A pesquisa, que foi feita com taxistas, controladores de tráfego e trabalhadores do Instituto Florestal de São Paulo, detectou a incidência de algumas doenças que provocam a perda funcional dos pulmões
A poluição atmosférica causa graves problemas à saúde humana. Em 2012, por exemplo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) atribuiu a morte de cerca de 3,7 milhões de pessoas à poluição. Para os que trabalham na rua, ao ar livre, os danos são ainda maiores. Foi o que comprovou uma pesquisa feita pela Divisão de Pneumologia do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) com três categorias profissionais: taxistas, controladores de tráfego e funcionários do Instituto Florestal de São Paulo, que fica no bairro do Horto Florestal, na zona norte de São Paulo. Com longa e contínua exposição aos poluentes, os trabalhadores tiveram redução de sua capacidade pulmonar.
A pesquisa mostrou que os trabalhadores que estiveram mais expostos à poluição veicular e por mais tempo tiveram comprometimento significativo de sua função pulmonar, surgindo algumas doenças intersticiais que têm como consequência a redução da capacidade funcional do órgão respiratório. Segundo o coordenador da pesquisa, o médico pneumologista do HC Ubiratan de Paula Santos, “as doenças pulmonares intersticiais fibrosantes acometem o tecido de sustentação pulmonar (o interstício), um espaço entre as vias aéreas – (brônquios, bronquíolos e alvéolos) que recebem o ar que respiramos – e os vasos sanguíneos – onde acontecem as trocas gasosas que levam o oxigênio necessário para o funcionamento do corpo”. Quando as pessoas são expostas por muito tempo ao ambiente poluído, “os tecidos pulmonares podem ser agredidos, alterando tanto as vias aéreas como o interstício pulmonar, dificultando as trocas gasosas e o enchimento adequado dos pulmões”, explica.
Das três categorias, as mais afetadas foram os taxistas e os controladores de tráfego. Quando se trabalha em recintos fechados, por exemplo, o nível de poluição pode diminuir significativamente, em torno de 40%, o que indica que no caso dos motoristas, se os vidros do carro ficarem fechados, eles podem ser menos afetados pela poluição. Embora o estudo tenha dado enfoque às doenças pulmonares, “a exposição prolongada à poluição causa danos sistêmicos à vida humana”, alerta Santos. Outras pesquisas já mostraram a associação entre poluição e o agravamento de problemas cardiovasculares, de hipertensão e o enfraquecimento de todo o sistema imunológico.
Outro aspecto importante levantado pela pesquisa foi o de que, em um cenário urbano complexo como o de São Paulo, as pessoas estão sujeitas a diferentes graus de exposição de poluentes. Dessa forma, o monitoramento da qualidade do ar feito por mostradores fixos da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) serve apenas como parâmetro macro, afirma o pesquisador. “Um indivíduo que trabalha em uma banca de jornal da Avenida Bandeirantes, na zona sul, ou da Celso Garcia, na zona leste, por exemplo, tem exposição mais elevada que outro que reside na Rua Cayowaa, no bairro de Perdizes, na zona oeste da cidade.”
A coleta de dados para a pesquisa foi feita entre os anos 2011 e 2013 na cidade de São Paulo, envolvendo 101 trabalhadores. Recentemente, um artigo sobre o assunto foi publicado na Plos One da Public Library of Science.
Projeto Pedal
Ubiratan Santos está envolvido em inúmeros projetos ligados à poluição atmosférica e um deles é o Projeto Pedal, um trabalho composto de pesquisadores ligados ao Incor/HC e à Faculdade de Medicina da USP, que busca incentivar o ciclismo e a atividade física como forma de promoção da saúde, do lazer e da mobilidade urbana não poluente.
No site do Projeto Pedal, os interessados encontram várias dicas e sugestões para se exercitarem com segurança. “Os ganhos da realização de exercícios com intensidade leve a moderada e de forma regular superam os riscos dos poluentes”, conclui.
Mais informações: Ubiratan de Paula Santos – pneubiratan@incor.usp.br