Iniciativa que envolve cientistas do Brasil e do exterior sequenciou genomas em cidades do Norte e Nordeste do País
Cientistas do projeto internacional ZIBRA – Zika in Brazil Real Time Analisys concluíram o sequenciamento completo de 54 genomas do zika vírus (ZIKV) em algumas cidades do Norte e do Nordeste brasileiro. Este foi o maior sequenciamento obtido na região e os resultados constam no artigo Establishment and cryptic transmission of Zika virus in Brazil and the Americas, recentemente veiculado na revista Nature. O projeto Zibra, composto de um grupo internacional de cientistas, tem como objetivo sequenciar mil genomas do Brasil para fornecer importantes informações epidemiológicas sobre a disseminação desta doença no País.
A bordo de um ônibus, onde foi montado um laboratório móvel, uma equipe de cientistas iniciou, no dia 29 de maio do ano passado, uma viagem percorrendo algumas capitais do Norte e Nordeste. Os pesquisadores realizaram o sequenciamento do zika nas cidades de Belém (Pará), São Luís (Maranhão), Teresina (Piauí), Fortaleza (Ceará) e Natal (Rio Grande do Norte). “Nestas capitais, foram sequenciados por completo 54 genomas de amostras de sangue humano e do próprio Aedes aegypti”, conta a professora Ester Cerdeira Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da USP. Ela coordenou uma equipe do IMT, composta de pesquisadores e estudantes do instituto, que colabora no projeto. Ester é uma das coautoras do artigo, juntamente com Oliver Pybus, da Universidade de Oxford (Reino Unido), Luiz Carlos Junior Alcântara, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e Márcio Nunes, do Instituto Evandro Chagas (pesquisadores seniores). O artigo tem como primeiro autor o cientista Nuno Faria, do Departamento de Zoologia da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
MinION
Além do sequenciamento, os cientistas também tiveram como missão ensinar aos pesquisadores locais as técnicas que são utilizadas, principalmente o uso de um equipamento chamado MinION. Segundo a professora Ester, esta tecnologia portátil já foi utilizada com sucesso na epidemia do vírus ebola, em 2015, na África. O MinION permite o acompanhamento do vírus em tempo real. “Antes, tínhamos apenas algumas sequências que não eram tão longas. Com o sistema atual, além de termos as sequências completas, os dados são disponibilizados via internet e de forma imediata”, garante a professora.
Os resultados obtidos no projeto Zibra fazem parte da investigação da trajetória do zika vírus desde que ele desembarcou no Brasil. Segundo o artigo veiculado na Nature, a transmissão do vírus nas Américas foi confirmada pela primeira vez em maio de 2015, justamente no Nordeste do Brasil. E de acordo com dados dos Boletins Epidemiológicos da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, o País apresentou o maior número de casos notificados de ZIKV em todo o mundo (mais de 200 mil em 24 de dezembro de 2016 e o maior número de casos associados à microcefalia e outros defeitos congênitos (2.366 confirmados até 31 de dezembro de 2016). Ainda de acordo com o artigo, “desde a detecção inicial de ZIKV no Brasil, mais de 45 países das Américas relataram transmissão local de ZIKV, sendo que 24 destes relataram doença grave associada ao ZIKV. No entanto, a origem e a história epidêmica do ZIKV no Brasil e nas Américas continuam mal compreendidas, apesar do valor dessas informações para interpretar as tendências observadas na microcefalia relatada”.
O projeto Zibra possui dois laboratórios portáteis de sequenciamento de genomas no Brasil. Com a colaboração da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto Evandro Chagas de saúde pública no Brasil, o objetivo é sequenciar 750 genomas completos de ZIKV, cobrindo uma ampla região geográfica incluindo amostras históricas e de pacientes com uma variedade de apresentações clínicas. “Com estes dados serão facilitadas as estratégias de prevenção e combate ao vírus e as próximas ações do grupo devem englobar outras regiões do País”, conta a professora, lembrando que todo o projeto tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Mais informações com a professora Ester Sabino, no e-mail sabinoec@gmail.com