Profissionais dos Laboratórios Centrais (Lacens) de 15 estados brasileiros estiveram no Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) para participar da última edição do curso Coleta, acondicionamento, concentração e transporte de amostras de água para a pesquisa de vírus. Coordenada pelo Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC, em parceria com a Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública (CGLAB/SVS), a iniciativa foi realizada entre os dias 26 e 30 de agosto. O projeto, iniciado em 2009, teve como objetivo sensibilizar os Lacens quanto ao impacto dos vírus gastroentéricos na Saúde Pública, além de muni-los de conhecimento e autonomia para realizar a coleta e preparação adequada das amostras para análise. Participaram funcionários dos Lacens de Amapá, Pará, Piauí, Roraima, Rondônia, Tocantins, Espírito Santo, Maranhão, Sergipe, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Mato Grosso e, ainda, representantes do Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará. Os demais estados receberam a capacitação na edição de 2009 do curso.
Sistema de filtração com membrana negativa, utilizado no IOC para preparação das amostras de água, foi um dos tópicos apresentados. Foto: Rodrigo Méxas
Chefe do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental e coordenadora do IOC, Marize Miagostovich ressaltou que a iniciativa antecipou as exigências que ocorreria na legislação em 2011, com a Portaria nº 2.914. Esta passou a atribuir ao governo dos Estados a competência de coletar e encaminhar amostras de água para análise nas unidades de excelência – como o IOC – em casos de surtos de doenças de transmissão entérica com suspeita de veiculação hídrica. Dentre os exemplos, está a Hepatite A, bem como as diarreias agudas, provocadas pelos norovírus, rotavírus, adenovírus e astrovírus, todas transmitidas pela ingestão de água ou alimentos contaminados.
Estes são os primeiros passos para a criação de uma rede de vigilância nacional de vírus, seguindo a tendência mundial de se estabelecer um marcador viral para se avaliar a qualidade de água. “Atualmente, os Lacens possuem unidades de análise de água de consumo, no entanto, as buscas não incluem a pesquisa de vírus, embora muitos deles realizem o diagnóstico em amostras clínicas destes mesmos vírus, ou seja, possuem parte do aparato necessário para dar as respostas rápidas que a Saúde Pública local eventualmente necessita”, explicou Marize. Ela coordenou o curso ao lado de Nelma Faria, da CGLAB/SVS, e apresentou aos participantes o sistema de filtração com membrana negativa, utilizado no Laboratório para preparação das amostras de água, assim como um método de floculação orgânica, de baixo custo.
De acordo com Marize, a meta do Ministério da Saúde é dotar os Lacens de autonomia para realizar todas as etapas do processo de análise virológica da água: da coleta à identificação. “O controle dos vírus de transmissão hídrica-alimentar se faz mais urgente do que nunca. Os surtos de diarreia por norovirus, por exemplo, são um foco de atenção, principalmente quando se inicia a temporada dos cruzeiros em todo o país”, avalia. A disponibilidade de métodos de concentração de vírus em águas e alimentos associados a metodologias moleculares de detecção viral tem permitido o esclarecimento de surtos, assim como a identificação da fonte de contaminação. De acordo com ela, em termos de segurança alimentar, países como o Japão, Espanha, Reino Unido, Holanda, EUA e Canadá estão na frente, devido ao intenso comércio de bivalves, como as ostras. Por serem filtradoras, as ostras são concentradoras naturais destes vírus, exigindo um rigoroso controle de qualidade para consumo.