“A falta dos serviços de beneficiamento industrial e de transformadores de plástico nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte gera a necessidade de transporte rodoviário dos materiais recicláveis ao Sudeste do Brasil, fazendo com que os custos muitas vezes tornem a cadeia da reciclagem inviável”. A observação é da aluna de mestrado profissional em Saúde Pública da ENSP, Liége Castelani. Os resultados da dissertação Análise da cadeia de reciclagem do plástico e suas potencialidades no Brasil, orientada pela professora. Débora Cynamon Kligerman, demonstraram que há forte polarização dos serviços da reciclagem no Sudeste e Sul do Brasil e fraco desenvolvimento destes serviços necessários à cadeia da reciclagem nas outras regiões. Além disso, a aluna destacou que apesar dos avanços na legislação, ainda há precariedade na coleta, seleção, tratamento e destinação final de resíduos na maior parte dos municípios do Brasil.
Segundo Liége, este trabalho buscou compreender todo o fluxo da reciclagem do plástico e identificou a distância entre as empresas recicladoras e as regiões citadas como a principal fragilidade dos programas públicos de aproveitamento destes materiais. A pesquisa salientou a importância da gestão das cadeias de reciclagem de forma integrada, apreciando o processo industrial a que está submetida como meio de viabilizar as metas de ampliação do aproveitamento de materiais previstas na versão preliminar do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
De acordo com a aluna, o plástico foi definido como material central para a pesquisa em consequência da tendência de ampliação de mercado para este material e ainda em função da sua participação em percentual nos resíduos sólidos. “A quantidade de plástico só perde para a quantidade de materiais orgânicos”, observou.
Entre os objetivos do estudo, destacam-se a composição de um panorama aproximado da reciclagem de resíduos sólidos no Brasil e sua relação com o número e porte de empresas recicladoras do plástico instaladas, visando compreender os fluxos e a polarização de demanda industrial geradora de valor, além do detalhamento dos requisitos da logística de mercado do plástico reciclável, para avaliar a viabilidade de produção deste material nas regiões mais distantes dos centros de produção.
A pesquisa baseou-se no levantamento de dados e de características da reciclagem para a demarcação dos atores responsáveis pelos serviços realizados neste setor, bem como a análise quantitativa de sua disponibilidade no Brasil, comparando-se às diferentes regiões do país. Foi realizado também o estudo da definição de custos de transporte rodoviários de materiais recicláveis para analisar a viabilidade de transporte de recicláveis aos grandes centros recicladores.
De acordo com os resultados observados, Liége afima que é necessária a ampliação do foco das políticas públicas destinadas a impulsionar a Política Nacional de Resíduos Sólidos para implantar o equilíbrio de mercado na cadeia de reciclagem nas diferentes regiões do Brasil. “O planejamento de implantação da reciclagem deve levar em consideração que a viabilidade do fluxo de aproveitamento do material é determinante para o sucesso dos programas”, afirmou.
Liége Cardoso Castelani possui graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Sua dissertação de mestrado profissional em Saúde Pública, intitulada Análise da cadeia de reciclagem do plástico e suas potencialidades no Brasil, foi apresentada na ENSP no dia 10/01, sob a orientação da professora Débora Cynamon Kligerman.