Farmacêuticos hospitalares e residentes reuniram-se, em 13/2, na ENSP, para o primeiro encontro aberto sobre a assistência farmacêutica hospitalar no Estado do Rio de Janeiro, local de execução do Projeto Atuar, que visa explorar conhecimentos e habilidades necessários para o adequado desempenho da prática da Assistência Farmacêutica (AF). Mario Jorge Sobreira da Silva, do Instituto Nacional do Câncer (Inca), participante do projeto, em sua exposição sobre a Avaliação da Farmácia Hospitalar em Hospitais Estaduais do Rio de Janeiro, revelou dados preocupantes. “A avaliação do desempenho mostrou que apenas uma unidade realizava a contento as atividades de gerenciamento e programação. Quatro realizavam inadequadamente a aquisição de medicamentos.”
Segundo Mario Jorge, para a avaliação normativa foram empregados 62 indicadores de estrutura e processo, que permitiram verificar a adequação das atividades da farmácia hospitalar. Esse diagnóstico classificou os hospitais por níveis hierárquicos, calculou os algoritmos segundo o nível de complexidade dos serviços, fez uma pontuação final obtida por cada FH, permitindo hierarquizar os serviços de acordo com o desempenho, e selecionou os casos, o pior e o melhor serviço de cada nível de complexidade, perfazendo um total de seis unidades. Ele explicou que nestas unidades foram aplicados 16 indicadores de resultados. “Os dados foram analisados por síntese de casos cruzados. Os piores resultados de desempenho nos seis hospitais estudados foram relacionados ao componente armazenamento, e os melhores à atividade de distribuição. Os dados são preocupantes, por serem as atividades avaliadas consideradas centrais da farmácia hospitalar.”
A assistência hospitalar, que inclui a farmacêutica, é modulada pelo nível de complexidade dos serviços que oferece e pela inter-relação entre as atividades que desenvolve. A Farmácia Hospitalar é uma unidade de caráter clínico e assistencial, dotada de capacidade administrativa e gerencial, sendo responsável pela provisão segura e racional de medicamentos, e, em algumas condições, de materiais médico-hospitalares, podendo estar vinculada à direção clínica e/ou administrativa da unidade.
A Secretaria de Estado de Saúde do RJ é responsável pela gestão de 20 hospitais com diferentes níveis de complexidade e alta capacidade instalada. De acordo com Mario Jorge, nessas unidades é grande a demanda de atendimentos e de utilização de novas tecnologias, o que reflete a importância desses hospitais para a atenção à saúde no Estado e para a necessidade da prestação de serviços de qualidade em todas as suas dimensões. Dos vinte hospitais estaduais visitados entre 2008-2009, oito (40 %) eram especializados, quatro (20 %) eram gerais e oito (40 %) eram de emergência.
Outra palestrante do evento, Rachel Magarinos-Torres, pesquisadora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e coordenadora do Projeto Atuar, falou sobre o trabalho de campo do projeto, onde os relatos livres para a formalização em situações de prática privilegiam a exposição de incidentes críticos, ou seja, relatos que apresentavam desafios para o setor, podendo tanto indicar o requerimento de novas capacidades como apresentar situações exitosas.
As etapas do caminho metodológico do projeto levam em conta a identificação de informantes, profissionais com inserção em hospitais vinculados ao Sistema Único de Saúde; coleta e construção de situações de prática com auxilio da técnica de observação direta; processamento das situações de prática.
Maely Peçanha Fávero Retto, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar (Sbraph) – Regional RJ, biênio 2014-2015, também presente à reunião, convocou os profissionais da área a se filiarem e contribuírem com artigos para a Revista da Sbraph.
O Projeto Atuar é formado por profissionais da Faculdade de Farmácia da UFF (instituição coordenadora), da Secretaria Estadual de Saúde/RJ, da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do RJ, e do Núcleo de Assistência Farmacêutica/ENSP, cuja pesquisadora Cláudia Osório valorizou a importância do encontro para o serviço de farmácia, e a pretensão das aspirações do projeto.
A pesquisa conta com apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado RJ e os primeiros resultados deverão ser divulgados ainda em 2014.