Estimativas apontam que, em 40 anos, o número de idosos no Brasil vai triplicar, alcançando quase 30% da população. Isso significa uma maior demanda por recursos de saúde e medicamentos para essa faixa etária. No entanto, para se assegurar o atendimento deste grupo será necessário um aprimoramento nos serviços e uma alteração nas políticas do Sistema Único de Saúde (SUS). É o que aponta o farmacêutico André de Oliveira Baldoni, pesquisador responsável por um estudo que analisou a realidade de 1 mil idosos atendidos pelo SUS, de novembro de 2008 a maio de 2009, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
"Se hoje já temos enormes filas de espera e muitas vezes o mau atendimento, a perspectiva para o setor de saúde nas próximas décadas, caso não haja um planejamento imediato para atender a demanda crescente, só tende a piorar", afirma o farmacêutico, que apresentou sua pesquisa junto à Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP), da Universidade de São Paulo (USP). Segundo dados de 2008 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem no Brasil 21 milhões de pessoas com 60 anos ou mais.
De acordo com Baldoni os principais fatores responsáveis pelas deficiências do SUS são a falta de padronização de medicamentos que sejam seguros e com indicação específica para os pacientes idosos; a falta de investimento e priorização da atenção primária; e a carência de políticas preventivas e de profissionais que atuem na prevenção, tais como educadores físicos e nutricionistas. Segundo o pesquisador, o investimento nessas áreas poderia reduzir as complicações com o tratamento das doenças típicas da população idosa, e com isso diminuiria os gastos do sistema público de saúde. "O envelhecimento populacional deve ser enfrentado com uma conquista e não como um problema social."
O estudo revelou que 16,3% dos idosos que retiraram medicamentos pelo SUS não receberam orientação sobre o seu uso correto por nenhum profissional da saúde. Além disso, 57,4% disseram não receber visitas dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), que são profissionais fundamentais para a prevenção de doenças. "Dados como este refletem a carência de recursos humanos enfrentada pelo setor", afirma Baldoni . Para o farmacêutico, também é necessário investir em conscientização. "É preciso acabar com a cultura da automedicação, responsável por grande parte das complicações das doenças em idosos. Cerca de 31% dos entrevistados se automedicam", alerta.