Tag Archives: alcoolismo

Luta contra alcoolismo envolve suporte do Estado e da sociedade

Dia Nacional de Combate às Drogas e ao Alcoolismo é lembrado hoje

Ao ouvir experiências de outras pessoas, Bernardino Freitas, de 60 anos, descobriu que não estava sozinho. Nem havia motivo para se envergonhar. O homem, nascido em Miracema do Norte (TO) e que vive há sete anos em Brasília (DF), queria mesmo que a lembrança do copo com aguardente ficasse no passado. “Fui procurar ajuda no Caps (Centro de Atenção Psicossocial) quando tinha passado do limite”.

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A luta do pai do DJ Avicii para superar sua morte: ‘Às vezes, fico bravo com ele. Por que nos deixou?’

A família Bergling quer que as pessoas conheçam Tim, o jovem por trás do célebre apelido Avicii

Após anos à frente de vários hits de sucesso mundial e com apenas 28 anos, o DJ sueco Avicii decidiu tirar a própria vida em 20 de abril de 2018, durante as férias em Omã.

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foto: Natálie Šteyerová/Pixabay

Identidade de gênero influencia a forma como o dependente alcoólico lida com sua condição

Estudo realizado em reunião estritamente feminina de um grupo dos Alcoólicos Anônimos verificou um forte sentimento de rejeição e solidão entre as participantes, provocado pelo estigma social em relação ao alcoolismo em mulheres.

Um estudo qualitativo conduzido por pesquisadores da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP) sugere que a identidade de gênero influencia a forma como o dependente alcoólico lida com sua condição.

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Fotomontagem por Camila Paim/ Jornal da USP sobre imagens Pixabay

Pessoas com transtornos de personalidade são mais propensas a serem dependentes de álcool

Transtornos relacionados ao consumo do álcool frequentemente coexistem com outras doenças psiquiátricas, relata estudo feito com mais de cinco mil moradores da região metropolitana de São Paulo.

Os dados são de uma pesquisa feita pelo Instituto de Psiquiatria da USP com mais de cinco mil moradores da região metropolitana de São Paulo.

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Análise aponta condição nutricional de universitários

Pesquisa da nutricionista Francini Xavier Rossetti na Escola de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, empenhou-se em avaliar os hábitos alimentares e o estado nutricional de estudantes ingressantes nos cursos de graduação da Escola e, ainda, a percepção de segurança alimentar e nutricional dos alunos. Entre os alunos analisados, o estudo detectou 10,6% de baixo peso, 13,3% de sobrepeso e 4,4% de obesidade. Muitos estudantes não praticam nenhuma atividade física e o índice de tabagismo e consumo de álcool é alto. A pesquisadora recomenda ações voltadas ao consumo consciente de alimentos e realização de atividades físicas.

Para a concretização da pesquisa, foram necessárias duas etapas. A primeira, quantitativa (análise dos estilos de vida e consumo alimentar), contou com 113 estudantes ingressantes em 2014, e a segunda, qualitativa (grupos focais para avaliar a percepção de segurança alimentar e nutricional), realizada com 31 estudantes do 1º ao 5º ano de diversos cursos de graduação da universidade.

“Avaliei o consumo alimentar a partir do grau e propósito do processamento dos alimentos, definindo a classificação desses alimentos em três categorias: alimentos minimamente processados (quase sem adição de aditivos), ingredientes processados, que podem conter aditivos (exceto corantes e aromatizantes) e produtos alimentícios altamente processados, contendo corantes e aromatizantes”, explica Francini.

Dados sobre estilo de vida, práticas de atividades físicas, carga horária, relações sociais, medidas de peso e altura, consumo de cigarros e bebidas alcoólicas também foram essenciais para avaliar a segurança alimentar e nutricional dos estudantes. “Referente ao estado nutricional, foi identificada prevalência de 10,6% de baixo peso, 13,3% de sobrepeso e 4,4% de obesidade”, conta Francini. A proporção de estudantes com baixo peso foi maior do que a frequência esperada de 5%, valor compatível com a proporção daqueles constitucionalmente magros na população.

Alimentos Ultraprocessados
O índice de tabagismo e consumo de álcool é bastante elevado entre os estudantes e muitos não praticam nenhuma atividade física. “A avaliação do consumo alimentar indicou que os alimentos ultraprocessados forneceram principalmente gordura saturada, já os alimentos in natura ou minimamente processados forneceram maior aporte de fibra, vitamina C e ácido pantotênico”, disse a nutricionista.

Os resultados da etapa qualitativa apontaram que aspectos ambientais (local de moradia, presença do restaurante universitário) e individuais (preferências pessoais, disponibilidade de tempo) estão associados ao consumo e a percepção de segurança alimentar e nutricional.

A transição da adolescência para a vida universitária implica em grandes mudanças. Novas relações sociais, estresse, instabilidade psicossocial e menor disponibilidade de tempo são fatores que podem influenciar mudanças nos hábitos alimentares dos estudantes. Para muitos, a opção mais acessível é o restaurante universitário. Segundo Francini, os resultados da pesquisa que teve orientação da professora Marina Vieira da Silva, do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição, poderão auxiliar no planejamento e desenvolvimento de ações sustentáveis de prevenção, promoção e proteção à saúde dos estudantes, com foco nos hábitos e estilo de vida desses alunos dentro do campus.

“Ações devem ser baseadas na promoção do consumo consciente de alimentos e prática de atividade física, combate ao tabagismo e ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas, bem como ações relacionadas ao oferecimento de refeições no restaurante universitário”, conclui a pesquisadora.

Maior dose de ondansetrona é eficaz para tratar alcoolismo

A ondansetrona, substância comumente utilizada para evitar náusea em pessoas que estão sob quimioterapia, teve sua eficácia testada no tratamento de dependentes de álcool. Em estudo realizado no Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), o médico João Maria Corrêa Filho verificou sua ação em dose maior do que vem sendo utilizada e comprovou o retardamento do consumo de álcool, além da redução de sintomas de depressão e do desejo pelas bebidas alcoólicas. Ele também descobriu quais são os fatores que tornam o abandono do tratamento mais propício.

A ondansetrona atua como antagonista do receptor da serotonina, substância envolvida com a sensação de prazer promovida pela bebida alcoólica. Assim, “esse antagonismo faz com que o prazer que poderia sentir ao se ingerir a bebida diminua”, explica Corrêa Filho, que testou a dose de 16 miligramas (mg) por dia, usada atualmente apenas para tratamento de enjôo. Esta dosagem diária é maior do que a aplicada anteriormente – 4 microgramas a cada quilo do paciente (mcg/kg) – e surtiu efeito nos pesquisados em relação aos medicados com placebo. Os dependentes medicados com o fármaco demoraram mais a ingerir o primeiro gole de bebida alcoólica (54,7 versus 40,9 dias, em média, a partir do início do tratamento) e a ter o primeiro consumo intenso (58,4 versus 45,4 dias, em média).

Além disto, a pesquisa descobriu que a dose de 16 mg testada, além de diminuir o prazer na bebida, chegou a melhorar sintomas depressivos dos testados, bem como a reduzir o desejo de consumir álcool. A pesquisa foi feita de 2007 a 2010 com 102 alcoolistas, com idade entre 18 e 60 anos, que buscaram tratamento para a dependência no IPq. Metade deles recebeu placebo e a outra metade, as 16 mg da ondansetrona, divididas em duas doses diárias, por via oral. A medicação foi acompanhada de entrevistas sobre os sintomas depressivos e técnicas motivacionais, exames para avaliar o consumo ou não de álcool, conversas com a família e de encontros no grupo Alcoólicos Anônimos (AA).

Abandono do tratamento
O abandono do tratamento foi grande e chegou a 50% dos pesquisados, taxa equivalente à média de outros tipos procedimentos de reabilitação, de acordo com a literatura médica. O pesquisador, porém, não esperava este resultado, já que o ensaio clínico foi planejado para não perder pacientes ao longo do tratamento. Quando o dependente não ia aos encontros semanais, “a gente ligava para a família, chamava, buscava onde estava o paciente para ver se ele aparecia”, conta o médico.

Após a etapa do tratamento, os resultados foram comparados a outras pesquisas com metodologias iguais feitas no mesmo grupo de estudo, o Programa Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas, mas que usavam medicamentos diferentes, como o topiramato, o acamprosato e a naltrexona. O que se comprovou é que a porcentagem de pesquisados que concluíram o processo foi equivalente entre todas as substâncias. Corrêa Filho explica que “aparentemente, a maior adesão depende de questões pessoais e do tipo de tratamento que é ofertado, e não do efeito direto dos medicamentos avaliados”.

No estudo intitulado Eficácia da ondansetrona no tratamento de dependentes de álcool e orientado por Danilo Antonio Baltieri, foi elaborada uma tipologia dos perfis de pacientes mais propícios a concluir ou não o tratamento. Os resultados mostraram que os mais suscetíveis à desistência são aqueles mais novos, que começaram os problemas por consumir bebida alcoólica precocemente, têm maior histórico familiar de alcoolismo, menos sintomas depressivos e maior gravidade do alcoolismo. Já os fatores que individualmente aumentaram a chance da continuidade do tratamento foram a preferência pela cerveja, o tabagismo, a idade mais elevada e a assiduidade no grupo do AA.

Imagem: Marcos Santos / USP Imagens

Crack: estudo aponta perfil de consumo no país

Dados disponíveis sobre o consumo de crack no Brasil apontam um crescimento considerável disseminado em todo o país e especialmente nos grandes centros urbanos, onde tem maior visibilidade. O Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Álcool e Drogas, realizado em 2005 pelo Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), constatou, no país, um aumento de 75%, em relação ao ano de 2001, no número de pessoas que declararam já ter usado crack pelo menos uma vez. Na região Sudeste, o aumento foi de 125%. Com o objetivo de analisar o atual problema do consumo da droga, o psicólogo Francisco de Abreu Franco Netto apresentou, na ENSP, a dissertação de mestrado em Saúde Pública O problema do crack: emergência, respostas e invenções sobre o uso do crack no Brasil. O autor defende o fortalecimento e a multiplicação dos dispositivos de cuidado no âmbito do SUS, com o intuito de minimizar danos e riscos do uso prejudicial da droga.

Orientado pelo pesquisador da ENSP Gabriel Schütz, o estudo se propôs a historicizar as diferentes formas de uso da cocaína no Brasil, até chegar à cocaína fumada, ou seja, o crack. A droga surgiu no início da década de 1980 nos Estados Unidos. No Brasil, os primeiros relatos sobre uso são de 1989 em bairros da zona leste de São Paulo. Na década de 1990, o consumo em São Paulo, tanto na cidade como no estado, teve um aumento significativo. Levantamentos feitos na década de 2000 apontaram um aumento na percentagem do consumo de crack no Brasil, chegando a 0,7% da população brasileira, em 2005.

“Buscamos explorar, na pesquisa, o perfil dos usuários e os contextos e efeitos do consumo de crack. Constatamos que fatores como a ilegalidade da substância, a marginalização e estigmatização de uma parcela dos usuários e sua vulnerabilidade social influenciam profundamente sua saúde. Analisamos, ainda, as práticas de segregação de usuários de crack atualmente em vigor, que se contrapõem às práticas de cuidado, como as estratégias de redução de danos”, explicou Francisco.

Com o aumento do uso de crack nos últimos anos, muito vem sendo divulgado sobre a droga e seus usuários. Segundo o autor da pesquisa, a midiatização do aumento do número de usuários de crack, associado aos frequentes padrões abusivos de consumo entre os usuários, tem gerado um grande temor social com relação aos seus efeitos prejudiciais. Na representação social, o abuso de crack aparece, frequentemente de forma equivocada, vinculado à degradação física e moral das pessoas, sendo percebido como uma droga que conduz mais rapidamente à dependência e ocasiona a morte precoce de seus usuários.

O crack e seus estigmas

A pesquisa pretendeu problematizar a associação imediata presente no senso comum entre o crime e o crack, levando em consideração os diferentes contextos em que a substância é apropriada, a diversidade das formas em que é consumida e comercializada e os efeitos que produz. De acordo com o autor, devemos entender os efeitos como fruto da interação entre a substância consumida, a pessoa que consome e o ambiente onde é consumida. “A inserção social do usuário pode apresentar grandes variações, quando considerados os diferentes contextos de consumo, subjetividades e segmentos sociais a que pertencem”, afirmou

Para o autor, a política proibicionista adotada pelo Brasil, diferente da verificada em muitos países, causa aumento na disponibilidade de drogas, em sua potência, no seu uso e abuso, na dependência e em doenças. “O crack é uma das substâncias inventadas pelo proibicionismo. Ninguém hoje pode alimentar a ilusão de que o tráfico possa ser vencido enquanto a proibição continuar fazendo das drogas ilícitas uma indústria de bilhões de dólares, com grandes interesses em manter a proibição. A violência desenfreada da guerra contra o tráfico, da qual as maiores vítimas são sempre os inocentes, é, portanto, um trágico caminho que precisa ser mudado”, alertou.

Segundo Francisco, quanto mais prejudicial for o efeito do uso abusivo de uma substância, mais urgente se torna sua retirada da ilegalidade. Ele afirma que aqueles que fazem uso prejudicial de drogas como o crack, por exemplo, são tão ou mais prejudicados pela sua proibição e pela violência que a acompanha. “Muitas experiências internacionais adotadas por alguns países no mundo poderiam ser implementadas no Brasil. O que defendemos hoje é o fortalecimento e a multiplicação dos dispositivos de cuidado no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), como os Centros de Atenção Psicossocial para Álcool e Drogas (CapsAD), a fim de minimizar os danos e riscos do uso prejudicial de crack.”

Nova edição da Revista de Direito Sanitário

A seção “Tema em Debate” da nova edição da Revista de Direito Sanitário apresenta aos leitores, uma série de artigos originais que analisam decisões judiciais e instrumentos jurídicos relacionados com o controle do tabaco, como a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, primeiro tratado internacional que trata de uma questão de saúde pública. O debate foi coordenado por Dalmo Dallari, Professor emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

Na apresentação do debate, Dallari destaca decisão da Corte Constitucional da Colômbia que vincula o controle da publicidade do tabaco à “liberdade de comércio e não à liberdade de expressão”. De acordo com Dallari, essa diferenciação “é de fundamental importância, pois abre a possibilidade de rigoroso controle, que pode chegar mesmo à proibição total da publicidade sem que se possa alegar ofensa à liberdade de expressão”.

A publicação também divulga artigos que discutem a atenção à saúde dos usuários de álcool e outras drogas e os centros de informação sobre medicamentos no Brasil. Outro trabalho presente nesta edição apresenta um estudo sobre ações judiciais contra uma operadora de plano de saúde. Entre os números apresentados pela pesquisa constata-se que as gastroplastias aparecem como a principal demanda judicial dos segurados com 427 ações (12% do total).

Publicação do Núcleo de Pesquisas em Direito Sanitário da Universidade de São Paulo (NAP-DISA/USP) e do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito Sanitário (CEPEDISA), a Revista de Direito Sanitário foi lançada em 2000 com a missão de divulgar o conhecimento e fomentar discussões de temas relacionados a esse campo interdisciplinar do direito, reunindo diferentes áreas da ciência jurídica e da saúde pública.

REVISTA DE DIREITO SANITÁRIO – Volume 13 – Número 3
Informações sobre aquisição pelos e-mails revdisan@usp.br e silmara.cepedisa@gmail.com ou pelo telefone (11) 3061 7774, com Silmara Duarte
Homepage: http://www.revistas.usp.br/rdisan

Maioria dos policiais do Rio de Janeiro faz uso de álcool e tabaco

“O uso de drogas é um fenômeno que acontece na sociedade e não será diferente nas corporações.” Essa é uma das afirmações do artigo “Consumo de substâncias lícitas e ilícitas por policiais da cidade do Rio de Janeiro”, incluído na última edição temática da revista Ciência e Saúde Coletiva. A publicação trouxe uma série de artigos que abordam, entre outros aspectos, as condições de vida, saúde e trabalho dos profissionais de segurança pública. Assinam o artigo as pesquisadoras Edinilsa Ramos, Patrícia Constantino, Miriam Schenker e Bruna Soares Chaves Correia, todas do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência Jorge Carelli (Claves/ENSP).
No texto, as autoras ressaltam a necessidade de as Polícias Civil e Militar refletirem sobre o assunto, para oferecer aos seus membros que utilizam tais substâncias um atendimento de qualidade. O objetivo do artigo foi investigar o consumo de substâncias lícitas e ilícitas por policiais da cidade do Rio de Janeiro, a partir dos dados de duas pesquisas empíricas desenvolvidas pelo Claves/ENSP. As pesquisas originais forneceram um amplo panorama sobre as condições de trabalho, saúde e qualidade de vida de policiais civis e policiais militares atuantes na capital fluminense. Segundo dados do estudo, o Relatório Mundial sobre Drogas aponta que uma em cada cem mortes de adultos é atribuída ao uso de drogas ilícitas. Entre elas, as mais utilizadas no mundo são a Cannabis (prevalência anual entre 2,6% e 5,0%) e os estimulantes anfetamínicos (excluindo o ecstasy), com prevalência de 0,3% a 1,2%.
Na população adulta mundial, a prevalência do consumo de tabaco é de 25% e a do uso de álcool é de 42%, que são, respectivamente, cinco e oito vezes maiores que a do uso de drogas ilícitas (5,0%). “Estudiosos das dependências às drogas lícitas e ilícitas apontam que o uso, o abuso e a dependência de substâncias psicoativas são mais um sintoma do que um problema em si mesmo. Há controversas e inconclusivas teorias que buscam explicar esse complexo fenômeno. Uma delas defende que o consumo de substâncias psicoativas busca acalmar e aliviar as tensões, ameaças e afetos negativos provocados pelas duras condições de trabalho e de vida e geradores de ansiedade”, explicam as autoras no artigo.
De acordo com o artigo, o Brasil é considerado estratégico na condução de uma política sobre o uso de drogas na América Latina, por suas dimensões e fronteiras com vários países. Além de ser país de trânsito das drogas, é um mercado final para as substâncias ilícitas, não se caracterizando por ser produtor relevante de substâncias psicoativas. Estudo realizado com 7.939 entrevistados em 108 cidades brasileiras com mais de 200 mil habitantes, em 2005, verificou que o uso na vida de qualquer substância psicoativa (exceto álcool e tabaco) no Brasil foi de 22,8%, porcentagem próxima à do Chile (17,1%) e quase metade da verificada nos Estados Unidos (45,4%), países onde levantamento semelhante foi realizado em 2004. Álcool e tabaco, substâncias lícitas, tiveram o maior percentual de uso no país (74,6% e 44%, respectivamente).
Segundo as autoras, nesse contexto, não admira que haja policiais civis e militares dependentes, visto que eles enfrentam um arriscado e estressante cotidiano profissional. O artigo, que utilizou dados de outros estudos desenvolvidos pelo Claves como subsídio, dividiu os profissionais em dois grupos: um com os que atuam nos setores administrativo, operacional e técnico (das Polícias Civil e Militar) e outro com os que trabalham como delegado, policial técnico, inspetor ou investigador, na Polícia Civil, e oficial, suboficial e praça, na Polícia Militar. O artigo analisou dados relativos a 36 unidades da Polícia Civil (15 administrativas e 21 delegacias). Na Polícia Militar, foram investigadas 17 unidades. O estudo levou em consideração três questões para chegar aos resultados: a frequência do consumo, a sua intensidade e os problemas decorrentes do uso de substâncias lícitas e ilícitas.
Os resultados da pesquisa alertam sobre a intensidade do consumo. Quando indagados se ficaram embriagados no último mês, 93,5% dos agentes civis e 86,3% dos militares afirmam que não. Entre os que responderam positivamente, foi observado percentual mais elevado de policiais militares que ficou embriagado (13,7%), contra 6,5% dos civis. Um total de 5,2% dos agentes civis e 8,7% dos militares informaram que ficaram embriagados de um a cinco dias no último mês. Com relação ao cigarro, a maior proporção foi de policiais militares (42,6% contra 25,9% dos civis) que consome de um a dez cigarros diários, ao passo que 74,1% dos civis e 57,4% dos militares fumam mais de 11 cigarros diariamente. O estudo apontou que, entre os policiais do Rio de Janeiro, foi observado maior consumo de tabaco, álcool e tranquilizantes.
“É preocupante a existência de uma parcela de 3% dos agentes militares e 0,5% dos civis que bebem e se embriagam durante 20 ou mais dias do mês, indicando claramente um quadro de dependência alcoólica. Por tudo isso, as duas Corporações devem atentar para a oferta e o consumo de substâncias psicoativas pelos policiais, procurando formas de auxiliá-los desde a sua entrada na polícia, e na continuação do seu trabalho, por meio de estratégias de prevenção ao consumo”, reforçaram as autoras. Acesse a íntegra do artigo.

Pesquisa aponta que brasileiros estão bebendo com mais frequência

Metade da população brasileira é abstêmia. Na outra metade consumidora de álcool, no entanto, aumentou 20% o número de pessoas que bebe de forma frequente (uma vez por semana ou mais) nos últimos seis anos. Se considerada apenas a população feminina, mais suscetível aos efeitos nocivos do álcool, o aumento foi de 34,5%.

Os dados são do 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), organizado pelo médico Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A pesquisa contou com apoio da FAPESP por meio do Instituto Nacional de Políticas sobre Álcool e Outras Drogas (Inpad). Um dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) instalados em São Paulo, o Inpad é coordenado por Laranjeira.

As entrevistas foram realizadas em 2012 pelo Ipsos Public Affairs e os dados foram divulgados nesta quarta-feira (10/04). Foram ouvidas 4.607 pessoas maiores de 14 anos, em 149 municípios de todas as regiões brasileiras. Os participantes responderam a um questionário com mais de 800 perguntas que tinha como objetivo avaliar o padrão de uso de álcool, tabaco e drogas ilícitas, além de fatores associados ao uso problemático dessas substâncias, como depressão e violência.

A primeira edição da pesquisa, realizada em 2006 com 3.007 entrevistados e apoio da FAPESP, surpreendeu especialistas em saúde de todo o Brasil – e o próprio Laranjeira – ao revelar um índice alto de abstinência no país: 48%. “Durante mais de 30 anos, acreditei que a taxa brasileira era semelhante à europeia, em torno de 12%”, contou o pesquisador.

A boa notícia é que no levantamento mais recente o número de abstêmios se manteve praticamente estável – com leve alta para 52%. Porém, entre os bebedores, aqueles que adotam um padrão de consumo de álcool considerado nocivo e batizado de “binge” – quatro unidades de álcool para mulheres e cinco para homens em uma única ocasião – aumentou de 45% para 59%. Mais uma vez a mudança é maior quando se considera apenas a população feminina, passando de 36% para 49%.

“O aumento do consumo entre as mulheres, especialmente nesse padrão ‘binge’, terá consequências importantes do ponto de vista da saúde pública no médio prazo. Vai aumentar as taxas de câncer da mulher brasileira”, estima Laranjeira.

Segundo o médico, as evidências apontam que o consumo de duas ou mais doses de álcool por dia pela mulher aumenta em 20% o risco de câncer de mama. Estima-se que 30% dos casos de câncer na população em geral tenham o álcool como um agente causador.

Para Laranjeira, no entanto, um dos dados mais preocupantes é que 20% dos adultos bebedores consomem 56% de todo o álcool vendido no país. A maioria desse grupo é composta por homens jovens, com menos de 30 anos.

“O padrão brasileiro é o de beber fora de casa, nas ruas, nos bares, e de forma excessiva. Os jovens bebem para ficar bêbados e isso aumenta muito o risco de prejuízos à saúde e de envolvimento com violência, drogas e outros comportamentos de risco. A ideia que a indústria do álcool tenta passar, de que no Brasil todo mundo bebe um pouco, não é verdadeira”, afirmou Laranjeira.

O 2º Lenad mostrou também que, entre os bebedores, 16% consomem quantidades nocivas de álcool nas ocasiões em que bebem e dois em cada dez apresentaram critérios para abuso ou dependência – o que corresponde à realidade de 11,7 milhões de brasileiros.

Ainda entre os bebedores, 32% afirmaram já não terem sido capazes de parar depois de começar a beber; 10% disseram que alguém já se machucou em consequência do seu consumo de álcool; 8% admitiram que a bebida já teve efeito prejudicial no trabalho e 9% admitiram prejuízo na família ou no relacionamento.

Quase um terço dos homens jovens bebedores abusivos se envolveu em briga com agressão física no último ano. O levantamento também mostrou um índice mais elevado de depressão entre os que abusam de álcool: 41%. A média de depressão na população em geral é de 25%. “É preciso desassociar a imagem do álcool à alegria. Quem bebe e bebe muito tem mais chance de ficar depressivo do que de ficar feliz”, destacou Laranjeira.

Regulamentação do mercado

Na avaliação de Laranjeira, o crescimento econômico do Brasil nos últimos 10 anos e o consequente aumento da renda per capita é uma das razões do aumento no consumo de álcool – o que torna o país um mercado promissor para a indústria de bebidas.

“O brasileiro em geral está com maior poder aquisitivo. Quem não gastava dinheiro com álcool continua não gastando. Mas os que bebem estão gastando mais com bebida, especialmente as mulheres”, disse o professor da Unifesp.

Outro fator por trás dessa mudança no padrão de consumo, segundo Laranjeira, é a falta de regulamentação do mercado ou fiscalização efetiva. “Como não há regras feitas pelo governo ou pela sociedade, quem comanda o show é a indústria do álcool”, afirmou.

Além de aumento no preço da bebida alcoólica, Laranjeira defende a diminuição dos pontos de venda – que, segundo dados da Ambev, somam 1 milhão em todo o país.

“Há um ponto de venda de bebida alcoólica para cada 200 habitantes no Brasil. E a maioria vende para qualquer pessoa, inclusive para menores de idade. São Paulo é o único estado com uma lei rígida para inibir a venda de bebida para adolescentes, mas ainda precisa avançar na fiscalização”, avaliou.

Laranjeira também defende a proibição da propaganda de bebida alcoólica nos meios de comunicação, que considera direcionada principalmente à população jovem.

“Outra medida importante é regular o horário dos pontos de venda. Quando Diadema proibiu o funcionamento dos bares após as 23 horas, a mortalidade por homicídio caiu mais de 90% no município. Isso é um exemplo de uma medida política que faz a diferença. Já campanhas educativas em escolas, por exemplo, adiantam muito pouco”, opinou.

Lei seca

Uma boa notícia revelada pelo 2º Lenad é que a nova legislação relacionada aos limites de álcool no sangue tolerados para a condução de veículos – popularmente chamada de “Lei seca” – vem surtindo efeitos. De forma geral, houve queda de 21% na proporção de indivíduos que relatam ter dirigido após o consumo de álcool no último ano.

“A população está respondendo à legislação, mas o índice de pessoas que bebe e depois dirige ainda é alto, em torno de 21%. Nos países desenvolvidos é de 1% ou 2%. Só a manutenção dessa política e o aumento da fiscalização conseguirão fazer os números caírem ainda mais”, disse Laranjeira.