Simulador de mama ajuda no treinamento de procedimentos médicos

Desenvolvido pelos pesquisadores Michelle Ferreira da Costa Abrahão e Felipe Wilker Grilo, o phantom de mama ajuda os profissionais de saúde no treinamento do procedimento de biópsia e intervenções cirúrgicas guiadas por ultrassom

O uso do phantom aprimora habilidades de médicos e estudantes. Foto: Divulgação/GPhantom

Em busca de auxiliar os profissionais da área da saúde no treinamento do procedimento de biópsia e intervenções cirúrgicas guiados por ultrassom, os pesquisadores Michelle Ferreira da Costa Abrahão e Felipe Wilker Grilo, formados pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP lançaram um phantom de mama.

phantom é um objeto que simula um determinado órgão, nesse caso, a mama, e imita as propriedades mecânicas, acústicas e físicas do tecido biológico para replicar procedimentos de rotinas clínicas. Entre essas rotinas, a avaliação do funcionamento de equipamentos de diagnóstico e terapia clínica, o auxílio no desenvolvimento de novas tecnologias e, principalmente, treinar as habilidades humanas em procedimentos de diagnóstico.

Segundo Michelle, hoje os profissionais da saúde treinam suas habilidades utilizando blocos de carnes frescas ou frutas, o que pode acarretar o desenvolvimento de fungos e bactérias e causar a contaminação do equipamento de ultrassom dos hospitais. “O uso do phantom possibilita o treinamento exaustivo de médicos e estudantes de medicina, aprimorando suas habilidades, sua autoconfiança e minimizando a quantidade de diagnósticos inconclusivos na execução de procedimentos de biópsia”, afirma a pesquisadora.

O material desenvolvido para a fabricação do phantom foi criado no laboratório do Grupo de Inovação em Instrumentação Médica e Ultrassom (GIIMUS) do Departamento de Física da FFCLRP e é composto de materiais termoplásticos à base de parafina e micropartículas de vidro e PVC. Já para as lesões mamárias, foram adicionadas também substâncias naturais como cera de carnaúba. “O phantom possui 11 estruturas internas que simulam cistos, fibroadenomas e carcinomas”, conta Michelle.

Atualmente, o método mais utilizado para diagnosticar câncer de mama é por meio de biópsia, que consiste na retirada de um fragmento do tecido mamário que é enviado a um patologista, médico especializado em interpretar exames, analisar e verificar se há presença de células cancerígenas. Existem vários tipos de biópsias eficazes, como aquelas em que as agulhas podem ser guiadas por um ultrassom e o paciente é anestesiado apenas na região da mama, ou a cirúrgica, em que o paciente é submetido à anestesia geral e o médico retira toda a área nodular.

Segundo o orientador da pesquisa que deu origem ao phantom, professor Antonio Adilton Oliveira Carneiro, do Departamento de Física da FFCLRP, a biópsia de mama guiada por ultrassom tem equivalência à biópsia cirúrgica e é feita rapidamente, com um custo muito inferior se comparada à cirúrgica. “Apesar dos diversos pontos positivos da biópsia guiada por ultrassom, este tipo de procedimento exige grande habilidade do profissional, já que é necessário manipular a agulha com uma mão e o transdutor do ultrassom com a outra e, ainda ao mesmo tempo, visualizar o procedimento no equipamento de ultrassom”, afirma Carneiro. A falta de habilidade pode lesionar a mama e dificultar o diagnóstico da doença, sendo necessário repetir o procedimento e consequentemente causar desconforto nos pacientes.

A biópsia guiada por ultrassom exige grande habilidade do profissional. Foto: Divulgação/GPhantom

Inovação

De acordo com a pesquisadora, existe em andamento uma pesquisa de viabilidade de phantoms no mercado. “Apesar de existirem diversas pesquisas relacionadas ao desenvolvimento de phantoms e materiais para serem utilizados como mimetizador do tecido biológico, a inovação e o diferencial do trabalho estão no material utilizado, que possui características mecânicas e acústicas similares ao tecido humano, além de poder ser reutilizado”, afirma Michelle.

O aperfeiçoamento do phantom de mama está a cargo da start-up GPhantom, empresa incubada na Supera Incubadora de Empresas do Parque Tecnológico de Ribeirão Preto, em parceria com o GIIMUS da USP, coordenado pelo professor Carneiro da FFCLRP.

A GPhantom foi fundada em 2013 por dois pós-graduandos da FFCLRP, a pesquisadora Michelle e o físico médico Felipe Grillo, responsável pela criação do phantom de tireoide. Ambos, envolvidos pela pesquisa científica e incentivados pelo professor Carneiro, dedicaram-se à pesquisa com foco na inovação de produtos.

Câncer de mama

Segundo o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), o câncer de mama é considerado o segundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres do Brasil e do mundo, ficando atrás apenas do câncer de pele não melanoma. A doença, que é caracterizada pela multiplicação de células anormais da mama, corresponde a 25% dos novos casos de câncer a cada ano no mundo; entretanto, no Brasil este número é maior e chega a 28,1% dos novos casos.

Mais informações: email michele@gphantom.com.br

Por Gabriela Vilas Boas, do Serviço de Comunicação Social do campus de Ribeirão Preto