Os desafios dos novos medicamentos para doenças tropicais negligenciadas

O Brasil pode estar perto de encontrar candidatos ideais a novos fármacos para doenças tropicais negligenciadas, como a de Chagas, ou para terapias de câncer. O motivo são avanços recentes em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Mas isso depende da continuidade de investimentos no setor.

O destaque foi feito pelo professor Adriano Defini Andricopulo, coordenador do Laboratório de Química Medicinal e Planejamento de Fármacos do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo.

Em conferência realizada na 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Goiânia, o pesquisador abordou estratégias de planejamento de novos fármacos e interfaces da ciência, tecnologia e inovação com a saúde humana.

De acordo com Andricopulo, o processo de descoberta de novos medicamentos é longo e complexo. “Devido à enorme diversidade química, é muito difícil encontrar uma molécula sobre a qual seja possível desenvolver um fármaco competitivo, que atue em um mecanismo conhecido e tenha propriedades farmacocinéticas significativas”, disse.

“Além de envolver diversas etapas de natureza multi, inter e transdisciplinar, o processo exige ainda parcerias com outros laboratórios, instituições e empresas do setor privado. As farmacêuticas no Brasil têm demonstrado interesse e, de fato, elas estão em busca de moléculas promissoras para lançar no mercado”, acrescentou.

Andricopulo também chamou a atenção para o corte de US$ 1,7 bilhão no orçamento em pesquisa e desenvolvimento no setor que depende de investimentos para ser inovador. “Para que o mercado possa crescer, precisamos produzir mais fármacos. E isso depende de mais pesquisas”, destacou.

“Em 2010, o mercado mundial de fármacos gerou US$ 850 bilhões e a expectativa para 2014 é de um faturamento de US$ 1,1 trilhão”, disse o professor, ressaltando a importância dos investimentos em pesquisa.

O interesse das grandes companhias, no entanto, é maior no que diz respeito à terapia de câncer, segundo ele. Já para o processo de identificação de moléculas bioativas em doenças tropicais negligenciadas entre as quais a de Chagas, o professor destacou que é necessário procurar caminhos alternativos, como a criação do Centro de Referência Mundial em Química Medicinal para Doença de Chagas, resultado de uma chamada de projetos da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Nomeado recentemente coordenador do centro, Andricopulo contou que o objetivo do projeto é o desenvolvimento de candidatos a novos fármacos para o tratamento da doença de Chagas, que afeta milhões de pessoas na América Latina e para a qual não existe um medicamento eficaz disponível no mercado.

No início deste ano, Andricopulo teve a sua biografia indicada para compor a publicação 2000 Outstanding Intellectuals of 21st Century, a ser lançada pelo Internacional Bibliographical Centre, de Cambridge (Inglaterra), até o fim de 2011. Além disso, o pesquisador compõe a lista Top 100 Scientists 2011, divulgada pelo mesmo centro em Cambridge.

O atual secretário geral da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) também recebeu, neste ano, o prêmio Young Talents in Science, concedido pela SBQ e a American Chemical Society aos pesquisadores de destaque com menos de 40 anos de idade.

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