Pesquisa na FSP USP analisa o que significa o uso de álcool e drogas para moradores de rua

Entender as funções do uso de álcool e drogas por moradores de rua e sua relação com situações limites, foi o objetivo da tese de doutorado "Liminaridade, bebidas alcoólicas e outras drogas: funções e significados entre moradores de rua", defendida pelo psicólogo Walter Varanda, no último dia 30 de Abril de 2008 no Departamento de Saúde Materno-Infantil da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, sob orientação do Prof. Dr. Rubens Adorno.

Segundo o pesquisador, o uso de bebidas alcoólicas e outras drogas atinge a maioria dos moradores de rua na cidade de São Paulo e assume funções e significados inerentes à situação de rua, entendida como situação de liminaridade social.

A etnografia utilizada na pesquisa, revelou trajetórias individuais, dinâmicas de grupos de moradores de rua e sua interação com as redes públicas de assistência, caracterizando o álcool e drogas nos circuitos da rua enquanto recursos de sobrevivência e operadores de processos reativos diante da situação de apartação social.

O pesquisador utilizou análise documental, observação participante, e entrevistas com moradores de rua, coordenadores de instituições sociais e informantes de outros contextos sociais.

Percebeu-se como resultado da pesquisa que o uso de álcool e drogas reforça estigmas de culpabilidade e penalização das pessoas pela situação em que se encontram, reproduzidos nas relações com as instituições públicas de apoio, referências midiáticas e nas justificativas das lacunas das políticas públicas.

Concluiu-se pela pesquisa que, este uso, abusivo ou não, atua de forma preponderante na mediação das relações sociais e de sobrevivência na rua e, além disso, permite o alívio do sofrimento físico e psíquico, além da navegabilidade nas memórias emocionais através de processos regressivos e experiências de si em estados alterados de consciência.

Para Walter Varanda, "entender este uso sob a perspectiva da liminaridade permite o deslocamento analítico do agente patogênico e da vulnerabilidade individual para o “drama social” que o sujeito vivencia. Tendo em vista os dramas vividos, o uso de drogas é construído sob o sistema de crenças e representações do sujeito, passível de ressignificações nos processos de autoconhecimento, desenvolvimento da autonomia e do auto-controle".

Mais informações com o psicólogo Valter Varanda pelo e-mail: waltervaranda@uol.com.br

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