Pesquisadores aperfeiçoam análise de perfusão cerebral

Uma nova implementação realizada em um equipamento de Imagens por Ressonância Magnética (RM) permitiu aperfeiçoar a análise de perfusão cerebral, que é o mecanismo pelo qual os nutrientes são transportados ao cérebro, através do fluxo sanguíneo. A técnica utilizada é a Arterial Spin Labeling (ASL), que utiliza imagens e é completamente não invasiva utilizada para medir a perfusão de sangue no cérebro.

A metodologia, introduzida por pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, tem como objetivo final viabilizar a utilização da técnica ASL para a avaliação da perfusão em tecidos com tempo de trânsito arterial prolongado, condição típica em pacientes com doenças cerebrovasculares, em especial os que têm estenose de carótida, terceira doença cerebrovascular com maior índice de mortalidade, causada pelo acúmulo de placas de gorduras nas artérias carótidas — principais canais que transportam o sangue do coração ao cérebro.

A ASL é uma técnica que utiliza propriedades de água presente no sangue como traçador capaz de fornecer informações sobre o fluxo sanguíneo. Apesar de seu histórico de sucesso em diferentes aplicações, a técnica Arterial Spin Labeling ainda não é recomendada para aplicação em patologias específicas, como, por exemplo, naquelas que retardam o tempo de trânsito arterial em regiões específicas, como AVC e estenose de carótida, uma vez que o processo de irrigação do tecido cerebral, nesses pacientes, pode se apresentar mais lento, dificultando a detecção apropriada dessa distribuição e podendo também oferecer um diagnóstico falso. “O fluxo do sangue pode estar preservado, mas, se ele estiver atrasado, a técnica tradicional vai detectar o processo de forma errada”, explica o professor Fernando Paiva, pesquisador do IFSC responsável pelo desenvolvimento da técnica, derivada de uma pesquisa desenvolvida em parceria com o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP), e a empresa Philips, da América Latina.

Ao contrário das metodologias tradicionais baseadas em Arterial Spin Labeling comumente utilizadas, o novo método, cujo estudo é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), permite analisar o fluxo de sangue em diferentes intervalos de tempo, podendo se estender por períodos maiores que os possíveis atualmente. Isso ocorre pois o método proposto utiliza uma estratégia para minimizar o efeito da relaxação longitudinal no contraste ASL, o que normalmente compromete as medidas para fluxos mais lentos. Assim, é possível registrar todo o lento processo de irrigação, permitindo uma análise mais eficiente e acurada do fluxo sanguíneo, mesmo em pacientes com as referidas patologias. “Não temos como evitar a relaxação, mas conseguimos maximizar a qualidade das imagens adquiridas e viabilizar a técnica para aplicações, inclusive, em casos mais extremos”, diz Paiva.

Esses promissores resultados foram obtidos através de imagens por Ressonância Magnética em pessoas sem doenças cerebrovasculares. Agora, os pesquisadores do IFSC deverão realizar novos testes com pacientes que tenham diagnóstico confirmado de estenose da carótida, também no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. “Neste momento, estamos recrutando pacientes com estenose, porque precisamos de pessoas que tenham apenas esta doença, para garantirmos a eficácia da metodologia neste tipo de diagnóstico”, explica Paiva, cuja expectativa é que esta nova técnica seja validada já no próximo ano, quando deverá ser inicialmente utilizada em pacientes do Sistema Único de Saúde – SUS, no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. A unidade possui um ambulatório específico para o tratamento de doenças cerebrovasculares — grande parte dos pacientes atendidos neste setor sofre de estenose de carótida.

Destaque internacional
Os resultados preliminares deste estudo, que estão descritos na tese de mestrado do aluno André Monteiro Paschoal, do IFSC, foram apresentados durante o Organization for Human Brain Mapping- OHBM 2015, congresso sobre mapeamento cerebral que aconteceu em junho deste ano, em Honolulu, no Havaí (EUA), e que reuniu alguns dos maiores especialistas que atuam na referida área.

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