Há pouco mais de um ano, a comunidade de Manguinhos passou a contar com uma aliada na busca por melhores condições de vida, saúde e cidadania. Foi através da inauguração da Clínica da Família Victor Valla, que faz parte da iniciativa Território Integrado de Atenção à Saúde – Teias-Escola Manguinhos, coordenada pela ENSP/Fiocruz. Agora, no dia 28/6, haverá uma festa de um ano de suas atividades, marcada pelo lançamento do livro Victor Vincent Valla: companheiro de lutas, de ideias, de vida. A publicação reúne uma série de depoimentos daqueles que trabalharam com o professor emérito da Fiocruz e pesquisador da ENSP na construção do conceito e de experiências em educação popular.
A pesquisadora da ENSP Maria Alice Pessanha, junto com o pesquisador da Escola Eduardo Stotz, é responsável pelo lançamento da publicação no dia 28 de junho. Ela explica que o livro, organizado por Regina Leite Garcia, traz textos de oito amigos, professores e companheiros de pesquisa, que relembram seus períodos de convivência com Victor Valla. Entre os autores está o pesquisador Stotz; o professor Eymar Vasconcelos (UFPB), que trabalhou com Valla no campo da educação popular; o professor Reinaldo Fleuri (UFSC), envolvido com o grupo de trabalho da ENSP ‘Educação, saúde e cidadania’ e que colaborou com Valla na construção da ideia e do conceito da construção compartilhada do conhecimento; a viúva do homenageado, Kitta Eitler, entre outros. Ainda segundo Maria Alice Pessanha, o livro, que é doado aos interessados, está sendo lançado em diversos lugares que tenham um espaço de educação popular.
Clínica da Família Victor Valla – um ano de atividades
A Clínica da Família Victor Valla foi inaugurada em abril de 2010 e localizada na Av. Dom Hélder Câmara 1.390, em anexo à UPA Manguinhos. É voltada para o atendimento dos moradores da região. Seu nome foi dado em homenagem ao pesquisador da ENSP, Victor Vincent Valla, cuja trajetória de mais de quarenta anos de engajamento político e de trabalho junto aos pobres, atuando diretamente com os segmentos mais miseráveis da população, conciliou saber científico e experiência popular.
A Clínica é um dos Núcleos de Apoio às Equipes de Saúde da Família, funcionando como uma pequena rede social e assistencial com ensino, pesquisa e inovação. O projeto busca a construção de redes e de um território integrado a partir da constituição da cobertura de 100% da saúde da família. Dessa forma, é possível integrar as ações de promoção, prevenção e assistência à saúde no território de Manguinhos. Na Clínica da Família Victor Valla, estão alocadas 5 das 11 equipes de Saúde da Família da região.
O aniversário de um ano da Clínica da Família Victor Valla foi adiado até o dia 28 de junho para acontecer junto com o lançamento do livro, em uma grande festa marcada para as 16 horas. Na ocasião, estão previstas diversas atividades. Haverá uma mostra de varal contendo as produções e os projetos desenvolvidos pelos profissionais da clínica para melhorar sua gestão; duas exposições fotográficas, uma retratando os principais eventos ocorridos neste período de um ano de clínica e a outra com imagens pessoais de Victor Valla; além da leitura da biografia do homenageado, a ser feita pelo pesquisador Eduardo Stotz.
Quem foi Victor Valla
Nascido em agosto de 1937, no Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, Valla desembarcou no Brasil em 1964, logo após o golpe militar. Em 1984, incentivado por amigos, prestou exames para professor da ENSP e conquistou o primeiro lugar, dando início a uma trajetória de mais de quarenta anos de engajamento político e de trabalho junto aos pobres, atuando diretamente com os segmentos mais miseráveis da população, conciliando saber científico e experiência popular.
Foi um dos criadores do Centro de Estudos da População da Leopoldina (Cepel), criado entre 1987 e 1988, considerado, segundo ele, um brilhante momento de fusão da vida acadêmica com as aspirações populares, e onde passou a ter contato mais próximo com as comunidades. Em entrevista à Agência Fiocruz de Notícias, disse que o Cepel deveria ser um centro em que os moradores da região obtivessem conhecimento para reivindicar seus direitos e demandas. "Não cabia a nós capacitá-los politicamente porque a ditadura havia terminado, e os partidos bem como a vida política tinham voltado a funcionar normalmente. O papel dos pesquisadores da ENSP era oferecer embasamento técnico sobre questões de saneamento, saúde, educação, além de juntar documentação e propostas sobre esses temas. Eles estavam totalmente à margem da sociedade instituída", lembrou Valla.
O pesquisador também desenvolveu, na ENSP, um trabalho de vigilância civil, com uma proposta de ouvidoria coletiva, na região da Leopoldina. A equipe da ENSP localizou três centros de saúde como referência. Criou comissões que discutiam o acesso à alimentação, aos serviços de saúde, às condições de vida e à moradia, ao saneamento e as formas que foram desenvolvidas para superar os problemas. Além disso, esteve à frente de disciplinas como ‘Globalização e Saúde’, voltada para discutir questões como Alca, FMI, Banco Mundial e o que essas instituições têm a ver com saúde brasileira; e Religiosidade popular em saúde, transformada em curso de aperfeiçoamento, com duração de seis meses.
Em 9 de setembro de 2008, o Conselho Deliberativo da Fiocruz aprovou, por unanimidade, a indicação de Victor Vincent Valla para o título de professor emérito da Fundação. Em cerimônia na ENSP, comoveu a todos ao agradecer pelo reconhecimento ao seu esforço em fazer pesquisa sobre as condições de vida e trabalho das classes populares.
Em 2005, lançou o livro Para compreender a pobreza, que aborda as intervenções dos governos nas favelas, dos anos 40 aos 80. A obra mostra como os projetos governamentais propunham mudanças para as favelas. "Mudanças com as quais os moradores não concordavam, porque, como sempre, os intelectuais não têm respostas para eles", afirmava Valla, que fez do correto entendimento dos valores e necessidades das classes menos favorecidas sua razão de viver.
Em 2001, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) que o afastou das comunidades, mas se esforçava quando sua presença era necessária. "Gosto do contato com as pessoas humildes. Isso faz parte de uma proposta de pesquisa e vida", comentava. Durante esse tempo, Valla continuava trabalhando em sua sala no Departamento de Endemias Samuel Pessoa e era visto com frequência nas atividades e cerimônias realizadas na ENSP.
Victor Valla morreu de insuficiência cardíaca aguda. Deixou viúva, a fotógrafa e artista plástica Kitta, e quatro filhos de dois casamentos.
Com informações do Especial sobre a vida e a trajetória de Victor Valla, da Agência Fiocruz de Notícias.
Serviço
Victor Vincent Valla – companheiro de lutas, de ideias, de vida
Regina Leite Garcia (Org.)
Editoração: ANPEd – UFPE/CEAD
Lançamento: 28/6/2011
Horário: 16 horas
Local: Clínica da Família Victor Valla
Av. Dom Hélder Câmara 1.390, em anexo à UPA Manguinhos/RJ