Um sobrevivente, que pediu para não ser identificado, contou sua história à BBC. Nove pessoas de sua família contraíram o vírus. Apenas três sobreviveram. O ebola, que começa com uma febre alta e repentina, pode causar hemorragia interna e externa e leva a morte em até 90% dos casos. O vírus se espalha entre seres humanos por sangue infectado, fluidos do corpo ou, indiretamente, pelo contato com ambientes contaminados.
Mais de cem pessoas já morreram vítimas do vírus ebola na Guiné, país considerado o epicentro do atual surto da doença na África. Apesar de nem todos os casos terem sido confirmados por exames, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 208 pessoas contraíram o vírus e 136 pessoas morreram no país. O primeiro caso foi confirmado em março.
Não há cura para o ebola, mas, em alguns casos, com diagnóstico rápido e atendimento médico, o corpo das vítimas é capaz de desenvolver anticorpos para enfrentar o vírus.
“Os sintomas começaram com dores de cabeça, diarreia, dores nas costas e vômitos.
O primeiro médico que me atendeu disse que era malária – só quando eu fui trazido para uma unidade especial de um hospital em Conacri (capital da Guiné), me disseram que eu tinha o vírus Ebola.
Fiquei muito deprimido e com medo.
Tentei pensar positivo – ficava pensando sobre a morte, mas, no fundo, achava que minha hora ainda não tinha chegado e que eu conseguiria melhorar.
Recebi apoio de médicos da organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) e tentei continuar otimista, apesar de ver parentes morrendo na minha frente.
Houve um momento, quando perdi dois tios e vi seus corpos serem levados, em que pensei que morreria. Naquela noite, nenhum de nós conseguiu dormir – temíamos que não estaríamos vivos pela manhã.
Depois que eu fui internado em um hospital, comecei a me sentir melhor, pouco a pouco.
Sem medo
Os médicos que me atendiam me faziam perguntas e, um dia, todas as minhas respostas foram “não”. Foi quando percebi que ia sobreviver.
Foi um sentimento muito poderoso. Fizemos uma pequena festa com os médicos, as enfermeiras e as pessoas que me esperavam. Eles me fotografavam e apertavam minha mão. Notei que eles se sentiam seguros me tocando e me dei conta de que estava bem.
Prefiro não ser identificado na mídia – muitas pessoas sabem que eu tive a doença, mas muitas outras não sabem.
A solidariedade africana é assim: geralmente, quando alguém morre, as pessoas te visitam. Mas quando perdemos um e depois dois, três, quatro membros da nossa família, ninguém veio nos visitar. Percebemos que estavam se afastando de nós por medo de contrair a doença.
E fica ainda pior se as pessoas ficam sabendo do seu problema no rádio e na televisão.
Até mesmo pessoas próximas de nós, vizinhos e parentes, são tratados com desconfiança pelas pessoas quando mencionam que nos conhecem.
A outra pessoa imediatamente dá dois ou três passos trás com medo de contrair o vírus. Há pouca informação sobre o vírus.
No total, nove pessoas tiveram o vírus na minha família. Minha mulher e meu primo também sobreviveram.
Ficamos muito abalados com as mortes na nossa família, mas também aliviados. Teria sido uma catástrofe se todos nós tivéssemos morrido.
Foi uma lição também no nível espiritual e mudou a forma como eu exergo a vida.
O pouco tempo que passamos no hospital realmente nos transformou. Eu me sinto sortudo e feliz de estar vivo.”