Buscando entender os mecanismos da obesidade feminina, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) reproduziram em laboratório um modelo experimental para estudar os efeitos das dietas dietas ricas em gorduras (hiperlipídicas) sobre a regulação do metabolismo. O trabalho, aplicado no final de 2008 e início deste ano, envolveu cerca de 80 mulheres na pré-menopausa que apresentavam excesso de peso. A pesquisa intitulada Dieta hiperlipídica e ultra-estrutura das células musculares: relação com a resistência periférica à insulina sobre a captação de glicose, da nutricionista Luciana Oquendo Pereira, vem sendo desenvolvida no Programa de Biologia Celular e Tecidual do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP.
Os estudos são orientados pelo professor Antonio Herbert Lancha Júnior, do Departamento de Biodinâmica do Movimento do Corpo Humano da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, e foram iniciados ainda no projeto de iniciação científica, com uma pesquisa sobre ingestão alimentar em mulheres obesas brasileiras. O padrão alimentar da brasileira é diferente quando comparado às norte-americanas e às européias, informa Lancha Júnior. No caso do Brasil, as mulheres consomem 45% mais gordura saturada na alimentação regular e, além disso, possuem o hábito de praticar uma quantidade menor de refeições diárias, acreditando ser essa uma solução para o emagrecimento. As mulheres envolvidas no estudo foram selecionadas numa comunidade do bairro do Butantã, em São Paulo, em 1997.
A forma mais indicada para avaliação do peso corporal em adultos é o Índice de Massa Corporal (IMC), recomendada, inclusive, pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Esse índice é calculado dividindo-se o peso do paciente em quilogramas (Kg) pela sua altura em metros elevada ao quadrado (m², quadrado de sua altura).
Uma pessoa pode ser definida como obesa quando seu IMC supera o valor 30, alerta Lancha Júnior. O pesquisador ressalta que o distúrbio, além dos problemas de natureza estética e psicológica, constitui um importante risco para a saúde e, quando não corrigido, danifica o coração, as artérias (sobretudo as coronárias), o fígado, as articulações e também o sistema endócrino.
Ao concordar em participar do estudo, as mulheres foram acompanhadas durante dois meses e, ao final, tiveram os resultados de seus hábitos alimentares avaliados. Os cientistas constataram que as mulheres que participaram do programa de atividade física proposto, somado à orientação nutricional, obtiveram as melhores condições de saúde.
Pandemia mundial
Outra etapa da pesquisa tem envolvido a utilização de um modelo experimental laboratorial, onde o consumo de gordura saturada variou entre os dois grupos estudados, sendo um deles de controle. Curiosamente, o grupo que consumiu dieta hiperlipídica ingeriu menor quantidade calórica total (cerca de 63kcal/dia) do que o grupo de controle (cerca de 75kcal/dia). No entanto, as calorias provenientes de gordura foram três vezes maior no grupo com ração hiperlipídica (cerca de 24kcal/dia), quando comparado com o de controle (cerca de 8kcal/dia).
A obesidade é pandemia mundial, alerta Lancha Júnior. Cada vez mais, as ações governamentais deveriam prever a ampliação de políticas públicas que ajudassem as pessoas a mudar seu estilo de vida. É um investimento muito mais profundo e responsável que visa melhorar os hábitos alimentares, estimular a atividade física e, desta forma, prevenir doenças, melhorando a saúde da população.
Nesse sentido, o especialista reitera que boa parte da falta de saúde é causada pela inatividade física. A prática de exercícios representa uma alternativa barata e capaz de influenciar diretamente a qualidade de vida das pessoas, defende. Além disso, sabemos que um bom par de tênis, bermuda e camiseta podem ser usados por muitas vezes, em vários lugares.
Mais informações (11) 3091-3136, e-mail lanchajr@usp.br, com Antonio Herbert Lancha Junior.