Tag Archives: Aprendizagem

Saúde dos olhos de alunos pede atenção na volta às aulas

Médico alerta: visão é responsável por 80% do aprendizado na infância

Com retorno das aulas em escolas de boa parte do país, a saúde ocular dos alunos entra em foco no começo do ano. Dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) revelam que cerca de 20% das crianças em idade escolar apresentam problemas de visão. Dentre as alterações visuais mais comuns nessa faixa etária estão miopia, hipermetropia e astigmatismo.

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Campanha de mobilização contra dengue nas escolas começa nesta segunda

Proposta é conscientizar sobre urgência de enfrentar mosquito

A campanha Mobilização Nacional nas Escolas: combater o mosquito e promover saúde no território começa nesta segunda-feira (3). Coordenada pelos ministérios da Educação (MEC) e da Saúde, a proposta é conscientizar sobre a urgência de enfrentar o mosquito Aedes aegypti e de prevenir todas as doenças transmitidas por ele.

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Obesidade influencia de diferentes formas no aprendizado de crianças, mostra estudo

O estudo analisou habilidades necessárias ao aprendizado de crianças entre 8 e 12 anos, além de seus níveis de leitura e escrita

Pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP mostra que a presença de obesidade infantil pode ter influência em algumas das habilidades cognitivas necessárias ao aprendizado. Já a prática de atividades físicas está entre os fatores que protegem a cognição das crianças.

O estudo da fonoaudióloga Patrícia Aparecida Zuanetti analisou habilidades importantes para o aprendizado de crianças, além de seus níveis de leitura e escrita. Entre as verificadas, estão memória de trabalho fonológica, consciência fonológica, atenção focada e flexibilidade cognitiva e a nomeação automática rápida.

Entre as crianças estudadas, a obesidade teve influência em habilidades específicas. “Por exemplo, ela influenciou negativamente, ou seja, trouxe um prejuízo nas tarefas de flexibilidade cognitiva, que é a capacidade de alternar entre estímulos diferentes”. Ao mesmo tempo, ela auxiliou positivamente a tarefa de memória fonológica. “Possivelmente isso acontece porque, apesar de ser uma tarefa que avalia a memória fonológica de curto prazo, ela necessita de uma atenção focada em somente um estímulo, demonstrando que em atividades de atenção focada ou atenção simples, essas crianças apresentam bom desempenho. No entanto, quando é necessário alternar a atenção – flexibilidade cognitiva – a capacidade de resolver tarefas decai”.

A fonoaudióloga ressalta, porém, que o adequado desenvolvimento da linguagem escrita é dependente de diversos fatores nutricionais, orgânicos, genéticos e da estimulação ambiental. “Recomenda-se que as dificuldades de aprendizagem sejam detectadas o mais cedo possível, para que possa haver uma intervenção adequada”, enfatiza.

A intervenção pode se basear na estimulação específica de habilidades alteradas, como por exemplo, terapia fonoaudiológica. “Também é importante orientar pais e professores sobre como estimular a capacidade linguística da criança, e para a prática de atividade física, entre outras”, afirma a pesquisadora. “A atividade física é considerada um fator protetor da cognição pois permite uma melhora da oxigenação do cérebro e provoca outras alterações fisiológicas que promovem melhora das habilidades cognitivas”, destaca.

Habilidades

Foto: Marcos Santos/USP Imagens

memória de trabalho fonológica, explica a pesquisadora, “é um tipo de memória de curto prazo responsável por armazenar os estímulos verbais enquanto se realiza uma tarefa cognitiva, como por exemplo, guardar um número de telefone até conseguir ligar para alguém”. Na realização do teste de memória fonológica, as crianças precisaram repetir sequências de números e palavras sem significado.

consciência fonológica é a habilidade de refletir a respeito dos sons da fala, observando que, de acordo com a manipulação destes sons, pode-se formar palavras diferentes. “Por exemplo, ‘dente’ e ‘pente’ rimam, e como terminam sonoramente iguais, o final dessas palavras também deve ser escrito de forma igual”.  Na avaliação desta habilidade, as crianças realizaram tarefas de reconhecimento de rimas, de percepção de fonema inicial e final das palavras ouvidas, entre outras.

Foi analisada ainda a flexibilidade cognitiva, que é a capacidade em alternar entre dois estímulos, conseguindo focar a atenção em ambos e utilizar cada habilidade de acordo com o necessário; no teste, as crianças tinham de ligar números e letras em ordem alfabética e numérica de modo alternado.

Também fizeram parte dos testes a atenção focada, que é a capacidade de manter o foco em somente um único estímulo, seja este auditivo, visual ou de outra natureza; e a nomeação automática rápida, relacionada à velocidade de processamento – o tempo que uma pessoa leva para realizar a tarefa de nomear estímulos visuais.

O estudo aplicou testes validados e padronizados para a população brasileira. “Além das habilidades abordadas nesta pesquisa, os testes avaliaram a capacidade de leitura e escrita das crianças”, aponta a fonoaudióloga.

Todas as crianças analisadas tinham entre 8 e 12 anos de idade, 14 delas com diagnóstico de obesidade. “Esta condição era presente desde a primeira infância e elas continuavam obesas, mesmo com seguimento médico e orientação nutricional, oferecidas por um ambulatório específico de obesidade infantil”, relata Patrícia. O outro grupo tinha 28 crianças eutróficas, ou seja, que não apresentavam obesidade, vindas de escolas municipais.

A pesquisa foi orientada pela professora Marisa Tomoe Hebihara Fukuda, da FMRP.

Mais informações: email pati_zua@yahoo.com.br, com Patrícia Aparecida Zuanetti

Obesidade pode interferir na aprendizagem das crianças

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2025, a taxa de obesidade infantil deve chegar a 75 milhões em todo o mundo, um dos problemas de saúde pública mais graves do século XXI. Resultado, segundo especialistas, de alimentação inadequada, privilegiada pelo consumo de biscoitos recheados, chocolates, salgadinhos, lanches e bebidas industrializadas.

A partir desse dado, a fonoaudióloga Patrícia Zuanetti, decidiu estudar a relação entre a obesidade na infância e o aprendizado. E os resultados são ainda mais preocupantes. A pesquisa, após avaliar dois grupos, um com crianças consideradas obesas e outro com crianças não obesas, revelou que o excesso de peso causou prejuízos na atenção e na capacidade de alternar respostas e ações, de acordo com as exigências de estímulos. “Esse é um processo importante para o processo de alfabetização, leitura e aprendizagem”, enfatiza a pesquisadora.

No total foram avaliadas 41 crianças com idade média de 9,6 anos e de perfis iguais, ou seja, com o mesmo nível socioeconômico, histórico de doenças e outras intercorrências que pudessem interferir no desenvolvimento da linguagem. Elas foram submetidas à avaliação de leitura, escrita e testes, como identificação de símbolos, separação de sílabas, rimas de palavras, nomeação de cores, números, desenhos e letras, a ligação de letras e números, memorização auditiva e visual de diversos estímulos.

Nos testes de leitura, a fonoaudióloga notou dificuldades no grupo das crianças obesas em utilizar as rotas fonológicas. “Cada pessoa pode ler por duas formas. A primeira é a rota fonológica. Essa é a leitura que toda criança faz no início da alfabetização ou que os adultos usam para ler palavras novas ou difíceis. Já a rota lexical é a mais rápida, onde ‘batemos o olho’ e já acessamos o significado, e permite a leitura fluente.”

Patrícia identificou dificuldades na flexibilidade cognitiva das crianças obesas, por meio dos testes de ligar letras e números de forma alternada e sequencial. “Compreende a aprendizagem a partir de erros, geração de novas estratégias e processamento de várias informações ao mesmo tempo”, explica. Se a flexibilidade está prejudicada, consequentemente, a alternância e a melhor escolha entre as rotas de leitura, de acordo com cada palavra, também estará, pois a criança não conseguirá mudar a ‘forma de ler’ rapidamente, de acordo com o novo estímulo.

Já as crianças do grupo não obesas conseguiram ler de forma mais adequada as palavras apresentadas, independentemente se eram frequentes, inventadas ou não. “Mostraram uma maior capacidade de escolher a melhor ‘forma de ler’”, afirma.

Controvérsias
O estudo concluiu que o grupo das crianças obesas possui um melhor desempenho em memória fonológica, se comparado ao outro grupo. Ela é de curto prazo e está envolvida na manipulação das informações, de modo a permitir a execução de tarefas cognitivas complexas, como raciocínio e compreensão. “Quando precisamos ligar para alguém, repetimos os números mentalmente até executar a atividade e depois esquecemos. Ou, para compreender um texto, você necessita armazenar partes importantes do início, para pensar a respeito da ideia geral do conteúdo”, exemplifica.

Ainda não existem explicações para isso, entretanto, na literatura, alguns estudiosos afirmam que esta memória fonológica nas crianças obesas pode ficar prejudicada; outros, que ela fica melhor.  “Vale ressaltar que as crianças com boa nutrição também possuem um desempenho em memória adequado se comparadas às crianças obesas. Somente apresentaram uma capacidade de armazenar um pouco menor”, afirma a especialista.

Intervenções
Para Patrícia, compreender que a obesidade também pode afetar o desenvolvimento cognitivo, ou seja, o desenvolvimento do cérebro, intensifica o olhar da sociedade e de agentes de saúde para esta condição nutricional. Ela ressalta a necessidade de incentivo às intervenções públicas para a diminuição da obesidade, como o aumento de atividades físicas e de uma alimentação mais saudável nas escolas de ensino infantil e fundamental, para assim, diminuir prejuízos no futuro.

Já para os pais ou responsáveis de crianças obesas, Patrícia aconselha modificar a alimentação de toda família, fazer exercícios físicos juntos, ajudá-los na organização de atividades, realizar leitura compartilhada, promover momentos de diálogo a respeito de diversos assuntos e auxiliar nas tarefas escolares.

Patrícia diz que, mesmo sendo um tema importante, existem poucos artigos internacionais sobre o assunto publicados nos últimos dez anos. Alguns obtiveram os mesmos resultados com relação a atenção e a flexibilidade cognitiva, entretanto, quanto à memória de trabalho fonológica e ao desempenho escolar os resultados foram controversos. “A aprendizagem depende de diversos fatores ligados a própria criança, como a parte emocional, e também a fatores externos, como a estimulação ambiental”, lembra. Na área da fonoaudiologia no Brasil, o assunto obesidade e linguagem escrita é um campo novo e ainda não há estudos.

A tese Consequências da obesidade infantil nas habilidades cognitivas envolvidas na aprendizagem da linguagem escrita, foi defendida em dezembro, sob orientação da professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, Marisa Tomoe Hebihara Fukuda.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Mais Informações: email pati_zua@yahoo.com.br

Neurociência ajuda educação na promoção da saúde

Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP mostra interfaces entre as descobertas científicas sobre o funcionamento do cérebro, o processo de aprendizagem na escola e a promoção de saúde. O estudo da educadora Neuza Mainardi aponta que um estímulo adequado do professor pode fazer o aluno se empenhar mais para aprender, de modo a aumentar sua autoestima. Isso o torna mais ativo no dia-a-dia, o que melhora sua qualidade de vida e, em consequência, a sua saúde.

Neuza aponta que as pesquisas na área neurológica se intensificaram na última década do século 20, conhecida como “a década do cérebro”. Uma das descobertas mais importantes da neurociência foi a da plasticidade cerebral.  ”Durante todo o século 20, acreditava-se que os seres humanos iam perdendo, ao longo da vida, os neurônios com que nasciam”, conta. “Entretanto, ao aprofundarem os estudos sobre o funcionamento do cérebro os cientistas descobriram que as células nervosas se renovam e se adaptam. Elas são sensíveis às mudanças ao redor e excitáveis, gerando sentimentos, pensamentos e comportamentos”.

O estudo relaciona quinze pontos coincidentes ou complementares entre neurociência, educação e promoção da saúde. “Por exemplo, sabe-se que o cérebro humano tem capacidade de criar mapas e imagens, de fora para dentro por reações físicas e químicas aos estímulos que recebe do meio”, diz Neuza. Na educação, o incentivo (externo) que os professores oferecem aos alunos visa criar neles a motivação (interna) e a vontade de aprender, devido a atividade neural. “A consequência, no que diz respeito à promoção de saúde, é que o aluno motivado tem mais chance de ter melhor qualidade de vida porque o sucesso aprimora a autoestima”.

A educadora  lembra que a plasticidade cerebral contribui para a adaptabilidade do comportamento. “O papel condutor da educação interfere na atividade da criança e em sua atitude diante da realidade, o que amplia aos poucos a sua consciência”, diz. “Nas experiências psíquicas estão emoções e sentimentos que interferem na qualidade de vida. Os estímulos do professor quando positivos, geram pensamentos e comportamentos que favorecem o processo de ensino-aprendizagem”.

Desenvolvimento do cérebro
De acordo com os neurocientistas, os estímulos ambientais ampliam as conexões entre neurônios, havendo uma relação entre as experiências de vida e o desenvolvimento do cérebro. “A aprendizagem pode ser mais eficiente se o professor conhecer a vida da criança em casa, tendo mais contato com as famílias, por meio das reuniões de pais ou mesmo chamando os familiares, se for necessário, demonstrando interesse pelo aluno”, observa Neuza.  ”Quanto maior o contato, mais segurança o professor terá para planejar o processo educacional, além de dar mais segurança ao aluno, pois ele se sente acolhido pela escola ao perceber que sua família é bem-vinda”.

Os princípios da psicologia e da neurociência podem ser aplicados no trabalho diário do professor se ele entender como o cérebro humano reage aos estímulos e procurar despertar no aluno uma atitude positiva. “Por exemplo, quando o aluno é elogiado por uma tarefa que faz em sala de aula, acontecem reações elétricas e químicas no sistema nervoso que fazem com que ele se sinta capaz de aprender. O estímulo melhora sua autoestima, ele aprende com mais facilidade e vive a experiência escolar com alegria. Além de ir a escola com prazer, no seu dia-a-dia terá mais entusiasmo para tudo,  inclusive para fazer atividades físicas, o que traz qualidade de vida e melhora a saúde”, diz a educadora. “O professor deve sempre buscar um ponto positivo para enaltecer o aluno, mostrar que ele tem valor, não fazendo apenas críticas que podem gerar desinteresse pela escola”.

Segundo Neuza, o conceito de promoção da saúde passou a ser difundido em todo o mundo após a divulgação da Carta de Ottawa no Canadá, em 1986, durante a 1a Conferência Internacional para a Promoção da Saúde. “Anteriormente, saúde era vista como ausência de doença. Com a Carta de Ottawa, saúde passou a ser sinônimo de qualidade de vida, vivenciada no dia-a-dia”, relata. “No Brasil, após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, os Parâmetros Curriculares Nacionais estabelecem a saúde como tema a ser trabalhado de forma transversal e contextualmente, em todos os níveis, tornando a escola uma promotora de saúde, não só dos alunos, mas de toda a sociedade”.

A educadora defende que o profissional de educação precisa se conscientizar do papel que tem como formador, muito mais do que apenas como transmissor de informações, e buscar compensar as possíveis falhas do seu curso de formação profissional. “Sempre cabe um repensar e se pode melhorar a atuação a cada dia”, afirma. “A internet pode ajudar bastante os que têm vontade de se atualizar”.

Neuza destaca que a educação determina em grande parte o bem-estar e a felicidade que a pessoa possa ter na vida. “Não se apaga o que se faz em educação, sejam aspectos positivos ou negativos”, conclui. A pesquisa, realizada durante pós-doutoramento na FSP, teve a supervisão da professora Isabel Maria Teixeira Bicudo Pereira.

Mais informações: email nmainardi1@gmail.com, com Neuza Mainardi