O editorial do periódico PLoS Medicine publicado em agosto de 2006 discute a importância dos periódicos científicos para a redução da pobreza e a equidade em saúde. Os autores destacam que os editores científicos e as editoras (publishers) têm adotado uma visão limitada sobre o papel dos periódicos científicos em saúde, restringindo a publicação de artigos sobre as chamadas doenças da pobreza, que são, em sua maioria, escritos por autores dos países em desenvolvimento. Durante a reunião anual do Council of Science Editors (CSE), em 2005, seu presidente Richard Horton, mostrou que os editores científicos podem contribuir para esses desafios por meio da identificação de pontos débeis no conhecimento científico nessas áreas, como líderes ou defensores de idéias e como apoio para a educação e informação em saúde para pesquisadores e público em geral.
Para conscientizar os editores científicos, o CSE criou, naquele mesmo ano, um grupo de trabalho denominado Task Force on Science Journals, Poverty and Human Development (Força Tarefa sobre Jornais de Ciência, Pobreza e Desenvolvimento Humano), que tem incentivado os editores de periódicos científicos de todo o mundo para garantir maior participação dos países em desenvolvimento como autores, pareceristas (peer reviewers) e membros dos conselhos editoriais de destacados periódicos na área da saúde. Esse grupo de trabalho tem também analisado como contribuir para a melhoria de qualidade dos trabalhos científicos dos autores de países em desenvolvimento.
Como parte das atividades desse grupo de trabalho, o CSE acaba de convocar novamente os editores científicos para participar de um projeto de colaboração internacional denominado , (Tema Global direcionado para pobreza e Desenvolvimento Humano) que espera reunir cerca de 100 periódicos de todo o mundo. Os editores científicos que aderirem a essa iniciativa publicarão simultaneamente, em outubro de 2007, artigos sobre a pobreza e desenvolvimento humano, como forma de estimular pesquisas e chamar a atenção para esses temas. Alguns periódicos irão publicar números temáticos, outros alguns artigos ou editorais sobre o tema.
Importância do acesso aberto para a visibilidade internacional dos periódicos nacionais na área da saúde
No editorial, o acesso aberto, gratuito e irrestrito foi sugerido como uma medida radical que deveria ser tomada pelos editores dos países desenvolvidos para contribuir para solução das inequidades em saúde.
Nessa linha, o PLoS Medicine publicou nesse mesmo número um debate sobre o papel dos periódicos nacionais em relação aos grandes periódicos internacionais disponíveis online, sob o título Have online international medical journals made local journals obsolete? (Os periódicos médicos internacionais em formato eletrônico tornaram os periódicos nacionais obsoletos?). O assunto foi discutido por David Ofori-Adjei, editor do Ghana Medical Journal; Gerd Antes, diretor do Centro Cochrane da Alemanha (Deutschen Cochrane Zentrums); Prathap Tharyan, coordenador da Rede Cochrane do Sudeste Asiático (South Asian Cochrane Network); Elizabeth Slade, editora do Sciencenow e Pritpal S. Tamber, diretor do Faculty of 1000 Medicine, da Inglaterra.
A situação descrita pelos editores da África, Índia e Alemanha é similar: os periódicos nacionais são publicados principalmente por associações ou sociedades científicas e instituições acadêmicas; a grande maioria desses periódicos não está indexada nas grandes bases de dados internacionais; os pesquisadores são influenciados para publicar seus trabalhos em periódicos de países desenvolvidos de grande impacto na comunidade científica internacional; os resultados das pesquisas publicados nos periódicos estrangeiros tornam-se inacessíveis aos pesquisadores, clínicos e tomadores de decisão do país por causa das dificuldades de acesso, pelo alto custo das assinaturas e pelo idioma; os autores têm dificuldade para seguir os padrões de redação científica na língua inglesa, que é o idioma dominante na comunicação científica em saúde.
David Ofori-Adjei destaca o papel dos periódicos nacionais na disseminação do conhecimento local e na tradução do conhecimento em políticas e nas práticas de saúde, que contribuem para o desenvolvimento nacional e afirma que já é tempo de reconhecer os periódicos nacionais como um recurso para a saúde e um meio para compartilhamento de conhecimento.
The PLoS Medicine Editors (2006) How Can Biomedical Journals Help to Tackle Global Poverty? PLoS Med 3(8): e380Continuação >>>
Global Theme Issue on Poverty and Human Development