até maio de 2016.

“Esses dados serão muito úteis para aumentar o conhecimento sobre as características laboratoriais e clínicas desses pacientes e para o diagnóstico diferencial da dengue”, explica a colaboradora da Fiocruz PE Tereza Magalhães, que integrou a equipe do projeto, coordenado pelo pesquisador Ernesto Marques (Fiocruz PE/Universidade de Pittsburgh). Outro aspecto de destaque é a oportunidade de disponibilizar informações mais específicas sobre chikungunya, uma doença que circula no estado há mais tempo que a zika, mas sobre a qual ainda não se reuniu muito conhecimento, especialmente de caráter epidemiológico. Nesse estudo, a equipe conseguiu dados sobre os sintomas crônicos, que perduram por longo tempo e causam muito sofrimento aos pacientes.

A pesquisa, que também recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe) pelo edital do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS), faz parte de um projeto multicêntrico do International Research Consortium on Dengue Risk Assessment, Management and Surveillance (Idams), um consórcio internacional de pesquisa em dengue da Comissão Europeia. A iniciativa chegou agora à etapa de análise dos dados, na qual estão sendo consolidadas as informações de um total aproximado de 7.500 pacientes, recrutados em oito países, da América Latina e da Ásia. No Brasil, além da Região Metropolitana do Recife, outras duas capitais participaram do estudo, com outros grupos de pesquisa: Rio de Janeiro e Fortaleza.

Estudo dengue

Em Pernambuco, os trabalhos de campo foram realizados entre maio de 2015 e maio de 2016, na UPA de Paulista, em parceria com o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip). Foram recrutados 263 pacientes, escolhidos por terem sintomas sugestivos de dengue, com tempo máximo de 72h desde o início da febre, entre outros critérios. Em relação a esses critérios de inclusão, Tereza considera que a pesquisa foi muito bem-sucedida: 63% dos participantes tiveram arboviroses (zika ou chikungunha) confirmadas.

Chamou a atenção dos pesquisadores o excesso de reação cruzada entre dengue e zika no teste sorológico adotado. Os casos de zika davam falso positivo para dengue. “Numa área como a região metropolitana do Recife, onde esses vírus estão co-circulando, é muito importante avaliar o desempenho dos testes sorológicos usados nos laboratórios, inclusive de referência, porque você tem um número significativo de falsos positivos”, explica a pesquisadora. “Todas as amostras que foram testadas para a sorologia de dengue nós testamos também para zika e chikungunya (com um exame não comercial), com resultados bem mais confiáveis”.

Com relação ao gênero, o número de mulheres e homens recrutados foi praticamente igual. No entanto, os casos de zika foram observados mais em mulheres (70%) do que em homens (30%), enquanto para chikungunya o padrão foi oposto, muito mais homens que mulheres. “Vários estudos reportam um viés assim, com uma proporção maior de mulheres com zika do que homens e uma hipótese é que isso pode estar relacionado com a transmissão sexual do vírus”, declara a pesquisadora. Isso porque as mulheres são mais suscetíveis a essa forma de transmissão de patógenos do que os homens. “Pelo que sabemos, trata-se do primeiro estudo que identifica esse padrão oposto entre os pacientes com zika e os com chikungunya”, comenta.

Transmissão sexual

Esse estudo inicial servirá de base para uma nova abordagem, que tentará comprovar casos de transmissão de zika por via sexual, num projeto que envolve duas partes. A primeira utilizando modelos animais de transmissão sexual, que será feita exclusivamente nos EUA e a segunda, sobre a parte clínica, que será feita em sua maior parte no Brasil. Os trabalhos da pesquisa Tropismo urogenital, patogenia e transmissão sexual do vírus zikasão feitos em colaboração entre a Universidade Estadual do Colorado (CSU) e a Fiocruz PE, com financiamento dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH).

A pesquisa já foi iniciada, a partir de uma visão retrospectiva, utilizando como ferramentas a sorologia e a aplicação de um questionário. Todos os participantes do estudo Idams sobre dengue estão sendo convidados a colaborar. Serão pesquisados os parceiros sexuais e moradores da mesma residência para tentar identificar se houve transmissão do vírus e se foi por vetor ou por via sexual. A hipótese dessa investigação é que os parceiros sexuais das pessoas que tiveram zika tenham uma probabilidade maior de terem sido infectados do que os parceiros sexuais dos que tiveram chikungunya (e outras doenças) e do que os outros moradores da residência. A expectativa é de que os resultados sejam apresentados ainda este ano.

A coordenação é composta pelos pesquisadores da Fiocruz PE Ernesto Marques e Clarice Lins, do Depto de Virologia, além de Ana Brito, do Depto de Saúde Coletiva e pela colaboradora Tereza Magalhães (atualmente pesquisadora da Colorado State University – CSU). O coordenador da pesquisa nos EUA é o professor titular da CSU Brian Foy, que foi pioneiro em verificar a possibilidade de transmissão sexual do vírus zika. Seu estudo inicial sobre o tema foi baseado numa experiência própria, pois em 2008 o cientista foi infectado no Senegal e acabou contaminando a esposa ao retornar para o Colorado – um local sem incidência do vetor, o Aedes aegypti.

Fiocruz compõe Força Nacional do SUS contra a febre amarela

No início do ano, o Ministério da Saúde convocou a Força Nacional do Sistema Único de Saúde (FNSUS) para atuar nos diversos municípios de Minas Gerais que sofriam com o surto de febre amarela. Três equipes, totalizando 30 profissionais, se deslocaram para o estado mineiro e prestaram atendimento à população. A médica infectologista Ana Carla Pecego e o enfermeiro Renato França da Silva, do Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz), integraram esse grupo e relataram suas experiências durante a reunião científica Febre Amarela – precisamos estar preparados!, realizada pela Sociedade de Terapia Intensiva do Estado do Rio de Janeiro (Sotierj), no auditório do Museu da Vida, no dia 24 de abril. A apresentação foi coordenada pela Chefe do Serviço de Enfermagem do INI/Fiocruz, Mariana Machay.

Grupo relatou experiências durante a reunião científica ‘Febre Amarela – precisamos estar preparados!’ (foto: INI/Fiocruz)

Em sua exposição, Renato França da Silva explicou o que é e qual o papel dessa Força Nacional. Criada em novembro de 2011, a FNSUS é um dos componentes da Rede de Urgências e Emergência (RUE) do Ministério da Saúde, sendo um programa de cooperação voltado à execução de medidas de prevenção, assistência e repressão a situações epidemiológicas, de desastres ou de desassistência à população. Desde sua instituição, a FNSUS já atuou em 41 eventos, sendo 10 em 2012, 10 em 2013, oito em 2014, seis em 2015, cinco em 2016 e dois em 2017. “Neste ano, a Força Nacional atuou no acidente aéreo com o time da Chapecoense, na Colômbia, e agora no surto de febre amarela”, informou Renato.

A missão da FNSUS em Minas Gerais ocorreu, de 23 de janeiro a 10 de fevereiro, contando com uma coordenadora local e dividida em três equipes de 30 profissionais, envolvendo oito médicos, 17 enfermeiros e cinco técnicos de enfermagem. Tanto Renato França da Silva quanto Ana Carla Pecego atuaram no município em Novo Cruzeiro, a cerca de 2h30 do município de Teófilo Otoni (MG), situado no Vale do Rio Doce, região que também foi afetada pelo desastre de Mariana, em 2015.

A atuação da FNSUS envolvia o atendimento dos casos suspeitos de febre amarela na emergência, visita médica dos casos internados, classificação de risco diária, organização de protocolo e fluxograma de atendimento, reunião para conscientização da situação atual da epidemia na região, treinamento de médicos e enfermeiros do hospital e dos postos de saúde da região, além de treinamento e esclarecimento de dúvidas dos agentes comunitários de saúde. “É importante ressaltar que o treinamento que a FNSUS ofereceu aos profissionais dos postos de saúde foi o grande diferencial em relação ao atendimento e tratamento da população. Podemos dizer que isso salvou ajudou a salvar inúmeras vidas nessa epidemia”, disse Renato.

Outro ponto destacado pelo enfermeiro foi o papel dos agentes comunitários de saúde, que faziam visitas diárias aos pacientes, ajudavam na separação de casos suspeitos e casos de retorno no posto de saúde e que promoveram uma cobertura vacinal na zona rural dessa região de quase 80%. “A atuação deles foi incansável. Aproveitei a experiência vivida no INI/Fiocruz e ministrei uma aula que tinha comigo num pen-drive para os profissionais de saúde local explicando melhor a diferenciação de dengue, zika e chikungunya. A atividade foi muito útil para todos, uma vez que pudemos aprofundar mais nos sintomas referentes a cada uma das doenças e nas sutilezas existentes com relação à febre amarela, para que eles tivessem uma melhor noção das outras arboviroses”, concluiu.

Durante sua intervenção a infectologista Ana Carla Pecego aproveitou a oportunidade para falar sobre questões epidemiológicas e aspectos clínicos da febre amarela no Brasil. “Atualmente, 200 mil novos casos são registrados, ao ano, da doença pelo mundo, sendo que aproximadamente 15% são graves e, desse total, 50% pode levar à mortalidade. É difícil erradicar o Aedes aegypti hoje em dia devido à urbanização caótica nas nossas cidades, que cresceram sem pensar numa lógica de infraestrutura básica, por exemplo. Outro ponto importante é que a febre amarela está saindo do interior do país e chegando até o litoral. Nós temos vacinas para combater o surto mas, no momento, não temos como eliminar a doença”, destacou Ana Carla.

Em seguida, a infectologista apresentou dados do Ministério da Saúde sobre a febre amarela. Segundo o informe, até 12 de abril foram notificados 2.422 casos da doença no país, sendo 623 confirmados, 671 em investigação e 1.128 descartados. Dos 326 óbitos ocorridos, 209 foram ocasionados pela febre amarela, 64 estão em investigação e 53 foram descartados. No Rio de Janeiro, 12 casos da doença foram confirmados.

Sobre a vacina da febre amarela, Ana Carla explicou que apesar dela não ser recomendada para maiores de 60 anos, durante as ações da Força Nacional em Minas Gerais foi preciso tomar uma decisão difícil. “Contrair a doença na região de Novo Cruzeiro poderia significar a morte naquele momento. Por isso aconselhei a vacinação para todos, inclusive grávidas e idosos, pois o risco de ter algum problema com a vacina era menor do que o de adquirir a doença em si. Essa foi uma decisão local e momentânea e não se aplica para o resto do país, por exemplo”, afirmou.

Encerrando as apresentações, o médico do Instituto de Infectologia São Sebastião (IEISS), Vitor Borges, explicou o processo de manejo e as metas adotadas para os pacientes graves na região de Teófilo Otoni, em Minas Gerais. Entre as ações realizadas pela equipe da Força Nacional estavam a contratação de leitos extras em hospitais das regiões afetadas, disponibilização de equipamentos, transporte dos pacientes, apoio nas ações de vacinação, educação permanente dos profissionais de saúde e disponibilização de medicamentos e exames laboratoriais.

Cientistas e sociedade civil unem-se contra arboviroses em Minas

Movimentos sociais feministas de Minas Gerais, profissionais de saúde que atuam no Programa de Saúde da Família (PSF) e gestores de saúde do estado são os protagonistas de um projeto que vem sendo desenvolvido por meio de uma parceria entre a Universidade de York (Inglaterra), Fundação João Pinheiro e a Fiocruz Minas. A partir de um enfoque das ciências sociais, o trabalho visa levantar e compreender as principais dificuldades enfrentadas pelos agentes comunitários, diante da tarefa de evitar a propagação das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti (dengue, zika, chikungunya, febre amarela), também conhecidas como arboviroses. Ao final do processo, pretende-se elaborar estratégias de ação no âmbito das políticas públicas, bem como fornecer novas ferramentas que, ao refletirem as reais demandas, possam gerar uma compreensão mais aprofundada dos desafios colocados pelas epidemias.

Com o título Movimentos Sociais feministas e a resposta à síndrome de zika no Brasil: mitigando negligências por meio de abordagens centradas na comunidade, o projeto tem como um dos diferenciais o envolvimento da Articulação das Mulheres do Campo de Minas Gerais, um espaço de interlocução que envolve diferentes movimentos, organizações e redes do estado. A intenção é dar voz a essas pessoas, de forma a descobrir demandas que possam refletir as interseções entre gênero e raça, desapropriação econômica, vulnerabilidade ambiental, demandas e acessos aos serviços de saúde e formas precárias de vida ligadas à produção agrícola em meio rural e urbano que interferem nos aspectos sociais ligados à epidemia.

“Nosso objetivo é ouvir esses grupos e, mais do que isso, levar as demandas apontadas por eles a outras esferas, como a dos gestores públicos.  E, sabendo do protagonismo da mulher nas questões que envolvem a família e a comunidade, nada mais eficiente do que envolvê-las nesse debate. Certamente, temos muito o que aprender com tais grupos que, historicamente, dependem de redes de apoio e de práticas de cuidado, que ultrapassam a esfera da assistência nos serviços públicos de saúde”, afirma a pesquisadora da Fiocruz Minas, Denise Nacif Pimenta.

O projeto, que foi pensado em 2016 e recebe financiamento da Universidade de York (Inglaterra), faz parte da rede “Ciências Sociais e Humanidades frente à epidemia de zika”, coordenada pela Fiocruz no Rio de Janeiro e foi aprovado pelo Institutional Links Zika, construído em parceria entre a Fiocruz e a British Council – Fundo Newton.

O projeto inclui três etapas: levantamento das demandas; promoção de debate e articulação entre a sociedade civil, profissionais de saúde e gestores políticos; e, finalmente, elaboração de materiais educativos, bem como de um documento com os principais resultados, que possam subsidiar ações e estratégia no âmbito das políticas públicas para melhorar os aspectos identificados como problemáticos.

“O objetivo principal do projeto é estabelecer o diálogo e promover a escuta de agentes comunitários de saúde, agentes de endemias e gerentes de unidades básicas de saúde”, explica a pesquisadora da Fundação João Pinheiro, Maria Nogueira. Segundo ela, esses são atores importantes para a compreensão do cenário sociocultural da epidemia, dos aspectos relacionados à gestão e execução de atividades diretamente relacionadas à prevenção e ao controle das arboviroses, bem como ao encaminhamento e acompanhamento dos grupos afetados.

Também estão sendo entrevistadas mulheres grávidas ou que tiveram bebês recentemente. De acordo com a pesquisadora, a intenção é dar voz a essas usuárias dos serviços, uma vez que o espaço de escuta e diálogo costuma ser negligenciado.

“Os dados apontam para um cenário de medo, preocupação, falta de informação e muitas dúvidas. No caso dos agentes, os relatos nos revelam um quadro preocupante de falta de informação, pouca ou nenhuma capacitação e falta de materiais informativos e educativos para auxiliá-los no trabalho com a população”, comenta Maria Nogueira.

Workshop

O projeto prevê a realização de um workshop, com a participação dos movimentos sociais feministas, profissionais de saúde, gestores estaduais e municipais da área de saúde e pesquisadores. Será uma oportunidade de promover o diálogo entre esses diversos públicos que raramente se encontram.

“Faremos a apresentação dos dados coletados, estimulando a discussão entre os participantes. Sem dúvida, será um momento bastante produtivo, pois pessoas de campos diferentes e com papéis tão distintos poderão dialogar”, conta Denise Pimenta.

Os materiais informativos e educativos serão produzidos até o fim deste ano. O formato e o conteúdo serão definidos depois de finalizada a fase de coleta de dados, uma vez que a tônica do projeto é gerar produtos que dialoguem com a realidade sociocultural dos atores envolvidos.

“Não queremos trabalhar na lógica da produção vertical que desconsidera as especificidades dos sujeitos sociais e o contexto no qual estão inseridos. A produção compartilhada da criatividade, aspectos lúdicos e contextualização serão ingredientes fundamentais para que possamos nos comunicar de forma mais eficaz”, destaca Maria Nogueira.

Por meio de uma parceria com a TV Minas, também serão produzidos materiais audiovisuais, que poderão ser usados em atividades de ensino a distância. Outro importante produto será um documento elaborado com base nas conclusões do workshop, que poderá ser utilizado para nortear as políticas públicas relacionadas às arboviroses.

Projeto integrador

Ao promover interação entre os movimentos sociais feministas ligados à agroecologia, profissionais de saúde, pesquisadores e gestores políticos, o projeto preenche uma lacuna importante, que é promover um melhor conhecimento do contexto social das arboviroses e maior participação coletiva na definição de políticas públicas.

“Essa melhor compreensão e interação entre os diferentes atores podem contribuir para um conhecimento mais aprofundado do problema muldimensional das arboviroses, além de uma identificação mais precisa das necessidades dos grupos mais vulneráveis, permitindo assim a definição de políticas públicas mais eficazes e inclusivas”, destaca o pesquisador da Universidade de York, João Nunes.

Segundo o pesquisador, a recente epidemia de zika trouxe algumas lições importantes não apenas para os gestores, mas também para os pesquisadores na área de saúde. Para ele, a situação demonstrou, primeiramente, as insuficiências de políticas centradas no controle químico do vetor, que abordam o problema como uma questão meramente pela via biomédica, focadas no desenvolvimento e aplicação de instrumentos técnicos ou farmacológicos, independentemente do contexto político, econômico e social.

Ainda de acordo com o pesquisador, a resposta à epidemia de zika também demonstrou os limites de uma estratégia voltada para a responsabilização individual, ou seja, uma estratégia que se baseia na alteração de comportamentos individuais, sem considerar o ambiente e contexto social no qual as decisões individuais são tomadas. Para Nunes, a epidemia de zika revelou ainda até que ponto a vulnerabilidade às arboviroses é condicionada por determinantes econômicos e de gênero.

“As populações economicamente mais carentes e, principalmente, as mulheres e seus filhos em situação de extrema carência estão não apenas particularmente vulneráveis às doenças, mas também numa situação de difícil acesso aos mecanismos de resposta a estas doenças, em especial o acesso aos serviços de saúde. Essa dimensão social e política tem sido negligenciada pelas atuais políticas de controle das arboviroses, o que se repete para a epidemia de zika”, avalia.

Para a pesquisadora Denise Pimenta, as ciências biomédicas e as ciências sociais e humanas tendem a não dialogar entre si. Dessa forma, as ciências sociais têm sido sistematicamente excluídas da discussão e delineamento das políticas e campanhas de prevenção e controle das arboviroses.

“Os campos científicos não se falam nem trocam experiências, não participam dos mesmos eventos científicos, não leem nem publicam nas mesmas revistas, não participam dos mesmos comitês científicos e de delineamento de políticas públicas”, afirma. Na opinião da pesquisadora, isso agrava ainda mais a dificuldade de produção mais ampla do conhecimento social necessário para compreensão integrada da problemática da prevenção e controle das arboviroses.

“Esse projeto busca exatamente atuar nessa questão: unir esforços e conhecimento científico, bem como da ciência biomédica e das ciências sociais e humanas”, diz.