SciELO chega à África

A fim de otimizar o alcance global e o impacto potencial da pesquisa feita no país, a Academia de Ciências da África do Sul (Assaf) adotou a modalidade de acesso aberto por meio da plataforma SciELO (Scientific Eletronic Library Online) para a publicação de seus periódicos acadêmicos.

Em editorial publicado na edição desta sexta-feira (21/8) da revista Science, Wieland Gevers, chefe do Comitê de Publicações Acadêmica e ex-presidente da Assaf, explica por que o modelo foi escolhido para tornar mais visível – em sistemas de busca e ferramentas bibliométricas – o trabalho publicado em periódicos científicos locais.

O programa SciELO, criado em 1997 por meio de uma parceria entre a FAPESP e o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme), foi implantado até agora em outros sete países – Argentina, Chile, Colômbia, Cuba, Venezuela, Espanha e Portugal.

O modelo conta também com duas coleções temáticas nas áreas de saúde pública e ciências sociais. Além da África do Sul, estão atualmente em fase de desenvolvimento bases de dados para coleções de Costa Rica, México, Paraguai, Peru e Uruguai.

No editorial da Science, Gevers, que é professor emérito de bioquímica médica da Universidade de Cidade do Cabo, afirma que a visibilidade internacional da pesquisa sul-africana deverá ter um salto com a adoção da plataforma. O projeto está em fase piloto de desenvolvimento com a cooperação da Bireme.

Gevers destaca dois objetivos principais da plataforma SciELO: indexar periódicos de alta qualidade, ampliando os títulos indexados na base do Instituto para a Informação Científica (ISI, na sigla em inglês) – por meio de uma seleção com base em avaliações transparentes –, e oferecer acesso livre global ao conteúdo dessas revistas.

“Esse sistema já revelou a existência de periódicos locais e artigos altamente citados nas revistas indexadas na base ISI e também revelou periódicos e artigos que tiveram alto impacto no próprio sistema SciELO”, afirmou Gevers.

Segundo ele, com apoio de governos locais e da comunidade internacional, será plenamente possível estender o modelo também para outros países africanos. “Poucas iniciativas poderiam ter mais chance de oferecer tanto rendimento como esse, ao facilitar um sistema nacional e regional interconectado, com livre acesso e qualidade garantida”, acrescentou.

Gevers conta que, dos 225 periódicos científicos sul-africanos, mais de 100 nunca tiveram seus artigos citados. “A África do Sul ocupa uma posição paradoxal no contexto da publicação científica: o de ser, ao mesmo tempo, um gigante dentro do contexto africano e um anão na arena internacional”, disse. A África do Sul já produziu nove prêmios Nobel, sendo quatro em áreas científicas.

“O objetivo do Programa SciELO é aumentar a visibilidade de publicações científicas em revistas brasileiras e os resultados tem sido exemplares e reconhecidos por observadores independentes de entidades estrangeiras”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.

“As revistas que fazem parte do SCIELO tiveram seus artigos mais citados internacionalmente, gerando com isso benefícios para o desenvolvimento científico em São Paulo e no Brasil. Uma estratégia efetiva dos líderes do projeto tem sido a de abranger publicações de outros países, inicialmente ibero-americanos e, em seguida, da África. Tal estratégia aumentou ainda mais o valor de toda a coleção, beneficiando todas as publicações envolvidas”, destacou.

Pioneirismo reconhecido

De acordo com Abel Packer, diretor da Bireme e um dos idealizadores do SciELO, a adoção do sistema por mais um país e o editorial na Science demonstram o quanto foi acertada a decisão de criar o programa, há 12 anos.

“A extensão do programa à África do Sul é um reconhecimento do pioneirismo e da visão estratégica do grupo que criou o SciELO e da FAPESP, que nunca deixou de nos apoiar. E o editorial sinaliza o reconhecimento da Science de que a produção científica dos países em desenvolvimento é importante e precisa ganhar visibilidade”, disse à Agência FAPESP

Todos os países que participam do SciELO são nações em desenvolvimento, com exceção da Espanha e de Portugal. “O programa é especialmente importante para países em desenvolvimento – ao aumentar a acessibilidade e tornar mais citados os periódicos dessas regiões –, mas representa uma solução também para os dois países europeus que, como todos os ibero-americanos, também enfrentam a barreira da língua”, destacou.

A proposta de adoção da SciELO na África do Sul partiu de um estudo iniciado pela Assaf em 2007. Uma comissão da academia avaliou os periódicos do país e considerou as principais soluções existentes de publicação em acesso aberto. Em julho de 2008, o comitê visitou a Bireme para conhecer o desenvolvimento do programa brasileiro.

“Em dezembro, o modelo foi adotado e a fase piloto do projeto sul-africano teve início com quatro publicações do país, com o objetivo de testar as funcionalidades da plataforma. Na próxima fase, a coleção deverá contar com 35 periódicos”, explicou.

Sucesso no Chile

A expectativa, segundo Packer, é que a adoção do programa pela África do Sul aumente efetivamente a visibilidade da produção científica local e o impacto global da pesquisa realizada no país, alcançando o sucesso obtido, por exemplo, no Chile, primeiro país, além do Brasil, a adotar a plataforma, em 1998.

Para a coordenadora do SciELO Chile, Marcela Aguirre, da Comissão Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica (Conicyt, na sigla em espanhol), a opção pelo modelo criado no Brasil trouxe um grande aporte ao programa chileno para o fortalecimento de suas revistas científicas.

“Trata-se de uma metodologia que provocou grande impacto na comunidade científica chilena e nas diferentes instituições que editam periódicos científicos. O fato de proporcionar acesso aberto é uma excelente vantagem para as revistas, que ganharam grande visibilidade, divulgando a produção científica nacional em diferentes áreas do conhecimento”, disse à Agência FAPESP.

Em 1998 o Chile iniciou a participação piloto no SciELO com quatro veículos científicos. A coleção atual já tem 80 periódicos e outros 25 estão sendo avaliados. “Acredito que a adoção dessa metodologia foi boa para ambas as partes, já que trouxe benefícios para as revistas chilenas – que ganharam qualidade ao seguir os critérios rigorosos exigidos para fazer parte da coleção SciELO – e também enriqueceu a própria coleção”, disse.

Segundo Marcela, ao ganhar um sistema de difusão massivo, com acesso completo na internet, as revistas científicas chilenas foram beneficiadas de forma marcante. “Com essa visibilidade, as revistas passaram a receber mais artigos para publicação. Isso exerceu grande impacto nas publicações nacionais. O SciELO também foi importante para padronizar normas de difusão e políticas editoriais, elevando a qualidade dos artigos”, disse.

Marcela conta que a plataforma também trouxe uma grande contribuição em relação à acessibilidade. “Em 2008, tivemos cerca de 78 milhões de acessos à coleção do SciELO Chile. É um número importante de artigos chilenos sendo consultados em todo o mundo.”

O programa trouxe também, segundo ela, um estímulo à internacionalização das revistas chilenas. “Agora temos um grande número de periódicos reconhecidos e indexados em índices internacionais e bases de dados. Tivemos cerca de 30 títulos indexados, por exemplo, na base da ISI. Houve também aumento da presença chilena em bases como Scopus. Essa visibilidade internacional é muito importante”, disse Marcela.

O artigo Globalizing Science Publishing, de Wieland Gevers, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.

SciELO: www.scielo.org

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