Pesquisa analisa aplicação de vacina contra HPV após parto

Considerada a doença sexualmente transmissível (DST) mais comum no mundo todo, o Vírus do Papiloma Humano (da sigla em inglês, HPV) é o principal responsável pelo desenvolvimento do câncer de colo do útero, também conhecido como câncer cervical. Em pesquisa feita em uma maternidade pública da capital paulista, a médica Cristina Helena Rama constatou que quase 60% das mulheres entre 15 e 24 anos, que acabaram de ter o primeiro filho, possuem o HPV.

 
As pesquisas apontaram que cerca de 60% das mulheres analisadas tinham HPVRecentemente, dois laboratórios estrangeiros desenvolveram vacinas para os tipos virais, 16 e 18, responsáveis por 70% dos casos de desenvolvimento de câncer de colo uterino. Cristina desenvolveu sua pesquisa de doutorado pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) visando a viabilidade da aplicação da vacina em mulheres após o primeiro parto. Para isso, ela entrevistou e examinou 301 mulheres de 15 a 24 anos, cujo parto ocorreu no Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros, ligado à rede pública estadual e localizado na Zona Leste de São Paulo.

A pesquisadora acha importante frisar que a situação ideal seria vacinar as mulheres ainda antes do início da atividade sexual, preferencialmente entre os 11 e 12 anos. “O ideal mesmo seria antes da exposição (ao HPV) pelo contato sexual”, completa Cristina. Contudo, a pesquisa feita por ela procurou saber se ainda era viável a aplicação da vacina ainda após o primeiro parto.

Para isso, as participantes da pesquisa foram submetidas a um exame que não somente apontava se a mulher tinha ou não HPV, mas também qual o “tipo” do vírus — que possui cerca de 200 variações. Isso é importante pois a vacina desenvolvida pelos laboratórios previne somente dois tipos considerados de alto risco. Uma delas ainda protege adicionalmente contra os tipos de baixo risco 6 e 11.

Perfil das analisadas
Para que a pesquisa possuísse resultados mais efetivos, a pesquisadora caracterizou o perfil socioeconômico das entrevistadas. Além disso ela questionou sobre o conhecimento em relação à doença.

Com relação à escolaridade, cerca de 88% das mulheres possuíam oito ou mais anos de estudo, ou seja, ensino fundamental completo. Para se ter uma ideia, no Brasil, 51% das mães entre 15 e 24 anos, atingem essa escolaridade. Por outro lado, a renda familiar dessas mulheres é baixa. Mais de dois terços das famílias da qual elas fazem parte possuem renda total igual ou inferior a três salários mínimos.

Sobre o conhecimento da doença, somente 37% das analisadas já “tinham ouvido falar do HPV” e somente 19% sabiam que se tratava de uma DST. Sobre a relação entre o HPV e o câncer de colo do útero, esse conhecimento cai para 7%.

Resultados
A pesquisa feita apontou que 58,5 % das mulheres possuíam algum tipo do vírus. “É uma infecção frequente, porém, na grande maioria das vezes a mulher a contrai e não tem manifestação nenhuma. Em torno de 80% a 90% das mulheres que contraem o HPV consegue elimina-la sem ter sintoma nenhum num prazo de aproximadamente dois anos”, explica Cristina.

Entretanto, a pesquisadora se surpreendeu com o alto índice de infecção, mesmo sabendo que as jovens o grupo em que a prevalência da doença é mais comum. E quanto mais jovem mais propensa a adquirir a doença. No caso da pesquisa feita pela médica, quase 70 % das jovens com idade entre 15 e 18 anos possuíam HPV, já no grupo entre 22 e 24 anos, aproximadamente 50% das mulheres eram portadoras do vírus. Cristina esclarece que isso se deve também devido à imaturidade do canal cervical e do colo do útero que ainda estariam passando pelas transformações iniciadas na adolescência.

Um dado importante é que 44% das mulheres possuíam algum tipo de HPV de alto risco, ou seja, responsável pelo desenvolvimento de câncer. Contudo, somente cerca de 14% das mulheres possuíam os tipos virais 16 e 18, aqueles para os quais as vacinas foram criadas.

Dessa forma, a pesquisadora entende que ainda é viável a vacinação nas mulheres jovens, mesmo entendendo que não se trata da idade ideal. Entretanto, seria uma alternativa para aumentar a cobertura da vacina tendo em vista que a vacinação de adolescentes normalmente apresenta baixa cobertura. Ela ainda ressalta que o fato de estarem mais presentes nos serviços preventivos de saúde por causa dos filhos recém-nascidos facilitaria o processo de vacinação das mães.

Mais informações: crisrama@usp.br, com a pesquisadora Cristina Helena Rama. Tese orientada pelo professor José Eluf Neto da FMUSP

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