O farmacêutico Tiago Arantes diz que dados da OMS apontam que 50% dos antibióticos prescritos nas Américas não têm receita médica.
Você já ouviu falar em resistência antimicrobiana? Não? Mas com certeza já ouviu dizer que existem pessoas mais resistentes a determinados tipos de antibióticos. É sobre isso que estamos falando. A resistência antimicrobiana é um dos maiores desafios para a saúde pública mundial, com importante impacto tanto em humanos como em animais. O uso indiscriminado de antibióticos faz com que novos mecanismos de resistência surjam e se espalhem pelo mundo, ameaçando a capacidade médica de tratar doenças infecciosas comuns.
Antibióticos, antifúngicos e antivirais, muitas vezes administrados sem a apresentação de receita médica, põem em risco a eficácia da prevenção e do tratamento de um número cada vez maior de infecções por vírus, bactérias, fungos e parasitas, o que resulta em doença prolongada, incapacidade e morte.
Abuso
O farmacêutico Tiago Arantes, especialista em farmácia hospitalar, coordenador do Serviço de Farmácia Clínica do Instituto Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina e membro do time de gerenciamento de antimicrobianos do HC da USP, alerta sobre a venda de antibióticos sem receita médica em 80% dos países das Américas. O abuso de antibióticos acelera o processo de resistência tanto nos seres humanos como em animais e até na agricultura.
Relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que, até 2025, 10 milhões de pessoas podem morrer por causa da automedicação. No Brasil, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entre 40% e 60% das doenças infecciosas já são resistentes a medicamentos. Atualmente cerca de 700 mil pessoas perdem a vida todos os anos por causa de doenças resistentes a medicamentos.