Um projeto de cooperação entre o Reino Unido e o Brasil, elaborado pela Universidade de Exeter, o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Fiocruz, implantará a ferramenta Plataform for Understanding Long-Term Sustainability of Ecosystems and Health (Pulse) no estado do Acre. A Pulse permite a geração de análises integradas entre clima, meio ambiente e saúde pública, proporcionando maior entendimento e previsibilidade no que se refere às mudanças climáticas em andamento, alteração de ecossistemas e incidência de doenças tropicais. Na Fiocruz, o projeto é coordenado pelos pesquisadores Sandra Hacon, Christovam Barcellos, Marco Horta e tem a participação de bolsistas e alunos de mestrado e doutorado do Programa de Saúde Pública e Meio Ambiente da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp).
O Pulse é uma plataforma on-line que permite visualização integrada de dados de clima, meio ambiente e saúde humana. Gratuito, o sistema fará parte de um projeto que executará análises acuradas nos próximos três anos, sendo adaptado às contingências do território acreano, primeiro estado brasileiro a usar uma plataforma.
O projeto de cooperação também tem a parceria da Secretaria de Meio Ambiente do Acre (Sema), Instituto de Mudanças Climáticas (IMC), Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac)/Ucegeo e Secretaria de Saúde (Sesacre).
A assinatura do convênio entre as instituições encarregadas do projeto (Universidade de Exeter/UK, Sema, Inpe e Fiocruz ocorreu no final de 2013, no auditório da Secretaria da Fazenda (Sefaz). Para Edegard de Deus, secretário de Estado de Meio Ambiente do Acre, o Pulse vai proporcionar uma visão mais clara das interações climáticas com o meio ambiente, além de facilitar a gestão adequada destes eventos, minimizando os impactos à população. “Somos gratos a todos os parceiros envolvidos na concepção, elaboração e andamento deste projeto, porque ele facilitará muito a previsibilidade necessária para que tomemos as medidas cabíveis para as mudanças que estão ocorrendo rapidamente, tanto pela ação humana, quanto pela incidência de eventos extremos como secas e queimadas”, disse.
Segundo Duarte Costa, gerente do Projeto Pulse pela Universidade de Exeter, a plataforma trabalha cruzando dados oriundos de diferentes áreas científicas – agora agregados num mesmo sistema –, originando análises integradas e multidisciplinares capazes de orientar os tomadores de decisão em caso de eventos climáticos extremos e contribuindo, ainda, para um maior entendimento de problemas ambientais e sociais decorrentes. “Em resumo, o Pulse permitirá a análise e projeção futura de como as mudanças climáticas em andamento estão influenciando eventos sazonais como enchentes e queimadas e, consequentemente, as enfermidades sensíveis à variabilidade climática: malária, dengue, leptospirose, malária e doenças respiratórias, entre outras”, concluiu.
Ferramenta permite formulação de cenários futuros
Para Sandra Hacon, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz na área de análise de riscos socioambientais e saúde ambiental com foco em eventos climáticos, o Estado do Acre vem sofrendo com cheias e secas intensas, o que, aliado à degradação ambiental gerada pelo modelo de desenvolvimento adotado na maior parte das regiões circunvizinhas, tem acarretado um custo social muito alto para a população e as políticas públicas.
“A plataforma Pulse reúne uma base de dados climáticos coletados desde 1950, permitindo a formulação de cenários futuros, tornando-se uma ferramenta muito eficiente e estratégica para o planejamento e a gestão de risco de desastres naturais no estado. Avaliar cenários onde há degradação ambiental é também muito importante para a saúde humana, porque, se um organismo perde seu nicho ecológico, será obrigado a migrar e se adaptar às áreas de maior incidência populacional, podendo tornar-se um vetor de doenças”, avaliou.
Segundo Luiz Aragão, pesquisador da Área de Sensoriamento Remoto do Inpe, o Pulse tem capacidade para analisar e gerar previsibilidade em toda a Amazônia, sendo o Acre escolhido para a experiência-piloto graças a políticas públicas que o colocam na vanguarda das ações ambientais, além de possuir trabalhos conjuntos com os parceiros envolvidos: “A plataforma terá muita valia para o Acre, porque ajudará na tomada de decisão em casos extremos, garantindo maior organização e resposta, além de menores custos. Estaremos trabalhando com modelos climáticos de instituições e pesquisadores internacionais, conjugando estes dados e estudos com aqueles que nós, já possuímos no Brasil”.
Para Vera Reis, coordenadora da Unidade de Situação de Monitoramento de Eventos Hidrometeorológicos do Acre, a Plataforma Pulse vem complementar e fortalecer o trabalho já iniciado pelas instituições da Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais, integrando-se aos sistemas de alerta já implementados (Cota online e TerraMA2), com previsão de médio e de longo prazo, além da organização do banco de dados que poderá ser utilizado para outras finalidades e da pesquisa.
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